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História Our Sin (EM PAUSA) - I don't deserve you.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? Bom, eu sei que devo desculpas a vocês, mas tudo se tornou pura confusão em minha vida. Eu queria ter tido mais tempo para me dedicar a ''Our Sin'', sendo uma das minhas histórias preferidas, mas tive muitos trabalhos e projetos da faculdade para fazer, e nesse meio tempo consegui um emprego em minha área, então, tudo ficou mais complicado. No entanto, estou de férias, e terei um bocadinho mais de tempo para adiantar as coisas por aqui, estou postando esse capítulo já ansiosa para postar o próximo. Encontrei uma beta fantástica que corrige tudo rapidinho, enviei o capítulo hoje e horas depois estava pronto. Não terei mais desculpas para enrolar vocês, pois a correção é o que mais me deixa suspirando de cansaço, escrevo tanto e quando volto para reler tudo e reparar os erros, meus olhos já estão cansados. Torço para que me entendam e não desistam da história, tão pouco dessa autora que agradece pelo carinho, mensagens cobrando por atualização e até mesmo pelas broncas. Vocês são maravilhosos, e eu amo vocês. Muito obrigada por ainda estarem aqui. Sempre darei o meu melhor para não decepcioná-los.

Espero, de coração, que gostem. Boa leitura. MWAH!

Capítulo 6 - I don't deserve you.


Fanfic / Fanfiction Our Sin (EM PAUSA) - I don't deserve you.

 Não consegui me concentrar na aula dessa manhã. Sabia que o professor havia começado a introduzir a nossa aula prática, todos pareciam interessados, eu queria estar também, mas faziam dois dias que minha mente girava apenas em torno do motoqueiro e do cachorro que ele levou do lado de dentro da sua jaqueta ainda em seu corpo.

— Está novamente com aquele olhar. — Camile murmura, balançando uma caneta com ponta de penugem cor de rosa na frente dos meus olhos. — O que está acontecendo com você?

Suspiro, e balanço a cabeça.

— As provas estão chegando, acho que estou ficando nervosa.

Era mentira. Tanto para ela, quanto para mim.

— Faltam quase dois meses para as provas começarem, Faith. — diz como se fosse óbvio. — Você vai queimar seus neurônios se continuar se preocupando assim.

— Eu não consigo evitar. — abaixo meu olhar, encarando o sanduiche que não consegui terminar de comer.

— Você devia estar pensando em que roupa irá vestir no sábado. — volto a olhá-la, estando evidentemente confusa. — Já te falei, não aceito um não como resposta.

— Eu preciso estudar, Camile...

— Você estuda por toda a semana inteira. — ergue as sobrancelhas bem feitas. — Em que planeta você costumava viver? Finais de semana foram criados para que esqueçamos os livros, conteúdos e as vozes irritantes de todos os professores.

Faço uma careta.

Não queria deixar a minha cama ou me distanciar dos dormitórios. Mas tinha absoluta certeza que Camile não permitiria que eu ficasse dentro dos meus pijamas, lendo alguns dos livros que separei na biblioteca.

— Bom dia, garotas. — a voz amistosa de Michael nos faz virar em sua direção, avistando-o do lado de nossa mesa, bebericando um pouco de café. — Por que você praticamente correu da sala de aula?

Era uma pergunta direcionada apenas para mim. Encolho os ombros.

— Eu não corri, é só que...

— Está na minha hora. — Camile diz e se levanta, colocando todas as suas coisas dentro da bolsa. — Nos encontramos mais tarde.

Ela tinha a próxima aula livre e eu sabia que estava se retirando pela chegada de Michael, pois em sua cabeça, algo ainda iria acontecer entre nós dois.

Não importava quantas vezes eu repetisse a ela que éramos apenas amigos, nada parecia ser o suficiente para convencê-la do contrário.

— Aproveitem o dia. — cantarola, mantendo em sua face seu sorriso maldoso.

Olho para Michael, e afasto os fios de cabelo que se desprendiam de uma das minhas tranças, levando-os para trás orelhas.

Forço um sorriso, sentindo meus lábios vacilarem um pouco.

— Precisava estudar um pouco.

— Faltam muitas semanas para as avaliações, novata. — ergue as sobrancelhas grossas. — Mas fico feliz em ver que não está me evitando.

— Por que eu te evitaria? — não compreendia seus dizeres. — Somos amigos, eu não teria motivos para evitá-lo.

