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História Otherside - Décimo Quarto - parte dois


Escrita por: redwood

Notas do Autor


eu sei, eu demorei demais. Talvez muitos tenham até se esquecido dessa história, mas eu não. Não costumo abandonar meus projetos, e ainda tem muita história pela frente. Quem estiver lendo, me desculpem pela demora. Me ocupei e acabei tendo um bloqueio criativo e quando isso acontece... Enfim, beijo e boa leitura. O próximo capítulo sai em breve, prometo

Capítulo 14 - Décimo Quarto - parte dois


Fanfic / Fanfiction Otherside - Décimo Quarto - parte dois

Nico 

Eu sei o que rumores e boatos podem fazer com a vida de alguém. Uma caça em torno do que é verdade ou que é mentira sobre um alvo, um ser humano que muitas vezes se vê destruído na tentativa de escapar do alvo desses tais rumores. E isso cansa. Ao ponto de você querer se rasgar por dentro até que o ciclo de conversas ao seu respeito se acabem. Falo com tal convicção porque já fui alvo de boatos, na época em que estes giravam em volta da minha sexualidade, o que hoje já não é mais segredo algum. Entretanto, mesmo naquela situação de luto, dor e perda, os rumores que poderiam estar naquele blog sobre Robert deixavam meus pensamentos avoados. Eu não o conhecia com clareza, e qualquer informação, para mim, parecia válida o suficiente. Logo naquele dia, em que ele estava tão estranho, e que disse querer me dizer algo. 

A verdade dá um sentido de clareza à nossa realidade. E eu precisava sabê-la. 

De um a um, os professores subiam ao palanque e pronunciavam suas palavras a respeito de Jane Clarke. Nem todos a conheciam, então aquilo soava um tanto artificial para mim. Victoria permanecia com seu semblante escondido por trás dos óculos escuros. Seu silêncio e quietude pareciam ser a resposta para uma morte tão trágica, e até agora, sem sentido. 

E então o burburinho se inicia entre os que estão sentados, e eu compreendo imediatamente. Robert se levanta, indo em direção ao palanque. Ele olha para todos, como uma visão que não dava para interpretar. Ao mesmo tempo em que eu via serenidade, também via um certo desespero em seu olhar. 

Ele abre sua boca e faz menção de flexionar seus lábios, e eu esperei suas palavras. Eu e todos que estavam ali. Porém elas não vieram, mas sim um choro que eu tenho certeza que estava contido há muito tempo. Robert começou a chorar verdadeiramente, e aquela cena jamais saiu abandonou a minha memória. As pessoas começam a se entreolhar, e percebendo a situação, Andrew se levanta e o guia pelos ombros, levando-o para fora da igreja. Ainda faço menção em levantar, porém logo lembro que, para as pessoas em geral, ele era só o meu professor, e eu, só o seu aluno. E isso me dói, me magoa, porque eu queria ajudá-lo. E isso só pioraria as coisas. 

Naquele momento, a última coisa que Robert estava se sentindo era bem. Talvez não seja compreensível para muitos, mas eu me sentia conectado a ele. Aquela tristeza que ele estava sentindo agora estava sendo atrelada por mim, e por mais que eu me negasse, a resposta estava comigo o tempo inteiro. "Isso não é por Jane, isso é por ele. Essas lágrimas que estão vindo no seu rosto agora, são sobre ele." 

Eu simplesmente não conseguia ver Robert chorando daquele jeito, então eu pensei "foda-se isso. Foda-se essas pessoas e o que elas irão dizer". E levantei, saí da igreja. As consequências poderiam vir depois, mas ele era a única coisa na qual eu estava ancorado agora.  

Eu era um navio à deriva. Ele era a minha âncora. 

A calçada da catedral. Ele estava sentado ali, e Andrew ao seu lado, tocando em suas costas. Suas mãos, entrelaçadas, e os braços, na direção do chão. Ele fitava o horizonte, mesmo este sendo uma cerca viva e uns carros a distância. Juro que nunca havia visto seus olhos tão tristes. Assim que me viu, tentou disfarçar as lágrimas, mas era óbvio que o que todos viram, eu também vi. 

Me sentei ao seu lado. 

— Eu sou tão idiota. — disse ele. 

