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História Outono em Paris - Oitavo


Escrita por: park-chan

Notas do Autor


Voltei finalmente, hm? Espero que gostem do capítulo, bjus!
~Boa leitura <3

Capítulo 9 - Oitavo


Fanfic / Fanfiction Outono em Paris - Oitavo

Capítulo VIII

"Pare de ser um prisioneiro do seu passado.

Transforme-se no arquiteto do seu futuro!"


O dia havia amanhecido bem.

Jimin pôde constatar isso ao vislumbrar o rosto pálido do amigo à sua frente sorrindo para si enquanto lhe entregava uma bandeja com um belo café-da-manhã. Pela fresta da janela do quarto pouco-iluminado ele teve certeza que aquele seria um dia chuvoso, ainda que o céu estivesse em um tom cinza bonito, algo que o agradava curiosamente.

Mesmo que tivesse uma vida tranquila, com um emprego sossegado, o domingo era o dia da semana que, em caso algum, o ruivo trabalhava ou se esforçava em algo que tivesse haver com sua carreira de modelo. Aquele era o dia sagrado do descanso, embora ele próprio discordasse e sempre usasse-o para tudo; exceto para sua real especialidade.

Visitar Min Yoongi durante o sábado não havia sido uma opção muito propícia à se tomar, disso o modelo tinha certeza. A noite anterior havia sido engraçada, assim como todas as que passara ao lado do amigo loiro; este que sempre lhe oferecia os mais variados tipos de bebidas para experimentar quando tirava um tempo livre para visitá-lo. Acabou que a madrugada havia sido com dois bêbados falando besteiras e gritando mais alto do que o adequado para o horário, correndo o risco do Síndico do condomínio presenteá-los com sua visita indesejada. Mas, talvez pela proteção dos deuses, eles se livraram de uma bronca ou, quem sabe, de visitarem a delegacia mais próxima na noite anterior.

O dia, ainda que aparentemente chuvoso, havia começado ótimo.

– Dormiu bem? – Yoongi perguntou, sentando-se na beirada da cama que o ruivo estava e olhando-o com um sorriso pequeno nos lábios.

Jimin levou as mãos até os olhos, coçando-os, ainda tentando despertar.

– Bem? Hm, eu estou bem – Ele disse um pouco incerto, como se a dor de cabeça aguda que sentia não deixasse-o confirmar sem hesitação. – Você tem remédio para dor de cabeça? Aish, eu odeio ficar de ressaca! – Lamentou-se, suspirando e deixando a bandeja solitária na cama para levantar-se. – O quão bêbado ficamos ontem à noite? Eu juro que estou tonto até agora… Por que você faz isso comigo, hyung? O seu trabalho, como mais velho, é cuidar de mim, e não me deixar nesse estado.

– Que culpa eu tenho se você é fraco para bebidas? Tem um amigo dono de uma das maiores fábricas de bebidas alcoólicas da França, mas não aguenta beber uma dose de Campari que já fica bêbado o suficiente para contar tudo sobre sua vida amorosa, inclusive sobre ter de, ironicamente, trabalhar com o seu ex-namorado; que por sinal você ainda é apaixonado. Porém ele perdeu a memória e não tem ideia que você é o cuzão que abandonou ele há anos, pois se ele soubesse com certeza te daria um pé na bunda. – Yoongi não economizou fôlego ao dizer tudo rápido, quase disparado.

Jimin encarou o amigo perplexo, ao mesmo em tempo que buscou em sua mente algo que pudesse explicar o motivo do loiro saber sobre tudo aquilo, uma vez que – pelo menos estando sóbrio – não se lembrava de ter contado.

– Você acha então que eu não devo contar sobre o meu passado com ele?... Acha que isso iria fazê-lo me odiar? A verdade…

– Pelo contrário! – Yoongi berrou de repente, assustando Jimin um pouco. – Eu acho que você deve contar a verdade sim, e o quanto antes melhor… Você sabe que não é difícil recuperar as memórias, e que com o tempo algumas podem voltar. Se ele descobrir por conta própria, e ainda ter ciência de que você ocultou a verdade dele… Bom, aí sim tenho certeza que ele vai te odiar.

– Eu não sei se eu consigo… dizer a verdade. – Suspirou, enchendo os pulmões de ar para então soltá-lo lentamente. – Acho melhor não fazer nada, deixar ele descobrir sozinho. Eu não iria conseguir dizer, de qualquer forma… Não quero perdê-lo mais uma vez.