Gostava da companhia de Michael. Na noite após ter sido deixada em frente ao campus por Danger, esbarrei-me com meu colega de classe pelos corredores e ele me cedeu o seu casaco. Não tinha o mesmo cheiro que havia impregnado no material pesado da jaqueta do motoqueiro. Não era tão quente também. Pela manhã, encontrei minha bicicleta encostada em uma das pilastras, ao lado de outras. Estava limpa e bem cuidada. Não sabia como havia parado ali, pois nem mesmo me lembrei dela quando subi na moto.

Tantas coisas pareciam estar acontecendo ao mesmo tempo.

— Amigos. Claro que sim. — seu tom se altera, sendo notável uma pitada de hesitação em repetir minha afirmação. — De qualquer maneira, você precisa relaxar um pouco.

— Eu estou bem. — garanto, conseguindo esboçar um verdadeiro sorriso. — Tenho o dia de folga, vou aproveitar para ler alguns livros na biblioteca.

— Saia comigo. — estreito os olhos. — Vamos tomar um sorvete.

— Você já me fez um convite como esse para o final de semana. — relembro-o.

— Ainda iremos sair. Preparei algo especial para o sábado. — enruga os lábios. — Apenas aceite sair comigo essa tarde, posso mostrar a você um pouco da cidade.

Um sorriso genuíno ilumina o rosto de Michael.

— Tudo bem. — retribuo o sorriso. — Ainda sou uma novata por aqui.

— A melhor novata que já passou por esses corredores sem graça. — lança-me uma piscadela. Sinto meu sangue ser drenado e acumulado em minhas bochechas. — Posso pegá-la depois das quatro?

— Parece bom para mim.

O seu sorriso parecia ser capaz de durar pelo resto da manhã.

— Até mais tarde.

— Até mais, Mike.

(...)

Olho-me pela última vez no espelho. Meu cabelo ainda estava molhado, as mechas pareciam um pouco mais pesadas, as leves ondulações formadas nas pontas não me incomodavam tanto quanto incomodavam o meu irmão, quando estava entrando em sua adolescência. Era algo de nossa família, principalmente da minha mãe. Owen foi adepto da fase em que queria a todo custo mudar, ser diferente dos garotos de sua classe, e deixar seu cabelo passar dos seus ombros era a meta a ser atingida. Ouvia-o praguejar sempre que penteava os fios, irritado demais por não conseguir alisá-los, eu o oferecia o secador para ajudá-lo, mas isso apenas alimentava a sua frustração e ele gritava comigo. Eu não me importava, apenas me afastava, rindo baixinho.

Passei algumas horas na biblioteca, logo depois do almoço, e assim que acabei a centésima página de um livro muito interessante sobre mecânica, retornei para o quarto. Ainda era cedo, Camile não estava no quarto, aproveitei para ajeitar toda a bagunça do seu lado. Não sabia que ela poderia ser mais desorganizada que um colega masculino, mas ela conseguia, realmente. Debaixo da sua cama, encontrei embalagens de chocolate belga, pareciam ser seus preferidos. Em algum momento, todas as noites, ouço-a abrindo as embalagens, e ainda sonolenta, sei que ela me oferece, mas nunca os aceito.

Alcanço minha bolsa, sustentando a alça grossa e única em meu ombro direito, passo as mãos pelo material do meu jeans ao mesmo tempo em que ouço duas batidas na porta. Apresso-me, alcançando a maçaneta, abrindo-a e encontrando a silhueta masculina de Michael, subindo meu olhar até o seu rosto que tinha o seu implacável sorriso.

— Olá, novata. — saúda, erguendo uma de suas mãos em um breve aceno.

— Oi. — é tudo o que consigo dizer, ainda olhando para ele, que parecia mais bonito naquela tarde. — Você é pontual.

— Tenho que ser. — rola os olhos, vagarosamente. — Está pronta?

— Estou. — olho para baixo, encarando meus sapatos que passariam por um olhar de reprovação, caso Camile os visse calçando meus pés.

— Então vamos ao nosso passeio. — Michael se inclina para frente, como um cavalheiro, estende seu braço para mim.

