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História Os Últimos Filhos - O Último Dia - Parte I


Escrita por: Skjald

Capítulo 5 - O Último Dia - Parte I


Fanfic / Fanfiction Os Últimos Filhos - O Último Dia - Parte I

                                            
Camila havia me descoberto.

Era só uma questão de tempo até que os problemas começassem a surgir. Mas quanto tempo eu ainda tinha? Se uma simples script kiddie como Camila havia sido rápida em me achar, talvez os hackers veteranos já o tivessem feito há muito tempo, e os caçadores estariam apenas aguardando a hora oportuna para atacar. E ainda havia a Shindo Renmei, que vigiava Camila bem de perto. Se eles ao menos sonhassem que Camila possivelmente estaria tentando ajudar um dos desertores mais procurados do país, eles mandariam de bom grado a minha cabeça e a dela para Werner, como um cumprimento. Eu estava encurralado, e tudo que podia fazer era fugir. Eu não conseguiria lutar com um lado ou outro, e muito menos com os dois de uma só vez. Ah, o governo? Bem, eu já estava acostumado a lidar com eles. As forças especiais só deixam seus confortáveis alojamentos, quando muito, para lutar em conflitos mais acirrados contra as guildas. Eu só tinha que lidar com a polícia convencional, e mais raramente, com algum detetive freelancer colocando o nariz onde não deveria.

Deixei minhas coisas preparadas para uma fuga rápida, se fosse necessário, minhas armas deixadas onde eu pudesse alcançá-las mais facilmente. Me preparei para o último dia de uma vida normal. Acontecesse o que acontecesse, eu estava disposto a aproveitá-lo. Mas as coisas não correram tão bem. Logo no início das aulas fui chamado na sala da diretoria, para prestar meus esclarecimentos a respeito do episódio do dia anterior. Expliquei o ocorrido e me neguei a qualquer pedido de desculpas ou compensação à Clarisse, e desafiei irritado o diretor a me manter sentado ali até o dia seguinte. Acabei liberado "por ora", até que o segmento coordenativo da escola "decidisse a medida mais apropriada a se tomar nesse caso". Tentei seguir com meu dia normalmente. Corriam boatos de que um certo valentãozinho medíocre de ensino médio estava arregimentando os amiguinhos para (tentar) me dar uma surra, e os alunos faziam apostas sobre quanto tempo eu duraria: a maior foi vinte e cinco segundos. Me segurei para não rir. Apenas quando soou o alarme de intervalo, eu percebi que tinha um problema mais complicado para lidar: Helena. Quase não nos falávamos no decorrer das aulas, uma vez que ela é muito quieta, então eu quase sempre acabava me esquecendo dela. Helena me esperava no lugar onde eu geralmente me sentava para lanchar e ouvir músicas, um canto mais quieto e reservado.

- Olá, Edg...g-gar - ela tinha uma estranha dificuldade para pronunciar meu "nome".

- Olá, Helena - eu a cumprimentei - Pode me chamar só de Ed.

Ela corou com um sorrisinho, e nos sentamos lado a lado no chão. Ofereci-lhe um fone, e ela aceitou-o timidamente. Optei por músicas mais leves, ou acústicas. Não queria incomodá-la com as músicas incomuns que me agradam.

- Er... e-eu faço a-aniversário na semana q-que vem - ela disse, meio subitamente - então, eu p-pensei que... que...

...eu talvez pudesse passar o dia com ela? Bem, se não me matassem antes, eu o faria de bom grado. 

- Jura? - eu perguntei, com um sorriso - Que dia? Quantos anos?

- Bem... dezessete e dezessete - ela sorriu, aqueles olhos cor de mel brilhando - então e-eu q-queria te ch-chamar p...

Ela estava super fofa, e eu quis lhe abraçar, mas eu tinha que ser honesto com ela.

- Querida, eu... não sei se estarei aqui até lá - eu comecei a inventar uma história, afinal eu não podia contá-la o que realmente estava acontecendo - eu tive alguns problemas, hã... familiares, e é provável que eu viaje ainda essa semana... Bem, faz o seguinte, me dá o seu número e endereço, e...

