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História Our Sin (EM PAUSA) - Fragments of the past.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
''Quem é essa e o que fizeram com a autora que só atualiza depois de um mês?''
Estou me fazendo essa mesma pergunta, mas é isso mesmo, não é alucinação, voltei em duas semaninhas, acho que bati o meu recorde. Tudo é porque, além de me sentir em dívida com vocês por estar tendo um retorno tão positivo e demorando mais do que gostaria, estive roendo as unhas para chegar logo nessa parte da história que, particularmente, acho que é onde tudo realmente começa. A partir daqui, vocês irão conhecer muito sobre Danger, seu passado, presente e tudo que envolve o seu clube. Os problemas, também, estão apenas começando.
Enfim, espero, de coração, que gostem. Boa leitura. MWAH!

Capítulo 8 - Fragments of the past.


Fanfic / Fanfiction Our Sin (EM PAUSA) - Fragments of the past.

 Era sábado e o dia estava lindo. Após terminar minha oração diária, batidas na porta do quarto me fizeram levantar, era um entregador. Ansiosa para saber o que havia na caixa de papelão, rasguei as fitas com ajuda de uma tesoura, mas tomei cuidado para não danificar a embalagem de dentro que continha uma caixa um pouco mais delicada, embrulhada por uma fita azul que formava um laço no topo, e não preciso de muito para descobrir que se tratava de um presente da minha mãe.

Após abrir e retirar todos os papéis, senti a maciez de um suéter lilás, com bordados manuais de pássaros pequenos e, no centro do estômago, havia um ramo de flores muito colorido. Era bonito e recordava-me bem de todas as vezes que a observei bordar ao lado da minha avó. Sabia como havia se dedicado para fazer me fazer aquele presente. Sorrindo, inclino a cabeça para admirar a peça, enquanto meus dedos seguravam firme as duas mangas tão macias quanto todo o resto.

— Ei! — chamo a atenção de Camile que, sem que eu percebesse, havia saído do banheiro, vestida casualmente, tendo em suas mãos o meu suéter, olhando-o como se fizesse parte de alguma cena de horror. — Isso é meu.

— Eu sei. — torce os lábios e caminhando para trás, balança-o no ar, para longe de seu próprio rosto. — Isso consegue ser mais horrendo que aquele seu vestido de tricô. Pensei que jamais veria coisa pior que aqueles babados e linhas coloridas.

— Não fale assim. — resmungo, empurrando a caixa para cima da minha cama, enquanto coloco-me de pé. — Minha mãe enviou pelo correio.

— Dá para ver de onde você puxou o seu péssimo gosto para roupas e sapatos.

— Não é tão ruim assim. — tento alcançar o que me pertencia, mas a minha amiga coloca, rapidamente, o seu braço para trás do corpo. — Irei usá-lo essa noite.

— Com certeza não. — seu semblante fica parcialmente sério. — Sou sua amiga, não uma inimiga para deixá-la sair desse quarto, acompanhada por um gato como Michael, vestindo essa coisa. Você é uma universitária, precisa ter uma reputação que não seja ligada ao seu uso de roupas deprimentes e... — enrugando o nariz, faz uma pausa dramática. — Do século passado. Iremos encontrar algo para vestir.

— Camile...

— Sem questionamentos. — lançando meu agasalho em meio a bagunça de lençóis e cobertores em sua cama, caminha para o seu lado do roupeiro, abrindo as portas, começando a vasculhar entre suas roupas. — Você é doce e inocente. Isso parece atraí-lo. — sua voz soa abafada por estar com a cabeça e parte de seu corpo para dentro. — Experimente isso.

Sem ter tempo de me proteger, fecho os olhos ao sentir o tecido macio e escuro escorregar por meu rosto. Apanhando-o antes de cair no chão, encaro o que poderia ser nomeado como um vestido. Era tão pequeno que o colocaria entre blusas, tendo absoluta certeza de que não cobriria tudo o que tal peça deve cobrir.

— Tente esses também. — sendo o mais ágil que consigo, apanho tudo o que me é lançado e, logo, sou empurrada para dentro do banheiro. — Experimente e venha até aqui para que eu possa vê-la.

A porta é fechada atrás de mim. Suspirando, deixo todas as peças em cima da bancada da pia e dispo-me das minhas roupas que, do seu jeito ácido e pouco amigável, Camile ousou chamar de trapos. Mantendo-me apenas com as roupas íntimas, alcanço o primeiro vestido, procurando por um zíper, botões ou alças, mas não encontro nada. Dando de ombros e passando-o por cima da minha cabeça, rolo-o pelos seios e ajeito-o da melhor maneira que sou capaz, lidando com algo tão justo e pequeno. Uma vez emoldurando meu corpo naquele pedaço de tecido, puxo-o para baixo, pelas barras, mas sinto parte do meu sutiã escapar, erguendo-o novamente, parte do meu traseiro fica a mostra.

— Eu não vou usar isso! De modo algum. — grito, ainda dentro do banheiro.

— São roupas assim que pessoas normais usam quando querem conquistar alguém. — grita de volta. — Vem aqui, Faith. Não me faça entrar aí...

Franzindo o cenho, com as pontas dos pés firmes no azulejo frio, abro a porta , completamente envergonhada, deixando aparecer apenas os meus braços. Rolando os olhos, Camile bate palma e, em seguida, manda-me abrir um pouco mais. Obedecendo, temendo que ela pudesse me atacar se continuasse me escondendo, revelo-me, agarrando as barras do vestido, mantendo-me imóvel para que não mostrasse nada que devesse ficar coberto.

