1. Spirit Fanfics >
  2. Otherside >
  3. Sétimo

História Otherside - Sétimo


Escrita por: redwood

Notas do Autor


gente, perdoem a demora. Eu não morri, só pra constar. Tenho estudado bastante e isso dificultou um monte, mas aqui estou com um grande capítulo pra compensar. Espero que gostem como eu estou gostando de escrever, beijos

Capítulo 7 - Sétimo


Nico 

É estranho, mas eu comecei a me perguntar o que tinha levado Robert a não me contar que ele trabalhava no Daily Mail, já que eventualmente eu acabei descobrindo isso. Um detalhe tão importante sobre sua vida não poderia ter sido esquecido intencionalmente. Ou poderia. Talvez eu estivesse exagerando. Talvez Robert fosse um desses caras introvertidos e modestos, que não sentem muita vontade de revelar detalhes sobre suas vidas pessoais. 

Tentei não pensar muito nisso. Mas a verdade é que, no final daquele dia, algo me fez não confiar em Robert como eu deveria. Ou melhor, alguém. 

Naquela manhã, eu estava atrasado mais uma vez. Ainda não havia me acostumado com aqueles horários e no padrão um tanto inflexível de Cambridge. Saí de estômago vazio, e no ônibus, fiquei tão enjoado que pensei em voltar para a República só para não vomitar no transporte. 

Eu estava convencido de que aquele seria um dia horrível. 

A esse ponto da história, vocês devem estar se perguntando: onde está o Charles? Bem, a verdade é que eu já não o vejo desde aquele primeiro dia. E se ele não me procura, é sinal de que não faço falta. Soa rude mas eu já estou acostumado a ser descartado pelas pessoas.  

Continuando, estava eu indo para a sala de aula, certo? Errado. Eu estava morrendo de fome e me arrependendo amargamente de não ter tomado café. Agora eu estava entre a dúvida de ir para a cafeteria, com a grande chance de encontrar o "grande professor" por lá, ou ir para a aula mesmo faminto.  

De qualquer jeito, eu teria de vê-lo. Ele talvez diria "olá", e eu, sem cumprimentar, o perguntaria de cara "você trabalha no Daily Mail e não me contou. Por quê?" Ele ficaria constrangido e me daria mais uma de duas respostas arrogantes, eu também daria outra, e voilá, nós não nos falaríamos nunca mais. E ter desavenças com professores é a última coisa que eu quero. 

Decidi que seria melhor permanecer com fome mesmo, e segui caminho até a sala de aula. 

Adivinha. A porta da sala já estava fechada, e eu estava do lado de fora. Que lindo, menos de uma semana do ano letivo e eu já tinha atrasos. Quer dizer, não só eu, havia um rapaz moreno que parecia tão apreensivo como eu no primeiro dia. 

—Ai meu Deus — disse ele, assim que me aproximei. —Ele é um desses professores severos, não é? 

—Talvez não — falei, como se eu conhecesse Robert o suficiente para ter certeza do que eu estava falando. —Mas acho que ele não vai deixar a gente entrar. 

—Droga. Eu cheguei hoje e já me atrasei. —disse ele. O garoto parecia tão nervoso que eu jurava que havia visto seus olhos lagrimarem.  

—Acontece. Calma, bai dar tudo certo. 

Pelo vidro da porta, víamos Robert seguindo sua aula normalmente. A esse ponto, eu já temia que algum outro professor nos visse parados diante da sala e nos desse alguma advertência. Pelo o que eu li, Cambridge não é muito amistosa com estudantes que ultrapassam horários. 

—Meu Deus, aquela orientadora vem aí. —disse o novo estudante, alarmado 

Foi quando eu vi Victoria Clarke cruzando o início do corredor. Ela carregava uma pilha de livros nas mãos, e provavelmente arremessaria os mesmos em nossas cabeças. Jesus, só a presença daquela mulher me dava arrepios. 

Eu teria que fazer com que Robert me notasse. E havia pouco tempo. Pus minha cara no vidro e clamei para que ele me visse. Talvez vocês pensem que eu sou louco por abusar da pouca amizade que tenho com o professor, mas aquilo tinha que dar certo. 

Ou não. 

—O que vocês pensam que estão fazendo? — a voz de Victoria, severa, parou atrás de meus ouvidos. De onde ela havia saído tão rápido? 

—Victoria... Er.... Nós... Eu e ele... 

—Sim, vocês dois —disse ela. O novato, se pudesse, já estava enterrado no chão. —Atrasados. Sinto muito, mas eu vou ter que... 

A voz da mulher cessou após o rangido da porta da sala. 

—Victoria —a voz ímpar e firme de Robert interpelou pela porta que ele havia acabado de abrir. —É melhor deixar eles entrarem. A aula é importante. 