Ela estava vermelha, se esforçando para segurar uma lágrima. 

- E-está... está t-tudo bem - ela murmurou - Eu n-não q-queria te.... eu só... não, não era nada. Me d-desculpe.

Aquilo me cortou o coração. Teria ido ela tão longe a ponto de se apegar a um cara que ela conheceu a tão pouco tempo? Eu não poderia dizer por ela, mas poderia dizer por mim mesmo. Nunca foi minha intenção me aproximar ou me envolver demais, mas acabei de certa forma me comovendo e passei a me importar com ela. Ela não tinha ninguém com quem pudesse conversar, ou simplesmente ficar perto. Ninguém que a protegesse. Ela era só uma garotinha frágil, tímida e desajeitada, um alvo fácil para pessoas maldosas. E eu sentia nela a mesma desconexão com o mundo real que eu possuo, e de certa forma, ela me lembrava uma certa garotinha loira que conheci a muito tempo atrás. Inconscientemente, eu peguei a pequena mão de Helena e comecei a brincar com seus dedinhos, enquanto me culpava por ter me aproximado demais: não acabaria bem nem pra mim, nem pra ela. Subimos juntos para a sala, ela quietinha como sempre ao meu lado. Resolvi arrastar minha cadeira para ficar perto dela durante as próximas aulas; a maioria dos professores não se importava com isso, desde que não ficássemos conversando demais durante a aula. Me senti anormalmente ansioso quando chegou a hora de irmos embora, não pelos possíveis valentões, mas por Helena. Ela colocou um pedacinho de papel dobrado nas minhas mãos.

- Se... se puder...

Guardei o papel dentro de minha carteira, cuidadosamente. Aquilo me entristecia de certa forma, e verdade seja dita, uma parte de mim queria realmente ficar, independentemente dos problemas. E essa parte estava falando mais forte. Tomei o braço de Helena entre o meu e desci às escadas até o pátio, com ela timidamente agarradinha ao mim. Ela era extremamente fofa, me olhando com timidez estampada em seu rosto corado. Havia uma comoção no portão, e eu já fazia ideia do que se tratava. Abri caminho por entre os alunos até o lado de fora, com Helena ainda agarrada a mim. O valentão estava encostado no muro, segurando uma barra de ferro, ao lado de quatro amiguinhos seus, todos armados com barras de ferro e pedaços de pau. Soltei o braço de Helena.

- É essa pedaço de merda aí que nós veio amassar, Brunão? - um camarada negro, que mais parecia uma montanha de tão alto e forte, perguntou ao garotinho valente, segurando uma corrente em uma das mãos e apontando para mim com a outra.

- É, esse aí mesmo - Bruno respondeu - É muito corajoso para mexer com a namorada dos outros, mas vamos ver se é homem agora.

Deixei calmamente minha mochila e meu agasalho no chão, e olhei-os com desdém.

- Ih alá, tá pagando de fodão só por que é tatuado - um dos valentões gargalhou. Digamos que eu possuo uma quantidade considerável de tatuagens nos meus braços e tronco, e, por eu estar sempre agasalhado, elas quase sempre estão ocultas. Falarei sobre elas em outra oportunidade.

- Vai ficar olhando com essa cara aí, cuzão? - Bruno falou, estufando o peito - Se eu fosse você beijava meu pé agora, e aí se pá, você não apanha muito. 

Eu não aguentei e comecei a dar risada. A essa altura, uma multidão já havia se formado ao nosso redor, pedindo sangue. Eles teriam. Vi Helena me olhando, horrorizada, seus olhos me implorando para que eu saísse dali. Dei uma piscadela pra ela.

- Cê tá achando que vai bater em nós cinco mesmo, comédia? - o negão gargalhou.

- Bater? - eu disse, com um sorriso no rosto - Pff. Eu vou matar vocês.