Olhando-me com um sorriso preso entre os lábios, nega com a cabeça.

— Precisamos começar devagar com essa mudança, ou ela será assustadora. — abanando as mãos em frente ao seu corpo, gira e caminha de volta até o roupeiro. — Continue experimentando. Irei procurar por algo que ainda se pareça com você, no entanto, sem a parte brega.

Não me ofendendo com o seu último comentário, afasto-me e fecho a porta. Livro-me do primeiro vestido e repito os movimentos com todos os outros. Perdi a conta de quantos havia experimentado depois da quinta frustração contínua. Pensei em desistir depois de perceber que nada combinava comigo, e que não sairia mostrando minhas pernas por uma fenda, ou os seios através de um decote. Contudo, minha amiga não permitiu que o fizesse, empurrou-me, novamente, com mais roupas para vestir e me constranger.

Não sabia quanto tempo havia se passado, mas os filetes de suor que se formaram em minha testa, entregavam que estávamos perdendo uma linda manhã de sábado testando roupas que nunca combinariam comigo. Endireitando o corpo, abro a porta e soprando alguns fios do meu cabelo molhado, paro entre os batentes, espero que Camile olhe-me, quando o faz, joga o seu celular para o lado e salta da cama, correndo até mim, puxando-me para fora, segurando em minhas mãos. Tropeçando em um de seus saltos no caminho, não consigo deixar de sorrir também, embora confusa.

— É isso! Está perfeita. — sorri abertamente. — Agora, iremos cuidar das suas unhas que, sinceramente, estão piores que as do meu tio que é mecânico. Daremos um jeito em seu cabelo, cuidaremos da sua maquiagem, encontraremos um par de sapatos e... — suspira sonhadora. — Estará pronta para o seu primeiro encontro!

(...)

— Não vou deixar você passar essa coisa nos meus olhos. — apresso-me em dizer, esquivando-me de suas mãos ágeis que não me abandonaram por todo o dia.

— Essa coisa se chama máscara de cílios. Não irá machucá-la. — murmura com desdém. — Deixe-me terminar o meu trabalho.

— Você fez tudo o que quis comigo, mas não vou ser maquiada. — brando. — As roupas, o cabelo e os sapatos, eu aceito. Mas, toda essa pintura... Não combina comigo, Cami.

Olhando-me por um instante, finalmente, anui, ainda que contra sua vontade. Colocando de volta a sua máscara de cílios dentro de sua maleta recheada dos mais diversos tipos de maquiagem.

— Tudo bem. — indaga contragosto. — Pelo menos não será vista como uma senhora no corpo de uma garota.

Ignoro-a e não consigo desviar os olhos do meu reflexo no grande espelho ao lado da nossa cadeira de balanço. Embora minhas vestes não fossem tão assustadoras quanto as outras, era como se não fosse a Faith que acostumei a visualizar sempre que olho-me pela manhã ou em qualquer momento do dia. Sentia-me tão diferente.

Mas era um diferente bom.

A camisa de mangas curtas tinha os primeiros três botões abertos, formando um decote que lutei para cobrir, mas recebi tapas ardentes em minhas mãos que foram proibidas de fechá-los por completo. Uma saia escura e feita de couro não chegava nem mesmo na metade das minhas coxas e, nunca me mostrei tanto. Não foi fácil convencer Camile a me deixar usar minhas meias para me deixar a vontade. O par de botas de cano baixo que foram encaixadas em meus pés não eram confortáveis, apertavam meus dedos e o salto de no máximo dois centímetros, fez-me dar alguns passos desajeitados e incertos pelo quarto, arrancando grunhidos da minha amiga que me jogou em sua cama e cuidou do meu cabelo, escovando-o. Tentou prender os fios escuros em diversos penteados, mas aceitou que deixá-los soltos com as pontas naturalmente encaracoladas era a melhor opção, permitindo-me suspirar aliviada.

Se Owen estivesse pudesse me ver nesse momento, diria que eu estava bonita. Ele sempre dizia, não importava a situação, ou o que estava vestindo. Lembro-me que, quando tinha meus dez anos de idade, fui abordada por um grupo de garotas maldosas que puxaram minhas tranças e zombaram das minhas roupas. Como o irmão mais velho, ele avançou sobre todas as cinco garotas e mandou-as irem embora, disse-lhes que se soubesse que haviam se aproximado de mim novamente, não se importaria em arrumar problemas com a cidade inteira por confrontar o sexo oposto. Ele nem mesmo era aluno do meu colégio, mas estava visitando uma das garotas que se envolveu naquele ano, mas deixou-a sozinha para me salvar. Enquanto chorava baixinho, assustada demais para pensar racionalmente, abracei-o e senti abraçar-me de volta, sussurrando palavras doces em meus ouvidos, dizendo que eu era bonita e que não poderia deixar que dissessem o contrário, mas se deixasse, ele gritaria a sua verdade para que todos escutassem.

Depois desse dia, nunca mais me importei com os olhares e murmúrios sobre mim. No semestre seguinte, meu irmão tornou-se um dos alunos novos e mais comentados entre os corredores. Ele caminhava ao meu lado, chamava-me para me sentar com seus amigos e, em muitas vezes, soube que me defendeu de qualquer um que falou sobre mim. Um dia, em uma de nossas discussões bobas após encontrá-lo bêbado, ainda tentando salvá-lo dos nossos pais, escutei-o caçoar das minhas roupas e, nunca me senti tão triste. Kristen tentou me ajudar com uma mudança, do mesmo modo que Camile, mas ela não tinha a perseverança, nem mesmo era blindada a palavras como ‘’não’’, ‘’não quero’’, ‘’não gosto’’ ou ‘’não posso’’.