Sorrindo, entrelaço meu braço esquerdo no seu e sou levemente puxada em sua direção, fecho a porta do quarto e começamos a caminhar pelo corredor vazio. Descemos todas as escadas, atravessamos o pátio e gramado. Alguns alunos de outras turmas olham para nós, Michael cumprimenta alguns deles, sempre sorrindo e parecendo extremamente amigável. Ele era conhecido e as garotas ao redor pareciam suspirar com sua presença. Em nossa classe, gostaria de não ouvir os murmúrios depravados sobre seu corpo, e uma tatuagem que escapa pelas mangas de suas camisas. Não sabia qual era o desenho, mas as partes expostas eram o suficiente para instigá-las.

— Aonde vamos? — pergunto, assim que entro em seu carro.

— Aguente um pouco. — balbucia ao se sentar atrás do volante, acomodando-se no assento. — Quer ouvir um pouco de música?

Dou de ombros. Michael leva isso como um sim e liga o rádio de seu carro, deixando em uma estação qualquer. Não conhecia a música que tocava, mas podia apostar ser algum clássico do Rock. Relaxo meus ombros e ajeito a bolsa em meu colo.

Alguns minutos mais tarde, estávamos parados em uma avenida, mas meus olhos saltam assim que avisto uma roda gigante, era esplendorosa. Afoita, olho para Michael que sorri e toma-me pela mão esquerda, entrelaçando nossos dedos, minhas pernas não se moviam, sentia cada músculo meu trêmulo e dependente dos movimentos alheios, pois os meus não me respondiam mais.

— Que lugar é esse?

— Estamos prestes a subir na London Eye. — olha para cima, assim como eu me mantinha olhando. — Acreditam que essa é a melhor maneira de conhece Londres.

— Nós iremos subir nisso? — minha voz eleva-se um pouco, demonstrando meu receio. — Como nós...

— Fique tranquila, Faith. — solta uma risada. — Não deixarei você cair.

Isso era bom.

Havia vários edifícios espalhados por todos os lados, muitos deles eram luxuosos e aparentavam ter muitos anos. Michael, ainda segurando minha mão, para em frente ao que se assemelhava com uma portaria, comunicando-se com um senhor que sorri, parecendo conhecê-lo bem. Somos guiados parte interna, próximo da roda metálica que estava girando, bem devagar. Não tarda para que ela pause, as pessoas começam a saltar das cabines. Crianças pareciam muito empolgadas, contando tudo o que tinham observado aos seus pais que os escuta atentamente. Mais algumas cabines abaixam e mais algumas pessoas saem.

— É a nossa vez. — Michael sussurra para mim. — Preparada, novata?

— Eu acho que sim.

O mesmo senhor guia-nos até uma das cabines abertas, Michael é o primeiro a entrar, aperto um pouco seus dedos entre os meus, ele me olha de maneira serena, como se me incentivasse a seguir seus passos. Então, o faço.

Entramos na cabine, as portas se fecharam, e eu podia sentir minha respiração falhar.

— Oh meu Deus! — agarro-me em meu amigo, ao sentir a cabine ser suspendida ao mesmo tempo em que parecíamos seguir a rotação necessária desse brinquedo. Fecho meus olhos, apertando-os com força.

— Abra os olhos ou perderá toda a vista. — sua voz calma me faz abrir os olhos, bem devagar.

Puxo um pouco de ar para meus pulmões, meus lábios se descolam com a visão que eu conseguia ter pelos vidros da cabine. Londres inteira — ou quase — podia ser vista de onde estávamos. Era mágico. A torre de relógio que chamou minha atenção quando Danger me levou para comer, também podia ser avistada, assim como o rio e os barcos flutuando nas águas calmas. De repente, sinto meu peito vibrar pelo riso que me escapa, sentia-me feliz e emocionada.

Queria que meus pais tivessem o privilégio de ter a mesma visão que eu estava tendo. E como em todos os momentos bons da minha vida, queria ter Owen comigo, pois esse era um sonho dele.

Se sentir maior que as maiores cidades do mundo.

— Está gostando? — Michael questiona, olhando-me um pouco preocupado. — Desculpe se a deixei com medo...

Fungo baixinho, notando as lágrimas finas que molhavam o meu rosto.

Eu me sentia apenas feliz.

— Não. — balanço minha cabeça, desfazendo-me da sua mão apenas para afastar as lágrimas. — Eu estou amando isso, Mike. Obrigada.

Consigo sorrir, olhando no fundo de seus olhos escuros. Ele não sorri de volta, mas seu olhar cai em meus lábios curvados para cima de maneira que não se curvavam em muito tempo.