Victoria respirou fundo, e eu jurava que ela ia explodir. Ela permaneceu calada por dois segundos, e então nos deixou entrar. 

A sala toda nos queimava com os olhos por termos interrompido a aula. Eu ainda pude ouvir Robert conversando com Victoria. Esta lhe lançando um aviso: 

—Davis, é melhor deixar a amizade de lado com estes alunos. Você e eu sabemos muito bem o que acontece.

Mas o que acontece, afinal? 

Os únicos lugares restantes para eu e o novato eram os do fundo. É, hoje eu não veria o professor bonitão de perto. 

—Tivemos sorte. —afirmou o estudante. 

—É —falei. —Talvez não. —eu continuava olhando para a frente, a fim de ver a expressão de Robert. Ele agora havia mudado a sua expressão após a advertência de Clarke. Estava um pouco atordoado.

—Acho que foi um péssimo começo de primeiro dia —disse o rapaz. —A propósito, meu nome é Isaac. 

—Nico —apresentei-me, continuando a olhar para a frente. —Vai ser um grande dia pra você, Isaac. 

Parecia uma premonição, porém, aquele foi um grande dia para mim também. 

Eis o que aconteceu. 

A aula prosseguia em seu ritmo normal e usual. Davis explicava a importância do uso da língua como um motor de busca de conhecimento, e em nosso caso, notícias. Traduzindo: ele estava dando ênfase aos alunos a conhecerem bem o nosso idioma. Até aí, tudo bem. Foi só lá para o meio daquela aula em diante que eu percebi que havia algo de errado. Robert a todo momento parava de falar, fechava os olhos e franzia o rosto, para então beber um copo d'água. Obviamente que eu deduzi ser apenas uma dor de cabeça, inicialmente. Entretanto, foi quando ele de fato parou a aula para dizer que não estava se sentindo muito bem.  

E então desmaiou. 

Não consegui processar logo de cara o que havia acabado de acontecer naquele momento, quer dizer, Robert aparentava ser um homem saudável. Mas logo ele estava estirado no chão da sala, e várias alunas (no mínimo, interesseiras) correram para socorrê-lo. 

Foi só o começo.  

   - - - 

—Ele tá bem? —perguntou uma das alunas.  

—Sei lá. — disse outra. —Ele é lindo, mas é um cara estranho. 

Para ser específico, a essa altura eu já estava na enfermaria de Cambridge (sim, também tem isso por aqui) assim como outros alunos, ansiosos para saberem notícias sobre Robert. 

Mas nada se sabia ainda. Era muito cedo para diagnosticar algo que justificasse uma dor de cabeça que levasse a um desmaio. Com o professor fora de cena, estávamos sem aula temporariamente. Alguns estudantes já haviam ido embora. Eu preferi ficar aqui.  

Naquele fim de tarde, a enfermaria dava pelas janelas um pôr do sol dourado, além de uma ventania intensa que passava por ali. As nuvens distanciavam-se uma das outras, logo trazendo devagar a noite. 

Estava na hora de ir embora. Entretanto, eu ainda queria ver Robert. Ao menos ver seu rosto bonito enquanto dormia.  

Meus planos, entretanto, foram estragados pela Victoria Clarke, que logo deu as caras: 

—Vamos! Vamos! —disse ela. —O que estão fazendo aqui? Pra casa! Robert não é nenhum parente de vocês. 

Os demais alunos se afugentaram com a mulher. Eu, por outro lado, estava convencido de que iria vê-lo. Esperei Clarke sair da enfermaria, enquanto estava do lado de fora, escondido em um canto. Assim que a mesma saiu, (e isso levou meia hora) voltei imediatamente. 

Abri a porta do quarto de Davis lentamente, e para a minha surpresa, o homem estava acordado. Ao lado da cama, uma ficha dizia "concussão." 

—Nico?! —disse ele, surpreso, logo abaixando o tom de voz. —O que está fazendo aqui?!  

—Eu... —falei um pouco acanhado. Minha audácia me envergonhava ás vezes. —Vim te ver. 

—Mas eu não tô doente. —disse ele. 

—Eu sei, mas o que aconteceu? 

—Nada demais, é só... —disse ele, me olhando dos pés a cabeça e depois para a porta. —Escuta, é melhor você ir. 

—Mas, Robert... 

—Mas nada. 

Eu fiquei furioso com aquela atitude. Então, soltei a pergunta que estava entalada: 

—Por que não me disse que trabalha no Daily Mail?! 

O rosto de Robert, tão belo, logo desmanchou-se da delicadeza e deu lugar a uma cara irritada. 

—Nico... Quem te contou isso? 

