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História Os Últimos Filhos - Uma Visita Inesperada


Escrita por: Skjald

Capítulo 9 - Uma Visita Inesperada


Fanfic / Fanfiction Os Últimos Filhos - Uma Visita Inesperada


~Kölbjörn

- Com quem você estava falando?

Camila se assustou, deixando cair o telefone. Certamente ela não esperava que eu acordasse assim, tão de repente. Eu também não: talvez, se eu não tivesse tido um sonho tão vívido e assustador sobre meu passado, eu ainda estivesse dormindo. Ou pior: eu estaria morto. O sonho deve ter sido uma tentativa bem-sucedida de meu subconsciente para me despertar, até porque, nos dias que se seguiram à morte de Lully, eu me mantive completamente acordado, batendo minha cabeça nas paredes para tentar esquecer. Só depois de uma grande quantidade de sedativos e extrema fadiga eu pude ter algum tempo de descanso. Bem, agora que vocês já sabem sobre Lully, acho que devo explicar a vocês sobre como ela morreu. 

Estávamos a quase dois meses em um conflito contra uma guilda rival, o chamado Clã Redemoinho. Minha divisão, o Grupamento Cinco, foi designada para uma missão extremamente perigosa: tínhamos que invadir um bairro dominado pelos Redemoinhos e fazer uma limpeza silenciosa na área, no período máximo de duas horas. Trazíamos nossas espadas às costas e, apenas para emergências, pistolas e grandas nos coldres. Lully tinha um olfato apurado, assim como seus cães, então ela foi designada para o pelotão de sensores, junto comigo. Mas eu fui até Kári e pedi para lutar na vanguarda, já que meu sentido sensor podia auxiliar as tropas de forma mais direta. Disse à Lully que só nos separaríamos por alguns minutos, e acabamos nos separando para sempre. Segundo sua certidão de óbito, ela havia sido pega em uma armadilha incineradora. Isso, na verdade, foi Karolyn quem disse, já que ela era a única testemunha do ocorrido. Lully era extremamente vulnerável sem seus cães: ela não havia recebido permissão para levá-los, por serem barulhentos demais. Eu não estava por perto. Um certo DJ Jagërhorn, companheiro de Ärn e Gunnar, foi quem veio me avisar, exasperado. As únicas coisas das quais me lembro era de Karolyn chorando e vomitando, e de Leif me carregando para fora do campo. E só cinco anos depois, após ver Lully morrendo pela segunda vez, eu fui me dar conta que Karolyn também era uma armadilha incendiária. Apesar de parecer uma conclusão muito precipitada, a chance de eu estar errado é quase nula: as duas não se davam bem, e Karolyn era uma pessoa um tanto quanto desleal.

Bem, voltemos à cama de hospital. Camila se levantou de seu assento com um salto e caiu em cima de mim com um abraço apertado, quase me mandando de volta para o mundo dos sonhos. Resisti ferrenhamente e devolvi-lhe o abraço, meu braço ferido queimando em dor. Dei um beijinho na ponta do nariz dela, e ela sorriu, me beijando na bochecha e acariciando meu cabelo, que já devia estar igual a um ninho de rato, àquela altura. Já mencionei o quão bonita Camila é? Ela tinha um rosto lindíssimo, e olhos azuis que pareciam refletir o céu diurno. E bem, ela é ruiva. Notei que ela estava com a cara toda amassada, cara de quem não dormia há dias. Ela tinha olheiras enormes e o cabelo estava todo despenteado. E devo dizer que, mesmo assim, ela ainda estava linda.

- Ei, moça - eu murmurei - tem um rosto nas suas olheiras.

Ela sorriu. Preciso dizer que ela tem um sorriso lindo, também?

- Fico feliz que você e seu senso de humor estejam bem - ela disse, saindo de cima de mim e deitando-se ao meu lado.

- Espaçosa como sempre - eu respondi - Eu não estou tão feliz assim, Mila. Como foi que você me achou?

