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História Our Strange Duet - Salva


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Olááá! Encontrei essa fic antiga minha, a primeira que escrevi, e achei que devia compartilhar com vocês! Espero que gostem!

Capítulo 1 - Salva


Celine se deixou cair de joelhos ao ouvir a porta da jaula ser trancada atrás de si: cobrindo com as mãos a face maquiada de modo a deformar-lhe as feições, ela trincou os dentes. Sabia que a nova sessão de tortura e humilhação não tardaria a começar, pois podia ouvir a multidão entrando. Logo a jaula seria descoberta, para que o povo pudesse se divertir com a visão da Noiva do Diabo.

As feridas do dia anterior coçavam terrivelmente; vergões roxos e vermelhos, hematomas e escoriações marcavam-lhe a pele exposta, e também o pouco de seu corpo que era coberto pelo vestido roto e imundo. Já fazia três anos que ela era obrigada a assumir o papel de Noiva do Diabo no show de horrores do circo. Mulheres gordas, contorcionistas, animais... E ela. Desde que seu padrasto a vendera ao circo, sua vida fora conviver com a falsa deformidade no rosto, bem como com as torturas e espancamentos de cada exposição pública. Mais uma estava para começar, mas ela não ficaria passiva: lutaria, como sempre lutava, por mais inútil que fosse.

De repente a cortina foi puxada, e Celine escondeu o rosto nos braços, fechando os olhos numa tentativa de fugir daquilo. Pessoas se espremiam contra as grades para conseguirem enxergá-la, e protestavam contra seu gesto de se esconder; tudo o que ela sentia por aquelas pessoas era um profundo desprezo... Estava anestesiada demais para conseguir odiar. Em sua alma, havia apenas desprezo e tristeza.

Ainda ocultando-se em seus braços, ela sentiu a aproximação de Luke, seu guarda e algoz. Ele se aproximou a passos largos, e preparou-se para um chute; ela não se deixou chutar: saltou para o lado e agarrou-lhe o pé, derrubando-o no chão. Como uma fera, mostrou os dentes para o homem e avançou sobre ele, gritando e arranhando. Um soco do homem a derrubou de lado, a boca sangrando; instintivamente, ela saltou para trás, assustada. De repente, algo se chocou e explodiu contra seu ombro: um ovo podre. A isso seguiram-se novos arremessos de diversas coisas: de pedras a excremento de animais, que acertavam-na com força. Uma pedra acertou-lhe a têmpora, fazendo-a tropeçar. Luke, com raiva, agarrou-a pelos cabelos imundos e a forçou a encarar a multidão, que continuava a lançar-lhe coisas.

Lutando furiosamente, ela golpeava seu algoz com as unhas, gritava e se debatia. De repente suas unhas se cravaram profundamente na mão do homem, que a soltou. Entretanto, ela percebeu que fora longe demais quando viu seu atacante recuar, o rosto distorcido de ódio, e puxar do cinto o açoite que, até aquele dia, jamais usara com ela. O primeiro golpe foi rápido demais para que ela sentisse sequer a dor: tudo o que sentiu foi o impacto lançá-la ao chão, e então sangue escorreu sobre seus olhos. Um novo golpe, mais forte, atingiu-lhe as costas, e depois os ombros, a bochecha. Golpe após golpe, ela se viu coberta de feridas.

Sem ter como fugir, ela se voltou para o povo e implorou:

– por favor... Ajudem-me! – Mas suas palavras foram respondidas por risos ainda mais altos.

Sem esperanças, ela apenas protegeu o rosto nos braços, e esperou, mergulhada em um mundo de dor e escuridão, sua cabeça girando desesperadamente. Aos poucos, o som de risos diminuiu, e a população deixou a tenda onde ela era exibida.

Quando finalmente teve coragem de erguer o rosto, viu que, pouco à frente, Luke recolhia as moedas do chão; o açoite que usara para fustigá-la jazia ao seu lado, no chão. Era sua grande chance!