— Você está linda, Faith. — sua voz suave era rara de ouvir. — Não é pecado ter um pouco de vaidade, uh? Vista o que te faz bem e se permita gostar de coisas novas também.

— Está frio. Talvez devesse colocar um agasalho...

— O que? Claro que não! — olha-me feio. — Mantê-la aquecida, entretida e com desejo por um novo encontro, é sempre o dever do homem. Nessa noite, ele terá que impressioná-la e mostrar suas intenções que, para o bem daquele rostinho bonito, espero que sejam as melhores possíveis.

Olhando-me através do espelho, noto sua expressão terna e tranquila. E Camile nunca era terna e tranquila.

Umedeço os lábios, pronta para dizer-lhe um dos ensinamentos pregados por meu pai, mas duas batidas soam na porta, fazendo-me arregalar os olhos. Passava-se das sete da noite e Michael alertou-me na tarde de sexta que seria pontual. Viro-me para seguir até a porta, sabendo que teria que respirar fundo antes de olhar em seu semblante sempre travesso e cheio de si.

— Espere um pouco, ele não pode achar que está muito ansiosa.

— Mas eu estou. — confesso, olhando para a porta fechada, aguardando por ouvir sua voz ou mais batidas.

Empurrando-me uma pequena bolsa sem alças, minha amiga dá tapas em meu traseiro.

— Não seja tão retraída. Converse, seja curiosa e sorria das piadas dele, ainda que sejam estupidamente sem graça. Se ele tentar beijá-la, não recue, mas deixe que seus lábios apenas rocem os seus. Ele precisa saber que terá que conquistá-la para conseguir mais.

— Meu Deus... — murmuro, sentindo o rubor aquecer minhas bochechas e orelhas.

— Continue corando assim e irá ser pedida em namoro antes da noite acabar. — replica e, segurando-me pelos ombros, caminha comigo até a porta, parando-me de frente para a madeira escura e envelhecida. — Aproveite a noite. E esqueça a bíblia, igreja e tudo o que aprendeu com seus pais. É apenas um encontro de duas pessoas que se gostam e desejam se conhecer.

É apenas isso.

Repito as suas palavras em minha mente pelos segundos que restam, sinto suas mãos deixarem meus ombros para abrir a porta, ela coloca apenas a cabeça para fora, já que estava vestindo um roupão felpudo e cor de rosa, enquanto uma toalha menor e da mesma cor estava no alto de sua cabeça.

— Cuide da minha amiga e traga-a em segurança. — sua voz é assustadoramente ameaçadora. — Divirtam-se!

Inclinando a cabeça para me olhar, incentiva-me a sair de trás da porta e mostrar-me para o rapaz que me esperava do outro lado. Deixando a brecha pela qual confrontou Michael, a garota saltitante distancia-se e me assobia um ‘’seja confiante’’ antes de deixar-nos a sós e voltar para o banheiro.

Seus olhos levemente esverdeados vagueiam o meu corpo por inteiro, da cabeça aos pés. Em uma análise precisa e duradoura, sinto-me ainda mais avermelhada por estar sendo avaliada por alguém que parecia ainda mais bonito e charmoso nessa noite. O seu cabelo estava penteado, diferente dos outros dias que estavam cobertos por um boné com emblema de algum time de Futebol ou bagunçado, com alguns fios rebeldes caindo em sua testa. Suas roupas também eram diferentes, usando um jeans escuro, uma camisa social de botões, com as mangas erguidas e um casaco marrom em uma de suas mãos, calçando um par de sapatos bem polidos, poderia dizer que esse não era o mesmo garoto despojado que se assemelhava a um adolescente do ensino médio.

— Você... Uau! — Michael balbucia, após um silêncio que me causou aflição. — Estou sem palavras, novata. E isso nunca acontece.

Abaixando a cabeça, sinto os fios do meu cabelo que estavam atrás das minhas orelhas caírem e formarem uma cortina escura em meu rosto.

— Você está incrível. — sua voz abaixa alguns tons. — Preciso me preocupar com quantos caras terei que socar para que sua atenção fique apenas em mim?

Solto uma risada e nego com a cabeça, erguendo o olhar para olhá-lo e encontrar sua expressão livre de preocupações como noutro dia.

Depois da minha noite no clube de motoqueiros, retornar para a universidade foi como receber um novo choque de realidade. Precisei contar tudo para Camile, desde o passeio com Michael, até ter sido colocada na cama de Danger. Sua reação foi revezada entre gritos, suspiros, olhos arregalados e palavras sujas que eu não poderia repetir. Também, tive que lidar com um novo apelido para mim, anjo traquino. Consegui participar de algumas aulas, e assim que fomos liberados, meu amigo abordou-me e disparou-me perguntas, não tão invasivas e curiosas como as da minha colega de quarto, mas que me deixaram encurralada. As linhas de tensão em sua testa indicavam que ele estava nervoso, assim como as veias saltando em seu pescoço e sua respiração pesada. Nunca o vi de tal forma. Depois de garantir que estava bem, suas mãos agarraram o meu rosto e forçaram-me a encará-lo, como se precisasse de uma confirmação que não fossem apenas minhas palavras e, mesmo com o coração titubeando em seus estilhaços que não se juntariam tão cedo, sorri para tranquilizá-lo.

Quando a noite caiu e fechei os olhos, chorei baixinho.