– Não sou nenhum conselheiro amoroso, então faça como preferir. – O loiro abriu um sorriso amarelo, meio tedioso. Sabia que não adiantaria tentar convencer o mais novo, até porque ele já tinha idade suficiente para tomar suas próprias decisões. Ao ter dito o que disse segundos atrás havia sido apenas para que, a partir dali, o ruivo se decidisse. – Vá comer, criança. Não quero que o Hoseok me ligue enchendo o saco dizendo que você emagreceu e a culpa é toda minha… Sinceramente, o que há com aquele teu amigo irritante? Ele não cansa de ser babaca, não?

Jimin então riu, esquecendo temporariamente sobre aquele assunto perturbador e dando lugar aos pensamentos relativamente agradáveis. Seus amigos, por exemplo, era uma ótima fonte de diversão.

– Vocês ainda se casam, pode apostar.

– Eu? Casar? Com aquele louco? Nunca! – Fez uma expressão enojada, como se aquela hipótese fosse o cúmulo do absurdo. Afinal, ele e o Jung são como “cães” e “gatos”... Nunca dariam certo, nem em um milhão de anos.

– Quando isso acontecer, espero que me convidem para ser o padrinho.

E mais uma vez Jimin riu, um pouco mais aliviado, mais livre dos problemas. Ainda que seu coração estivesse agoniado, sua mente, naquele momento, estava em uma tranquilidade irreconhecível.

 

•• ❀✿ ••

 

Como Yoongi havia mencionado horas mais cedo, Hoseok havia sim resmungando sobre a estadia do ruivo na casa do amigo todo aquele tempo. Havia dito que Yoongi não era uma boa influência, e que Jimin acabaria desnutrido se continuasse visitando-o frequentemente. Também alegou que o modelo acabaria virando um alcoólatra, uma vez que o loiro sempre o embebedava quando juntos; o que não era nenhum pouco mentira.

O engraçado naquilo tudo era que, embora Hoseok jamais fosse revelar, ele havia arranjado uma maneira de ligar para Yoongi sem se sentir culpado por isso. Park Jimin não conteve o sorriso ao ouvi-lo aos berros no telefone, quase engolindo o Min por ter embebedado-o na noite anterior. Aquilo – segundo o ruivo – não passava de um pretexto para iniciar uma conversa que, sem nenhum motivo plausível, ele não teria coragem. No fim, o horário de almoço havia sido engraçado, com ele caçoando do amigo e implorando para que ele o convidasse para ser o padrinho do casamento quando este finalmente acontecer.

Porém o dia não prosseguiu daquela mesma forma divertida, e houve um momento que Hoseok não aguentou mais tanta “pressão” e acabou decidindo sair de casa, sendo assim; deixando Jimin e seus pensamentos sozinhos novamente.

Os primeiros minutos não haviam sido difíceis de lidar, e o modelo conseguiu ocupar um pouco de sua mente com algum jogo bacana que entrou perdido em seu celular. No entanto, depois de algum tempo o jogo passou a ficar enjoativo, e Jimin voltou a se martirizar com os próprios devaneios quando nada mais parecia interessante ao seu redor. Junto a isso vieram lembranças, e as palavras de Yoongi latejavam em seu cérebro conturbado, fazendo-o processá-las impiedosamente.

Acabou que, no fim, Jimin encontrava-se sentado em seu cama vasta, enquanto molhava – com suas lágrimas quentes e sobrecarregadas de arrependimento – os polaroids espalhados no colchão macio, coberto pelos lençóis de seda vermelha. Cada uma fotografia daquela o lavava de volta ao passado, onde não existia um Jeon Jungkook sem memórias; ou um Park Jimin embebedado na própria solitude. Não existia dor, tampouco sofrimento. Aquele martírio interno, também era inexistente na época. As piores coisas simplesmente não existiam, e com isso só restavam os vários sorrisos do garoto moreno, ou os momentos lindos que passaram juntos. As folhas secas de Outono, os abraços quentinhos e o café fresquinho… tudo aquilo existia, mas de uma forma boa, não como agora; não da forma que machuca ambos os lados.

Enquanto chorava – com vontade, vale ressaltar – Jimin segurava um polaroid cuidadosamente, como se temesse danificá-lo caso usasse mais firmeza em seu toque. Ali, naquela foto, ele via um Jungkook sereno, de olhos fechados e sorriso aberto. O outono, as folhas secas espalhadas no chão, era o cenário preferido do mais novo e, naquela época do ano, ele não hesitava em tirar fotos em demasia, pois via beleza em tudo que pusesse os olhos. Naquele dia ele havia tirado foto das árvores, do dia bonito, dele próprio e, até mesmo, de Park Jimin.

