História Ossos de vidro - Ossos de vidro e o Coração de cristal.

Ossos de vidro, ou  de cristal, é uma doença de caráter genético que afeta uma em cada 20 mil pessoas. Essa disfunção se divide em quatro tipos, desde o mais ameno, até o mais grave; e todos os tipos tem uma coisa em comum: ossos frágeis. Por mais que os medicamentos amenizem a dor e diminuam a ocorrência das fraturas, a doença não tem cura.

-Meu nome é Park Jimin. - o pequeno garoto de 13 anos estendeu uma das mãozinhas em direção ao vizinho, o ser humano mais lindo que já viu em toda sua vida.

-Eu sou Jeon Jungkook, muito prazer! - sorriu o outro, mostrando os dentinhos de coelho extremamente brancos. - Me desculpe, eu não posso apertar a sua mão... - falou com um semblante triste demais para uma criança de 10 anos.

Ele tinha nojo de Jimin? Mas ele nem o conhecia! Nojo de germes? Pequeno Park era limpinho. Ou simplesmente não gostava do toque humano? As perguntas invadiam a cabeça do mais velho, ele não entendia o porquê não podia ganhar um simples aperto de mão.

-Ossos de vidro... - o menor se pronunciou novamente, notando a expressão confusa do outro.

-O que? - não havia entendido o significado daquilo. "Ossos de vidro"? Como os ossos poderiam ser de vidro?

-Eu sou doente, Jiminie. Meus ossos... Eles quebram.

-Os meus também, eu lembro de quando eu tinha sete anos e caí da casa na arvore! Eu quebrei um dos meus braços e ainda tenho a cicatriz, olha! - ergueu uma das mangas de sua blusa, mostrando a pequena elevação presente ali. O Jeon meneou a cabeça de um lado pro outro. - Você acha que estou mentindo?! - aumentou um pouco o tom de voz, não gostava de ser questionado.

-Eu não sei como te explicar... Você pode falar com a minha mamãe sobre isso, ou com o Dr. Namjoonie. - falou calmamente. - Agora eu tenho que ir, até amanha!

***

-Kookie! Eu achei, eu achei! - o maior gritava correndo na direção do pequeno, que saia da própria residência. - Eu sei o que significa "ossos de vidro"! - dizia entusiasmado e com a respiração irregular, por conta da pequena corrida.

-Ah... Então agora sabe que não posso brincar direito com você, não é? Não vai mais querer ser meu amigo.

-Que bobo você, Kookie. É claro que eu quero ser seu amigo. Eu vou te proteger de todas as quedas, prometo! 

O Park protegeu o pequeno amigo, e a mente inocente de uma criança achou que seria assim para sempre. Mas não é assim que funciona, a vida é repleta de dramas. A vida do Jungkook era um drama por si só.

Todos os dias Jimin tomava cuidado para o menor não se machucar, não tirava os olhos dele e também não queria tirar. Naquele tempo ele não entendia o que estava sentindo, só sentia seu coraçãozinho bater mais rápido quando suas mãos se encostavam ou quando os dois se despediam com um abraço no final do dia.

Entretanto, um dia a culpa consumiu o pequeno corpo do garoto mais velho. Ele não tinha sido cuidadoso o suficiente - o menor tropeçou e caiu sobre a grama do parquinho. Mesmo dizendo que não havia acontecido nada demais, pela grama ser fofa, o Park entrou em pânico. A promessa havia sido quebrada, ao ver do Jimin.

O mais velho não saiu de casa nos dias seguintes, evitava ao máximo se encontrar com o pequeno. Não queria olhar naqueles olhinhos que com certeza estariam culpando-o.

O garoto prometeu algo impossível e agora teria que arcar com as consequências - quem mandou querer dar uma de herói da nação? Proteger um garoto tão frágil quando as asas de uma borboleta? Que bobagem. Esse é o trabalho de um médico, não de uma criança.

***

Os lábios cheinhos formavam um bico emburrado enquanto recebia um sermão da progenitora.

-Jimin, volte a falar com seu amigo, ele não para de perguntar sobre você! Você devia ver a carinha triste que ele faz quando não vê você ao meu lado.

-Eu não quero, ele me odeia. - cruzou os bracinhos e fechou mais ainda a cara.

-Não diga isso, meu filho. Aquele garoto te ama.

"Ele me ama." - pensou o pequeno, permitindo que um sorriso mínimo se forme em seus lábios. Ele não sabia qual era o significado da palavra "amor", só sabia que era algo bom. Quando duas pessoas se amam, elas ficam juntas para sempre.

No dia seguinte voltou a conversar com Jungkook, e como se nada tivesse acontecido, esse o recebeu de braços abertos.

***

Aos 16 anos, o quadro o Jungkook piorou drasticamente, tanto que o mesmo foi obrigado a usar cadeira de rodas. Vivia dopado de remédios que não ajudavam, as dores que sentia no corpo todo eram insuportáveis. Ele gritava todas as noites e torcia para aquilo acabar logo, havia atingido todos os seus limites.

-Jiminie... - chamou baixinho, vendo que o amigo ameaçava sair do quarto. A dor de ambos poderia ser comparada, já que o interior do Jimin queimava toda vez que via o menor. Ele desejava estar em seu lugar. - Dorme comigo hoje, por favor.

O Park obedeceu e se deitou ao lado do menor, deixando um espaço mínimo entre os dois corpos. Eles não eram mais crianças, porém o sentimento continuava puro. É claro que ambos desejavam se unir, se amar, mas sabiam que era impossível.

Jimin levou uma das mãos até o rosto do Jeon e fez um leve carinho na bochecha. Tão frágil... Park tinha medo de machucá-lo com um simples toque, era como se o menor pudesse quebrar só com o sopro do vento.

-Você pode me beijar? - Kook perguntou cheio de expectativa, ao mesmo tempo em que tinha medo da reação do outro.

-Kookie...

-Por favor.

O silêncio total se instalou no quarto, não havia mais dor e nem gritos de agonia. Ali estavam duas pessoas que se amavam, num ato de cumplicidade. Foi somente um toque dos lábios, porém aquilo teve um significado intenso demais para ambos.

No dia seguinte o quarto se manteve em silêncio, e nos dias seguintes também.

Jungkook nasceu com ossos de vidro, já o Jimin... Ah, o garoto tinha coração de cristal, e este se quebrou em mil pedacinhos naquela noite silenciosa.