Danger parecia me odiar e eu não sabia o motivo.

— Acho que isso não será necessário. — sussurro.

— Então, estamos prontos para ir?

Balanço a cabeça, concordando.

Era tarde demais para dizer-lhe não.

Girando e ficando de lado para mim, de frente para a saída do corredor, estende-me o seu braço direito. Relutante, entrelaço o meu braço esquerdo, sorrindo amarelo quando começamos a andar, rumando para a escadaria. No caminho, desviamos de alguns grupos de amigos que nos olharam como se fossemos espécies raras perdidas pelo campus. Talvez estivessem achando que Michael merecia companhia melhor.

Paramos de caminhar apenas quando atravessamos a rua e, sem retirar meu braço do seu, Michael abre a porta do seu carro. Sorrindo minimamente, desfaço o enlaço que nos aproximava e coloco-me para dentro, pousando a bolsa em minhas pernas. A porta é fechada, de soslaio, observo a do lado do motorista ser aberta e logo o assento é ocupado pelo corpo alto e magro que se ajeita como pode, ajustando o banco e os espelhos retrovisores.

— O que quer ouvir? — pergunta-me, levando um de seus indicadores a tela do seu rádio moderno.

Mordisco o lábio inferior, sem saber o que responder. Meu conhecimento sobre músicas era tão limitado quanto sobre a vida. As únicas canções que ouvia em minha casa eram de orquestras sinfônicas, sendo as preferidas da minha mãe. Isso a acalmava e a desligava do mundo. Meu pai não apreciava músicas que não fossem religiosas ou passassem algum propósito. Enquanto para o meu irmão, quanto mais ruídos soassem por suas caixas de som, melhores para alimentar o seu temperamento explosivo e para evitar ouvir as broncas do nosso pai.

— Você pode escolher. — é tudo o que sou capaz de lhe dizer, estreitando os olhos, observando-o mexer com facilidade na tela digital.

Olhando de canto para Michael, flagro-o me olhando após escolher uma canção suave e a voz de um homem preenche todo o carro, era uma música que parecia falar de amor.

— Não irá perguntar para onde vamos? — ergue sua sobrancelha direita.

— Eu confio em você. — resmungo baixinho.

A surpresa em seu olhar é resplandecente.

— Espero agradá-la. — murmura e endireita-se no assento, logo, ligando o veículo e colocando-o em movimento nas pistas calmas ao redor da universidade.

Ouvindo apenas o soar suave da voz masculina em uma canção tranquila, relaxo sobre o banco e não me sinto tão nervosa por estar saindo com um garoto.

Não demoramos muito para estacionar em frente a um estabelecimento com fachada de letras bem moldadas e brilhantes. Era um dos pontos mais iluminados da avenida movimentada. Em nossa frente, havia outros carros, alguns sendo guiados por um homem vestido em um uniforme vermelho que, recebia as chaves e os levava até outro lado da rua. Chegando a nossa vez, Michael avança um pouco, depois que o último carro em sua frente é movido, um dos manobristas se coloca ao meu lado da porta, abrindo-a. Sorrindo de canto, um pouco incerta sobre o que fazer, aguardo pelo meu acompanhante que sorri de canto e aponta para fora com o queixo, como se me instruísse a saltar para fora.

— Obrigada. — agradeço a gentileza do rapaz que sorri e se apressa para receber as chaves.

Segurando meus ombros com ambas as mãos, Michael ajuda-me a caminhar, notando que meus pés, simplesmente, não moviam sobre o concreto firme que seguia até o carpete vermelho que se estendia como uma passarela para o restaurante.

— Você está pálida, Faith. — entorta a cabeça para me olhar. — Devo pensar que odiou a minha escolha, ou devo procurar um médico?

— Não! Não, eu... — suspiro, e tento sorrir. — Acho que não me vesti adequadamente para estar em um lugar como esse.

— Não diga bobagens. Você está mais bonita que qualquer uma dessas pessoas que gastaram horas para se aprontar. — ergue as sobrancelhas e olha com desdém para uma mulher bem vestida que caminhava ao lado de um homem tão bem vestido quanto. — Iremos jantar em um bom lugar. Pensei que fosse a melhor maneira de conseguirmos ter uma conversa tranquila. Sabe, para variar, já que nos corredores da universidade ou nas aulas do senhor Griffin, não conseguimos ter muita privacidade, até porque temos que fugir do vírus de seu resfriado incurável.

Rindo baixinho, assinto e forço-me a acompanhar seus passos confiantes, enquanto os meus, eram vacilantes, assim como meus sentimentos que pareciam estar em conflito a cada segundo.

— Sejam bem vindos ao Rossetti. Em que posso ajudá-los? — uma mulher elegante e sorridente nos recebe, assim que atravessamos as portas de vidro.

— Temos uma reserva no nome de Michael Wright.

Os olhos esverdeados abaixam para a tela de um computador portátil e, rapidamente, corre por entre o que se parecia com uma lista de nomes e sobrenomes.

— Está aqui... Senhor Wright. Coleman irá levá-los até a mesa reservada. — seu sorriso se amplia, fitando apenas o rapaz ao meu lado. — Tenham um bom jantar.

Um homem alto e magro descruza os braços e estende o esquerdo para frente, mostrando-nos para onde ir. Michael anui com a cabeça, e crispando os lábios, puxa-me pelos ombros.

— Senhor Wright, uh? — semicerro os olhos.

— A vantagem de ter o sobrenome de Lancelot Wright. — dá de ombros.

