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História Our Strange Duet - Vingando-se


Escrita por: ElvishSong

Capítulo 16 - Vingando-se


POV Celine

De volta à Casa do Lago, Celine parecia bem melhor; embora seu corpo ainda estivesse muito maltratado e dolorido, a sensação de culpa e constrangimento desaparecera. Sentia-se, ainda, humilhada ao lembrar da noite anterior, mas desistira de sofrer por aquilo: mais útil seria aprender o que Erik tivesse para lhe ensinar, até poder fazer justiça com as próprias mãos.

Ao seu lado, seu marido tinha um olhar diferente; preocupada, virou-se para ele e perguntou:

– o que foi?

– Eu já lhe disse quanto orgulho sinto por ter você como esposa? – Ele a abraçou com força – Você é a mulher mais corajosa que já conheci.

– Eu não mereceria tê-lo como esposo, se não o fosse. Você é o homem mais forte, intenso e corajoso que tive o prazer de conhecer. – Ela o beijou – Você nunca desistiu, não importando o quanto tivesse sofrido. Eu tenho orgulho em dizer que você é meu marido!

Sentaram-se juntos à mesa de um aposento que haviam convertido em sala de jantar: gostavam de comer juntos, de modo que aquela seção da casa fora decorada de modo a proporcionar-lhes o máximo de conforto e intimidade. Sentada bem próximo de Erik, ela deitou a cabeça em seu ombro, e ele passou o braço em torno dela. Respirando fundo, a moça perguntou:

– Acha que estou errada?

– Não – respondeu o Fantasma, acariciando-lhe o rosto – Mas não significa que eu fique feliz com isso. Você é minha estrela, minha amada, minha querida: tenho medo de perdê-la. Por isso, vou fazer o meu melhor para ensiná-la, e a acompanharei quando for ter com seus atacantes.

Ela sorriu:

– Ah, Deus... Como eu te amo!

– Não mais do que eu a amo – Erik hesitou por um segundo – Meu amor... Eu preciso lhe dizer algo que, temo, pode ser mal interpretado por você.

– Se eu interpretar mal, você pode explicar o que quis dizer – respondeu a moça, apoiando o queixo nas mãos e o encarando fixamente.

– Olhe... Não quero menosprezar o impacto que tudo isso teve em sua mente e em seu coração, meu amor... Mas...

– Mas? – Celine franziu o cenho, curiosa.

– Não permita que isso mude quem você é. Eu posso imaginar o quão machucada está, mas não deixe que a mágoa e a raiva tirem o que você tem de melhor.

– E o que eu tenho de melhor, meu Anjo?– ela nunca poderia se ressentir de qualquer coisa que ele lhe dissesse.

– Essa alma cheia de vida e beleza; um coração apaixonado e intenso; uma mente brilhante e talentosa; um encantamento no olhar e a capacidade de ver magia e beleza no mundo. É isso o que você tem de melhor. – Erik acariciou e beijou a mão de sua esposa.

Enternecida, a jovem retribuiu a carícia e tocou-lhe a fronte com a sua:

– Não se preocupe, meu amor... Ainda estou cheia de medo, raiva e mágoa, mas esses sentimentos vão passar; eu nunca poderia me tornar amarga vivendo ao seu lado. Olhar para você, sentir seu cheiro, ouvir seu coração: tudo isso afasta as sensações ruins, e deixa em seu lugar apenas paz e alegria. Enquanto tiver você comigo, jamais perderei o que, como definiu, tenho de melhor; é você quem desperta isso em mim.

O Fantasma sorriu, radiante. Uma vez que haviam terminado a refeição, ele se ergueu e a tomou nos braços com delicadeza; desistindo de convencê-lo a não fazer aquilo, a mulher se deixou carregar.