—Eu descobri. Ou você acha que eu não descobriria que... 

—Escuta, por que você tá tão interessado na minha vida, hein garoto?! Você é só uma criança! 

Naquele momento, com aquela resposta, eu havia decidido que iria parar por ali. Robert poderia ser lindo como for, entretanto, era perda de tempo dialogar com alguém tão rude e introspectivo. 

Então eu dei meia volta. Mas antes, perguntei novamente: 

—Por que você é assim? Digo, você me disse que gosta de ter uma boa relação com os seus alunos, mas quando alguém tenta ser gentil, você se fecha. 

Robert virou o rosto para o lado, na direção da janela. 

Eu iria embora, mas ele disse algo que por mais que soe bobo, foi importante: 

Eu me odeio. O tempo inteiro eu me odeio. 

—O quê? 

—Eu disse que me odeio —Robert virou-se para mim. —Satisfeito? 

—Mas você tem tudo. Pelo menos, aparentemente. 

—Isso aqui para você é tudo? Eu me sinto infeliz o tempo inteiro, Nico.  

—Não aparenta ser. 

—Você não precisa chorar pra mostrar dor — Robert irritou-se de novo. —Droga, por que eu tô te contando isso?! Você é um aluno! Não era pra- 

—Mas eu tô aqui —falei, e segurei sua mão por puro instinto. —E eu posso ser seu amigo. Pode continuar sendo meu professor e eu serei seu aluno, mas fora disso, podemos ser amigos. 

Ele acenou a cabeça negativamente. Notei que aquele diálogo havia deixado nós ambos tristes. 

—Melhor você ir. —disse ele. E por um momento, vi um pouco de esperança naqueles olhos azuis quando eles fitaram os meus rapidamente. 

Nos despedimos. Antes de ir embora, me permiti a dar um abraço nele. Ele se assustou com aquele afeto. 

Robert sorriu. 

Comecei a ver uma importância nisso. 

Robert dizia que se odiava, e eu queria arrancar pelo menos um sorriso ao dia no rosto daquele homem. Ninguém vive assim, tão seco e amargo. 

Eu olhei de um lado para o outro do corredor para não ser notado. Caminhei lentamente até a saída que estava tão perto, entretanto, logo aquela mulher surgiu para o meu pavor. 

—Victoria... 

—Você é um novato e pelo visto, nós vamos nos esbarrar bastante por aí — disse ela, me analisando rapidamente e depois olhando para o quarto de Robert. —E ele vai ser o seu grande erro. 

—Hã? — eu estava mais confuso do que nunca. 

—Eu poderia lhe dar alguma advertência por isso mas, você verá. Depois não diga que eu não lhe avisei. Ele vai deixar o seu coração mais bambo que as suas pernas. 

Victoria desapareceu, e assim que ela saiu, um raio e um trovão rasgaram os céus em conjunto, anunciando uma inesperada tempestade. Eu estava me convencendo de que aquela orientadora poderia ser o diabo. 

Fiquei ilhado do lado de fora do consultório, porque agora estava chovendo e era a noite, ou seja, eu estava completamente ferrado em voltar para a República.  

Eu era o mestre em sabotar a minha própria vida. 

Numa dualidade entre a recente aparição do diabo, um milagre surgiu. 

O milagre veio de carro. Eu estava lá, esperando que a tempestade diminuísse, quando o veículo buzinou para mim e alguém lá de dentro gritava o meu nome, mas eu não conseguia ver quem: 

—Nico! Nico! Rápido, vem logo! 

Não pensei duas vezes e corri para o mesmo, sem se importar com quem era. E adivinha quem era. 

Charles. Que coincidência. Ugh.

—Nico! —disse ele. —Puta merda garoto! —ele também estava ensopado. Quem dirigia o veículo era uma garota. Eu sentado no banco de trás e Nico no carona. 

—Charles... —falei um pouco sem graça. —Como você me achou? 

—Falaram que o seu professorzinho tinha passado mal e os alunos tinham feito uma visita. Então só foi procurar a enfermaria. 

—E o dono ou dona desse carro é...? 

—Jane —a garota se apresentou. —Jane Clarke. Charles e eu estudamos juntos. 

Clarke. Meu. Deus. 

—Ela é filha daquela orientadora —disse Charles. —Por isso estamos nesse carrão. 

—Bobo. —riu ela. 

A tempestade lá fora era grande e repleta de raios e trovões. Entretanto, o caos ainda estava por começar aqui dentro. O diálogo entre eu e Robert já havia sido estranho, e a conversa de Victoria mais ainda. E pelo visto, o sobrenome Clarke será recorrente em minha vida.  

Era o começo da turbulência. 

O pior: eu não sabia disso.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...