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História Our Strange Duet - Visitantes na Ópera


Escrita por: ElvishSong

Capítulo 19 - Visitantes na Ópera


POV Erik

Ele estava pronto: vestido, penteado e já de máscara, esperava por sua mulher, que se arrumava no quarto branco. Com um sorriso nos lábios, foi até ela – vaidosa como era a sua pequena, devia ainda estar escolhendo o que vestir.

De fato, ela ainda vestia apenas combinação, embora estivesse penteada, calçada e perfeitamente maquiada; diante do espelho, segurava diante do corpo um vestido branco, enquanto um vermelho jazia estendido sobre a cama. Envolvendo-a nos braços, ele lhe beijou a face e declarou:

– Você fica ainda mais linda de vermelho.

– Obrigada, querido. Estava em dúvida.

Em um segundo ela colocou o vestido, mas Erik não deixou que fechasse o espartilho: ele mesmo fez isso, cuidando para não apertar demais, com medo de machucar Celine ou o bebê. Ela sorriu e puxou sua mão por sobre a barriga que começava a crescer – como ele amava a delicadeza daquele toque!

– Está crescendo rápido. Mais cinco ou seis meses, e o teremos nos braços, afinal. Creio que será um menino, tão maravilhoso quanto o pai.

– Talvez seja uma menina, extraordinária como a mãe – ponderou o Fantasma, conduzindo Celine em direção à gôndola e ajudando-a a se acomodar na embarcação, antes de entrar e usar o remo para impulsionar o barco. Embora apreensivo com o encontro que tinham pela frente, estava confiante: tinha sua estrela consigo, e sua presença era o bastante para dar-lhe calma e autoconfiança. Tudo ficaria bem.

POV Celine

Celine cumprimentou o Visconde de Chgany, que lhe beijou a mão respeitosamente. Em seguida, abraçou a prima com um enorme sorriso, e depois o fez às duas crianças: Phillip e Gustave. Dando um passo para trás, aceitou o braço que Erik lhe oferecia, e falou:

– Vocês conheceram meu marido numa época em que adotava outro nome... Agora, conheçam-no apenas como Erik. – O Fantasma cumprimentou o casal com um curvar da cabeça, apertando a mão de Raoul e beijando a da condessa.

– Circunstâncias bastante diferentes das de nosso último encontro, senhor Erik – falou o conde; a hostilidade entre ambos podia ser sentida no ar, embora nenhum dos dois houvesse feito menos do que a polidez exigia. Tentando aliviar a tensão, Christine apresentou as crianças:

– Estes são meu afilhado, Phillip – o menino fez uma elegante reverência – e meu filho, Gustave. – Celine pôde ver a apreensão no olhar da prima quando seu Anjo acariciou o rosto do bebê. Mas ele logo desviou a atenção da criança pequena, e se virou para o garotinho Phillip que, tendo dado um passo à frente, perguntou:

– Por que o senhor usa essa máscara? – Christine ia repreendê-lo, mas não o fez ao ver seu antigo mentor sorrir, divertido como nunca o vira. Erik dobrou um joelho para ficar à mesma altura do menino, e respondeu:

– Nem todos têm a sorte de nascer com um rosto bonito como o seu, Phillip. A máscara o assusta?

– Não. É interessante! – o garoto parecia fascinado pelo homem à sua frente – Minha madrinha disse que o senhor é músico.

– Entre outras coisas – respondeu o homem moreno, tirando de dentro da capa uma caixa e cobrindo-a com um lenço vermelho. Com um puxão rápido, o lenço caiu para revelar não uma caixa, mas uma pomba branca que alçou vôo e saiu por uma janela. Os olhos do garoto brilharam de curiosidade e excitação, enquanto um sorriso discreto surgia nos lábios de Christine e Raoul.

– Uau! Como fez isso?!

– Um mágico não revela seus truques... – começou Erik, completando ante o olhar frustrado do menino – A não ser para um futuro mágico.

– Eu quero aprender! – O pequeno parecia totalmente fascinado pelo homem de máscara – Ensine-me mágica! Ensine-me música! Por favor!

A gargalhada do Fantasma soou leve e alegre, antes que dissesse:

– Antes, eu preciso saber quem é você.

– Eu sou Phillip! – respondeu a criança, beirando o desespero, tamanha a ansiedade que a acometia.

– Boa resposta, rapaz – Erik já começava a gostar muito daquele garotinho, e desarrumou-lhe os cabelos – Mas quem é Phillip? É isso o que eu quero saber, até para saber como devo ensiná-lo. Preciso conversar com você – lançou um olhar para o casal De Chagny – se seus tutores mo permitirem.

Raoul e Christine se entreolharam preocupados, mas, afinal, a moça declarou:

– Pode ir, Phillip.