– Quero lhe mostrar algo, minha Celine – seu marido a levou para a Sala do Órgão, e de lá começou a descer as escadas que levavam à Sala Proibida – como a moça começara a chamar o aposento que fora causa de sua única discussão. Incomodada, perguntou:

– vai mesmo me levar ao Santuário?

– Sim. Tem algo que precisa ver. – seus olhos verdes brilhavam: como ela amava aquele brilho!

Erik colocou-a no chão do lado de fora do santuário. Segurando-lhe a mão com delicadeza, deu a volta no biombo e afastou a cortina, para que ela entrasse primeiro. E quando o fez, Celine sentiu que poderia desfalecer: o que antes era um santuário dedicado à memória e veneração de Christine, agora falava apenas... Deles!

Em nichos pintados de dourado, adornados com lanternas e espelhos, havia retratos diversos da jovem, vista pelos mais diversos ângulos; misturados a esses, desenhos dos dias – e noites – que ela e seu Anjo haviam passado juntos. Sobre uma mesa ricamente adornada, uma maquete do Anfiteatro reproduzia com perfeição cada detalhe da construção, incluindo as coxias e bastidores: personagens esculpidas em madeira mostravam os atores, bailarinos e produtores – havia até uma figura de Madame Giry! – Mas foram duas as peças que lhe chamaram a atenção... Ela e Erik, reproduzidos em miniaturas perfeitas, colocadas no meio do palco, como uma espécie de casal real da ópera.

Por todo o aposento – que até então a garota não percebera como era grande – havia espelhos estrategicamente colocados para refletir a luz das velas, o que deixava o ambiente extremamente bem iluminado; a um dos cantos havia uma enorme harpa, e ao seu lado, sobre um suporte, um violino e uma partitura. Jazendo sobre o banquinho da harpa, uma flauta negra, na qual fora gravado – em ouro – um nome: Celine. Afastado dos instrumentos, um cavalete com bancada sobre a qual repousavam lápis, carvões, tintas, papéis de desenho...

Boquiaberta com tudo aquilo, ela continuou olhando ao redor: em manequins diversos havia vestidos, máscaras e tiaras; na parede oposta à entrada, uma penteadeira branca sobre a qual havia dois porta-jóias, vidrinhos de perfume e uma escova de cabelos com seu nome gravado; fitas coloridas pendiam das laterais do espelho; o banco da peça era forrado com veludo azul. Aliás, tudo ali era decorado em branco, prata, azul e dourado: apenas cores leves e claras – muito embora Erik amasse vermelho e tons escuros, ele fizera aquele quarto com as cores das quais ela gostava. Atônita, ela gaguejou:

– E.. Eu nem sei... Eu nem sei o que dizer...

– Ainda não acabou. Eu criei este lugar para ser inteiramente seu: para que se sinta totalmente segura e à vontade. – O Fantasma a conduziu através do aposento, em direção a uma parte do recinto oculta por cortinado dourado. Com um gesto largo da mão enluvada, o tecido foi afastado, revelando um leito amplo e circular, com lençóis e cobertas azuis e dossel branco. – Um quarto não é um quarto, sem leito. Não sei se vai querer que durmamos aqui, mas você terá o conforto que quiser para ler, escrever, desenhar...

Celine não esperou que ele terminasse: passou os braços ao seu redor e o beijou com intensidade e paixão. Seu lábio partido doeu, mas não se importou; só queria perder-se naquele beijo até perder o fôlego, mergulhar fundo no calor de seu amado e se afogar em seu amor. Queria banir as lembranças ruins com toda a felicidade que sentia ao beijar e abraçar seu Fantasma da Ópera.

Erik, terno e cuidadoso, deitou sua amada na cama e a aninhou em seu abraço, espantando com seu calor e ternura o frio do medo e das lembranças. Assim, naquela noite o casal apenas dormiu abraçado no novo “quarto”, desfrutando da companhia um do outro: nenhum pesadelo atormentou a moça.

