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História Otherside - Terceiro


Escrita por: redwood

Capítulo 3 - Terceiro


Acordei, trêmulo na manhã. Mas fazia frio e eu não sabia definir se o que eu sentia era nervoso ou frio mesmo. 
Na verdade, mal consegui dormir direito, pensando no que poderia acontecer no grande dia.
O primeiro da faculdade. O primeiro de alguns anos de rotina pela frente. O primeiro, que poderia ser maravilhoso, e incrivelmente empolgante porque agora um novo mundo cheio de possibilidades e descobertas me aguarda, e...
Por outro lado, poderia ser um desastre também.
Me espreguicei ainda cama, e conferi as horas em meu celular. Ainda faltavam 12 minutos para que o despertador tocasse, ou seja, ainda eram 5:48 da manhã. Ou seria madrugada?
Levantei, e olhei para o meu lado direito. Vanessa não estava na cama, que inclusive, já estava arrumada. Decidi procurar alguma toalha em minhas coisas, e ir até o chuveiro.
Mas onde era o banheiro?
Ao sair do quarto, me deparo com o corredor e com algumas pessoas já de pé, transitando por aquele andar.
—Perdão, mas saberia me dizer onde é o chuveiro? — perguntei a uma garota sonolenta que passava por ali.
A menina apenas me aponta para o final do corredor, onde era possível ver uma fila torrencial de pessoas esperando para tomarem banho. Algumas em pé, outras encostadas na parede. Vou até lá e me encosto no parede, respirando fundo.
Na minha frente tudo o que vejo também é outra parede, que dava em outros quartos. Com a toalha azul nos ombros, tudo o que eu sabia era nada. Eu via tantas pessoas naquela casa, assim como eu, algumas lançando olhares perdidos, outras já decididas sobre o que fazer e mal o sol havia raiado.
Suspirei, sentindo uma contínua ansiedade. 

[...]

Uma breve espera depois, e consegui tomar um banho, me despertando dos braços do sono. Gradativamente, a República começava a ganhar vida e eu já podia ver muitos estudantes de pé arrumando os materiais de aula e também arrumando-se, afinal, no primeiro dia a primeira impressão é a que fica.
E o que eu vestiria hoje? Bem, optei por um jeans qualquer, e uma camiseta social azul clara. Sem gravata, óbvio.
Quando eu estava dobrando a gola, Vanessa apareceu:
—Nico, você tá aí. Bom dia! — dizia ela, animada.
—Parece que alguém aqui tá empolgada pro primeiro dia.
—Não é meu primeiro dia — disse ela, também se olhando no espelho enquanto ajeitava o suéter. —Tecnicamente, eu já sou uma veterana.
—Se você diz... Ei, como é o transporte aqui.
—Caramba Nico, eu esqueci disso! — disse ela, assustada.
—O que foi?! Ai meu Deus...
—O ônibus do primeiro ano já passou!
—Quê?! E agora?!
—Tô brincando — disse ela, quase me fazendo infartar. —Somos tratados feito crianças americanas e eles vem nos buscar em vários ônibus. 
—Jesus, que susto.
—Vem, vamos pro café.
O "café", basicamente, se tratava de uma gigante mesa daquelas da casa do Drácula onde todo mundo pegava o que dava para comer enquanto uns dois alunos bancando chefs preparavam tudo.
Acabou que a minha fome se resumia numa maçã. Na mesa do café, encontrei Charles com quem não acabei largando mais até´o ônibus chegar.
—E aí, como se sente? — perguntou ele.
—Apreensivo. E você?
—Você tá roubando as minhas palavras desde ontem — riu ele. —Também tô assim.
Minutos mais tarde, os ônibus foram chegando. Alunos de outros níveis de graduação subiam em seus respectivos transportes, e assim sucessivamente. Quando os metrôs começaram a passar na linha acima de nós e quando a névoa começou a desaparecer no horizonte, o ônibus dos novatos chegou.
Charles e eu subimos, e como eles algumas pessoas que eu já tinha visto pela República também. O motorista saiu do volante, anunciando:
—Alunos, bem vindos. Meu nome é Richard, e como podem ver, eu sou o motorista de vocês, e nesse momento, o guia. Se vocês não falsificaram nenhum documento nas últimas 48 horas, então vocês são alunos de Cambridge...
O comentário provou risadas.
—... E claro, eu levarei vocês até lá. Fiquem atentos: eu levo vocês até a Universidade e só. O ônibus SEMPRE parte às 7 e sempre volta às 15. Se vocês perderem a hora tanto na ida quanto na volta, vocês se responsabilizam. E agora, boa sorte e viagem.
—Viu, Nico? Não vá matar aula por aí. — brincou Charles.
—Relaxe, não sou disso.
Pousei minha cabeça no vidro da janela, coloquei os fones e fiz de conta de que estava em um videoclipe. Deixei que o aleatório fizesse a trilha sonora do primeiro dia. 
A primeira música. Things We Lost In The Fire do Bastille.
No caminho, eu tentava decorar a rota na qual o ônibus passava até chegar em Cambridge no caso de que eu perdesse a hora um dia. Eu sei, eu falei para Charles que não era disso. 
Mas só talvez eu fosse. 
Ruas e avenidas pela frente, eu torcia para que o Big Ben estivesse em nossa trajetória, e infelizmente, ele não estava. E então, chegamos.
Desci do ônibus, estarrecido. Tenho a certeza de que eu, assim como Charles e os outros alunos, todos nós estávamos chocados.
Cambridge não era grande, não.
Cambridge era enorme.
Não. Muito pelo contrário. 
Ela era gigante.
Primeiro de tudo, havia um lago que percorria todo o perímetro da universidade. Um campo extenso e verde se estendia além do portão. E tinha a faculdade, obviamente. Um casarão imenso como uma enorme porta aberta onde muita gente já entrava. Havia também uma igreja e uma espécie de Casa Branca, que disseram ser o tal de Senado. Existia até mesmo um mercado e um monte de restaurantes. Deve ser difícil ficar entediado por aqui.
Assim que cruzamos o portão, uma mulher se apresentou para nós:
—Muito prazer, alunos. Meu nome é Victoria Clarke e serei a orientadora de vocês. Meu papel aqui é orientar — a mulher riu com o próprio comentário. —E guiar por Cambridge, que como vocês podem perceber, é fácil de se perder. Também serei a psicóloga pessoal de cada um aqui. 
Clarke cumprimentou todos de um a um. Uma mulher negra de pulso firme, e muito bem vestida, por sinal. Seu vestido vermelho se ajustava com o blazer cinza. E pelo visto, ela trabalhava bem no que fazia.
Ela mencionou alguns breves pontos que eu já tinha ouvido falar, e por fim, nos deixou livres para entrar na finalmente faculdade. Lá dentro, o lugar estava movimentado e eu, confuso, por não saber em que sala entrar. Até mesmo Charles já havia encontrado a sua, e eu não.
Foi quando o estridente sinal que marcava o início da aula tocou. Entrei em desespero, a mochila lateral batendo nas coxas. Corri loucamente procurando aonde entrar até que esbarrei em um homem alto e grande entrando em uma das salas.
—Bom dia. —disse ele, sério. 
—Bom dia. E desculpe. Sabe onde é a sala de Jornalismo?
—É aqui. Pode entrar.
E entrei. O primeiro dia de aula e eu já estava traumatizado com todos me olhando enquanto eu seguia na sombra daquele homem enorme. Aliás, que homem e que voz. Inglaterra dando uma surra de beleza no meu país. Procurei algum lugar vazio no meio de tantos ocupados. Felizmente, havia um na terceira fileira.
O homem no qual eu esbarrei seguiu para a mesa do professor e pôs seus livros na mesma. Tudo havia acontecido tão rápido que eu fiquei chocado e feliz ao mesmo tempo. Uau, aquele homem bonitão seria o meu professor? Estava bom até demais.
Não pude deixar de reparar em como ele se vestia. A calça social cinza não estava um centímetro folgada, e delimitava bem o contorno de suas coxas, assim como a camisa social rosa claro, que marcava o seu peitoral definido, os botões como se fossem soltar a qualquer segundo. O rosto então? Nem se fale. Uma barba por fazer, junto com um discreto topete.
Ele suspirou fundo, então abrindo a boca para falar:
—O que eu posso dizer a todos, primeiramente? — ele sorriu, juntando as mãos. —Bom dia!
Todos responderam um "bom dia!", uníssono.
—Meu nome é Robert Davis e a partir de agora, eu serei o professor de Jornalismo de vocês. Espero que tenham feito a escolha certa, porque de hoje em diante, qualquer escolha definirá o futuro de cada um. Vamos começar com Teoria da Comunicação.
Davis virou de costas, e uau (de novo), ele tinha um excelente traseiro. A aula mal havia começado e eu já me imaginava fazendo loucuras com aquele homem.
Definitivamente, eu havia feito a escolha certa.