Tendo em suas próprias mãos marcas daqueles momentos únicos, o modelo percebeu o quão injusto a vida era… Ele seria o único a ter aquelas memórias? Jungkook não podia reviver os momentos que se passaram, pois para ele era como se nunca tivesse os vividos antes; ainda que se forçasse a recordar de algo e falhasse amargamente nisso. Jimin sabia, e se torturava diariamente por não poder fazer muito à respeito.

Bom… talvez Yoongi discordasse um pouco sobre isso, e a prova disso foi o seu conselho de mais cedo. “você deve contar a verdade sim” Aquilo seria uma solução? Jimin não sabia, mas tinha certeza que seria um alívio, um peso a menos na consciência; menos uma dor para consumí-lo.

– Me desculpe, Jungkook, mas você precisa saber a verdade.

Fechou os olhos úmidos, suspirando fundo antes de se levantar rapidamente; pretendendo fazer uma visita ao Jeon e revelar toda a verdade que ele tinha o direito de saber.

 

✿ • ❀

14:00h.

Era esse o horário que marcava no relógio de pulso do ruivo; as exatas quatorze em ponto.

Naquele momento ele encarava a porta do apartamento de Jungkook com certa hesitação, temeroso ao que poderia acontecer depois daquele dia. Não queria perdê-lo de novo, mas já havia se decidido e não tinha intenção alguma de voltar atrás. Agora tinha que ser forte e corajoso, ainda que seu coração parecesse querer sair pela boca, e sua respiração ameaçasse falhar a qualquer momento. E, em meio ao turbilhão de sentimentos, ele acabou apenas passando as mãos nos fios alaranjados antes de bater na porta várias vezes seguidas.

Enquanto esperava ser atendido, engolido por um silêncio ensurdecedor, seu coração agitado batucava feito uma escola de samba. Ele conseguia ouvi-lo, assim como ouvia sua respiração pesada e sentia seus dedos trêmulos. Tudo acontecendo ao mesmo tempo, de forma que deixava-o ainda mais inseguro do que já estava; se é que isso era possível.

Então, depois de alguns minutos de tortura, a porta fora aberta.

Mas não existia um Jungkook atrás dela, sorrindo coelhinho para Jimin ou arregalando os olhos ao vê-lo em sua frente tão repentinamente. Não havia nem mesmo o som de sua voz, e aquilo era quase uma denúncia de sua ausência no recinto.

Taehyung estava lá, de cenho franzido e cabelos despenteados. Ele não sorriu para o modelo, ou sequer lhe olhou de olhos arregalados. Na verdade, sua expressão no momento era indecifrável; algo como se não fosse possível lê-la apenas em observá-la.

Jimin então se curvou, sentindo-se nervoso.

– O Jungk-...

E então foi cortado, atropelado pelo outro sem piedade.

– O Jungkook não está! – Taehyung quase berrou.

– Oh! – O ruivo uniu as sobrancelhas inquisidoramente, suspirando alto em seus próprios pensamentos. – Você sabe quando ele volta? Digo… Sabe se ele foi para um lugar muito longe?

– Não…

Não, não era verdade.

Taehyung sabia que Jungkook não demoraria a chegar, e que ele havia apenas ido até um mercado próximo em busca de milho de pipoca para fazer naquela tarde; na qual passariam juntinhos e fariam maratona de séries como de costume. Só que para o ruivo de madeixas vermelhas, a presença de Park Jimin lhe preocupava. Depois da cena que presenciou há alguns dias, o modelo havia se tornado alguém na qual ele se pegava pensando demais ultimamente. Não por interesse nele, mas sim no interesse de Jungkook sobre ele. Ainda que fosse egoísta de sua parte, aquele dia ele não abriria mão da companhia do amigo para presenteá-la ao Jimin. Ele não deixaria Jungkook saber sobre a visita alheia, ainda que se sentisse culpado por ter de mentir.

– Você poderia entregar algo a ele por mim? – Jimin pediu tão gentil, que sua voz chegou a sair baixa.