POV Celine

O coração de Celine estava acelerado: depois de três semanas aprendendo com Erik, ele considerara sua habilidade suficiente para o ajuste de contas com Louis de Toulouse e seu “amigo”. Graças a Antoinette – a qual dissera a todos que a garota se afastara temporariamente devido a uma feia queda da escada – não precisara sair da Casa do Lago, tampouco dar explicações acerca dos machucados. Pudera dedicar-se apenas a aprender o que seu marido tinha para lhe ensinar.

Erik lhe dissera que o melhor método para enfrentar um oponente mais forte era confundir-lhe os sentidos, para abalar sua confiança. Para tanto, ensinara à jovem como usar uma capa para criar distrações e induzir uma pessoa a antever um falso movimento; difícil, a princípio, mas simples quando se dominava a técnica de ondulação do tecido pesado. Em segundo lugar, haviam vindo as cortinas de fumaça – mais uma técnica de fuga do que de ataque. Estas consistiam em esferas de cerâmica cheias de pólvora e sais hidratados que, quando detonadas, liberavam grande quantidade de vapor colorido e labaredas momentâneas: distração suficiente para um movimento rápido, o qual poderia pôr fim a uma luta.

Depois de dominar as técnicas da capa e da fumaça, o Fantasma a fizera aprender como partir a espinha de um homem com um cordão sikh; exigia um pouco mais de força e coordenação, mas não chegava a ser um desafio. Não tanto quanto entender os movimentos usados no assassinato com adagas: uma simples torção, um empurrão discreto, um abraço que terminava em morte... Ações mínimas, que apenas posicionavam a lâmina estreita e curta do modo correto, para que sua vítima empalasse a si mesma.

E, finalmente, ele a alertara para a arma decisiva: o olhar, a postura, a linguagem corporal. Se tremesse, vacilasse ou demonstrasse medo no olhar, perderia a chance de vencer seu inimigo antes mesmo de desembainhar uma faca. Isso ela sabia. E sabia, também, que não fraquejaria! Ela não tremeria diante de seus malfeitores! Não seria forte apenas por si, mas também porque teria seu amor perto de si, e fracassar diante dele seria impensável!

Se ela era teimosa, seu marido se mostrara duas vezes mais: não recuara sequer um milímetro em seu intento de acompanhá-la. Dissera-lhe que, se dela era o direito de vingança, dele era o direito de querer mantê-la segura. E Celine concordara... Para ser sincera consigo mesma, estava aliviada por ter seu Anjo consigo, enquanto atravessava a noite parisiense em direção à casa do barão.

Seu alvo estava, como de costume, em alguma taverna qualquer, e em breve chegaria ao lar – a moça fizera questão de saber bem os costumes do alvo de sua fúria. Com o capuz a ocultar seu rosto, ela saltou por sobre a sebe e a cerca de lanças da suntuosa residência, vendo-se no sofisticado jardim. Não pôde evitar a pena que teve dos pais de Louis: morrer e deixar tudo o que haviam construído para um filho bêbado e indigno...

Erik saltou logo atrás dela, escondendo-se nas sombras: somente sairia dali se sua esposa precisasse de ajuda. A artista, sem demonstrar sua ansiedade, cruzou os braços e apoiou as costas na fonte que rumorejava ao centro do jardim.

Não se passou muito tempo antes que uma carruagem parasse diante do portão; palavras arrastadas soaram enquanto o rangido das grades a serem abertas anunciava que o barão chegara. Com um suspiro, a mulher endireitou o corpo, cobriu melhor o rosto e andou a passos firmes na direção de sua presa.

O rapaz alcoolizado levou algum tempo para perceber a figura que lhe bloqueava o caminho. Quando o fez, a voz feminina se fez ouvir:

– Nós temos contas a acertar, milorde.

Toda a embriaguez pareceu desaparecer quando o recém-chegado reconheceu sua interlocutora; com os olhos arregalados, exclamou:

– Não pode ser! Você estava morrendo! Eu a deixei quase morta!