– Com sua licença, Visconde, senhoras – ele se levantou, fez uma elegante mesura, beijou sua mulher com carinho e tomou a mão de Phillip na sua. – Vamos, meu jovem amigo? Quero lhe mostrar uma coisa.

Ao sentir a mãozinha pequena segurar a sua com tanta confiança, o Anjo da Música sorriu internamente: não conseguia acreditar que, há pouco mais de um ano, ainda se encontrava naquela morte em vida na qual mergulhara após ser deixado por Christine. Hoje, era um homem totalmente diferente! Sua música e sua arte haviam voltado a criar asas, agora muito maiores e poderosas do que jamais haviam sido.

POV Celine

Após ver seu marido e o pequeno Phillip saírem por uma porta lateral, a jovem se voltou para os De Chagny, e perguntou:

– Gostariam de ver os preparativos para a estréia desta noite, senhor e senhora De Chagny?

– Para você, Celine, somos apenas Raoul e Christine – respondeu o Visconde de Chagny, oferecendo o braço à esposa, que se voltou para a ama de Gustave:

– A carruagem está lá fora, esperando por vocês. Volte para casa, por favor. Devemos voltar tarde hoje, então não nos espere para fazê-lo dormir.

Enquanto a ama obedecia, a jovem artista não pôde deixar de pensar que, no lugar de Christine, jamais permitiria que uma ama cuidasse de seu bebê, mas guardou sua opinião para si mesma. Com um sorriso, guiou os amigos em direção aos bastidores.

Por toda a tarde, Christine e Raoul reviram velhos amigos e fizeram novas. Bruna – a atual Prima Donna – não pôde resistir a ensaiar ao lado de Christine, e ouvir suas vozes em conjunto foi um privilégio. Entusiasmada, Celine também ergueu a própria voz para acompanhá-las, o que fez ambas silenciarem, surpresas:

– Como você fez isso, Celine? Que voz incrível! – exclamou Bruna – por que não está entre os cantores? Você poderia ser a Prima Donna!

– Eu gosto de cantar – respondeu a maquiadora, com simplicidade – mas gosto de muitas outras coisas, também.

O assunto se encerrou enquanto prosseguia a visita do casal às instalações da ópera. Pelo olhar da prima, Celine viu que, para ela, estar ali era voltar ao lar. Por mais que amasse o marido, a ex-cantora amava a música com a mesma intensidade; e a artista podia compreender perfeitamente bem aquele sentimento. Era muito bom poder compartilhar com ela aquele mundo que fazia parte de ambas, um elo ainda mais forte do que qualquer laço de sangue.

Naquela tarde, estava tudo em paz.

POV Erik

O Fantasma conduziu o menino através dos bastidores, sem deixar-se ver pelos atores, produtores, figurinistas e tantos outros trabalhadores da Ópera; guiando Phillip por uma escada em espiral, levou-o para o terraço – gostava daquele lugar por ser isolado e arejado, e permitir-lhe pensar com clareza.

Logo atrás de si, o pequeno se debruçou no peitoril para ver a cidade abaixo; Erik segurou-o pelo ombro, impedindo que se inclinasse demais:

– A curiosidade não é crime, Phillip, mas a falta de cautela já matou muitas pessoas.

– Eu só queria ver a cidade lá embaixo – explicou o menino – é tão bonito.

– Concordo com você: é uma de minhas visões preferidas. – o Fantasma se sentou aos pés da estátua de um anjo – Disse que queria aprender música e mágica, não é?

– Quero muito!

– Então eu tenho uma pergunta... Por que você quer aprender? – E ante o silêncio da criança, lançou mão do poder quase hipnótico que podia dar à própria voz – Pode me contar o que quiser. Diga-me o que sente, o que pensa. Pode confiar em mim.

De repente o semblante de Phillip se tornou extremamente triste. Sentando-se ao lado do mágico, ele respondeu, os olhos baixos:

– Eu sempre gostei de música... E desde que minha mãe morreu... É a única coisa que alivia a dor. Parece que tem um buraco dentro de mim, e eu só consigo esquecer com música. Tentei aprender o que o professor que Christine contratou tinha para me ensinar... Mas ele não via a música do mesmo jeito que eu! Ele me batia quando meus dedos ficavam curvos, e me fazia tocar escalas por horas... Aquilo não aliviava a dor em meu coração, então eu parei. Mas sinto falta da música... Era o que me fazia sentir feliz. É por isso que quero aprender.

