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História Otherside - Décimo Terceiro - parte um


Escrita por: redwood

Capítulo 13 - Décimo Terceiro - parte um


Fanfic / Fanfiction Otherside - Décimo Terceiro - parte um

Nico 
 Duas semanas após o acidente, Jane Ashby Clarke faleceu. 
Foi um choque para todos. Se acreditava que Jane estava se recuperando das queimaduras e do traumatismo craniano, e que logo ela acordaria e tudo estaria bem. Porém, naquela segunda feira, a Universidade foi informada de que ela não resistiu a uma cirurgia.  
 Lembro deste dia como se estivesse acontecendo hoje mesmo. Lembro de ver as pessoas correndo, desesperadas e outras confusas com a notícia. O que eu entendia apenas é que uma tragédia ocorria ali. E havia esse meu choro contido, esse choro de pensar que alguém que conheci, nem que houvesse sido apenas por um instante, agora já não mais estava mais com vida dentro de si. E de pensar em meus amigos, que conheciam Jane, agora estarem sofrendo. E o mais dolorido de tudo, pensar na mãe da garota, Victoria.
 Apesar de tudo isso, a pior parte não era aquela. A pior parte eram as mentiras no meio de toda aquela tragédia. 
— Sua gola está do avesso. — diz Vanessa, ajeitando meu terno preto, enquanto ajusto minha gravata no espelho. 
— Eu estou bem nesse vestido? — pergunta ela, virando-se. 
— Aham — sentei-me.  — Acho que todos ficam bem de preto. 
— É — ela também se sentou na cama, e suspirou. — Eu só queria que essa fosse uma situação feliz. E então não teria esse clima, sabe? 
Vanessa sempre costumava carregar um sorriso no rosto, e ver o lado positivo da coisas. Mas existe algum lado positivo na morte de alguém? Era difícil e estranho para todo mundo, mesmo para quem não a conhecia.
 E então ouço o buzinar de um veículo lá fora. Seria nosso Uber, com Isaac já nele. Vanessa e eu descemos as escadas da República e seguimos para o carro.  
 Entramos e a viagem para Cambridge se iniciou. Eu cumprimentei Isaac. Ele sorriu, tímido, por não conhecer Vanessa ainda. Ela logo se adiantou, apresentando-se. Aos poucos, os dois se conheciam e eu ficava mais imerso em meus pensamentos próprios e particulares. 
 Mas tudo era estranho e eu acreditava, a princípio, que nada era de se acontecer naquele dia.  
 Cambridge estava fechada. Apenas um dos inúmeros portões estava aberto naquele dia nublado que não chovia. E ao lado, haviam algumas flores, cartas e fotos de Jane com outros alunos. Uma espécie de templo se construía ali, onde as pessoas choravam e diziam algumas palavras sobre dor. Outras, apenas selfies.
 Isaac, Vanessa e eu descemos do táxi e entramos na procissão em fila que se formava a caminho da catedral dentro de Cambridge.  
Em silêncio, eu questionava minha fé. Deus, para mim, se tratava de algo delicado para se falar. Em primeiro, por eu ser homossexual. Sei o que a Bíblia pensa a meu respeito, e que a fornicação é o que me condena, supostamente. Entretanto, desde o início de minha vida eu não entendia um Deus capaz de me trazer ao mundo e levar minha mãe em meu lugar. Eu também não entendia um Deus que levou Jane, que era tão nova. Que tinha tudo pela frente. Que sua ausência agora traria dor e sofrimento para sua mãe, Victoria. 
 E então, estávamos em frente a tal construção. Eu não entendia muito bem a necessidade de existir uma catedral dentro de uma universidade, porém, deveria servir para eventos como este. Era marrom por fora e por dentro. Alta. Tijolos expostos e musgos subindo pelas paredes. Uma torre única e abobada, com sinos no topo. Haviam vários carros estacionados e pessoas conversando ao redor deles. Um mar de roupas pretas. 
— Nico! — Vanessa me chamou. Provavelmente eu me distraí com os detalhes da construção. — Eu vou logo entrando. Você vem? 