Tive a impressão de que ela ficou meio triste ao ouvir isso. Ela sempre me dizia que estava com saudades e que queria me ver de novo. Infelizmente, as circunstâncias não eram as melhores para ficarmos de namorico e melação. Ela estava comprando minha briga, e podia acabar pagando um preço alto por isso.

- Não foi muito difícil - ela começou - A Falange te encontrou antes. Aquele tal Werner pediu para que a Shindo Renmei fizesse o favor de capturar você, caso seu paradeiro fosse descoberto. Arata-sama me contou que suspeitava que você estivesse por trás daquele incêndio. Então eu fui até a escola pra procurar evidências. Me disseram que um aluno novo tinha salvado uma aluna de se afogar na piscina, e havia saído ileso em meio às chamas. Como é a sua cara fazer isso, eu pedi permissão ao diretor pra ver a ficha de inscrição desse tal aluno, só pra confirmar. E estava lá, uma foto sua com carinha de malvado. Eu tentei ir atrás de você no dia da palestra, mas você saiu rápido demais.

- Espera - eu perguntei - como conseguiu me ver no meio da multidão?

- Você era o único cara com um capuz tentando se esconder feito um idiota.

- Merda, você é boa.

- Eu te acharia em qualquer lugar, K. Em qualquer circunstância - Camila voltou a subir em cima de mim e começou a me beijar.

Deuses, aquilo foi muito bom. Fazia muito tempo que eu não beijava uma garota. Isso, somado ao fato de que eu estava com meus pensamentos voltados para Lully, deve ter causado em Camila a impressão de que eu havia andado praticando boxe com minha língua. Esse pensamento me encheu de vergonha, e eu me desvencilhei de suas carícias. Ela ficou completamente sem jeito.

- Er... me desculpe, K, eu...

- Ah, não tem problema, eu é que devo me desculpar - eu murmurei - Além do mais, sua boca tem um gosto muito bom. Toda ruiva é sabor morango?

Ela sorriu, ajeitando timidamente uma mecha de cabelo. Já falei que ela é muito fofa?

- Mas... e Karolyn?

Eu queria ouvir tudo, menos esse nome.

- Que Fenrir e seus filhos enrabem essa desgraçada. Vamos, continue esse beijo.

Ela voltou a me beijar, com intensidade. Eu estava morrendo de dor, provavelmente com um bafo desgracento de sangue e vômito, mas ela parecia não ligar, e eu não iria abrir mão do prazer de beijar a boca de Camila Zaleski. Sim, ela é descendente de poloneses, e eu adorava fazer piadas a respeito de nazistas e blitzkriegs em sua presença. Depois de quase dez minutos de beijo, fiz uma piadinha sobre o gosto da minha boca. Ela riu e disse que não tinha problema, já que ela não tomava banho a quatro dias e que deveria ter escovado os dentes umas duas vezes durante esse tempo. Cheguei a conclusão de que ruivas realmente possuem sabor natural de morango, e sugeri a ela que fizéssemos sexo em cima de um monte de merda, para completar a porcaria. Ela fez carinha de nojo, deu risada e continuou a me beijar. Não a culpo; até onde eu sei, ela já queria isso há tempos. Se não fosse Karolyn, certamente já estariamos namorando a essa altura.

- A Polícia Federal veio aqui te procurar - ela disse, interrompendo o beijo - Bem, "procurar" não é a palavra correta. Você sabe qual é.

- Amo esse carinho que as pessoas tem por mim - revirei os olhos - e o que a senhorita fez?

Ela fez um gesto, pedindo para que eu desse uma olhada no quarto. Haviam inúmeros vasos de plantas: pequenos bonsais, louros-da-montanha, e até plantas carnívoras. Ah, garota esperta. Da mesma forma que eu possuo afinidade com o fogo, Camila possui afinidade com as plantas. Ela pode fazê-las crescer de forma absurda, e mesmo transformá-las em seres senscientes. A mim me pareceu que plantinhas carnívoras de Camila estavam muito sorridentes. Talvez fossem mesmo carnívoras. Ela piscou para mim e soltou um suspiro de alívio.

- Até que enfim vou poder dormir tranquila agora - Camila disse, repousando a cabeça sobre meu peito.

