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História Outra noite... - Capítulo 01


Escrita por: Sirukyps

Capítulo 1 - Capítulo 01


Fanfic / Fanfiction Outra noite... - Capítulo 01

Apesar da neve contínua em South Park, aquela noite quebrava recorde com facilidade... O frio me convidava para a cama. Eu lutava para permanecer estudando.

O relógio marcava 11 da noite, e eu pegava o controle remoto para aumentar a temperatura do aquecedor, balançando a cabeça para afastar o insistente sono.

Mais um casaco talvez...

Precisava me concentrar na matemática, fórmulas e cálculos, amanhã teria um teste importante. Todavia, como eu havia passado à tarde numa loja de game com os meninos, terminei perdendo a hora e estava seriamente esgotado.

Meus olhos lutavam para permanecer aberto, como se aqueles números aleatórios fossem uma espécie de Rivotril. Mas...

Um vento gelado me despertou. Agradecendo inicialmente, realmente me assustei quando senti a respiração tão próxima junto ao estranho cheiro de cobre mesclado com altas doses de álcool e cigarros.

Um beijo na bochecha e aquele abraço carinhoso... Virando-me para conferir embora soubesse, ele não deixou, repousando o queixo molhado contra meu ombro esquerdo, permanecendo a observar meus afazeres.

- Estava com saudades...

- Kenny, você deveria estar estudando para a prova de amanhã.

Ele me abraçou mais forte, como se... Buscasse consolo ou algum carinho. A voz calma prosseguiu:

- Por isto estou aqui. Vim receber orientações do garoto mais inteligente de...

Meu sorriso contido não permitiu continuações. Deveria repreendê-lo, porém... Eu negava. Não admitia. No entanto, continuava enfeitiçado por aquele sorriso sacana, os olhos determinados, tato ágil e os quentes beijos, mordidas possessivas... Nosso pequeno segredo.

Kenny não parecia se importar, abraçava-me de repente no recreio, soltava indireta de duplo sentido, além das falsas juras de amor quando repreendido.

Uma vez, havíamos ido jogar videogame na casa do Stan. Eu e o Kenny compartilhávamos o sofá e os dois garotos estavam no chão. Cartman me culpava pela má sorte, xingando-me. Eu revidava avidamente, pronto para esmurrá-lo quando fui beijado. Sem palavras, estático e incrivelmente vermelho, que porcaria o Kenny estaria pensando?  

Olhando para escrivaninha para procurar a caneta, percebi marcas vermelhas manchando o moletom laranja. Sim, aquele cheiro...

- Kenny? – Eu tentei me virar, mas ele não permitiu.

- Kyle... – Tentou atalhar minha teimosia, baixando o rosto quando o fitei sob a baixa luz do abajur.

A franja molhada e não era por suor. Ele afastou-se um pouco, as rodinhas da cadeira atritando o piso, não gostava de falar acerca daquilo.

- De novo, Kenny? – Eu me recusava a acreditar.

Hesitante, sorriu naturalmente para mim, enquanto o sangue escurecido escorrendo da testa cessava no olho esmurrado. Havia neve sobre os ombros, provavelmente doloridos, e pelas pantufas, estava claro que ele fugia sem pensar duas vezes.

Aquilo me apertava o coração. Ainda mais por aquela não ser a primeira vez e, certamente, não seria a última.

Diante meus olhos marejados, ele mirou a janela, arrependido por ter vindo.  

- Que grande porcaria! Aquele bastardo... – As rodinhas retornavam para perto de mim, e ele me beijava o canto da minha boca, limpando a involuntária lágrima com a ponta dos dedos, calmamente.

- Tudo vai ficar bem, Kyle. – Consolava-me. Deveria ser o contrário. Ele segurava minhas mãos, assegurando-me com tanta certeza, chegando a ser engraçado.

Eu não queria rir, apenas me atirei em seus braços, apertando-o com força. Queria escondê-lo do mundo, guardá-lo em meu coração. Ele sabia se defender, revidar, jamais perdia uma briga de rua ou no colégio, tinha jogo de cintura com os professores e uma lábia infinita com as garotas... Só que... Eu queria protegê-lo.

Ele acariciou meus cabelos e pediu quase num sussurro:

- Posso ficar aqui esta noite?

- Eu não te deixaria sair por nada neste mundo.

- Mesmo que eu não te deixe dormir? – Mordendo o lóbulo da minha orelha esquerda, a audaciosa mão escorregava pela minha cintura por debaixo do moletom.

- Idiota! – Repreendi, fitando a tranquilidade cristalina de seus olhos, os quais me faziam questionar “Como continuavam assim diante o redemoinho que era sua vida?”.

