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História Otherside - Quinto


Escrita por: redwood

Notas do Autor


Gente, perdoem a demora, estive bastante ocupado e também quis escrever um capítulo grande para compensar. Decidi que agora, os capítulos vão se alternar. Ou seja, um narrado pelo Robert, outro pelo Nico, e por aí vai. Esse é pelo Nico. Espero que gostem!

Capítulo 5 - Quinto


—Oi, Nico. — disse uma voz que então eu rapidamente reconheci, por mais que ela não me fosse familiar. 

E então ele estava ali, bem na minha frente. Era estranho. Comecei a questionar a razão daquele homem tão bonito e provavelmente tão disputado estar interessado em falar constantemente comigo, um mero estudante. Mas, já que aquilo estava acontecendo, eu iria adiante. Fui cordial: 

—Olá, professor. — e sorri timidamente, recebendo um largo sorriso de volta. Deus, o que era aquilo? —Como está? Posso fazer alguma coisa pelo senhor? 

Ele deu uma leve risada: 

—Por favor, não me chame assim. Faz eu parecer um... Homem velho. 

Eu ri de volta, dizendo: 

—Desculpe. Como deveria lhe chamar, então? 

—Só de Robert. — ele permaneceu mudo por alguns segundos, e continuou. —Enfim, eu lhe vi sozinho e decidi te fazer companhia. 

Meu rosto esquentou no mesmo segundo. Ele era gentil e eu não estava acostumado com esse tipo de tratamento. 

—Não precisava. — então eu olhei para a mesa de onde ele veio e dois homens conversavam entre si. —Seus amigos devem ser uma companhia mais interessante. 

Robert estreitou suas finas sobrancelhas, dizendo: 

—Não se menospreze assim. Você é americano. Acho que poderia me dizer um pouco como são os Estados Unidos. 

Minha reação instantânea foi rir daquilo. Ele parecia uma daquelas crianças que só havia visto a neve pela televisão. 

—O que foi? —disse ele, rindo também. 

—Você nunca saiu da Inglaterra? 

—Não —Robert pareceu cabisbaixo ao dizer. —Meus pais me colocaram num colégio interno quando eu era criança e perdi todas as oportunidades de viajar pelo mundo. 

—Deve ter sido horrível. Mas você poderia conhecer agora, já adulto. 

—É, quem sabe —ele dizia aquilo olhando para o vidro embaçado naquela fria manhã de março, fazendo os olhos azuis dele parecem cascatas brilhantes. —Quando eu estiver com alguém. 

E então ele me encarou sutilmente, mas com um olhar expressivo. Eu devolvi o mesmo olhar. Parecia rápido demais para notar, mas eu percebi porque nossos olhares se esbarraram. E aquele tipo de interação que estávamos tendo dava a impressão de ser com um interesse além, pois para mim, conversas nunca eram conversas. Eram pretensões. Entretanto, eu ainda não o entendia, ou conhecia. 

Foi quando a atendente chegou com o meu café. Eu comecei a bebê-lo e aquele silêncio constrangedor se instalou entre nós. Olhei para os lados, e percebi que alguns alunos me olhavam e olhavam para Robert como se nos punissem com os olhos. Aquilo definitivamente não parecia certo aquela proximidade entre nós. Eu então disse: 

—Isso não é um pouco... Errado? 

Robert arqueou as sobrancelhas, espantado: 

—O quê? 

—Essa proximidade... Que você tem, ou tenta ter... Com os alunos... 

—Você acha isso errado? 

—Eu não sei, as pessoas... Os outros professores, eles não te criticam? 

—Não, eu não me preocupo com o que pensam. Mas pelo visto, você sim. 

—Ei — agora eu realmente não estava gostando do rumo daquela conversa. —Não precisa ficar na defensiva desse jeito. Eu só comentei, ok? —suspirei, frustrado. Tentei continuar ficar ali. Mas o clima ficou péssimo. —Quer saber? Lembrei que preciso ir. 

Levantei. talvez muito estressado. Eu estava cansado das pessoas, na verdade. Robert poderia ser bonito como fosse, mas eu não mais toleraria um homem arrogante.  

Saí da cafeteria com aquele entalo na garganta. Era o primeiro dia e eu já tinha uma péssima relação péssima com o meu professor. Ele arruinaria minhas notas, provavelmente. Foi quando eu decidi, com muita dificuldade, passar por cima do meu orgulho e voltar atrás e pedir desculpas.  

Acontece que bem no primeiro passo de volta ao café eu esbarrei em alguém que estava com o mesmo pensamento que eu. 

—Merda! —xinguei, foi quando eu percebi quem era. —Meu Deus... 

Eu havia acabado de derramar mais de meio copo na camiseta azul de Robert. 

—Professor, eu... —tentei limpar, mas o líquido estava muito quente. —Me desculpe, eu ia voltar pra- 

—Tudo bem, calma —ele estava rindo. —Eu estava no meio do seu caminho. 

—Mas... A sua camisa... 

—Não tem problema. 

—Mas... 

—Você fala "mas" toda hora, sabia? 

Suspirei, frustrado. Eu estava nervoso e inseguro e não sabia nem por onde começar. 

—Desculpa mesmo. Por aquilo, no café. 

Robert, que esfregava a mancha com um lenço, olhou para mim e disse: 

—Eu merecia aquilo. Dei uma resposta atravessada e esperei que você ficasse calado, como todos ficam. 