— Espera! — tenho certeza que estou boquiaberta. — Você é filho de Lancelot Wright? O reitor da universidade?

Desviamos de algumas mesas com pessoas jantando, outras apenas conversando.

— Não conte isso para ninguém, tudo bem? — murmura com receio e para em frente a uma mesa vazia, ao lado de uma extensa vidraça desenhada. — Obrigado.

Agradece ao homem que deixa-nos, mas antes, arrasta uma das cadeiras para mim. Sorrindo com nervosismo, sento-me ao mesmo instante em que Michael o faz.

— Eu não fazia ideia de que ele tinha um filho, tão pouco que era você. — sussurro.

— Isso é porque evito que as pessoas saibam dessa fatalidade. — move os talheres em cima de um prato de porcelana branca, parecendo incomodado. — Uso apenas o sobrenome da minha mãe.

— Por quê?

— Porque não quero que me olhem diferente, ou pensem que tenho privilégios. — olha-me de canto. — E não queria que você me olhasse dessa maneira.

— Eu... Não estou pensando nada disso. — apresso-me em dizer. — Só estou surpresa por saber disso, ainda mais, dessa maneira. Vocês não se parecem, nem um pouco.

Michael sorri e olha por cima dos meus ombros.

— Acredite, isso me soa como um elogio.

— Boa noite. Já estão preparados para pedir? — um homem vestido como outros garçons, se aproxima e inclina-se, percebendo que não tínhamos nem mesmo recebido os cardápios. — Vocês podem olhar. Voltarei quando tiverem decidido.

— Obrigada. — agradeço-o. Olho para a pasta escura, com o nome do restaurante gravado em um tom forte e brilhante de dourado, assim como na fachada.

— Já sabe o que vai pedir?

— Não faço ideia. — confesso envergonhada.

— Posso escolher por nós dois? — concordo, sem questionar. — Esse é o restaurante de massas predileto da minha família. Comemos aqui desde que me lembro, é mesmo um bom lugar. Se for uma amante de doces, irá implorar para que a sobremesa chegue depressa.

— Parece bom. — murmuro. — Escolha o que te agradar.

— Sua confiança em mim é lisonjeira. — indaga, sorrindo minimamente.

Analisando as páginas do cardápio, parece saber exatamente pelo que procurava, torcendo os lábios ao pressionar seu indicador esquerdo sobre a linha fina. Com a mão livre, atrai a atenção do mesmo garçom que se apresentou, minutos atrás. Realizando o pedido, escolheu para nós copos de suco de laranja para bebermos durante o jantar, recusando o vinho, percebendo o rubor que obtive com a questão do homem que analisou-nos minuciosamente.

— O seu segredo está a salvo comigo. — garanto-lhe, assim que o garçom se retira.

— Tenho certeza que sim. Obrigado, novata. — seu sorriso debochado estava de volta, assim como sua serenidade e o apelido que me dera. — Agora, fale-me sobre você. Revele tudo o que eu deva saber.

— Não tenho nada interessante para falar. — aperto a alça da bolsa entre meus dedos. — Minha vida não é cheia de aventuras.

— Qualquer coisa sobre você é interessante o bastante para mim. — o tom de sua voz é baixo, mas tão intenso quanto o seu olhar livre de brincadeiras.

E, mais uma vez, rubor toma minhas bochechas, que nem mesmo consigo voltar a olhar em seus olhos.

— Eu vim de uma família simples e pequena. Vivi em Ames desde sempre. Então, não foi fácil deixar a simplicidade da cidade e me instalar em um lugar tão diferente. Tudo ainda é desconhecido e muito novo. — ergo o olhar, olhando para o vaso de flores no centro da mesa, rodeado por dois candelabros dourados. — Meu pai é um reverendo adorado e conhecido por vários fiéis na cidade. Minha mãe, atualmente, é apenas dona de casa, mas toca piano e violino, e costura também. — reprimo um sorriso por me lembrar das duas pessoas que tanto amava. — Isso é tudo.

— Não pode ser tudo, novata. — apoia os cotovelos na mesa. — Fale-me sobre você. Mostre-me quem realmente é Faith Lancaster.

— Não há o que dizer. — sopro em resposta.

— Sempre há o que dizer. — reforça. — Qualquer coisa. Algo que ninguém sabe, ou nunca tenha percebido.

— Eu não consigo. — resmungo, um tanto quanto frustrada comigo mesmo. — Sinto muito.

— Tudo bem... — suspira, mas não parece irritado. — Vamos fazer assim, irei dizer algo sobre mim, e depois, você me diz algo sobre você.

— Certo.

— Quando era mais novo, sonhava em ser um astronauta.

— Acho que qualquer criança já sonhou com isso. — digo, olhando-o com diversão.

— Mas, eu tinha um motivo em especial. — defende-se. — Queria estar em um foguete, ao lado de um macaco.

Seu tom é tão sério que alimenta a minha vontade de rir, mas ao mesmo tempo, espanta-me.

— Isso é sério?

— Sim. Uma vez, criei o meu próprio foguete. — enruga o nariz. — Não funcionou. Como pode ver, ainda estou em terra firme. Mas, consegui voar até as cercas de casa e bati a cabeça contra a madeira.

— Eu... — levo as mãos até minha boca, cobrindo-a. Tentando afastar as risadas que me escaparam, fazendo com que algumas cabeças virassem para a nossa mesa. — Desculpe, Michael.

— Rindo dos sonhos de uma criança? Que coisa feia, novata. — finge-se de ofendido, pousando a mão direita do lado do seu coração.