Franzindo o cenho, arrisquei afastar sua franja e conferi o corte. Ele revirou os olhos praguejando sobre “não ter importância”, entretanto aquilo poderia infeccionar. E...

- Vá tomar um banho que farei um curativo.

- Vamos brincar de médico?  

- Kenny, vá logo!

Sorrindo, ele aceitou sem protesto. Indo ao meu guarda-roupa, pegou uma toalha sem permissão. Sempre era assim: impulsivo. E, de certo modo, eu amava isto, não tendo coragem para admitir. Aquilo era uma aventura da adolescência e eu não poderia confundir as coisas. Certamente, eu não era a única pessoa com quem o Kenny ficava e não sei se estaríamos preparados. Ou melhor...

Terminando de guarda os livros, fechei a janela, acendi a luz do quarto. Pegando a caixa de primeiros socorros, coloquei sobre a cama.

Indo ao banheiro, troquei suas vestes por um pijama, pois driblar sua obstinação era algo impossível.

Realmente, manchadas de sangue, aparentava uma briga feia. Eu abracei o moletom, aspirando seu cheiro, aspirando seu carinho quando Kenny empurrou o box, espantando-me.

Antes que ele falasse algo, marchei afora o banheiro, ruborizado. A vergonha se transformou em fúria quando escutei a abafada risada. Como conseguia sempre está de bom humor? Fazendo piadas, gargalhando e levando a vida com tanta positividade?

Quando retornei da lavanderia, eu o encontrei sentando na cama, fitando a janela, pensativo. Afrente, os curativos intocáveis. Ele sempre afirmava ter um bom processo de cura e não necessitar daquilo. Ás vezes, brincava que se morresse, voltaria por mim, pois não estava preparado para desistir de nós.

Conhecendo meus caprichos, nada disse quando abri a mala e umedeci os algodões. Ele ainda tentou articular os lábios para argumentar quando eu passava remédio e enfaixava, fechando a boca diante meu sério olhar de desaprovação.

- Satisfeito?

- Acho que agora não irá infeccionar.

- E como posso pagar pelos seus serviços, doutor?

- Acho melhor deitar, pois teremos um teste cedo. – Eu o empurrei no colchão. Guardando a caixa, desliguei a luz, logo retornando para cama também.

O vento atiçava as árvores. A noite prosseguia vagarosa, reduzindo a temperatura cada vez mais. Eu puxei o edredom tentando ignorar o rapaz com quem compartilhava o leito. Tentava descansar para ter um bom desempenho na avaliação, mas meu coração prosseguia disparado.

Sentindo o peso atrás de mim, Kenny me envolveu por seus braços, puxando-me para mais perto. Cobrando-me como uma criança carente quando cai na armadilha de lhe retribuir o olhar:

- Não mereço um beijo de boa noite?

- Não.  – Resmunguei.

Percorrendo minha bochecha com a língua, beijou o canto da minha boca, logo se tornando um selinho, intensificando as caricias molhadas e fervorosas.

O maldito não pararia se não tivesse sido empurrado quando já estávamos quase sem ar. Somente a luz da lua recaia sobre nós por causa das vidraças. Eu o observava atentamente, memorizando cada detalhe do seu rosto, preocupado pelo olho roxo e sem querer imaginar outros hematomas por seu corpo. Mesmo sabendo que não seria ouvido, pedi baixinho, compartilhando o silêncio que era apenas nosso:       

- Não volte.

- Não dá. – Eu sabia, ainda assim fiquei triste, franzindo o cenho decepcionado. Ele interpôs. - Ainda não.

- Eu posso falar com meu pai e...

- Não, Kyle. Isto traria problema para você. – Eu me aproximei, segurando a gola do pijama, como se isto o impedisse de fugir. Ele beijou meus dedos possessivos, abraçando-me, deferiu outro beijo sobre cabelos, segredando. - Se for para viver contigo, quero que seja só nós dois.

- Espero que possa acordar e você não tenha fugido.

Ele não respondeu.

Não questionei. Ele sempre desaparecia antes do nascer do Sol. E, desta vez, não seria diferente. Eu lutava para permanecer acordado, entretanto meus olhos pesavam.

Aquele abraço, aquele calor, a quente respiração contra meus cabelos... Aos poucos o frio dissipava. A abrasadora temperatura daquele garoto me contaminava. O espaço entre seus braços parecia perfeito e aconchegante. Eu tentava acreditar não estar sonhando. Sentia o coração tão acelerado como o meu, pelo proibido, pelo medo, pela paixão.

Ele bagunçava meus cabelos e falava coisas que eu já não conseguia diferenciar. Eu o respondia por monossílabos e me controlava para não deixar escapar um “eu te amo”.

Não sei se era pela minha pouca idade, no entanto amar sempre doía tanto? 



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