—O quê? Você faz isso com... 

—Com quem me questiona? Talvez sim, talvez não. Mas você é diferente dos outros, Nico. Chega a ser interessante. 

"Você é diferente dos outros, Nico." Uma frase nunca ficou circulando na minha cabeça tanto em um dia inteiro. A camiseta? Robert conseguiu limpar pelo menos um pouco da mancha e deu pra fingir durante o resto daquele dia que não havia nada ali. De vez em quando, enquanto ministrava a aula, ele me olhava, desviava o olhar, porque eu também o estava olhando, e então sorria. 

Aos poucos, percebia que Robert era diferente do que eu imaginava. Aquilo mais cedo havia acontecido porque de alguma forma, eu havia cutucado em uma ferida. Mas o tempo inteiro ele parecia simpático com todos. Só sorrisos com alunas, e algumas delas eram atrevidas até demais. Percebi também que ele era popular com os rapazes e isso me voltava a uma incógnita que eu havia esquecido: a sexualidade dele, que mais soava como algo ambíguo. 

Pensei que ele ficaria na classe até o final, como naquela manhã, mas quando terminei de pôr meus materiais na bolsa, Robert já não estava mais ali. Saí da sala fingindo indiferença a isso, foi quando meu telefone tocou. Era o meu pai: 

—Pai! 

—Nico! Como foi o seu primeiro dia na faculdade? 

—Foi ótimo, de verdade. O professor é — pensei em um adjetivo distante de "provocante" mas foi difícil. — Legal. 

—Espero que você esteja gostando de Londres, filho. 

—Aqui é perfeito, pai, sério. Eu tô bem feliz aqui.  

—Eu queria que ela estivesse aqui para saber disso. 

—Onde ela estiver, tenho certeza que sabe, pai. 

—Eu sei. Agora preciso ir, tenho uma cirurgia marcada. Eu te amo. 

—Também te amo, pai. Tchau. 

Respirei e deixei escapar uma risada, tentando pôr todos aqueles acontecimentos em ordem na minha cabeça. Era como um engavetamento de carros numa estrada; e eu era o primeiro carro da fila.  

Agora era a hora de ir embora. Admito, eu não queria ir ainda. Eu queria sair procurando Robert por aí, porque talvez, mas só talvez eu esteja interessado nele. Sim, meu professor. Eu não entendia o que havia entre nós, pois ele havia começado tudo isso.  

Peguei o ônibus de volta naquele começo de tarde. Não encontrei Charles, ou Vanessa. Pudera, seria muita sorte nossos caminhos se encontrarem assim fácil numa Universidade daquelas.  

Era difícil de explicar, mas eu me sentia estranhamente bem, e ao mesmo tempo, ansioso com o que poderia acontecer de agora em diante. Havia esse sentimento de liberdade que predominava em mim, porque agora George não estava me machucando pelas costas. E eu tinha a mim mesmo. Eu via naquelas paisagens de Londres uma folha em branco, onde eu iria escrever tudo do zero. 

A República estava um tanto vazia, acho que nem todos obedeciam o horário da volta dos ônibus. Havia um sofá tão velho que a espuma soltava do mesmo, e algumas pessoas sentadas neles fumavam um cigarro. Ainda fazia um pouco de sol e eu decidi voltar para o quarto, eu precisava de um banho. 

A porta do quarto estava fechada: 

—Vanessa, você tá aí? 

—Nico! —ela exclamou lá de dentro. —Não entre! Por favor, eu estou me masturbando! 

—O quê?! 

De repente, ela abriu a porta, os cabelos desgrenhados. 

—Tô brincando, entra. 

—Ufa. —me joguei na cama, estirando as pernas e os braços. —Tô exausto. 

—Garoto, você mal começou.  

—Você não tá com cara de quem chegou da Universidade. 

—Voltei meio dia. Não tem muita coisa para mim agora. Só muita conversa paralela. 

—Ah... 

—E aí, como foi o "primeiro grande dia?" —Vanessa entonou a voz, arqueando as sobrancelhas. 

Não dava tempo para elaborar uma resposta razoável. 

—Foi ótimo. Acho que pra um primeiro dia, poderia ser péssimo. Mas não foi, o professor, ele... 

—Ele...? 

Eu suspirei, dando um risinho, e meu rosto avermelhou-se. 

—Nico, pelo amor de Deus... 

—Ah, eu não vou negar não, ele é muito lindo. 

—Oh — Vanessa fez uma cara pensativa. —Tem muitos professores bonitos em Cambridge, mas tem um que, nossa... 

Fiz a mesma cara que ela. Estaríamos falando da mesma pessoa? 

—Enfim —Vanessa levantou da cama, pegando um pacote de Ruffles que estava dentro do armário. —Se for quem eu estou pensando... É um desperdício de homem. 

—Quem é um desperdício?! 

—Calma! —disse ela. —Acho que é aquele jornalista do Daily Mail... Não lembro do nome. 

Agora eu estava curioso. Disfarcei que iria ao banho e saí pela República procurando algum jornal do dia. Fui na cozinha e havia um rapaz atacando a geladeira. Havia um exemplar no balcão. 

Na primeira página do mesmo havia uma matéria sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. E no final da mesma matéria, havia o nome. 

Robert Davis.



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