Antes que pudesse me explicar, o garçom aproximasse com as mãos ocupadas por uma bandeja. Pedindo educadamente por espaço, coloca em nossa frente os pratos recheados por massas que cheiravam tão bem que foi inevitável não fechar os olhos para apreciar o que aparentava estar divino.

— Precisam de mais alguma coisa?

— Não por agora. Obrigado. — Michael pontua, o homem se afasta, sorrindo e nos desejando um bom jantar.

— Cheira tão bem. — apanho os talheres e meu companheiro faz o mesmo.

— Espero que aprecie. Quando terminar, enquanto esperarmos pela sobremesa, quero saber a sua história frustrante de infância.

Sorrindo, anuo e não consigo adiar mais o anseio por degustar a massa.

A beleza do prato era mínima diante ao sabor incomparável a qualquer outro que experimentei nas últimas semanas, não podendo deixar de lado as tiras de peixe que, jamais poderia me esquecer. Apreciava, realmente, a atitude de Michael em me levar a um bom lugar, sendo evidentemente caro, mas não me importaria em acompanhá-lo ao parque, sentarmos em um dos bancos, enquanto comíamos. O luxo me impressionava, mas a simplicidade fazia-me sentir em casa.

Comemos em silêncio. Não olhava para a outra ponta da mesa, sabendo que seu olhar, vez ou outra, escorregava para me olhar. Após limpar os lábios com o guardanapo, deixo-o cair sobre o prato vazio. Sentia-me satisfeita e curiosa sobre a escolha da sobremesa, que foi escolhida apenas para mim.

— Desculpe-me. Pensei ter desligado o celular. — Michael resmunga, ouvindo seu celular apitar pela quarta vez em menos de dois minutos.

Tateando os bolsos de sua calça, puxa o seu aparelho celular, deslizando os polegares agilmente sobre a tela, franzindo o cenho e, parecendo ficar tenso com o que lia. Meus olhos curiosos tentam focar em qualquer outro ponto, mas minha língua estala e a pergunta escapa.

— Algum problema?

— Na verdade, sim. — olha-me rapidamente. — Um amigo acabou de me enviar uma mensagem, dizendo que os responsáveis pela festa da fraternidade estão prestes a enfrentar problemas sérios.

— Meu Deus! — umedeço os lábios. — Camile está nessa festa. Você pode ligar para ela? Apenas para avisá-la sobre isso, ou saber como está.

— Esse é o verdadeiro problema. — faz uma pausa que acelera o meu coração. — Camile está na festa e completamente bêbada. Segundo Maverick, ela está acompanhada por um rapaz que não possui uma boa fama nos arredores. E ele é o pivô de toda a confusão.

— Nós precisamos fazer alguma coisa, Michael. — replico, sentindo-me estremecer. — Ela é minha amiga. Se algo acontecer...

— Ei! — em um ato rápido, alcança minha mão esquerda, cobrindo-a com a sua. — Nada vai acontecer. Vamos até lá e só sairemos com Camile. Tudo bem?

Assinto, com lágrimas nos olhos.

— Vou acertar a conta e pedir para levarmos a sua sobremesa. — informa, e levanta-se.

— Vou pagar pelo que comi. — levanto-me também, arrastando a cadeira.

— De maneira alguma. Eu te convidei, é por minha conta. — impõe, erguendo o seu queixo bem desenhado. — Me espere aqui.

Não tendo forças e nem ideias de como confrontá-lo, não saio do lugar, esperando-o, nervosa demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse a minha amiga correndo perigo, seja lá pelo que tenha deixado Michael em estado de alerta.

Sentindo uma de suas mãos ao redor da minha cintura, fazemos o mesmo caminho pelo qual adentramos o restaurante sofisticado. Antes de sair, Michael agradece a mesma mulher que nos recepcionou, embora tenha dado mais atenção a ele. Em passadas largas, alcançamos o manobrista que conversava com um homem que se parecia com um segurança. Notando a presença do dono do veículo, apressa-se para apanhá-lo e, minutos depois, dobra a esquina com o carro, jogando as chaves para meu amigo que, lhe estende algumas notas em dinheiro e moedas.

— Não devíamos chamar a polícia? — questiono, assim que a porta do outro lado é fechada. — Eles podem ajudar a contornar o problema antes que comece.

— Faremos isso depois que tirarmos Camile de perto daquele cara. — olha pelo retrovisor e coloca no assento traseiro uma sacola que nem mesmo percebi ter carregado consigo. — Não sabemos o que está acontecendo nesse instante. Precisamos apenas ser rápidos.

— Dirija com cuidado. — olho para Michael que tinha sua atenção na estrada.

— Não precisa sentir medo, Faith. Jamais a colocaria em risco. — branda, espiando, com a mão livre, seu celular que apita com uma nova mensagem. — Parece que teremos que ser mesmo muito rápidos.

Pisando fundo no acelerador, faz uma manobra arriscada e muito rápida na pista movimentada por carros e motos que buzinam a sua imprudência. Respirando fundo, agarro o cinto de segurança e protejo-me da única maneira que seria possível.

Em poucos minutos que correm tão depressa quanto consigo acompanhar, estávamos em uma rua afastada, de frente para uma mansão tão grande como jamais tinha visto em toda minha vida. Carros estavam espalhados por todos os lugares e pessoas corriam também. Piscando uma única vez, observo, à distância, homens saltando de motos e, antes mesmo de compreender, posso ter certeza que meu corpo inteiro se arrepia com o simples fato de serem tão parecidos com os motoqueiros que encontrei no clube de Danger.

