História Outro Mundo - Empire

    Me olhei no espelho e só faltei cair para trás com as olheiras que se formaram nesses últimos dias. Desde que eu falei com o meu pai, eu não tenho conseguido dormir direito. Isso é um péssimo sinal, a insônia pode estar voltando e isso não é bom. 

    Quando eu comecei a tomar remédios para enfraquecer o laço, eu também me tornei dependente deles e desenvolvi insônia e ansiedade. Foi uma época um pouco difícil. ok, muito difícil. Mas consegui superar e cá estou eu, dois anos depois dando indícios de que tudo está voltando de novo. Não vou mentir, isso já era uma coisa que eu estava com medo de que acontecesse. Minha mente simplesmente não desliga e eu fico repassando tudo na minha cabeça. 

    Minha vida aqui dentro ficava pior a cada dia: Falei com Lissa e disse que ela obteria respostas, mas que não usasse muito os poderes. Mia vem nos infernizando cada dia que passa e eu juro que falta muito pouco para eu quebrar aquela cara de boneca de porcelana dela. Dimitri está distante e estranho nos últimos dias, mas ele se esforça para ser gentil. Mason tem ficado por perto, mas amanhã, depois dessa coisa de luta dos guardiões, eu vou falar com ele e dizer que só quero amizade. Stan ao mesmo tempo que me ajuda com as aulas teóricas, ele me inferniza também, tanto que ele me deu três dias de detenção só porque eu dormi na aula dele e quando ele foi chamar a minha atenção eu mandei ele ir se ferrar. 

    Meu humor tem andado estranho também. Eu venho me sentindo muito irritada e acho que isso contribuiu para a minha detenção. O assédio dos morois também não ajuda em nada com o meu humor. Jesse Zecklos, um babaca da realeza, vem dando em cima de mim, e por mais que ele seja bonito, ele é um vampiro e tem caninos. É repugnante. E recebi instruções bem claras para ficar longe dos garotos morois. As vezes tenho dificuldades para aceitar que eu própria sou metade vampira. 

    A verdade? Eu as vezes quero acordar e descobrir que tudo isso não passou de um sonho maluco porque Cassie e as meninas me instigaram a assistir Twilight somente para ver Taylor Lautner sem camisa. Sinto falta dos meus amigos. 

  -Eu quero a minha vida de volta... - Eu murmurei para mim mesma enquanto me olhava no espelho. 

   Respirei fundo e saí do meu dormitório e fui para os treinos matinais com Dimitri. Olhei a hora no meu iPod e eu tava adiantada vinte minutos. Cara, ia ser a primeira vez que eu não chegava atrasada. Mas o que eu ia fazer? Ia ficar acordada me revirando na cama? Achei melhor levantar e ir me arrumando logo, só não imaginei que eu ia me arrumar tão rápido. 

    Cheguei no ginásio e Dimitri ainda não estava lá. Sorri vitoriosa com aquilo e sentei em uma arquibancada enquanto colocava meus fones, e Empire da Shakira começava a tocar. A música falava de como um casal se sentia quando eles estavam juntos, era uma energia boa. Deitei na arquibancada e imaginei se já existiu algum momento na minha vida em que eu me senti assim, tão bem com alguém a ponto de tudo parecer perfeito no universo. Eu já estava com a resposta na ponta da língua para um não, mas eu parei ao analisar o que eu sentia quando estava treinando com Dimitri.

    Era um momento único, as vezes tinha a impressão que estávamos em sincronia, e aos poucos íamos conhecendo os movimentos um do outro e isso me rendia alguns pontos. Claro que eu sempre perdia, ele nunca facilitava, mas aos poucos eu ia acompanhando ele. Mas o ponto era: Eu me sentia assim com Dimitri, me sentia bem com ele. Me sentia viva. Fechei os olhos e soltei um pequeno sorriso.

  -Decidiu dormir aqui para não chegar atrasada? - Ouvi a voz de Dimitri e logo abri meus olhos, só para me deparar com um par de olhos castanhos me olhando com um brilho especial. 

  -Exatamente! - Eu sorri e me sentei, me espreguiçando - Eu mereço uma estrela dourada, Camarada. 