– Pois é... – a voz dela soava fria e irônica – É tão constrangedor quando as pessoas não fazem o que pretendemos... Infelizmente para você, é preciso mais do que alguns golpes no rosto para me matar. Terá a mesma resistência, barão? Espero que sim: odiaria ter jogado tempo fora com planejamentos inúteis.

Levando as mãos ao capuz, ela preparou o movimento para lançá-lo para trás, mas não foi o que fez: com uma guinada ágil da mão, lançou a ponta da capa para frente, o que fez o rapaz dar um salto para o lado, apenas para que uma cortina de fumaça e chamas irrompesse momentaneamente por entre seus pés, derrubando-o.

Enroscado na própria capa, o arrogante nobre era agora uma figura patética e chorosa; colocando um pé em sua garganta, a moça reprovou:

– Tão fácil... Espero que seu amigo me dê mais trabalho – a mão dele lhe agarrou o tornozelo, mas antes que pudesse derrubá-la, foi atingido por um soco no rosto. Bêbado demais para conseguir se levantar, concluiu a garota – Eu só quero que saiba por que vai morrer: eu vou matá-lo por me ter humilhado, espancado e ferido. Eu vou matá-lo por toda a dor e vergonha que me fez passar; fá-lo-ei por todas as garotas a quem já fez coisa semelhante, e por todas a quem ainda faria, se eu o deixasse viver.

Com um joelho sobre o peito de sua presa, ela desembainhou a adaga e a cravou na garganta exposta – sentir a arma se enterrar na carne e ver a vida se apagar nos olhos de seu agressor foi horrível. Ela se sentiu mal com aquilo, mas, ao mesmo tempo, foi inundada por alívio: só agora percebia que, desde o dia do estupro, convivera com o medo a cada segundo. Medo este que agora a abandonava de uma só vez.

Erguendo os olhos, ela percebeu que uma segunda pessoa entrava trôpega pelo portão: o ignoto amigo de sua primeira vítima! Ela quase se arrependia de tanto treinamento... Preferia que eles estivessem sóbrios, e pudessem lhe oferecer alguma resistência.

O segundo homem parou, estático, ao ver seu amigo morto numa poça do próprio sangue. Embriagado e surpreso demais, não percebeu a figura que se movia sutilmente nas sombras. Como se vinda do nada, a voz de mulher falou ao seu lado:

– E agora, é sua vez. – Celine enrolou o cordão de seda na garganta de seu estuprador – isso é pela mulher que você violentou no teatro, e por todas aquelas a quem atacou em sua vida. – A faca encontrou facilmente o caminho pela jugular pulsante, mas nem uma gota de sangue espirrou sobre a assassina, que se colocou atrás do cadáver para puxar a arma.

Diante dos dois corpos, ela se surpreendeu com as próprias emoções: pena. Mesmo sem compreender por que fazia aquilo, ajoelhou-se ao lado de cada um dos corpos e, fechando-lhes os olhos, murmurou:

– Descanse em paz. Que, se existir um deus, ele lhe seja clemente. – Mas não podia deixar de ser prática: revistando os cadáveres, retirou-lhes tudo de valor que tinham, para fazer as mortes parecerem motivadas por assalto. Jogaria tudo aquilo no primeiro bueiro que encontrasse.

Guardando as armas, caminhou até seu marido. Seu semblante devia estar sereno, apesar do turbilhão em seu coração, pois o Anjo apenas acariciou-lhe o rosto e declarou:

– perfeita, como em tudo o que faz.

Com um sorriso, respirou fundo: orgulho, alívio e pesar se mesclavam dentro de si. Não gostara de matar, mas, ao mesmo tempo, sabia que fora perfeita. Acima de tudo, estava aliviada por saber que aquelas mãos nas poças de sangue nunca mais a tocariam.



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