— Não, eu... — olhei ao redor, procurando por alguém em particular. — Depois eu irei. 
— Ok, então. Isaac, você vem? 
 O garoto assentiu e os dois entraram. Sorri bobamente, imaginando a amizade que ambos teriam.  
 Pego meu telefone, e mando uma mensagem rápida.
Onde você está? 
Recebo a resposta de imediato. 
Eu estou aqui. Do outro lado.  
 Ando até direita da catedral, e então o encontro. Me senti péssimo por desejá-lo naquele momento, mas pudera. Ele usava um terno preto. Uma gravata azul escuro. Os cabelos penteados para trás, recém molhados. Porém, apesar de todos esses detalhes, não havia sorriso em seu rosto. 
 Corri para abraçá-lo. Não havia ninguém ao nosso redor, então o beijei devagar. O jeito como ele me segurava forte, como se não quisesse ficar sozinho. Como se ele estivesse sentindo medo. Como se eu tivesse que... Protegê-lo. 
— Você está bem? — perguntei. 
— Acho que mentir é algo permitido agora, então... Sim, eu estou bem. 
— Eu falo sério, Robert. 
— Honestamente? Não sei — ele começou a olhar para os lados, e suspirou. Logo agitou a cabeça negativamente e quando eu estava prestes a abrir a boca para perguntá-lo se algo estava acontecendo, ele me disse: — Nico, vem aqui. Eu preciso te contar uma coisa. 
Robert segurou minha mão direita, e estava me guiando um pouco para trás da catedral. Foi quando um carro marrom realizou uma curva e parou ali perto. 
— Robert. — disse o homem que desceu do veículo. Era alto, cabelos negros como o ébano. Compridos também. Talvez até um pouco mais alto que Robert. 
— Andy. — eu pude perceber em sua voz que aquela talvez não fosse a hora certa para nós dois. E então eles se abraçaram. Aquele momento estranho em que duas pessoas não conhecidas se entreolham, gerando uma situação constrangedora estava prestes a começar. Robert então interviu: 
— Andy, este é Nico. Nico, este é Andrew. — e então nos cumprimentamos com um sorriso e uma troca de olhares amistosa.  
— Nico...? — indagou ele. 
— Ah, é. Vem de Nicolau Copérnico. Meu pai gosta de Astronomia. 
— Então... — disse Andrew. — Aluno, e professor. Certo? 
— É. Nós somos... 
— Amigos. Amigos próximos. — interrompeu Robert, e Andrew meio que percebeu a estranheza naquilo. 
— E você e Robert trabalham juntos, ou eu estou errado? 
— Sim. Quer dizer, também sou professor, mas em outra área. Nosso amigo Liam também, só que ele não apareceu. Deve estar dormindo. 
 Os sinos da catedral começaram a badalar, cortando nosso diálogo. O memorial de Jane estava prestes a começar.  
Com absoluta certeza, a aparição de Victoria era mais aguardada do que o evento em si. Os boatos circulavam pela universidade, e muito se falava sobre ela estar envolvida em drogas, álcool e até mesmo suicídio. As pessoas não davam a mínima para a dor dos outros. Elas eram como corvos esperando a carne podre ser atirada ao vento. E então atacavam. 
Estávamos entrando na igreja. Eu olhei ao longe e vi a foto de Jane em um quadro tamanho aquarela, e frondosos buquês de tulipas e margaridas ao redor. Eles haviam divididos os bancos. Na esquerda, os professores e outros funcionários de Cambridge. Na direita, obviamente, os alunos. Me questionei naquele momento a razão daquela burocracia, se afinal, no sofrimento todos somos tão iguais. 
— Vejo vocês depois. — disse eu, e Robert apenas sorriu. Ele estava tão apático e alheio a tudo aquilo. Diria até distorcido. Não parecia com ele. Lembrava apenas um resquício daquele que me fazia sentir bem.  
Olhei para trás e vi Robert e Andrew conversando. Este último a todo instante me lançava olhares como se estivesse tentando uma comunicação com seus olhos, ou como se visse algo em mim. Poderia até dizer que... 
— Nico! 