  -Vou garantir uma para você na próxima aula. - Ele disse e se sentou ao meu lado. Estranhei o comportamento dele porque esses dias ele sempre estava distante e as vezes frio - Mas agora, falando sério - Ele me olhou e eu vi um fio de preocupação passar por ele - Como você está? 

  -Enlouquecendo. - Eu fui sincera. Dimitri tinha essa coisa que fazia com que eu fosse completamente transparente com ele. Isso era uma coisa boa? - Há pouco mais de um mês eu acreditava ser só uma adolescente idiota, com pais mais idiotas ainda e que levava uma vida tranquila em Los Angeles. De repente eu descubro que vampiros existem, e acredite, eu odeio vampiros porque eles se transformaram em uma febre teen, e eu sou uma meia vampira e meu pai é um vampiro. Aí eu venho para essa escola porque um vampiro do mal quer me matar, e descubro que eu não era louca como eu imaginava, e a garota que eu via na minha cabeça existe, e ela tá se tornando a minha melhor amiga. E tudo fica mais confuso, como uma bola de neve sem controle. Eu me sinto irritada. Dimitri, tá tudo uma bagunça!

    Eu olhei para ele e jurava que ele ia estar com uma expressão de quem se arrependeu de perguntar, mas Dimitri estava com um sorriso compreensivo. Um puta sorriso lindo.

  -Acho que se eu tivesse sido criado como um humano também, eu iria me sentir assim. Você se saiu ótima nas primeiras semanas.

  -É... - Eu suspirei - Eu fiquei assustada, quer dizer, os caninos são assustadores.

  -Não é uma visão muito agradável. - Ele falou - Por isso os morois são ensinados a esconder as presas. 

  -Eles usam humanos viciados em endorfinas para se alimentarem! - Eu franzi a testa - Mas pelo menos eles não são obrigados. E também tem essa coisa de abdicar da nossa vida e... - Eu me calei quando percebi que tava falando demais. 

  -Continue... - Ele sorriu. 

    Eu pensei um pouco antes de falar, até porque eu não queria ofender Dimitri fazendo ele pensar que eu achava essa coisa de guardião injusta com a nossa raça, apesar de realmente achar. Então por isso eu apenas mordi o lábio e fiz a pergunta que eu estava querendo fazer há um bom tempo: 

  -Você já parou para pensar em como seria sua vida se você fosse uma pessoa normal e não um guardião? 

  -Um policial, talvez. - Ele falou rápido, como se já tivesse pensado nisso.

  -Um xerife, hum? Um xerife do velho oeste, para combinar com os seus livros. - Eu ri e ele me acompanhou. Eu me sentia a pessoa mais sortuda do mundo quando conseguia fazer ele rir. Alguma coisa dentro de mim se agitava com a sua risada - Você sendo um policial ainda iria proteger as pessoas. 

  -Exato. - Ele disse enquanto eu cruzava minhas pernas em cima da arquibancada e girava meu corpo para a direção dele. 

  -Um lutador, que tal? - Eu perguntei fazendo um biquinho e pensando em outras mil vidas para Dimitri. 

  -Não seria má ideia - Ele sorriu e se virou na minha direção também. Ficamos ali encarando um ao outro em silêncio. Naquele momento eu tive a certeza de que eu podia contar tudo para Dimitri, mesmo com o comportamento bipolar dele. 

  -É só um pouco estranho, sabe? Quer dizer, todo mundo age como se fosse mais velho. Stan deve ter a idade do Dave e age como um velho chato de 50 anos. Você tem 24 mas age como quem tem 40 ou 30. Mase e os outros têm a minha idade mas parece que têm a sua. Tipo, eles já têm esse senso de responsabilidade, mas também ainda existe um pouco de diversão dentro deles. Enquanto a metade das pessoas normais da minha idade não tem responsabilidades, a outra está aprendendo a ter e até assumindo algumas pequenas. É confuso, Camarada. É como se vocês fossem obrigados a envelhecer mais cedo, e ainda ter que abdicar de todas as suas vontades para se dedicar à um Moroi. Tem que ter coragem. 