Danger.

Há dias o seu nome se passava por minha cabeça e machucava o meu coração.

— Não importa o que aconteça, não saia desse carro. — Michael diz, assim que gira o carro e estaciona-o embaixo de uma árvore, ainda distante da mansão movimentada. — E se eu não voltar em dez minutos, ligue para a polícia.

— Michael... — observo-o me estender o seu celular.

— Faça isso. Por favor. — sua voz soa como um sussurro.

— Tudo bem. — afirmo, embora estivesse verdadeiramente nervosa.

— Volto logo. — puxa o trinco e abre a porta, saindo depressa.

Com os olhos vidrados, acompanho-o se afastar e correr por entre outros carros, logo saindo da minha visão. Olho para fora, não gostando da movimentação de pessoas entrando e outras saindo, quase cambaleantes. Mas é o som de gritos femininos que me fazem agir de forma inconsequente, pensando ser minha amiga em apuros.

Jogando o celular de Michael no banco em que esteve sentado, abro a porta do meu lado e salto para fora, sentindo meus pés calçados pelas botas incômodas firmarem em cascalhos e areia. Erguendo o meu rosto, procuro por rostos conhecidos, mas não os encontro em lugar algum. Engolindo a bile que, de repente, formou-se em minha garganta, estreito os olhos e balanço a cabeça, dando um passo de cada vez, segurando com força a bolsa contra minha barriga.

Esbarro-me em alguns corpos que não desviam do caminho e me desculpo por isso, estava atordoada e nervosa demais para agir com cautela.

Puxando o máximo de ar puro para meus pulmões, continuo a minha caminhada desconhecida. Na frente dos portões, torno a escutar os gritos, dessa vez, tenho certeza que são de várias garotas, não apenas uma. Meus lábios secam com a cena de tantas pessoas, evidentemente, alcoolizadas, correndo pelo gramado, algumas saindo com dificuldade de trás de arbustos, e a maioria atravessava a porta da frente, como se estivessem fugindo de algo que pudesse alcança-las.

— Desculpe-me, eu não... — sinto um esbarrão em minhas costas, lançando-me para frente e, embora não tivesse sido a culpada, peço desculpas.

— O seu rosto... — os olhos azulados do garoto brilham ao fitarem-me, enquanto segurava-me pelos braços, em uma tentativa desajeitada de me ajudar a não ir ao chão. — Você é a garota de Danger!

— Rooster? — ofego ligeiramente. — O que está fazendo aqui?

— Eu devia estar fazendo essa pergunta. — olha, rapidamente, por cima da minha cabeça. — Isso é algum tipo de fetiche por perigo ou um teste de vida?

Descolo os lábios para respondê-lo, no entanto, no segundo em que inspiro, sinto um cheiro conhecido que me arrepia por inteiro. Viro o rosto para o lado, assim que sinto sua presença se movimentar e é quando nossos olhares se conectam.

Todo o resto parece desaparecer.

— O que diabos está acontecendo? — os olhos nebulosos do motoqueiro caem nas mãos de Rooster. — O seu lugar é lá dentro, garoto.

— Eu só...

Rosnando baixo, Danger alcança a gola da jaqueta do prospecto e o empurra para trás, colocando-se entre nós dois. Assustada, recuo dois passos, assistindo com horror o outro ser praticamente erguido como se não pesasse nada.

— Nunca desobedeça as minhas ordens. Você sabe como punimos aqueles que quebram os mandamentos do clube. — sua voz soava com brutalidade. — Não sabe?

— Sim... — Rooster parece murmurar.

— Eu não ouvi, porra! — dando-lhe mais um empurrão, ainda sem soltá-lo, causa medo não apenas em Rooster, ou em mim, mas também, em um grupo de rapazes que correm para o lado oposto.

— Sim, senhor! — com perseverança, o outro afirma, sendo o que Danger queria ouvir, soltando-o sem aviso.

Flexionando os joelhos, o loiro respira fundo e escova os fios de seu cabelo para trás. Seu olhar não volta para mim e nem mesmo para o moreno que tinha a respiração pesada. Em passadas largas, assim como outros, desaparece por entre o gramado.

Virando-se para mim, bufando como se estivesse lidando com uma raiva implacável, Danger olha-me de maneira como nunca me olhou antes. E sem dizer uma única palavra, sua mão direita agarra o meu pulso esquerdo, forçando-me a ter meu corpo contra o seu.

— Você... Virá comigo.

— Eu não posso. A minha amiga...

— Ficará bem. — corta-me. — Não temos tempo.

Sem ter como contestá-lo, faço o que foi dito e rumando para longe dos portões, só paramos quando estávamos de frente para várias motos estacionadas de qualquer maneira, bloqueando parte da estrada, quase que propositalmente.

— Quantos motoqueiros estão aqui? — pergunto-lhe, afoita demais por estar de frente para tantas motos, aparentemente, potentes, e como se fossem exatamente o que seus donos eram.

— O suficiente para cobrar uma dívida. — indaga e solta o meu pulso apenas para pegar o capacete e entregá-lo para mim.

— O que isso quer dizer? — endireito a alça da bolsa em meu ombro esquerdo, lutando para manter o capacete firme em minhas mãos.

— Quer dizer que, quanto menos souber, melhor.

Não gostava da forma de como isso soava.

Com os olhos escorregando do meu rosto e varrendo as minhas vestes, sinto a avaliação mais exigente de toda a noite. Em seu olhar não havia satisfação como nos de Camile, tão pouco a surpresa que flagrei nos olhos de Michael. Havia mais, e algo me dizia que não era bom.

