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História Otherside - Décimo


Escrita por: redwood

Notas do Autor


Não sei se algum de vocês sabem muito, mas passei o que chamam de bloqueio criativo, e quando isso acontece... Só Deus sabe quando ele vai passar. Mas ele passou (e demorou horrores) e cá estou. Preciso dizer que a partir deste capítulo, a história ganha outro rumo. E espero que gostem dele. Boa leitura!

Capítulo 10 - Décimo


Fanfic / Fanfiction Otherside - Décimo

Maktub é um termo oriental que tem o significado de “tinha que acontecer” ou mesmo “já estava escrito”, sendo uma palavra considerada como sinônimo de destino, já que define algo que estava predestinado, um fato que já estava escrito, que não podia ser evitado. 

Com o conceito árabe de maktub, consideramos que, embora o ser humano tenha o seu livre arbítrio, algumas ocorrências são inevitáveis e que o ser humano é obrigado a passar por elas. O termo pode ser comparado ao “carma”, tanto referido pelo hinduísmo ou pelo espiritismo.  

O que estava prestes a acontecer era um maktub

Robert 

Nada está no nosso controle. Isso é um fato. Não se pode assumir os controles do próprio destino quando este já está trilhado para tudo o que vier a acontecer. Seja ele algo bom ou ruim. 

Dizem que escrevemos a nossa própria história, mas certos acontecimentos não estão no poder das nossas mãos. 

Naquela manhã, eu estava disposto a não esperar demais de quem eu já era. Colocar expectativas acima dos meus princípios me deixava distraído do mundo real. Dos meus objetivos e metas. Mas era só imaginar certo alguém que tudo ia pelos ares. 

A verdade é que no fundo eu sabia o que bem queria. Queria reviver o que já senti, mais uma vez, celebrando o fato de que os seres humanos sempre estão na busca de novas oportunidades para velhos erros. Eu sabia que muito provavelmente iria quebrar a cara, mas por alguma razão, eu queria isso. 

—Que semana — disse Andrew. —Eu tô tão pilhado com a turma nova que assumi que não sei se vou dar conta, é sério cara. 

—Você vai largar a turma de História então? — perguntou Liam. 

—Não! — Andrew disse em voz alta. —Claro que não. Que pergunta. Eu gosto de lá. 

—Gosta de lá ou da orientadora que fica por lá? 

Eu dei uma leve risada. Não por causa do diálogo, mas pela inocência de Liam. Ele ainda não sabia. Pudera, minha amizade com Andrew era meio que fechada num círculo, e Liam muitas vezes soava como um intruso querendo invadir esse tal círculo. Por isso era engraçado.  

Andrew e eu sabíamos muitas coisas um do outro. Logo que comecei a lecionar em Cambridge, ele entrou também. Nos tornamos bem amigos desde então. Liam só entrou uns 4 anos depois. Ele era como a Rachel na primeira temporada de Friends

Andrew é bissexual (como acha que nos tornamos amigos?) e sim, nós meio que tivemos um lance uma vez e percebemos nossas tantas afinidades em comum que seria estranho namorarmos. Então colocamos a amizade acima disso.

Preferimos tornar isso um segredo. Quer dizer, nem eu nem ele éramos do tipo "sair do armário e tocar fogo nele."  Há muito tempo, minha vida era um túmulo de enterrar segredos e ocultar mentiras. Aquele seria apenas mais um deles. 

 Eu estava tão disperso em meus pensamentos que não dei atenção ao mundo exterior me chamando. Quando percebi, estava na sala dos professores. 

—Oi? Tem alguém me chamando? — falei, atordoado. 

—Bom dia pra você também. — disse ela, naquele tom de ironia de sempre. 

—Victoria... — eu suspirei discretamente, tentando dissimular o meu desconforto. Eu não conseguia me sentir bem na frente dela. —Desculpe, er... Eu não percebi que você estava aí. 

—Sempre desatento. — falou, ingerindo uma singela xícara de café preto e lendo o Daily Mail. 

—Uhum. — confirmei. 

Victoria balançou a cabeça negativamente, dizendo: 

—Sabe, Robert, eu quero que você pare de me ver como uma inimiga. 

Estreitei as sobrancelhas, confuso: 

—E-eu não entendo. 

—Viu? É disso que eu estou falando! Quando estou por perto, você age acuado, fica na defensiva, nem parece o mesmo paciente que eu costumava ouvir sempre. 

—Isso foi desde que você passou a me julgar. — falei, em voz baixa, torcendo não ser ouvido. 

—Você sabe que eu sempre quis o seu bem, Robert. 

Suspirei. Um clima triste se instalou no ar e tão cedo, eu já estava desanimado pelo resto do dia. 

—Bom dia, Victoria. 

Deixei a sala, rapidamente, sem ouvir se ela me respondeu ou não. 

- - -  

Especificamente naquele dia, eram as apresentações dos alunos. Minha indisposição de ouvi-los falar era tanta que minha vontade era de dar 0 a todos. Mas não sou um cara sem ética a tal ponto.  

Pelo menos eu ouviria Nico falar. Ele era a parte boa e realmente que me interessava no meio de tantos alunos. Eu mal o conhecia, porém eu tinha aquela sensação de que ele era alguém valioso... E que valesse o meu investimento. 