— Se eu soubesse que iria sorrir assim, teria levado essa roda gigante para o seu dormitório. — o seu tom é sério, mas faz meu peito vibrar um pouco mais.

Umedecendo os lábios, e voltando a olhar para fora dos vidros, observando a beleza da cidade junto ao céu caindo no entardecer, solto um suspiro tranquilo.

— Você já veio aqui antes?

— Venho aqui para pensar. — olha para fora também. — Acabei fazendo amizade com Norman.

Ele se refere ao guarda gentil que nos levou para a cabine.

— Aqui deve ser um bom lugar para pensar. — deduzo.

— É melhor ter uma companhia para vir até aqui. — sorri. — Toda essa beleza merece ser compartilhada.

Sinto-me corando ferozmente.

Infelizmente temos que deixar a cabine assim que a volta é completada. Norman se despede de Michael com um rápido abraço e sorri para mim. O meu amigo volta a segurar em minha mão, atravessamos a rua para voltarmos ao carro. Ele para na praça em que Danger me levou da última vez, parando próximo a um pequeno quiosque, dando-me a liberdade para escolher o sorvete que eu gostaria de tomar. Escolho o de chocolate, ele escolhe de morango. Meus olhos são guiados, instintivamente, para o banco em que me sentei ao lado do motoqueiro.

Forço um sorriso assim que a senhora atrás do balcão estende a minha casquinha com a bola de sorvete logo no topo, com um sorriso, agradeço e me delicio com o sabor. Devoro-o em poucos minutos, sentindo-me uma criança com os cantos dos lábios e dedos sujos. Michael solta uma risada sonora ao me ajudar a limpar meu rosto com auxilio de guardanapos. Acabamos um tempo depois, mesmo que tenha me oferecido para pagar, ele me ignorou e empurrou algumas notas para a mulher.

Caminhamos de volta para o carro, em passos lentos e sentamo-nos nos bancos, ouvindo a música baixa preencher o veículo.

— Acho que ficarei um pouco mais ansioso pelo sábado. — Michael diz, quebrando o silêncio entre nós.

Consigo apenas sorrir.

— Quer ir direto para a universidade?

Estreito os olhos, não consigo conter as palavras antes dela praticamente pingarem por minha boca.

— Você sabe onde fica o clube de motoqueiros, Knights Of Hell MC?

Michael olha-me confuso, mas ergue suas sobrancelhas.

— Assim que entrei no campus, fui convidado por alguns caras para cumprir desafios nesse clube. Eu fui, mas não coloquei meus pés dentro do bar. — seu tom não era bem humorado, como de costume. — Esses caras são barra pesada, e eu prefiro evitar problemas.

Mexo-me inquieta.

— Por que a pergunta?

As palavras simplesmente não estavam mais sendo filtradas antes de saírem.

— Ia pedir uma carona até o clube.

— Como é? — parece engasgar-se com a própria saliva. — O que diabos irá fazer nesse lugar, Faith? Você sabe o que eles são?

Sim, eu sei.

— Não. Eu só... — nego com a cabeça. — Eu preciso fazer uma visita para um amigo.

— Isso é... Eu não posso deixá-la em um lugar como aquele.

— Tudo bem. — olho para o lado da porta, tateando o couro em busca do trinco. — Irei pegar um táxi e...

— Não, Faith. — ergue o seu braço e impede-me de sair. — Estou apenas preocupado em levá-la para um lugar como esse. Você não conhece nada aqui e taxistas conscientes não passam por aquelas redondezas. Vamos lá.

— Obrigada por isso, Michael. Por tudo.

Ele apenas assente, mas seu semblante não era divertido como de costume.

Encolho-me no banco por todo o caminho, que parece muito longo dentro do carro.

Não troquei mais nenhuma palavra com Michael, o seu humor parecia ter despencado. Sentia-me culpada por deixá-lo assim, mas não conseguiria me concentrar em nada se não soubesse como estaria o pequeno cachorro ferido. Danger não era um homem amoroso ou cuidadoso, e a possibilidade dele não cuidar daquele animal me assustava.

Nossos encontros aconteciam apenas em momentos não planejados, eu esperei por encontrá-lo pelos dias que passaram, mas ele não apareceu. Cada cliente que entrava na lanchonete fazia-me estremecer com a bandeja em mãos, nunca era ele.