— Não são minhas. — sem uma razão lógica, explico o fato de estar em roupas que não eram as que costumava usar.

— Sei que não são. — com o peito inflando, retira a sua jaqueta e joga-a por trás do meu corpo, a ajeitando em meus ombros. — Não deveria mudar a sua maneira de se vestir para agradar outras pessoas.

Girando-se depressa, arrasta a sua moto para longe das outras, sobe sobre ela, e aguarda-me.

— Não posso ir sem Camile.

— Quando disse que viria comigo, morena, não foi um pedido. — estava de costas, mas podia ter certeza que sua expressão não era das melhores. — Se não subir nessa garupa por vontade própria, irei jogá-la em meus ombros e levá-la assim mesmo.

Mesmo que tentasse encontrá-la, não conseguiria. Michael estava mais perto, e, conhecia as pessoas. Eu confiava o bastante para saber que cumpriria com sua palavra de só deixar a mansão depois que a encontrasse, e a levasse de volta em segurança.

Encaixando o capacete em minha cabeça, prendo-o embaixo do meu queixo e giro para subir sobre a moto, repetindo o ato que me lembrava bem. Sem precisar ouvi-lo impor suas palavras como se fossem lei, enlaço seu tronco, praguejando pela saia de couro ser menos confortável que as que costumava usar e aplicavam-se bem em qualquer situação.

A viagem na traseira da moto é tão emocionante quanto as outras. Todavia, foi ao ouvir o som do motor cessar que abri os olhos e os rolei por entre todas as casas pequenas, rodeadas por cercas baixas, com jardins tão semelhantes e ao mesmo tempo diferentes. Cada um deles com seus detalhes. Olhando para trás, por cima dos ombros, Danger espera eu descer primeiro. E, mesmo confusa, o faço, puxando a saia para baixo, enquanto ajeitava a jaqueta em meus ombros.

— Onde estamos? — retiro o capacete e vejo-o saltar de sua moto, esmagando algumas folhas secas que pareceram cair de um dos galhos da árvore alta e volumosa sobre nossas cabeças.

Olhando para baixo, Danger parece entrar em um de seus tendenciosos conflitos consigo mesmo.

— Você queria saber para onde mandaria o pulguento... — levanta a cabeça, mas não se vira para me olhar. — Acho que ele encontrou um lar.

E isso é tudo o que diz antes de bater os solados de suas botas na calçada. Empurrando o pequeno portão, espera-me fazer o mesmo e, com as pernas bambas, o faço.

Confusa demais.

Incerta demais.

Perdida demais.

Fechando-o novamente, segue pelo estreito trilho e sobe os poucos degraus que levava até a varanda da casa. Faço o mesmo, seguindo meus instintos enevoados. Batendo uma única vez na porta, passos do lado de dentro fazem-me franzir o cenho, mas é o rosto de uma senhora pequena, com os fios de seu cabelo grisalho presos em um coque no alto de sua cabeça. O sorriso que ela abre ao ver Danger é tão doce, mas não o assusta, e sim, o faz curvar-se para abraçá-la.

— Obrigado por ficar com ela, Dulce. — posso jurar ouvi-lo dizer, ainda que com a voz abafada.

— Tudo por você, menino. — a senhora sussurra de volta e afaga os poucos fios de seu cabelo que parecia estar crescendo.

Separando-se do abraço, olham-se e sorriem. Os olhos miúdos e inchados da senhora vagueiam sobre mim, o seu sorriso ampliasse um pouco mais.

— Olá, querida. — cuprimenta-me. — Você deve ser a garota que possui um nome tão bonito quanto o significativo... Faith. Eu sou Dulce.

— Eu... É um prazer. — é tudo que sou capaz de dizer-lhe de volta, com a voz entrecortada.

— Entrem. Por favor.

A senhora afasta-se da porta, cedendo espaço para que passássemos. Danger olha-me de canto, sendo um sinal para que fosse à sua frente. Apertando as pontas dos meus dedos nas palmas das minhas mãos, ergo meu pé direito e coloco-o para dentro da casa que repelia aroma de laranjeira e campo. Olhando as paredes ao redor, ouço a porta ser fechada e o som das botas do motoqueiro no assoalho de madeira, é a única coisa que me transmite segurança para continuar seguindo a senhora.

— Papai? — todos os olhares que procuravam algo por entre os cômodos da pequena casa são levados até a voz fina de uma garotinha de cabelos escuros que cobriam parte de seu rosto.

— Olá, garotinha. — Danger murmura, atrás de mim, dando alguns passos para o lado direito, não consigo fechar os lábios com a cena da menina correndo em direção aos braços do homem que se ajoelhou para recebê-la.

Logo atrás, ofegante e com a língua para fora, estava o mesmo cachorro que salvei e entreguei nas mãos de alguém que não parecia ser apaixonado por animais. Nem por crianças.

Mas, foi apenas uma palavra que me causou vertigem.

— Ela o chamou de pai? — sussurro, tão baixo que a pergunta soa mais para mim que para ele.

Erguendo-se, ainda agarrado a menina, balança a cabeça em concordância.

Danger tinha uma filha. 


Notas Finais


Como estão os coraçõezinhos? Muhahaha, amo vocês!
O próximo capítulo será um ''bônus'' do Danger. Portanto, preparem-se! Vejo-os em breve! <3

Playlist da Fanfic: https://play.spotify.com/user/baby_beer-/playlist/0zADu1UK0z1A33vZ4vsLOQ
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=jPv9tcP8mwE
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