    -Bem, - Ele limpou a garganta antes de me responder - Não é como se a gente envelhecesse mais cedo. Pense bem. Em menos de um ano todos os seus colegas estarão protegendo pessoas como Lissa e Christian. Será uma vida nas mãos deles. Nós apenas afloramos nosso senso de responsabilidade mais cedo. 

    Eu fiz biquinho antes de responder e o olhei confusa. Dimitri tinha razão. Responsabilidade precoce era uma coisa que todo bom guardião deveria ter. 

  -Você acha que eu ajo como uma pessoa quase vinte anos mais velha que eu? - Ele perguntou claramente confuso. 

  -Um pouco. - Eu dei de ombros - Principalmente quando você resolve escutar músicas dos anos 80, mas você ainda é legal. - Nós sorrimos um para o outro. 

    Passamos um tempo em um silêncio confortável. Dimitri olhou para o seu relógio e eu para o meu iPod e vi que ainda tínhamos 10 minutos antes de começar o treino. Estar com Dimitri, mesmo que em silêncio, era incrivelmente bom. Resolvi que eu podia fazer o esforço de acordar mais cedo só para ficar conversando com ele, antes que ele encarnasse o professor que gosta de me torturar com corridas. 

  -Você está com olheiras. - Ele disse depois de me observar por poucos segundos. Eu arregalei meus olhos e me encolhi envergonhada.

  -Está tão ruim assim? - Eu disse sem jeito - Eu cubro com corretivo antes de ir para as aulas, mas acho que aqui - Eu articulei em volta do ginásio - Não faria muita diferença, ia escorrer. 

  -Eu não quis dizer isso. - Ele olhou bem sério para mim, como se quisesse que eu realmente entendesse que ele não comentou no sentido estético - Você está lenta e demonstra cansaço nos treinos. Você anda dormindo bem? 

  -Não. - Eu disse baixinho - Eu ando tendo um pouco de dificuldades para dormir, mas logo passa. 

  -David me falou sobre isso. Você quer que eu fale com ele? 

  -Não precisa. - Eu olhei para o outro lado.

  -Rose... 

  -Dimitri, não precisa ok? Logo vai passar. Eu vou tomar um chá de camomila e vou conseguir dormir. Eu só não quero aqueles remédios. E além do mais, eu acho que eles podem enfraquecer o laço com Lissa. 

  -Tudo bem. - Ele disse suspirando - Mas se eu ver que você não anda dormindo, eu vou falar com o David. 

  -Ok. - Eu murmurei derrotada - Dave também falou para você que eu já fui atacada por um Strigoi? 

    Se Dave falou dos meus problemas, ele deve ter falado sobre isso também. Ótimo. Ele saiu falando minha vida toda para o meu mentor.

  -Não! - Ele arregalou os olhos e eu pude ver surpresa neles. 

    Ok, talvez Dave não falou toda a minha vida. Isso é bom.

  -Pois é... O carinha me puxou para de baixo d'água e quase me afogou. - Eu olhei bem fundo nos olhos dele e resolvi soltar o que estava me incomodando há um bom tempo - Eu fui compulsada para não lembrar de nada. E se... E se quando tudo isso acabar eles resolverem fazer isso de novo? Me fazer esquecer todo esse mundo e me fazer acreditar que eu sou uma humana?

  -Você quer isso? - Ele perguntou e se aproximou mais de mim, mas ainda era uma distância segura.

  -Não! - Eu tratei logo de dizer - Eu não quero esquecer de Lissa... e nem de você. Isso seria horrível. 

    Ele me observou antes de responder, como se realmente aquela opção fosse viável. Pior que era. Em um ato inesperado, Dimitri se aproximou de mim e colocou suas mãos no meu rosto, nos aproximando um do outro. 

  -Eles não irão fazer isso com você - Ele olhava fixamente para mim e por um momento eu me senti hipnotizada pelo castanho dos olhos dele - Eu não vou deixar. 

  -Mesmo? - Eu perguntei e passei a minha língua entre os lábios. 

  -Sim. - Ele disse olhando para a minha boca e se aproximando ainda mais. 