Ignorando a dor lancinante no corpo, ela se ergueu e caminhou em absoluto silêncio. Com a velocidade de um raio, ela agarrou o açoite e, usando-o como corda, enrolou-o no pescoço do saltimbanco; sem piedade, puxou ambas as pontas com toda a força que tinha: seu carrasco não teve tempo de sequer gritar, antes que sua espinha se partisse com o puxão violento da jovem.

Ainda incrédula, a moça fitou o corpo inerte no chão; estava livre! Bastava-lhe, agora, mais um pouco de coragem, e deixaria o circo para trás.

Esgueirando-se por baixo da lona, ela se arrastou pelas sombras, tremendo de frio, dor e exaustão. Era inverno, e a neve se acumulava no pátio onde o circo acampara, mas isso acabava por ajudá-la: as pessoas se ocultavam sob seus capuzes e xales, pouco reparando em qualquer coisa que se movesse nas sombras da noite. E foi assim, movida unicamente pela vontade de fugir, que Celine ignorou a dor e o frio e saiu para as ruas de pedra de Paris. Ainda demoraria para que alguém descobrisse a morte de Luke, e ela queria estar bem longe, quando acontecesse.

Caminhou em meio à noite por um tempo que lhe pareceu demasiadamente longo, seus pés descalços congelando na neve, o sangue pingando de suas feridas e escorrendo por seu rosto. Ela tentava pedir ajuda aos transeuntes, mas estes apenas se afastavam, repugnados. Ela via as pessoas envoltas em seus casacos, andando abraçadas, felizes, e seu coração se dividia entre o ódio e o pesar.

Já sem forças, ela percebeu que, andando à esmo, acabara em frente ao Opera Populaire, o belo teatro parisiense, reconstruído após o incêndio de dois anos atrás. Estava iluminado, e ela podia ouvir música lá dentro: uma Ária de La Traviata, se ainda se lembrava dos tempos em que era criança, e sua mãe trabalhava como costureira do teatro à sua frente. Música... Fazia tanto tempo desde que ouvira alguma...

De repente, toda a dor e todo o sofrimento pareceram menores. Ela estava morrendo, e sabia disso; que bela morte, se pudesse partir daquele mundo aos sons de tão bela música! Apesar do frio, sentia seu coração aquecido e feliz. Podia quase esquecer dos três anos de sofrimento enquanto se aninhava contra as portas fechadas, abraçando os próprios joelhos e deixando-se embalar pela melodia.

Foi pouco depois de se acomodar ali que, com a visão embaçada, viu um par de botas negras à sua frente. Erguendo a cabeça, seu olhar encontrou o de um homem: seu rosto estava encoberto por uma máscara, mas os olhos eram de um verde intenso, e faiscavam como estrelas. Ele se ajoelhou à sua frente e, sem qualquer expressão de asco ou medo, tocou-lhe a face ferida. Perguntou-lhe algo, mas ela não entendeu o que lhe era dito. Queria apenas permanecer ali, o coração preenchido por música, e a alma aquecida por aquele olhar penetrante.

Em meio à névoa que tomava sua mente, Celine sentiu que o homem passava os braços por trás de suas costas e por baixo de seus joelhos, e a erguia do chão. O corpo rijo irradiava um calor agradável, e ela se sentiu... Protegida?! Seria ele um anjo? Estaria ela morrendo? Se assim fosse, a morte lhe parecia extremamente doce, e ela se entregou, fechando os olhos.

Pela primeira vez em muito tempo, ela caiu em um sono sem sonhos: um sono sem pesadelos. Na mais profunda escuridão, havia apenas música e paz.


Notas Finais


E aí, gostaram? Eu sei que os capítulos são curtos, mas sejam pacientes comigo, pois escrevi essa fic já faz tempo. Apesar de tudo, acho que até é bonitinha.
Deixem seus comentários, ok?


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