Não conseguia dormir, fiquei pensando no olhar daquela criança, tristes e sem luz. Isso me lembrou de mim mesma.
De como aos cinco anos acordei um grito no meio da noite, abri meus olhos e vi meu quarto bagunçado como sempre esteve. Coloquei os pés descalços no chão e senti o frio mármore esfriar meu pequeno corpo. Sai do quarto abraçada com meu urso de pelúcia ainda sonolenta, o que me fez esquecer de pequenos detalhes, como: se a porta de casa já estava aberta, ou se a TV estava ligada ou ainda se eu realmente vi alguém saindo pela janela do quarto da minha mãe.
Eu só me lembro de como ela estava quando a encontrei. Com uma corda improvisada em volta do seu pescoço, pendurada no ventilador de teto do quarto, e de como ela se debatia tentando se soltar, seu rosto começando a ficar roxo e seus olhos vermelhos me fitando. Eu não chorava, não gritava,soltei meu urso e nem ouvi o som do barulho que fez quando seu olho de vidro bateu no chão. Ela moveu os lábios dizendo que me amava, mas sem sair nenhum som. Lembro de pegar o telefone e discar os números da emergência e dizer “a mamãe tentou se matar”.
Qualquer acontecimento depois disso é um borrão. Mas, quem poderia culpar uma criança de cinco anos que assistiu a morte da mãe? Nada mais importava.
Minha avó não quis a minha guarda, disse que não cuidaria da sua neta, já que segundo ela, minha mãe quase a matou de desgosto. Nunca conheci meu pai, aliás, eu sei quem ele é, eu acho que ele não se importa comigo ou nem ao menos sabe da minha existência, o que também não faz diferença, não mais.
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