O silêncio era ensurdecedor. Tony estava a cinco passos de mim, estava sentado com o corpo de lado para a mesa, que apoiava um imenso computador, ele me encarava sem disfarçar, enquanto eu reescrevia os códigos do meu vírus.
-Isso é estranho – eu disse ainda olhando para o computador, meus olhos refletiam a luz da tela.
-O que não consegue modificar isso?– ele disse.
-Não, tem um imbecil me encarando – retruquei – dá pra parar?
-Acho que vai ter que colocar fogo em mim ou algo do tipo – eu ri e ele continuou – como você faz? Fica com raiva e destrói as coisas? Ou acontece a qualquer hora?
-Não sei, um pouco dos dois eu acho – respondi.
-Há quanto tempo você os tem? – pertuntou.
-Estamos jogando trívia?
-Vai me dizer que você não tem perguntas pra mim?
Eu respirei fundo, virei meu corpo, olhei para ele e disse:
-Qual o seu login e senha no sistema da SHIELD?
Ele olhou para baixo, sorriu com o canto da boca e olhou para mim novamente.
-Você me pediu pra fazer uma pergunta, eu fiz. Até poderia invadir, mas vai demorar um pouco e eu só quero sair daqui logo.
-E só acho engraçado que nós não tenhamos nenhuma convivência até hoje, e mesmo assim, você tem o meu temperamento.
-Eu não sou nada como você. Eu não te conheço, e você não me conhece – estava começando a ficar irritada – você não é o meu pai, e essa coisa amistosa e cooperativa que você está esperando de mim, com certeza não vai ver.
Ele se levantou e veio na minha direção.
-E você acha que é assim que eu queria que as coisas fossem? – ele aumentou o tom de voz -Eu não sabia de você até algumas horas atrás, e nem sei se queria saber sobre isso, a minha vida é uma completa bagunça, porque o que eu faço coloca a vida das pessoas em perigo. Não tem espaço pra isso.
-Então eu acho que nós concordamos em alguma coisa.
Um silêncio pairou no ar. Era como se o mundo inteiro tivesse congelado. Nenhum de nós piscava ou desviava o olhar um do outro.
“CÓDIGO REDEFINIDO. TEMPO ESPERADO PARA FINALIZAÇÃO 79 HORAS” – meu computador avisou.
-É isso ai – eu disse saindo da sala.
Eu estava gritando por dentro, podia sentir todo o meu corpo esquentando.
Minha mãe sabia como ele era, tenho certeza. Egocêntrico, ignorante, egoísta. É o tipo de pessoa que eu não conviveria nunca, nem mesmo como amigo. Quem ele acha que é? Primeiro finge que está preocupado em saber sobre mim e depois diz que não há espaço pra isso na vida dele.
Eu prefiro a HYDRA.
-Ei, você está bem?
Levantei o rosto e Steve estava a minha frente, olhando para mim.
-Você está muito quente – encostou a mão na superfície da minha pele – parece até que tem fumaça saindo de você.
-É... Isso acontece as vezes – eu disse revirando os olhos – como eu faço pra sair daqui ?
Ele riu.
-Já se cansou daqui? – perguntou.
-Não é o emprego dos sonhos, foi um dia muito longo e eu estou muito a fim de encher a cara.
-Você não é menor de idade?
-Eu não conto se você não contar.
Ele olhou em volta e disse:
-Venha comigo.
Descemos de elevador, e paramos quatro andares acima de onde ele havia me encontrado.
Era um cômodo enorme, muito bem iluminado, com bancadas de madeira e cadeiras e sofás de couro. O cheiro era de menta misturada com álcool.
Ele atravessou a sala, abriu um armário e pegou uma garrafa de vidro com um líquido marrom. Apanhou dois copos, e serviu dois dedos da bebida em cada copo, e me entregou um deles.
- Espere. Tudo bem pra você beber isso?
-Como assim?
-Você sabe – coçou a cabeça – isso é inflamável.
Não consegui segurar o riso. Inundei a sala com a minha gargalhada. Ele olhou pra mim, e começou a rir também.
-Só perguntei por que assim posso pegar um extintor de incêndio – ele zombou.
Eu ri com o canto da boca e levei o copo aos lábios, sentia cada gota da bebida descendo pela minha garganta.
-Sem problemas – eu respondi.
Ele fingiu estar aliviado.
-Então... Srta. Hush, o que está achando daqui?
-Mais de 30 andares e ainda parece uma prisão.
-Não é tão ruim depois que você se acostuma, fico aqui grande parte do tempo, embora queira dar um escapada para conhecer lugares diferentes. Já esteve no Grand Canyon?
-Não eu nunca estive em lugar nenhum, não é como se eu tivesse escolha.
-E pra onde você iria se tivesse escolha?
-Eu não sei, eu nunca havia pensado nisso. São muitas oportunidades.
-Oportunidades que você ainda vai ter.
Eu sorri levemente com o canto da boca, e me levantei da cadeira.
- É melhor eu ir agora, preciso terminar o meu trabalho aqui – ele abriu a boca para dizer algo, mas eu o interrompi – obrigada pela companhia.
Ele assentiu com a cabeça.
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