— Você só está triste. — disse eu. — E chorar faz parte disso. Por favor, não- 

— Nico, eu só... — ele suspirou, pondo as mãos no rosto. — Vocês dois podem me deixar sozinho, por favor? 

Eu olhei para Andrew, que acenou negativamente com a cabeça, e eu pude ler seus lábios dizendo em silêncio "deixa ele", e então nos retiramos, mas eu definitivamente não iria retornar para dentro da igreja, então só me sentei do outro lado da calçada. 

Aquele cenário. O dia surgindo verdadeiramente, enquanto os primeiros raios de sol finalmente se revelavam após um nublado amanhecer. Eu conseguia ouvir as vozes ainda acontecendo lá dentro, e meu Deus, se me dissessem que eu estaria naquele lugar e naquela situação naquele momento há um ano atrás, eu até riria, de tão impossível que acharia. 

Para surpreender de vez, Andrew se sentou ao meu lado, logo me oferecendo um cigarro. E eu acabei aceitando, não sei o por quê. Eu sabia pelos olhos dele o que se passava em sua cabeça. 

— Escute — falei. — O que você estiver pensando sobre eu e Robert, nós só- 

— Eu sei — sorriu ele, de leve. — Não que ele tenha me contado, mas eu já sabia. 

— Hã? Do que você está falando?  

— Eu sei que você e Robert estão tendo um caso. 

Eu congelei. Fiquei emudecido com as palavras engasgadas em minha garganta. 

— Não se preocupe — disse ele. — Não vou espalhar. 

— Meu Deus, o que você deve estar pensando de mim agora... 

Ele riu.  

— Não me surpreende — disse Andrew, — Quero dizer, não é a primeira vez que ele se envolve com um estudante. 

Eu reagi como se estivesse despertando. No meu âmago, havia aquela terrível sensação de estar sendo enganado. E era um ciclo. Poderia comparar como portas e portas se abrindo, porém não levam a lugar algum. 

Andrew percebe o meu semblante: 

— Você não sabia?  

Eu poderia muito bem gritar o óbvio, "o que você acha?". Mas como eu havia dito, era o óbvio. Não pronunciei uma única palavra. 

O memorial lá dentro se encerra, e as pessoas começam a se dispersar para fora. Logo, Robert surge: 

— O que vocês dois estão fazendo? 

Não conseguia olhar na face dele. Não conseguia olhar na de mais ninguém. Levanto, irritado, e saio para me disfarçar no meio da multidão, o que não era tão difícil assim. 

No meio daquele conjunto de pessoas, eu me sentia apenas mais um. E assim era como eu me sentia perante Robert. Apenas mais um dos garotos ou garotas com quem ele já havia se relacionado, para depois descartar, jogar fora. Eu havia dito que me sentia enganado, porém era pior do que isso. Eu não sentia nada. Simplesmente nada. Tudo o que Robert e eu já havíamos feito em tão pouco tempo agora soava como um simples flagelo em meu coração, pois eu sabia que tudo iria acabar. Seu choro, sua dor, toda a empatia que eu sentia por Robert havia desaparecido. E a beleza dele, era apenas um detalhe agora. 

E mais uma vez, eu havia caído numa ilusão. Num "eu te amo" que jamais foi real. 

— Nico? Onde você estava? — era Vanessa. — Ninguém entendeu o que aconteceu lá dentro. 

— Assim como eu. — falei. 

— Isaac e eu vamos comer. Você vem? 

— Não, não. Obrigado. Eu vou para a República. Mas divirtam-se por mim. 

Eu sabia que Vanessa e Isaac se dariam bem. E até fiquei um pouco feliz por isso. Mas por mim, aquele dia havia acabado. Tudo estava acabado.  

Pedi por um Uber, então segui de volta a minha residência. Não sei como seriam as coisas agora. Ver Robert pelo resto do ano, e fingir que nada aconteceu. Infelizmente, não podemos desconhecer aquelas pessoas onde vivemos uma história. 

Entrei no veículo, e olhei para atrás. De relance, ainda pude ver Robert, olhando de um lado para o outro, talvez me procurando. E ao longe, Andrew, o estopim de tudo. 

Fitei o céu. Estava azulado, tão diferente e distante da névoa, que estava ali quando mais cedo. 

É incrível como tudo pode mudar num instante.



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