Logo ele tirou do bolso de seu sobretudo uma caneta preta, juntamente a um bloco de notas esquecido ali. Apoiou o papelzinho amarelo na parede e demorou segundos escrevendo algo nele, logo dobrando-o direitinho para que Jungkook abrisse-o; ainda que tivesse certeza que o outro ruivo não se daria esse trabalho, mas resolveu prevenir.

Não demorou para que o papel fosse erguido na direção do Kim, e ele não hesitou escorregar os olhos para a mão alheia antes de aceitar a pequena folha dobrada. Ouviu um “obrigado” vindo do outro e aquilo o deixou um pouco pensativo, como se mentir para ele não tivesse sido uma ideia muito sensata. No entanto sua mentiria seria útil, uma vez que passar aquele dia inteiro na companhia do fotógrafo valeria muito a pena.

Era verdade que ele sabia que, caso não tivesse mentido, o moreno lhe trocaria facilmente pelo modelo; sem hesitar ou se preocupar com a promessa que havia lhe feito.

– Por favor, não esqueça de entregar o papel… – E então Jimin rodopiou os calcanhares, dando as costas para o dono de expressão nula e indecifrável. – Obrigado, Taehyung-ssi.

Taehyung apenas piscou os olhos lentamente, enquanto observava o alaranjado sumir de seu campo de visão com rapidez. Mentalmente ele se questionava se havia cometido um erro muito grande e, como o esperando, sua consciência parecia emudecida; e aquela dúvida não seria aniquilada de forma alguma. Acabou que ele próprio tomou suas conclusões; uma que não parecia muito honesta de sua parte, mas que o faria ter a presença de Jungkook por pelo menos um curto praso de tempo naquele dia.

Desviou então o olhar para o papel amarelado, e seus olhos brilharam curiosos para saberem o que tinha escrito ali. Seria errado abri-lo? Lê-lo? Sim, seria, mas sua consciência ainda parecia silenciosa quanto à várias perguntas, e mais uma vez ele havia tomado um conclusão desonesta.

“Não teria problema algum em dar apenas uma olhadela…”

 

•• ❀✿ ••

 

– Hyung... você está bem? Parece inquieto, preocupado...

Comentou Jungkook ao reparar que o mais velho balançava as pernas nervosamente, e que ele devorava as unhas das mãos enquanto seus olhos vagos quase não apreciavam o episódio, que passava na tevê, de seu seriado favorito. Não precisava de muitos esforços para notar o quão agitada a mente do ruivo estava, sua face enrubescida já lhe denunciava.

Só então Taehyung percebeu o quanto mentir lhe fazia mal. Havia acreditado que, daquela forma, teria uma tarde divertida ao lado do melhor amigo, livre de remorso ou culpa por ter omitido a verdade dele. Mas não foi bem assim que aquela tarde se procedeu. Seus pensamentos inquietos – culpados – não o deixava sequer prestar a atenção no conteúdo que assistia ou, até mesmo, ouvir e compreender os comentários de Jungkook sobre uma cena muito intrigante. Ele apenas remoía as palavras que tinha lido na folha que Jimin lhe entregou horas atrás, e a culpa nocauteava-o de forma bruta e impiedosa; impossibilitando de “se divertir” como havia planejado.

– Você está estranho… Por acaso está querendo dizer algo? Você não queria assistir a esse seriado? Eu achei que fosse o seu preferido… – Jungkook estava tão confuso.

– Jungkook, eu… – Já não aguentando mais, ele enfim resolveu confessar o seu erro. – Quando você saiu para comparar o milho de pipoca mais cedo, Park Jimin veio aqui à sua procura, mas eu praticamente o expulsei; dizendo que você não estava e que não sabia se demoraria a voltar. Por favor, não fique chateado comigo… Eu apenas não queria que você quebrasse sua promessa como da outra vez, e por isso menti. – Taehyung sempre fora sensível em excesso, e chorava com facilidade, até mesmo se fosse por algo banal. Daquela vez não fora diferente, e em poucos segundos seus olhos já estavam úmidos e ardendo pelas lágrimas ali presentes. Ele teve medo de Jungkook nunca perdoá-lo por ter mentido, mas teve ainda mais medo de morrer sufocado em sua própria falsidade, algo da qual não estava acostumado a lidar. No fim, ele apenas tinha medo. – Ele escreveu um bilhete e pediu para que eu te entregasse, mas… Mas eu… Me desculpe, Jungkook.

– Onde está o bilhete? – Jungkook ignorou tudo o que o amigo havia dito, todos os pedidos de desculpas. Seu foco ali era outro, claramente.

