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História Otherside - Sexto


Escrita por: redwood

Capítulo 6 - Sexto


Ás vezes, uma onda súbita de tristeza vem e você não sabe explicar ou lidar com um jeito preciso a razão disso. Pode ser uma lembrança, uma visão, ou um lugar. Nesse caso, eu sabia. Era o meu local de trabalho que me deixava triste.  

Não, eu não odiava o meu emprego. Eu amo o que faço. O problema são as pessoas. 

Elas sempre são o problema. 

Eu não estava falando da Universidade, para deixar mais claro. Eu falava da Redação do "jornal mais lido da Inglaterra" (só de pensar nisso, eu revirava os olhos), o Daily Mail. Desde que entrei em Cambridge, meu desejo era sair dali. Porém, meu pai conseguiu aquele emprego na época que eu era só um estudante, e aquela Redação seria o meu primeiro estágio. Não saí nunca mais de lá.  E já fazem 9 anos. 

Naquela manhã de terça, numa daquelas em que eu especialmente não estava em Cambridge, eu estava indo para esse lugar. Meus dias estavam presos numa rotina extremamente inflexível, ou seja, casa-trabalho o tempo inteiro. E eu estava sozinho fazia um bom tempo desde que...  Enfim, não importa. 

Eu estava infeliz.  

Sabe, é aquela coisa básica que você pode até me dizer que é mentira. Mas de tão clichê, é verdade: o dinheiro não importa quando você não tem felicidade.  Não que eu fosse um cara cheio da grana, é claro. Entretanto, quando não há um raio de luz em sua vida, tudo o que você quer é deitar na cama o dia inteiro, e chorar.  

Que drama, não é? 

Eu me sentia daquele jeito. Eu procurei por isso. Deixei que tudo acontecesse, e tudo rolasse sem que eu mesmo desse um freio na minha própria vida, e eu estava pagando o preço por isso. E o resultado: uma vida amarga e solitária. Não sabia mais o que eu poderia fazer, ou o que iria acontecer depois de um tempo. Eu queria me libertar e precisava disso. Mas eu não podia, haviam limites, paradigmas e tabus dos quais eram proibidos de eu ultrapassar. 

Talvez fosse por estas razões que eu estava extremamente carente, (como a maioria dos gays, eu acho) buscando relacionamentos sem sentido ou até com segundas intenções com os alunos da Universidade, e todas essas tentativas fracassaram até agora, porque sou arrogante e só tenho dois amigos que ainda me aturam. E Nico? Eu não esperava muita coisa dali, porque como eu disse, eu sou arrogante. E já fui com ele, sendo que mal o conheço. 

Sexo é uma coisa boa, e até acessível para mim. Mas sem afeto, é vazio. 

Ás vezes, só queremos abraçar alguém por um bom tempo, sem trocar palavras.  

Era isso o que eu queria.

                                                                                                                 [...] 

—Pode editar esse artigo para mim? —pediu Karen, uma das novatas, e eu concordei. Era quase o final do expediente e eu não estava com o mínimo de pressa. 

—Claro. —concordei, e ela me entregou a folha do texto sem revisão. 

O escritório estava tão quente como o inferno e um alvoroço porque a história do Brexit ainda estava em alta. Comecei a digitar com rapidez. Por mais que eu não estivesse com pressa, eu queria muito dormir. Eu havia concluído umas três páginas do Daily hoje e sequer havia preparado a aula do dia seguinte. Pensei em faltar. O problema era a reitoria, liderada pela Victoria Clarke. Ela era severa, e não tolerava faltas sem motivo. 

Eu estava escaneando cópias quando um dos sujeitos mais porres do meu trabalho, Jack, veio para me atormentar: 

—Olha se não é o garanhão do Robert —disse ele, em voz sarcástica. —Fazendo trabalhos para a estagiária? Tá querendo ganhar o coraçãozinho dela? 

Ele estava pondo a porra. Do braço. Nos meus. Ombros. 

—Não enche, Jack. 

—Qual é? Me ensina o truque. —ele continuava a importunar e eu juro que poderia quebrar a copiadora em sua cabeça. 

—O truque é —eu já segurava as folhas para pôr na máquina com força, de tão irritado que estava. —É você me deixar terminar de trabalhar. Quem sabe eu te conto. 