— Você tem certeza que quer fazer isso? — Michael vira-se para mim, parando o carro em frente o clube. — Está ficando tarde, em poucos minutos vai anoitecer.

— Ficarei bem.

Espero que sim.

— Eu queria ficar aqui, mas...

— Você pode ir. Encontrarei um jeito para ir embora. — esperava mesmo conseguir, pois não acharia uma parada de ônibus tão perto.

— Faith... — suspira. — Prometa-me que irá ter cuidado.

— Eu vou. Prometo.

A preocupação no olhar de Michael era angustiante.

— Se precisar, não hesite em me ligar. — umedece os lábios e passa uma de suas mãos por seu cabelo, em um ato nervoso. — Você ainda tem o meu número?

Concordo com a cabeça.

Soltando uma potente lufada de ar, abro a porta e coloco minhas pernas para fora, em seguida, todo o meu tronco. Sinto o frescor do ar balançar os fios do meu cabelo, puxo para baixo a barra do meu suéter. Pondero a possibilidade de voltar para o carro e pedir para que Michael tire ideias como essa da minha cabeça, mas não poderia fazer tal coisa. Precisava estar de frente para o motoqueiro, queria saber sobre o cão, ele não poderia me negar isso. Usaria um pouco das minhas gorjetas para dar a ele, assim poderia ajudar com os gastos e medicamentos.

Está tudo bem, Faith. — falo comigo mesma e respiro fundo. — Nada de ruim vai acontecer. Eles são humanos, não irão me atacar.

Não tinha certeza sobre minhas palavras, elas não pareciam muito coesas.

Mas sigo em frente.

Um passo de cada vez, vagarosamente. Sem pressa.

Por cima dos ombros, olho para trás, o carro escuro ainda estava parado, ele não parecia querer sair dali, mas torno a olhar para as divisões das casas e estabelecimentos, lembrando-me das latas velhas tombadas próximas a caixotes velhos, dobro no mesmo beco em que Danger nos guiou com a sua moto, na noite em que me trouxe para o seu mundo.

O lugar tinha um odor forte de algum animal morto e restos de comida. Torço o nariz, evito puxar ar para meus pulmões, pois não era puro como gostaria. Espio ao redor, vistoriando as paredes mofadas e com tintura desbotando, poderia estar no lugar errado, mas encontro à porta pela qual entrei e sai. Não ergo meu pulso de imediato, apenas encaro o metal por um instante.

Não devia bater.

Ele não ficaria feliz em me ver.

Ele nunca parecia feliz em me ver.

Eu não tinha o direito de estar em sua propriedade sem ser chamada.

Algo ruim poderia acontecer.

Eu bato na porta.

São duas leves batidas, posso imaginá-lo ocupado demais para abri-la, ou um daqueles monstruosos motoqueiros poderia abrir a porta e ele ficaria muito bravo por isso. Se ele não estivesse presente, eu não teria como avisá-lo, mas, poderia deixar um recado, ou perguntar sobre o cão, depois faria o caminho de volta para a estrada pura de cascalho, olharia para o céu, clamando por uma maneira de voltar para a universidade de modo seguro.

Ou, apenas podia ir embora e fingir que nunca estive nesse lugar.

Abaixo minha cabeça. Dando dois passos para trás, faço menção de caminhar para longe, mas um barulho me faz parar. Olho para a porta aberta, a figura feminina de uma moça de cabelo extremamente ruivo me faz franzir o cenho. Ela não usava muita roupa, eu poderia jurar que a sua blusa curta era um sutiã. Ela me olha da cabeça aos pés, suas sobrancelhas finas erguem-se para cima em um ato de desaprovação. Esse olhar não era novo para mim.

— Quem é você?

— Eu sou... — não conseguia lhe responder. — É que...

— Eu mandei cair fora, Darla. — uma voz grave surge atrás dela, o meu coração dispara.

— É Daphine! — a garota olha para trás, parecendo decepcionada e enraivecida.

— Foda-se. — o olhar sombrio de Danger encontra meus olhos, possivelmente, assustados e arregalados. Seu maxilar travado sob a barba cheia não me parecia om um ‘’boas vindas’’. — Que porra é essa?

— Estou indo nessa. — a ruiva anuncia, o moreno não parecia tê-la escutado, ou não fazia questão disso.