— Isaac! — me sentei no banco junto a ele. — Vanessa, a Victoria já apareceu? 
— Não — ela suspirou e apertou as mãos. — Estou ficando nervosa, e isso me dá fome.  
— Eu tenho uma barra no meu bolso. — ofereceu Isaac.  
— Obrigada. Você é um fofo.  
 Isaac sorriu. Um burburinho se inicia dentro da catedral, e todos viram-se para trás instantaneamente como se estivessem numa espécie de dança. Eu também me virei. E o que vi foi a imagem de Robert. Assustado, e confuso. E foi essa a minha concepção dele naquele dia.
 Victoria havia chegado. E junto com ela, trouxe uma legião de jornalistas a sobrevoando como pombos atrás de migalhas. Ela permanecia em silêncio. Em suas mãos, um buquê de rosas brancas. O redemoinho de pessoas e flashes tornava aquele momento ainda mais inflamado, até que algum funcionário de Cambridge acionou o microfone e pediu para que os jornalistas se retirassem.
A mãe de Jane então depositou o buquê ao pé da fotografia de sua filha, e se sentou no primeiro banco da direita. Do nosso lado.
 Atrás de nós, duas garotas murmuravam:
— Você leu o post de ontem? Eu não acho que seja verdade...
— Do jeito que ela era... Eu não duvido. Todo mundo sabe que a Jane era corrimão dos professores. Como você acha que ela nunca reprovou um período? Ela passou de um por um. Acho que até por aquele de Comunicação. Robert... Que homem lindo.
Eu estava totalmente enciumado com aquele comentário. Poderia até dizer furioso. Mas logo minha raiva foi desviada:
— Como vocês podem ser tão horríveis?! — virou-se Vanessa para as garotas. — A garota está morta e vocês estão julgando o que ela supostamente fazia no próprio memorial dela! O que aliás, não é da conta de nenhuma das duas! Que nojo.
— Gorda e raivosa. Nada de se surpreender. — disse uma delas.
— Deixem ela em paz! — falei. Talvez alto demais, pois todos me olharam. As mesmas se levantaram e foram para duas fileiras atrás.
— Obrigada, Nico — disse Vanessa. — Deus me perdoe, mas eu iria estourar a cabeça dessas duas igual melancias.
— Como elas sabem dessas coisas? — perguntei sugestivamente. O meu ponto era chegar até o envolvimento de Robert nessa história.
— Você não sabe? — falou Isaac. — Tem a droga de um blog no Tumblr que fala sobre a Universidade inteira. 
— Tipo Gossip Girl?
— É, e, o post sobre a Jane tá bombando. Fizeram uma espécie de dossiê sobre ela. Nojento. — disse Vanessa.
— E nesse blog eles falam sobre os professores? — perguntei mais uma vez. Ele estava na minha mira.
— Claro que falam! — afirmou ela. — Todos. Tem até um arquivo separando de um por um. Não que eu tenha lido, é claro. 
Alguém sobe no palanque que era alguns degraus mais alto que a catedral e bate no mesmo, chamando a atenção geral. O falatório ao redor diminui até cessar por completo.
 O memorial de Jane iria começar.
 Meus pensamentos, entretanto, estavam em outro lugar.
 Robert poderia estar no tal blog. Não, eu tinha certeza que ele estava ali. Eu não conseguia lidar com estes dois sentimentos brigando dentro de mim. Por um lado, eu o desejava e lhe exaltava, considerando-o o ápice de qualquer homem que já conheci na vida. Robert era singular. Por outro lado, eu o humanizava, considerand-o como alguém com defeitos e qualidades, como outro qualquer. Esse era o efeito que ele me causava.
O que eu não sabia era que este meu instinto inicial, de busca pela verdade, passaria de uma singela investigação, a uma verdade devastadora.
Tão estranho, para mim, que sempre valorizei a tal da verdade, não querer a que Robert tanto escondia.


Notas Finais


Oi meus amores. Uma primeira morte, e acho que vão ser várias. O próximo capítulo continuará na visão de Nico. Até mais, beijo


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