Erik meneou a cabeça: compreendia bem a sensação que o pequeno descrevia... Aquele vazio, aquela dor... Haviam lhe sido bastante familiares, por muito tempo. Após ouvir o que lhe fora dito, tudo o que queria era tomar aquela criança sob sua proteção: cuidar de Phillip, ensiná-lo e protegê-lo, fazer sumir a tristeza por ele descrita. Ao mesmo tempo, irritou-se com o professor de música escolhido por Christine: bater em alguém para ensinar música?! Não lhe admirava que o rapaz houvesse desistido! Era o caminho mais certo para fazer uma criança desistir de seus sonhos. Olhando fixamente para o garoto, falou:

– A música não serve apenas para preencher o vazio que a perda nos deixa; ela pode curá-lo. Quer aprender música? Muito bem. Eu lhe ensinarei música. Mas não pense que aprenderá apenas a deslizar os dedos sobre um instrumento: a música que lhe ensinarei é a que vive em tudo e todos. Ela reside na voz, nos instrumentos, no vento, na água, no fogo, mas, acima de tudo, vive dentro de nossas mentes. A música é a essência da arte, pois está mesmo onde não pode ser ouvida. Isso é o que lhe ensinarei.

O olhar do menino de repente se alegrou:

– Obrigada, senhor!

– Não me agradeça, ainda. Eu lhe ensinarei, mas temos um acordo a fazer: Celine me disse que você é arredio e rebelde, que negligencia a escola e desobedece Christine sistematicamente.

– Eu gosto de minha madrinha, mas ela e meu padrinho só sabem falar de horários, deveres e coisas assim...

– Raoul e Christine são boas pessoas, mas vêem o mundo de um modo diferente de nós. Ainda assim, preocupam-se com sua educação, e você deveria aproveitar a chance que lhe dão: a de escolher, um dia, entre viver para a arte, ou levar uma vida comum. Um dia, você agradecerá por ter esta escolha.

– Eu odeio a escola!

– Imagino que sim. Mas nem sempre podemos fazer apenas aquilo de que gostamos, Phillip. Então, proponho um acordo: você se dedicará à escola, e ouvirá o que seus padrinhos lhe disserem. Acabará com essa rebeldia, que não prejudica a ninguém além de você mesmo; em troca, poderá vir para cá todas as tardes, e eu lhe ensinarei o que sei.

O menino sorriu, deliciado:

– Eu aceito! Quero ser como o senhor, um dia!

– Creio que será. Mas, se vamos mesmo ser professor e aluno, não quero que me chame de senhor: Erik terá de bastar. Ou professor. – Ele bagunçou os cabelos de Phillip com uma das mãos – Preciso lhe pedir que, se for indagado por alguém ao vir para suas aulas, não diga quem sou, ou mesmo que me conhece. Diga que veio ver Celine.

– Por que não posso dizer nada a seu respeito?

– Com o tempo, eu lhe explicarei. Por ora, basta dizer que é uma história longa e complicada... Para todos os efeitos, eu não existo. – Ao ver a compreensão nos olhos de Phillip, sorriu e se levantou.

– Professor – o menino tinha um brilho curioso no olhar – Eu posso ver seu rosto?

O Fantasma sentiu o velho medo de rejeição fazer seu coração disparar; seu rosto, porém, não se alterou – ele era muito controlado. Ajoelhando-se para ficar na mesma altura de seu novo aluno, explicou:

– Muitos adultos já se assustaram ao ver o que está embaixo da máscara. Com o tempo, quando aprender a confiar em mim, talvez eu lhe mostre meu rosto: mas apenas quando souber que você não irá me temer quando vir minha face, está bem?

Com a anuência da criança, que tinha um sorriso gentil nos lábios, Erik se levantou e começou a guiá-lo de volta para dentro da Ópera:

– Vamos lá, meu pequeno amigo: o balé começará em breve. Não quero que perca este espetáculo.

POV Celine

Celine acompanhou o casal De Chagny ao camarote cinco: sabia que Erik estaria esperando por eles lá, com Phillip. De fato, seu marido entretinha o garoto com truques de mágica que envolviam fogo e fumaça. Os olhos da criança brilhavam, e ele parecia totalmente fascinado por seu novo professor.

– Vejo que estão se divertindo – comentou a moça, recebendo nos lábios o suave beijo de seu marido. Ele criou uma pequena cortina de fumaça vermelha, que ela rebateu com outro truque: com as mãos, “transformou” a fumaça em pedra sólida.

– Perfeita – sussurrou o Fantasma, de modo que apenas Celine ouvisse. Em seguida, voltou-se para seus convidados – Boa noite, visconde e viscondessa de Chagny. Bem vindos ao nosso camarote. Espero que gostem da apresentação desta noite.