Pode não parecer, mas o que eu procuro em pessoas, está além do que elas aparentam ser. Eu ainda era um daqueles bobos, que, apesar das desilusões (não só as minhas, mas de todo o meu círculo social) ainda acreditava no amor. 

Percebi durante a aula seguinte o nervosismo de Nico, o que era inexplicável, já que ele havia se saído muito bem durante o trabalho. E a partir daí, eu sabia. Havia algo errado. 

- - -  

—Tara, eu já disse, não tenho nenhuma fonte interna da família real! Eu não trabalho com furos!  

Era a terceira ligação do meu trabalho a respeito de alguma fofoca envolvendo o príncipe Charles. As pessoas confundem jornalismo com furo do TMZ.  

Estava deixando Cambridge direto para ainda revisar uma pilha de notícias. Minha cabeça explodia. Mil pensamentos por minuto, e preocupações motivadas por acontecimentos que ainda estão a semanas por acontecer. 

Naquele momento, quando a sua vida é como um veículo (nesse caso, literalmente) que decide cruzar para um desvio na estrada em que tudo muda e um novo destino é marcado. Este momento. O maktub que traçou na pele, no movimento, no tempo e no rumo em que nossas vidas estavam para serem alteradas. 

A cena: eu saía de um dos portões laterais da Universidade quando no portão principal eu o avisto. Fiquei feliz: eu o procurei o dia inteiro e ele estava ali. Nico. Ele e alguma espécie de rapaz anônimo naquela tarde nublada de março discutiam intensamente. Com ódio no olhar, o rapaz gesticulava bravo para Nico, e este respondia com menos intensidade, porém com o mesmo tom. 

Era o que eu via não tão de perto, mas não tão longe. Sutil, eu cruzo o meu carro lentamente pela rua e a cena começa a ganhar detalhes que explicam as coisas. 

Um pouco afastado, há o rapaz com quem Nico apresentou o trabalho anteriormente. Mais atrás, há um táxi que começa a buzinar incessante.  

Começo a entender, que, os dois discutindo são irmãos, ou namorados e que ele está tentando levar Nico para algum lugar. 

Foi quando o rapaz agarrou Nico pelo braço de forma rude e o sacudiu. No ímpeto eu disse para mim mesmo "isso eu não vou deixá-lo fazer" e quando percebi estava para fora do carro e indo direto até eles. 

—Ei! — falei, em voz alta. —Deixa ele em paz! 

O rapaz, que segurava Nico, ainda se manteve na posição: 

—Quem é você? Não se mete! 

—Professor, eu, ele... — disse Nico. — Não é nada... 

—Solta ele! — eu avancei, puxando o braço do rapaz com força. 

—É esse tipo que você arranjou por aqui?! — disse ele para Nico, que continuava estático. —Por isso que não quer voltar! 

—É esse o tipo sim —intervi novamente, olhando fundo nos olhos daquele loiro sem sal. —Eu não vou pedir mais uma vez. Deixa ele. 

O jovem decidiu se afastar, mas antes ainda disse: 

—Eu esperava mais de você, Nico. 

—Vai se foder, George. 

Finalmente uma reação, pensei. 

A essa altura, uma pequena multidão se formava ao redor.  

—Vão viver! — gritou Nico. 

- - -  

—Eu sou tão idiota — disse ele. —Por que eu não consigo manter o controle da minha vida? 

—Ninguém consegue. — respondi, logo sugando o café amargo e fraco que serviam perto de Cambridge. 

—Me desculpa.  

—Desculpa? Pelo o quê? Nico, você não tem culpa de nada. 

—Eu tô te envolvendo na minha vida pessoal e... — ele olhou para baixo, entristecido. —Você já tem os seus problemas. 

—Proteger um aluno meu nunca vai ser um problema. 

Nico sorriu. Já melhorou o dia. 

—Obrigado pela carona — disse ele, enquanto ainda estávamos parados em frente a República onde ele estava morando. Ele ficou ditando o caminho o percurso inteiro (como se eu já não soubesse).  

Era mais ou menos 5 da tarde. Eu não esqueço dos detalhes daquele dia. Um vento gelado percorria entre nós no final do entardecer. 

Nico estava descendo do carro e até chegou a abrir a porta, porém, antes ele me perguntou: 

—Como... — e ele riu, provavelmente porque a pergunta não soaria bem para nós dois. —Como você sabia exatamente que eu estava ali e que exatamente aquilo estava acontecendo? 

Eu paralisei. Joguei minhas costas no assento onde estava e ri nervosamente. Sabe quando você não tem ideia do que dizer para alguém em uma situação constrangedora e seu coração acelera feito uma bomba em contagem regressiva? 

Então. 

O maktub. 

Eu não pensei muito.  

Só fiz. 

Segurei a nuca de Nico e o beijei. Meus olhos se fecharam e eu pensava na possibilidade dupla de ser ou não correspondido. Mas eu, surpreendido, fui. Nossos lábios se fechavam numa elipse que se abria e fechava nervosamente, e por dentro, havia ainda aquele tímido toque entre duas línguas que logo ganharam intimidade e se entrelaçavam com vontade. 

E foi num segundo. Logo nossos olhos se abriram, surpresos com o que havia acabado de acontecer. 

O início de tudo.


Notas Finais


O próximo capítulo vai avançar ainda mais. Prometo.


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