- Acho que você realmente deveria fazê-lo - eu respondi, dando-lhe um beijinho no alto da cabeça - Porque você não vai pra casa, toma um banho e descansa um pouco?

- E você, como fica?

- Aqui, deitado. Não estou em condição de sair por aí matando pessoas.

Ela parecia desanimada com a ideia.

- Eu queria ficar um pouco mais com você. Eu não vou conseguir descansar se você ficar aqui sozinho.

- Mila, cê tá esgotada - eu argumentei - Olha só pro seu estado. Não vai conseguir me ajudar dessa form. Descansa um pouco, relaxa. Por favor.

Ela suspirou e se levantou da cama, indo até a cadeira onde ficara por tanto tempo assentada, para pegar sua bolsa. Ela tirou uma pistola japonesa Nambu e voltou até mim, colocando-a debaixo do travesseiro. Pendurando a bolsa em seus ombros, ela me olhou com um ar meio decepcionado.

- Eu falei com Helena hoje cedo - aquilo me surpreendeu - Vou tentar falar com ela de novo e ver se ela pode vir ainda hoje.

- Helena? - eu perguntei - Ela deve estar bem preocupada.

- Você não faz ideia, K - Camila respondeu, com um olhar que tentava me convencer a deixá-la ficar mais um pouco - Vou tentar voltar hoje à noite. Ah, já ia me esquecendo. Peguei suas coisas na pousada e levei lá pra casa. Assim que você estiver bem, vou levar você pra lá. A Shindo Renmei vai te dar cobertura. Pode ter certeza.

Assenti com a cabeça, sorrindo.

- Volte. Fico feliz em ter você por perto.

Ela sorriu. Já havia atravessado a porta quando ela voltou de repente, ajoelhando-se ao lado de minha cama.

- K, vê se não faz nada estúpido, tá? Não quero que se meta em mais confusão - ela se despediu com um selinho, e saiu apressada do quarto, batendo a porta.

Sozinho, de novo. Apesar da minha vontade de passar o resto do dia beijando Camila, eu não podia deixá-la aqui. Se dependesse dela, não sairia do meu lado até eu estar pronto para a luta novamente. Mesmo sendo uma sanguerreal, Camila não podia se dar ao luxo de ficar se esforçando até a exaustão. Isso frequentemente é letal para pessoas como nós. De qualquer forma, se Helena viesse me ver, o meu dia continuaria agradável. Helena é uma excelente companhia, ainda que ela se limite a pouca conversa e olhares e sorrisinhos tímidos. E, além disso, ela me trazia boas lembranças de Lully. Apesar de as duas serem pessoas completamente diferentes em seu exterior, eu via o mesmo brilho dos olhos de Lully nos de Helena: uma contemplação repleta de amor e carinho. Tentei cochilar um pouco, para afastar a dor, mas fui interrompido ao sentir uma familiar alteração nas vibrações do ar. Uma energia diferente. Talvez você já tenha sentido a presença de espíritos. Pois é, é mais ou menos a mesma coisa. Suspirei. A vida realmente é uma surpresa. Uma enfermeira bateu na porta.

- Senhor Edgar? Tem visita pra o senhor.
 
- Pode entrar, Leif - eu gritei, e senti uma pontada de dor entre minhas costelas.

Primeiro veio Helena, tímida e hesitante, com um buquê de rosas em mãos, linda em um simples vestidinho preto e uma bandana amarrada em seu cabelo; ela sorriu quando percebeu que eu já estava acordado. Depois, seguiu-a a familiar figura de um excêntrico rapaz barbudo. Parecia ter o cabelo inteiramente raspado se visto de frente, mas uma trança adornada destacava-se na parte de trás da cabeça; enfeitava-se com ouro, prata e pedras preciosas, brincos e piercings rebuscados, óculos escuros redondos ocultando seus olhos castanhos; trajava uma fina farda cinza-escura e um rebuscado sobretudo com arabescos dourados.

O xamã mais poderoso do mundo, Harigasti Leif Karlson.

- Saudações, velho amigo - ele me cumprimentou, com uma leve mesura.

 



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