Taehyung, com os olhos oscilando reluzentes, tirou o papel amassado do bolso e entregou ao seu respectivo dono; ainda que hesitante.

Segundo a meteorologia, anunciada no jornal da noite passada, aquele seria um dia chuvoso e gélido; com previsão de trovoadas e fortes ventanias. Ainda que não precisasse de nenhuma previsão do tempo para perceber, os meteorologista não haviam falhado em seu prognóstico, pois do lado de fora do apartamento caia uma garoa forte, acompanhada por trovoadas e alguns raios repentinos. O dia havia amanhecido gélido, com brutas ventanias e um frio de arrepiar a espinha de qualquer um que ousasse sair da rua desprevenido. Parecia perfeito para se passar em casa, debaixo de um cobertor abraçado com alguém de corpo quentinho e cheiro de café.

Mas, aparentemente, não era daquela forma que Park Jimin estava aproveitando o seu domingo chuvoso e confortável. Jungkook teve certeza disso ao abrir e ler o papel que lhe foi entregue, algo que deixava explícito que o ruivo, naquele dia, estava muito mais exposto e propenso a um novo resfriado do que ao dia agradável sob os cobertores quentinhos como era recomendável para aquele tempo frio.

No bilhete, escrito pelas mãos nervosas do modelo; estava escrito:

 

Eu fui te visitar hoje por conta própria, e olha só; acertei o endereço direitinho… :)

Mas não é sobre isso que vou falar aqui. Na verdade, eu tenho muitas coisas para lhe falar, mas também tenho pouca coragem em mim pra isso. Hoje, no entanto, eu consegui me encorajar, e creio que talvez isso não dure muito tempo. Por isso lhe peço para que me encontre ainda nessa tarde, antes que me falte coragem novamente. Lembra daquela cafeteria que nos encontramos pela primeira vez? Ali é um ótimo lugar, ainda que não abra nos domingos. Seja lá qual for o horário que você leia esse bilhete, vá ao meu encontro; pois só irei embora quando isso acontecer. Por favor, não demore… O tempo está um pouco frio.”

 

Jungkook levantou-se num ímpeto e caminhou até o quarto, buscando um moletom e vestindo-o enquanto voltava para sala. Pegou as chaves sobre a estante que jazia ali no cômodo e levou-a até o bolso, guardando-a juntamente ao seu celular. Seus próximos passos foram direcionados até a porta de saída, ainda que suas costas queimassem com o olhar profundo que o ruivo lhe direcionava.

– Aonde você vai?

– Vou evitar que alguém pegue um novo resfriado.

 

✿ • ❀

Nos primeiros minutos de chuva naquela tarde, o sobretudo quentinho e aveludado que Park Jimin vestia tinha uma certa utilidade, ainda que não o privasse totalmente do frio bruto que o atingia e arrebitava todos os pelinhos presentes em seu corpo. Ainda sim, o sobretudo estava sendo útil.

Até um certo tempo.

Quando os pingos de chuva engrossaram, e os primeiros relâmpagos sinalizaram, o ruivo ainda esperava de pé pelo fotógrafo no lugar que havia combinado. Ainda era cedo; e beirava pouco mais das 15:30h. Mas, no entanto, não existiam muitas pessoas transitando nas ruas àquele horário, e o Park deduziu que todas estariam em suas casas, tomando chocolate quente e assistindo à algum filme divertido na tevê. Houve alguns minutos em que ele sentiu-se invejado, pois também queria estar daquela mesma forma, só que com Jungkook ao seu lado, coisa que não conseguiria antes de contar-lhe toda a verdade.

Aquilo também foi o que o incentivou a permanecer ali – debaixo de uma garoa forte, acompanhada por várias trovoadas assustadoras –, esperando pelas próximas duas horas de relógio em pé, mesmo que seu rosto estivesse congelado e seus lábios enrugados por conta do frio severo. Seus dentes trincavam e sua espinha vertebral dóia, assim como seu corpo inteiro a cada toque gelado da água que caía impiedosamente do céu; como se fosse uma prévia do próximo dilúvio.

Mas ele ainda estava lá, esperando.

O céu escureceu mais, e a noite havia caído finalmente.

Mas ele ainda estava lá, esperando.

A chuva não parecia ter intenção de cessar, e nem mesmo as trovoadas e os relâmpagos barulhentos.

Mas ele permaneceu lá, esperando.