Éramos nós dois, frente a frente.

Do lado de fora estava um pouco mais frio, mas ele não parecia sentir o mesmo, pois usava apenas o seu jeans, as botas e nada cobria o seu tronco para cima. Apenas as tatuagens. Eram tantas que eu não poderia imaginar quantas haviam espalhadas por seu corpo inteiro. Tantas cores e desenhos.

Ele era tão bonito que me assustava.

— Responda! — sua voz se eleva. — O que faz aqui?

Balanço a cabeça, erguendo um pouco os ombros em forma de uma falha proteção.

— Eu pensei que... — meus olhos marejam, eu estava assustada e com medo de dizer algo que o homem furioso em minha frente desaprovasse. — Apenas passei para saber sobre o cão e deixar algum dinheiro para que cuide dele.

— Você está falando sério? — sua expressão não suaviza. — Atravessou até o outro lado da cidade, apenas para saber sobre aquele saco de pulgas?

Não lhe respondo ou aceno, apenas analiso sua pergunta.

— Deviam trancá-la dentro do seu quarto e só deixá-la sair acompanhada de pessoas responsáveis, porque tenho certeza que algo não funciona bem na sua cabeça. — suas palavras ferem-me como facas de trinchar em meu peito.

Esperava por uma recepção como essa, mas não sabia que ele me repugnava tanto a ponto de achar que não sei o que estou fazendo. Era um fato a discutir, pois também não sabia o motivo de agir tão impulsivamente quando se tratava dele.

Tudo havia começado por aquela primeira carona.

Envergonhada e chateada, dou três passos para trás, mas a rouquidão da voz que abala todo o meu sistema, me faz não avançar. Era automático, meu consciente ordenava para que eu seguisse em frente, mas eu simplesmente cedia à parte agitada que fazia o sangue correr por minhas veias em velocidade sobre-humana.

— Espera! — não olho para trás. — Como chegou até aqui?

— Um amigo me deixou.

— Ele se foi?

— Eu acredito que sim. — torcia para que não, devia ter escutado Michael.

Ouço um grunhido ou um gemido. Não poderia dizer, mas foi muito sonoro.

— Entre.

— O que? — virando um pouco a cabeça para trás, olho para Danger, parado do lado de fora do seu clube, ainda com o tronco desnudo.

— Você veio até aqui por uma razão. — minhas sobrancelhas se unem em uma linha reta, estava confusa. — Não posso levá-la para o campus agora, pois tenho um assunto para resolver antes.

— Não é necessário me levar. Eu posso conseguir um ônibus ou um táxi.

— É claro que sim, morena. — afasta-se da porta. — Entre e veja o seu saco de pulgas.

Desvio o olhar, encarando meus pés por alguns instantes.

Faço o caminho de volta para perto dele, entrando mais uma vez naquele lugar. Embora tudo estivesse vazio, não continuo caminhando, esperando pelo motoqueiro que fecha a porta e esbarra em meu ombro direito, me causando arrepios.

Forço-me a segui-lo. Repetimos o caminho que me lembrava, e Danger para em frente à porta do escritório que estava apenas encostada, após empurrá-la, aponta para dentro, esperando que eu entrasse primeiro.

Tudo estava como conseguia me lembrar. A única coisa nova, na verdade era o cachorro que balançava o rabo enquanto se esticava no enorme sofá.

— Ei, amigo. — sussurro para o animalzinho. — Como está?

— Ele está doente apenas para ficar deitado naquele tapete... — aponta para um tapete que tinha ao lado da mesa de vidro. — Tentei colocá-lo três vezes ali, nas três vezes se levantou e saltou para cima do sofá.

— Você enfaixou? — questiono, notando a faixa branca que envolvia a perna ferida do animal.

— Ele não parava quieto, não me deixou dormir. Então, pensei que tivesse que fazer algo para isso. — resmunga.

— Talvez ele precise de um veterinário. — sento-me na beira do sofá e afago os fios arrepiados do cachorro que choraminga baixinho. — Eu trouxe algum dinheiro, posso dá-lo a você e...

— Irá gastar seu dinheiro com um animal que não lhe pertence? — olho para a porta, pois ele se posicionou entre os batentes.

Dou de ombros, abaixando um pouco a cabeça.

— O encontrei, acho que posso fazer algo por ele antes de decidir onde irei deixá-lo. — faço uma pausa e torço meu nariz, ainda acariciando o cachorro. — Obrigada por cuidar dele.