[...]

A aula fluía calmamente. Robert era excelente em passar seus conhecimentos para nós e eu ficava cada vez mais encantado por ele. Não só em sua aparência, mas pelo seu ser intelectual. 
Fiz questão de ficar até o último segundo. Quando eu estava prestes a sair, para o meu desespero e euforia interna, Robert me abordou:
—Você é novato, certo?
Olhei para os lados, confuso com a pergunta:
—Acho que todos que estavam nessa sala são, não é?
—Não foi isso que eu quis dizer — sorriu ele, e adivinhe, de perto o sorriso dele era muito mais lindo. —Digo, você não é de Londres.
—Você percebeu a minha falta de sotaque naquele incidente mais cedo? — ri nervoso. —Em compensação, o sotaque britânico é maravilhoso de se ouvir.
—Obrigado — agradeceu ele. —Acho melhor fazermos as saudações oficiais, então. Meu nome é Robert. É um prazer conhecê-lo...? — ele estendeu a mão. Que aperto forte.
—Nicolau. Nicolau Ashford. É um prazer conhecê-lo também.
—Nicolau é? Que interessante.
—Digamos que meu pai era excêntrico com nomes. Pois é.
Acabei cruzando os braços. Droga, sempre faço isso quando converso com homens bonitos.
—Gosto de excentricidades. —sorriu ele novamente, e me olhando nos olhos. E que olhos azuis lindos. 
Um silêncio meio constrangedor surgiu entre nós.
—Nos vemos depois, professor.
Eu estava quase pondo os pés para fora da sala, mas Davis me interceptou novamente:
—Sabe Nicolau, eu gosto de me manter próximo dos meus alunos. Poderíamos tomar um chá a qualquer hora. O que acha?
—Chá?
—Ah, eu esqueci que você é da América. Podemos tocar um café, então.
—Eu acho uma excelente ideia.
Nos despedimos. E eu saí. 
Meu coração foi a mil e eu fiquei de costas na parede, paralisado. Um professor lindo daqueles? Querendo um cafezinho comigo? Não, não pode ser.
Não, ele não pode ser... Gay.
Ou pode?



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