Aindaque seu relógio tivesse parado de funcionar assim que os ponteiros marcaram 16h17.

Ainda que estivesse exposto a um futuro resfriado ou, quem sabe, uma futura pneumonia.

Ainda que suas pernas estivessem exaustas e o seu corpo implorasse incansavelmente por um descanso; um alívio.

Ainda que as esperanças, que Jungkook iria mesmo aparecer, estissem morrendo pouco a pouco e levando consigo a confiança que havia adquirido horas mais cedo.

Ainda que ele soubesse que de nada adiantaria esperar, ele permaneceu lá, esperando; pois havia prometido aquilo ao mais novo quando lhe escreveu o bilhete, deixando claro que só sairia dali quando o fotógrafo fosse de encontro a si.

Havia prometido.

No passado ele já havia quebrado promessas, no presente ele queria apenas remenda-las; e talvez conservar as novas.

Mas suas esperanças havia esgotado até o seu último fio, depois de cinco horas em pé debaixo de chuva, depois de tanto repetir para si próprio que o moreno havia apenas se atrasado.

Suas pernas já não aguentavam mais, e por isso Jimin não relutou quando elas o levou até o chão, molhando-o ainda mais na poça de água suja que havia embaixo de seus pés doloridos.

Ele não soube dizer quando sua situação se tornou tão desprezível, se foi o momento que entrou no avião para França ou, talvez, se foi quando a volta de Jungkook o levou a um passado esquecido. Ele não sabia se o melhor era reconquistá-lo, ou se esquecê-lo lhe parecia mais conveniente. Chegou achar que a segunda opção era mais fácil e menos dolorosa, o sofrimento seria escasso; a solitude quase inexistente. Talvez devesse deixar Jungkook seguir sua vida, criar novas memórias, nova máquina do tempo. Aquilo poderia ser bom para si próprio, pois seguir em frente era sempre o recomendável. Algo que ouvia sobre “o tempo curar tudo”.

E ele, enquanto se banhava naquela poça de lama, que se misturavam com suas lágrimas; levou aquela hipótese realmente à sério. Estava disposto a se afastar, a deixar que Jungkook fizesse uma nova memória sobre um primeiro amor que ainda estaria por vir. Estava disposto a esquecê-lo mais uma vez, ainda que houvesse dúvida em seu coração.

Mas então ele ouviu uma voz longínqua; aquela mesma na qual seus pensamentos reproduziam sempre que possível.

“Hyung…”

– NÃO FAÇA ISSO NUNCA MAIS, HYUNG!

Era impossível esquecê-lo. Jimin sabia disso, mas teve certeza assim que sentiu o corpo quente e molhado contra o seu; protegendo-o não apenas da grande chuva, mas também de seus próprios medos e incertezas.

De sua própria mente diabólica.

– Eu te amo, Jeon, mais do que tudo. – Jimin teve certeza ao dizer aquilo também, assim como certificou-se que o aconchego do abraço do moreno era o melhor de todos do mundo. – Eu tenho tanto o que lhe contar…

Jungkook, confuso, manteve-se quieto.

– E se você me odiar? E se não quiser nunca mais me ver? E se…

– Jimin! – Jungkook puxou o rosto do ruivo, suspendendo-o para olhá-lo. Viu o nariz vermelhinho, os lábios enrugados, os cabelos lisos colados à testa. Viu os olhos apagados, o coração dolorido. Ele podia lê-lo tão facilmente, como se a alma do modelo fosse transparente para qualquer um. E não era. Mas o fotógrafo não se lembrava que apenas ele podia vê-la. – Você vai ficar resfriado, vamos sair da chuva primeiro.

“Primeiro me deixe sair desse casulo, na qual eu me habituei a morar.”

– Eu preciso te dizer algo agora...

Jimin percebeu, então, que a chuva havia mesmo levado toda a coragem que ele havia adquirido. Agora, estando ali, nos braços do moreno, ela parecia que ela simplesmente nunca existiu.

– Você se tornou importante para mim.

Não seria daquela vez que ele seguiria os conselhos de Yoongi.

Talvez, bem lá no fundo, ele já soubesse disso.


Notas Finais


Não sei o que dizer aqui... Posso indicar uma fanfic maravilhosa? Sério, vale muito, muito a pena ler ela <3

https://spiritfanfics.com/historia/arrependo-me-6947791

Agora vou indo, não esqueçam de comentar. E ah, se quiser favoritar para chegar logo em 700... Seria legal, acho.


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