— Não faço isso por gosto. — sua voz é fria. — Nem mesmo por ele.

— De qualquer maneira, eu agradeço.

Ele parece pensar em dizer algo, mas o seu celular começa a tocar. Rosnando, ele atende a ligação.

— O que foi, Dead? — parece falar com a pessoa do outro lado da linha. — Estou... Tudo bem. Estarei aÍ em um minuto... Não o deixe entrar, você sabe que se ele passar por essa porta está morto... Sim, eu dou a honra a você... Certo.

Assustada pelos fragmentos da conversa, não consigo olhá-lo, interesso-me em olhar apenas para o meu amigo machucado e acuado.

— Mais uma vez, terei que deixá-la sozinha.

— Tudo bem. — sussurro em resposta.

— Não toque em nada e não saia daqui. — eu não discordo, apenas me mantenho quieta. — Voltarei o mais rápido possível.

Espiando de soslaio, vejo-o deixar o escritório, fechando a porta em uma pancada única.

Consigo respirar, finalmente.

— Vocês estão se dando bem? — pergunto para o cachorro que não sabia se possuía um nome. — Sabe, ele pode ser arrogante assim e muito intimidador, mas eu acho que ele tem um bom coração. — esboço um pequeno sorriso. — Ele está sempre me salvando e nunca aceita um não como resposta. Se meus pais o conhecessem, me diriam para ficar longe, mas não sei se consigo. Algo nele... — balanço a cabeça. — Me faz querer estar em sua presença, aprender sobre ele. É tudo tão estranho e confuso, não sei o que está acontecendo comigo, nunca fui tão curiosa e ousada assim.

Franzo o cenho, não me importando em estar desabafando para um ser vivo que não me daria uma resposta.
Talvez eu não quisesse mesmo ouvir uma resposta. Michael me achava imprudente e Camile, provavelmente, surtaria e faria deduções por conta própria.

Perco a conta de quantas vezes encaro a porta, esperando ser aberta, ou temendo que outro motoqueiro passasse por ela. Minhas pernas balançavam, assim como meus pés. Caminhei pela sala, mas não ousei tocar nos livros que não me pertenciam, ainda me lembrava daquela fotografia que encontrei e me flagrei encarando o exato livro em que estavam. Meus dedos ousaram erguer-se para apanhá-lo por entre as capas grossas, mas um gemido do meu amigo peludo me trás de volta a realidade, como se me alertasse que iria me dar mal.

Sentei-me no sofá e encostei minha cabeça no encosto. Os bocejos involuntários me escaparam em diversos momentos, minhas pálpebras estavam pesadas e meus músculos cansados. Estava dormindo pouco, minhas noites eram dedicadas em orações e livros de estudos. Em ligações para casa, usando a linha pública do outro lado do campus, também conversava com minha mãe que não dormia cedo, pois lidava com uma triste insônia desde que Owen faleceu. Para ela, doía pensar em estar tranquila e feliz, sendo que seu filho mais velho partiu e levou parte da sua alma. Eu também não tinha boas noites de sono, pois ao olhar para a janela, lembrava-me do meu antigo quarto e meu irmão passando sorrateiramente por ela, apenas por seu quarto ser ao lado do de nossos pais, e ele sabia que o reverendo tinha um sono leve.

Eu sentia tanta falta dele.

— Você precisa acordar, morena. — uma voz rouca preenche meus ouvidos, mas a escuridão em que eu estava parecia pesar minhas pálpebras. — Porra! Não posso deixá-la dormir aqui.

Eu estava dormindo?

Meu corpo havia relaxado, não pude lutar contra isso.

— Eu não... — faço um som arrastado com meus lábios, sinto-me apenas virando e encostando em algo firme que cheirava a cigarro. — Eu quero ficar aqui.

Podia ser um sonho imaginar-me nos braços de Danger.

Mas eu gostava.

— Você não devia querer algo assim.

Sua voz parecia mais distante, eu estava me entregando completamente ao cansaço.

— Eu não mereço você. — ele diz mais baixo, ou eu penso que diz.

Estava sendo levada pelo breu, sentindo meu corpo flutuando.

A última coisa que me lembro, são dos meus lábios se curvando em um mínimo sorriso após sentir um beijo quente em minha testa.


Notas Finais




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