—Ok, ok. Calma, nervosinho —Jack saiu de perto, e eu agradeci mentalmente. Foi quando eu ouvi ele me provocar em voz baixa, como sempre: —Quem sabe você seja um palhaço metido a besta, mas que não passa de um fracassado. 

—Já chega! —eu literalmente surtei, amassei a folha que estava em minhas mãos, e puxei Jack pela gola, prendendo-o no meio da copiadora pela cabeça, a tampa batendo acima dela. —Quando você vai me deixar em paz, Jack?! Tem algum tipo de paixão doentia por mim?! É isso?! 

Jack se libertou de minhas mãos, que o seguravam com força contra a copiadora, e jogou sua cabeça para trás, fazendo a mesma bater em minha testa. Não consegui desviar devido a dor, e perdido, não percebi quando o mesmo avançou também me segurando pela gola, e me jogou contra a coluna de tijolos, agora batendo a parte de trás da minha cabeça. 

Tentei reagir de alguma maneira, mas minha cabeça já doía bastante e meus pensamentos estavam perdidos em algum lugar entre a raiva e o arrependimento.  

—Você vai se arrepender disso, Davis. —dizia Jack, e juro por Deus, eu queria reagir. Acabei permitindo ele dar um soco no meu olho. E quando ele estava se preparando para dar o próximo, ela interviu. 

—Parem os dois já! 

"Ela" era a nossa chefe, Crystal. E com a chefe na área, Jack obviamente recuou. 

—Mas o que que deu em vocês dois?! —disse.  

Nisso, todo o editorial na Redação, que já estava paralisado olhando tudo, se dispersou.  

Isso vai pegar tão mal. 

                                                                                                                   [...] 

Minha respiração estava acelerada e a cada segundo eu pensava em diferentes consequências para o que havia acabado de acontecer. O gelo no olho não auxiliava muito na dor de cabeça que agora latejava também. O tempo inteiro eu só sabia pensar no tipo de merda que a minha vida estava indo parar.  

Foi quando o babaca do Jack saiu da sala da Crystal e me olhou rapidamente, logo seguindo de cabeça erguida. 

Eu não sei o que eu faria com esse cara caso eu perdesse o emprego. 

—Pode entrar, Robert. —disse a chefe. 

Entrei na sala da Crystal. Ela me mandou sentar.  

—Robert, garoto, qual é o seu problema? —ela posicionou os óculos e cruzou as mãos, de um jeito crítico. 

—Puxa, Cris. Me desculpa, é sério. Eu já não aguentava mais aquele... Idiota me enchendo o tempo inteiro e acabei surtando. Juro que não- 

—Tudo bem, tudo bem. Você tem sorte que gosto de você. Agora deixa eu ver esse machucado. 

Tirei o pano com gelo do olho esquerdo e esperei a reação dela. Não foi muito boa. 

—Tá horrível, não é? 

—Sim. Isso vai dar um roxo imenso amanhã.  

Respirei, frustrado. 

—Sabe, Rob, eu preciso ser sincera. Isso foi muito sério. Se fosse com outro funcionário, ele já estaria no olho da rua. Você precisa relevar essas coisas. 

—Mas- 

—Eu sei que o Jack enche o saco de todo mundo aqui. Infelizmente, só pude dar uma advertência a ele. Mas por favor, isso me prejudica e te prejudica também.  

—Ok. —falei, cabisbaixo. 

—Agora vá para casa. Descanse.  

Seria péssimo encarar o escritório de novo. Todos estariam me olhando como se eu fosse um alienígena, e se eu visse aquele cara... 

Peguei meu carro. Eu iria para casa e dormir até não poder mais. Quando entrei no veículo, vi um folheto de uma palestra de Cambridge e isso me fez lembrar a Universidade amanhã. Minha cabeça voltou a doer. 

Decidi que dane-se tudo mesmo assim. Quer dizer, dane-se até 7 da manhã.  

Agora somos eu, meu fracasso, e meu olho roxo. 

Ótimo. 

Admito que a grande preocupação é o que vão pensar de mim. E o que ele irá pensar também. 

De algum jeito, aquele garoto não sai da minha cabeça nem mesmo quando ela doi.



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