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História Our Strange Duet - Dor


Escrita por: ElvishSong

Capítulo 14 - Dor


POV Erik

Erik se aborreceu por Celine não haver ido se arrumar na Casa do Lago, mas compreendia: uma vez que ela substituía a maquiadora de Bruna – a qual torcera o pulso numa queda – seu trabalho só se encerraria ao iniciar-se o último ato. Ficara acertado, então, que a moça o encontraria no camarote cinco quando já não fosse necessária

Insatisfeito, mas conformado, ele seguiu para o camarote sem ser visto, qual o Fantasma que fingia ser, nessas horas. Adorava as óperas, mas assisti-las sem a companhia de sua amada não era a mesma coisa. E havia ainda a preocupação em relação ao tal Louis de Toulouse, embora ela lhe houvesse garantido que estaria perfeitamente segura nos bastidores.

Já no camarote, sempre oculto nas sombras, ele deixou o buquê de rosas vermelhas sobre a cadeira em que Celine se sentaria. Uma pequena homenagem ao primeiro trabalho solo de seu pequeno gênio das artes. Ouvindo os sons dos últimos preparos, ele se sentou oculto pela cortina. Agora, só precisava esperar.

POV Celine

Depois de tanto trabalho, Celine mal podia esperar para se reunir a seu amor. Verdade fosse dita: estava feliz, orgulhosa do próprio trabalho – as maquiagens de bruna haviam ficado perfeitas – e cercada por elogios dos colegas e amigos, mas estava, também, bastante cansada. Felizmente, restava apenas uma maquiagem para terminar.

Quando afinal largou o pincel, após transformar a soprano na perfeita figura do fantasma de Eurídice – esposa do semideus Orfeu – percebeu que uma gota de tinta havia caído no decote de seu vestido branco. Despedindo-se da amiga, correu para o alojamento do balé onde, mais cedo, esquecera seu xale de seda: não havia tempo para limpar o vestido, então, esconderia a tinta – que não era muita – com a peça.

Demorou alguns minutos para encontrar o xale em meio à bagunça que as bailarinas haviam feito com as roupas de cama – toda estréia resultava em alvoroço naquele alojamento. Quando afinal conseguiu achar o que procurava, sentiu uma presença atrás de si, e o cheiro de álcool lhe dizia que não era seu esposo. Pegando o prendedor de madeira polida, ela aguardou que o recém-chegado se aproximasse.

Uma mão áspera se fechou em seu braço, seguida de uma voz que ela conhecia bem:

– O que fez aqui, tão só? O seu Fantasma desapareceu?

A resposta da jovem foi virar-se com rapidez, atacando num golpe veloz; a ponta de madeira se cravou no ombro de Louis de Toulouse, que gritou de dor. Soltando a arma de madeira, ela agarrou o cordão sikh e, num movimento tão veloz quanto o de uma serpente, enrolou-o no pescoço do barão e se colocou às suas costas num giro, puxando as pontas com ambas as mãos. Apesar da luta, ele não conseguia se libertar, e ela chegou a pensar que poderia mesmo matá-lo.

Sua alegria, porém, não durou: uma mão rude agarrou-a pelos cabelos – que se haviam soltado com a retirada do prendedor – puxando com tanta força que ela perdeu o equilíbrio. Suas mãos soltaram o cordão de estrangulamento e buscaram o punhal guardado no seio. Ela desferiu um golpe contra quem a segurava – um homem alto e forte, de barba escura e cerrada, cabelos cor de terra amarrados num rabo-de-cavalo oleoso – mas a lâmina não chegou a penetrar a carne: Louis se recuperara e segurava seu pulso. Ele apertou com tanta força que os dedos da mulher se abriram involuntariamente, deixando o objeto cair.

Desarmada e agarrada por dois homens, ela desferiu tapas, chutes, mordidas e socos, mas não conseguiu nada além de deixá-los mais enfurecidos – ou, pior ainda, excitados. Um par de mãos torceu-lhe os braços para trás, e um punho forte golpeou-a no ventre. O grito da moça, entretanto, foi abafado pela mordaça que enfiaram em sua boca. Em meio à luta, o decote de seu vestido foi rasgado, expondo-lhe o corpo; ela se debateu e gritou, chutando e se contorcendo, mas foi inútil.

– Não achou que eu a enfrentaria sozinho, achou, vadia? – o barão de Toulouse a esbofeteou enquanto o segundo homem torcia-lhe os pulsos às costas. Ela se curvou, mas seus cabelos foram puxados novamente, obrigando-a a erguer o rosto.

– Nem o seu Fantasma da Ópera pode salvá-la agora, mulher.

Mesmo sem desistir de lutar, Celine compreendeu que não teria escapatória; quando foi derrubada no chão pela dupla, compreendeu que Louis tinha razão: nem Erik poderia impedir aquilo, agora.