O negão urrou de ódio e girou a corrente por cima da cabeça, e me atacou. Com um movimento do meu braço direito, consegui enroscar nele a corrente, sem que me esta me ferisse. Agora era cabo de guerra, e o mais forte sempre vence. Puxei a corrente com força, e o negão, que não aguentou o tranco, teve sua cara feia beijada pelo meu joelho. Ele estatelou-se no chão, na minha frente. Subi em suas costas e encurtei a corrente, ainda enroscada em seu braço. Ele tentou erguer sua cabeça, mas forcei-o com o pé a continuar beijando o chão. Ergui seu braço, conectado ao meu pela corrente, e com um movimento brusco, quebrei-o. Ele ficou em silêncio: já estava desmaiado. A multidão urrou, aterrorizada. Desenrosquei a corrente de seu braço quebrado e girei-a, livremente, na vertical.

- Próximo? - perguntei.

O fato de estarem em maior número deve tê-los conferido a coragem necessária para cometer a burrice de continuar me atacando. Desviei de um, e enrosquei a corrente no rosto de outro, e quebrei-lhe o pescoço com um puxão forte. Defendi uma paulada com o braço esquerdo e me abaixei, girando uma rasteira em outro, que caiu de cara no chão. Acertei uma cotovelada no rosto do cara com um pedaço de pau, e um chute giratório em outro. Ambos caíram. Covarde ataca por trás, e foi isso que Bruno fez, erguendo a sua barra de ferro e mirando na minha cabeça. Desviei com destreza, e o golpe passou direto. Girando, acertei-lhe um soco em cheio no plexo solar, fazendo com que ele se curvasse e deixasse cair sua barra. Peguei-a do chão, e ergui os braços para a multidão de alunos, que gritava freneticamente. Alguns cobriram seu olhos e outros correram. Helena estava ali, de joelhos, com as mãos cobrindo o rosto. Bruno estava de quatro, vomitando sangue. Ossos quebrados? Nice.

- SALVE, CÉSAR! - gritei, sorrindo, para que todos pudessem me ouvir - OS QUE VÃO MORRER TE SAÚDAM!

Saltei, e ergui a barra sobre minha cabeça, acertando em cheio a intersecção de seu crânio com a coluna vertebral. Clarisse, que assistia a tudo, desmaiou nos braços de suas amiguinhas, que guinchavam feito porcos histéricos. Olhei o cadáver de Bruno no chão. Bem, eu havia quebrado meu recorde dessa vez. Mas não me arrependi de nada. Pessoas morrem em combate, afinal de contas: ele só teve o azar de morrer muito mal. Professores e funcionários apareceram correndo, dispersando a multidão e tentando me agarrar. Desviei de um e acertei a barra em outro com força moderada. Vi Brunner chegar calmamente com seu café e pulôver marrom, fazendo uma cara estranha, como se fosse um aluno que chegou atrasado no ENEM. Ele se encostou no muro da escola, e seu sorriso bisonho voltou a brilhar em sua cara de louco.

- Ah, seu bandido - eu disse, olhando pra ele.

- MAS O QUE É ISSO? VOCÊ ESTÁ LOUCO, RAPAZ? - o diretor chegou gritando, vermelho como um pimentão - JÁ PRA DENTRO! VOU CHAMAR A POLÍCIA! PRA DENTRO! PRA DENTRO! CRIMINOSO!

O diretor tentou agarrar a gola da minha blusa, mas desvencilhei-me acertando um tapa com as costas da mão em seu rosto, derrubando-o. Ele me olhou, incrédulo.

Foi então que ouvi algo cortando o ar.

Setas.

Corri até Helena, ajoelhada, enquanto uma chuva de setas rasgava o ar. Uma acertou a boca do diretor, no exato momento em que ele a abria para gritar, fazendo com que ele gorgolejasse enquanto morria. O professor de geografia foi atingido no topo de sua cabeça calva, e os alunos que fugiam eram alvejados nas costas, braços, pernas e cabeça. Brunner ainda estava encostado no muro, praticamente alheio ao que estava acontecendo. Quando estendi meu braço esquerdo sobre a face, por puro reflexo, fui nele atingido; uma dor aguda percorreu-o por toda sua extensão. Mas Helena estava a salvo. 

Dois caçadores chegaram, em um salto.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             



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