Os dois casais se sentaram, Christine e Raoul no balcão, Erik e Celine mais para trás, onde ninguém os pudesse ver. Phillip se sentou ao lado da madrinha, contando-lhe animadamente das coisas que o Fantasma lhe mostrara. Curioso, começou a bombardear Celine com perguntas acerca do teatro. Revirando os olhos, divertida, ela lançou um olhar indagador para seu esposo, que assentiu, compreendendo o que ela queria dizer.

– o que acha de, em vez de me perguntar, ir ver por conta própria as coxias, Phillip – perguntou a maquiadora.

– Posso?

– É claro! Venha comigo! Com licença, cavalheiros. – a mulher mais jovem se levantou, acompanhada pela prima, que se voltou para os dois homens:

– Importam-se?

– De modo algum – responderam ambos.

– Comportem-se, rapazes – brincou a figurinista, brincando – quando voltar, eu quero encontrar ambos vivos. – rindo, ela e a prima deixaram o camarote, acompanhadas do pequeno Phillip.

POV Erik

Tentando ignorar a desconfortável presença do Visconde de Chagny, Erik apenas manteve os olhos fixos no palco onde, em poucos minutos, iniciar-se-ia a apresentação. Não obteve grande sucesso, pois logo a voz de Raoul se fez ouvir:

– Sabe, você me surpreendeu, Fantasma. Parece até um homem civilizado... Quem o vir agora, diria mesmo que é um cavalheiro!

Olhando para a corda que amarrava as cortinas, Erik não pôde deixar de pensar – com um sorrisinho maldoso no rosto – que em outros tempos ele a teria usado para estrangular o nobre por seu comentário. Obrigando-se a manter o controle, levantou-se e caminhou até a mesa – Celine pedira que fossem servidos vinho e frutas frescas no camarote. Enchendo duas taças com vinho – a sua com apenas dois dedos do líquido rubro – entregou a de maior conteúdo para Raoul. Sem perder o semblante impassível, falou:

– Deixemos uma coisa bem clara, Visconde: você não gosta de mim...

– fato – confirmou o nobre.

–... E eu não gosto de você.

– Sabe que eu não havia percebido isso, nas três vezes em que tentou me matar?

– E nas quais teria matado, se Christine e Antoinette não o tivessem protegido – completou o Anjo da Música, bebericando de sua taça – Mas não é esse o ponto a que quero chegar.

– E a que ponto pretende chegar, então?

O Fantasma deixou sua taça ainda cheia sobre a mesa e encarou das sombras seu interlocutor; por mais que detestasse o – a seu ver - frívolo e mimado patrocinador do teatro, ele não pretendia estragar a felicidade de Celine e Christine com uma rixa de causa antiga e já resolvida:

– Mesmo não gostando de você, tenho de reconhecer que é um bom homem, e um bom marido para Christine. Eu o respeito por isso. Além disso, nossas esposas são parentes, e gostam uma da outra: eu não pretendo estragar a felicidade delas levando essa hostilidade adiante.

Raoul parecia confuso ao perguntar:

– Devo entender como um pedido de desculpas?

– Não. Eu não me arrependo do que fiz... Não me arrependo de nada em minha vida, pois foi o que me levou a minha Celine. Deve, antes, entender como um pedido de trégua. Somos dois homens adultos: não precisamos ficar presos a ódios passados como se fôssemos crianças mimadas.

– Certo... Agora você me surpreendeu – o visconde se levantou e encarou o Fantasma – Acho que Christine estava certa: não é mais a mesma pessoa. Acabou de ganhar meu respeito com tal atitude.

– Todos mudam. Minha esposa me mostrou isso. – O Fantasma estendeu a mão direita – Podemos esquecer a hostilidade e nos tratarmos, ao menos, com consideração e respeito? Por nossas esposas.

– Por nossas esposas. – Concordou Raoul, apertando a mão do Fantasma.

Não falaram mais depois disso. Cerca de meia hora depois, as damas e Phillip retornaram. Ao ver os dois homens sentados pacificamente, Celine declarou para Christine, piscando-lhe um olho:

– Ganhou a aposta, Christine: eles não mataram um ao outro.

Eles sorriram para suas companheiras, que se sentaram ao lado dos respectivos maridos. Phillip, cansado após uma tarde e começo de noite agitados, sentou-s ao lado de seu professor, já sem ânimo para tagarelar. Poucos minutos depois, com sono, deitou a cabeça no ombro do Fantasma, que se surpreendeu – não esperara que o menino confiasse daquele modo em si, tão rapidamente. Ainda assim, simplesmente pousou a mão no pequeno ombro e murmurou:

– Pode dormir, pequenino. Está em meio à sua família.

Erik ignorou os olhares interrogativos e surpresos dos Chagny e, tomando a mão de sua esposa na sua, deixou-se simplesmente assistir ao belo espetáculo de balé, de cuja direção participara como uma voz a ecoar das sombras.



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