POV Erik

O ato final ainda não havia começado, mas o coração de Erik se apertou: embora não houvesse motivos para tanto, sentiu que havia algo errado com sua esposa. Confiando apenas em seu coração, tomou uma das tantas passagens que conhecia, dirigindo-se para os bastidores. Ela não estava nos camarins, nem nos andares superiores. Sentindo-se cada vez mais desesperado, ele continuou sua procura por todos os lugares; finalmente, lhe ocorreu o lugar onde ela poderia estar: o alojamento das bailarinas, é claro!

Correndo para os aposentos que Celine um dia dividira com as seis bailarinas, ele sorriu ao ver a porta entreaberta: talvez ela houvesse adormecido enquanto organizava o quarto! Ele rezava por aquilo, mas não acreditava verdadeiramente em tal hipótese.

Foi ao abrir a porta e entrar no quarto que viu seus medos se confirmarem: largada no chão, o vestido branco arrancado aos farrapos do corpo... Os seios e ombros com hematomas e mordidas... O ventre e as coxas marcados por arranhões... O rosto marcado por um enorme hematoma... O lábio inferior partido e sangrando... Sangue escorrendo por entre as pernas... Os olhos fixos no nada e quase inconsciente... Sua Celine parecia ainda pior do que no dia em que a conhecera.

Sentindo a raiva aflorar em seu peito, o Fantasma a refreou: Celine precisava de seu socorro, e não da morte de quem a atacara! Ajoelhando-se ao lado de sua esposa, ele a chamou com doçura:

– Celine – vendo-a sem reação, segurou-a pelos ombros, sentou-a e a sacudiu delicadamente: como estava gelada! – Celine, meu amor! Olhe para mim!

Ela estremeceu e se encolheu, mas virou o rosto e o encarou: estava em choque – Erik sabia reconhecer aquele estado. Aos poucos a lucidez voltou aos olhos castanhos, e a mulher murmurou num fiapo de voz:

– Erik... – Duas lágrimas brilhantes escorreram pelo rosto machucado – Não fique bravo comigo... Eu juro que lutei até o fim... Mas eles eram fortes demais, e... – com aquelas palavras, caiu num soluçar incontrolável.

Lutando contra a fúria assassina do Fantasma da Ópera, Erik cobriu sua amada com a capa e a ergueu nos braços: ouvi-la gemer de dor apenas aumentou o ódio por quem havia feito aquilo com sua Estrela.

O Anjo da Música a levou para casa, sussurrando palavras de conforto para tentar diminuir o tremor incontrolável de sua amada – que ele não sabia ser de frio, medo, ou ambos:

– Calma, meu amor; eu estou aqui, e vou cuidar de você.

Havia sangue demais pelo corpo de sua esposa para que ele pudesse cuidar das feridas; levando-a para a sala de banho, encheu a banheira, despiu-a dos restos do que um dia fora um vestido e a colocou delicadamente na água. Ela gemeu alto ao sentir o líquido quente sobre os machucados, mas não tentou se levantar; também não reagiu enquanto o Fantasma tirava o sangue de seu corpo com uma esponja macia.

Erik tentava ser o mais gentil possível, especialmente ao limpar as marcas de mordidas nos seios e ombros, mas não podia impedir os lamentos de dor de sua pequena. Com cuidado, começou a descer a mão para limpar-lhe o sangue entre as coxas, assustando-se quando, de repente, a moça agarrou-lhe a mão e, caindo num soluçar incontrolável, pediu:

– Por favor, não...

– Preciso terminar de lavar as feridas em seu corpo, minha Estrela – ele mergulhou os olhos verdes nos dela – calma: sou eu, o seu Erik. Sei que dói, mas eu não vou te machucar.

Tremendo e soluçando, ela se inclinou contra a borda da banheira e, afastando as pernas, deixou que ele limpasse os machucados nas coxas e virilha. Sua expressão era de vergonha e constrangimento, e lágrimas escorriam pelo rosto bonito e machucado. Erik a tirou da banheira e a enxugou delicadamente; vestiu-a com uma camisola de lã, preocupado com a frieza da pele de sua amada. Só havia um jeito de, ao mesmo tempo, confortá-la e aquecê-la...

Levando-a para o quarto, o fantasma tirou o colete e a camisa; sentando-se no leito e reclinando-se contra a cabeceira da cama, trouxe-a para seu colo e puxou as cobertas sobre ambos. Ao sentir o calor do corpo de seu companheiro, ela se aninhou contra o peito largo; ainda chorava quando, envolvida pelos braços de seu Anjo, adormeceu. No sono, ela gemia e chorava, partindo o coração de Erik: tudo o que ele queria, naquele momento, era matar quem tanto machucara sua Celine.

POV Erik

Ele não havia dormido: por toda a noite velara sua mulher, acalmando-a quando, no sonho, ela revivia o estupro e começava a chorar e gritar. Quando, afinal, conseguira tranqüilizá-la, deitara-se na cama sem tirar a cabeça delicada de seu peito; por mais algumas horas, ficou apenas deitado, penteando com os dedos os longos cabelos castanhos. Não podia deixar de sentir-se grato por ela estar viva... Bárbaros como aqueles, muitas vezes, matavam suas vítimas. Ele ficava feliz por ainda ter sua Celine: poderiam lidar com aquilo, desde que estivessem juntos.



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