    Estar com Dimitri era como uma explosão de coisas dentro de mim. Eu me sentia empolgada perto dele, sentia as típicas borboletas no estômago de quando uma pessoa se apaixona. Quando eu prestava atenção no seu corpo, eu me sentia excitada ao pensar nele me tocando de uma forma que ninguém nunca tocou. Ao observar mais além do seu corpo, eu enxergava uma pessoa incrível, e me sentia mais feliz quando Dimitri baixava a guarda e deixava que eu o lesse com mais atenção. 

    Com ele ali, bem próximo de mim como nunca esteve, eu sentia todas essas sensações explodindo dentro de mim. Meu coração batia tão rápido que seria milagre se Dimitri não o escutasse. Eu sentia o cheiro do seu loção pós barba invadir todo o meu pulmão e se fixar na minha mente, e que com certeza me assombraria pelo resto do dia. Suas mãos no meu rosto eram suaves a macias, mas queimavam como fogo. Seus olhos me olhavam tão profundamente que eu tinha certeza que ele enxergava a minha alma. Sua boca estava tão próxima da minha e eu sentia sua respiração. Eu me sentia nervosa, como se esse fosse o meu primeiro beijo, e no momento em que eu penso que as nossas bocas iam se encontrar e o meu coração perderia uma batida... Ele desvia, roçando sua bochecha na minha. 

  -Vamos treinar, Roza. - Ele murmura enquanto se afasta de mim. 

Roza. 

Eu gosto do jeito como ele diz meu nome em russo. Gosto do jeito como meu nome desliza pela boca dele. Droga! Tô tão apaixonada que penso até no jeito como ele fala meu nome, e o pior, eu sei que de algum modo ele se sente atraído por mim. Céus! Isso é errado, é insano, mas pareceu tão certo há poucas horas. 

  -Não é, Rose? - Ouvi a voz de Mason me trazendo para a minha realidade. 

  -Como? Não ouvi. - Eu disse olhando para ele e Meredith, enquanto tentava lembrar do que falávamos.

  -Esqueça... - Ele sorriu e apertou minha mão - Vamos. Tenho uma surpresa para você. 

    Nos despedimos de Meredith e fomos para uma área um pouco mais afastada. Mason era incrível, mas ele não era Dimitri. Seria injusto continuar alimentando as esperanças de Mason, até porque eu via que ele gostava de mim. 

  -A lua está linda hoje. - Ele disse enquanto me abraçava. 

  -Sim, está. - Eu disse me sentindo a pessoa mais idiota do mundo. Por que eu não poderia ser normal e querer um cara legal que nem o Mase? Tinha que ser o Dimitri? 

  -Você está bem? Tenho notado você estranha esses dias, até mais distante. 

    Eu olhei bem fundo naqueles olhos azuis, me detestando por eu ser a vaca da situação. Quebrar o coração de Derek Ryan e de mais alguns outros caras tinha sido fácil, mas com Mason eu sentia um remorso que eu não conseguia explicar, talvez por estar com ele e pensando em estar com Dimitri. 

  -Estou... - Eu me desvencilhei do abraço e o encarei. 

    Ele se aproximou e fez menção de que ia me beijar, mas eu virei o rosto e ele me olhou confuso. 

  -O que você tem? 

    Na hora que eu ia responder, eu ouvi alguém gritando exageradamente. 

  -Dimka! 

    Eu e Mason nos viramos na direção do grito e vimos Dimitri abraçado com uma mulher de cabelos pretos. 

    Ótimo! 

  -Dimka, que saudades! - Ela disse e eu percebi que não estávamos muito distante um do outro. 

    Quem era ela? E que diabos de apelido é Dimka? 

  -Tasha, estou trabalhando. - Dimitri tentou soar neutro, mas era perceptível a felicidade na sua voz. 

  -Tia, corra menos! - Ouvi a voz de Christian e logo vi ele se aproximando com Lissa - Dimitri não vai sair do lugar. 

  -Rose! - Lissa me chamou acenando na nossa direção. 

  -Hey... - Eu agarrei a mão de Mason e fui na direção deles. 

  -O que você tá fazendo aqui? - Christian perguntou e ele não parecia feliz com a minha presença. 

  -Essa parte não é de uso exclusivo seu! - Eu disse revirando os olhos. 

  -Arranje outro lugar para se agarrar com o seu namorado! - Christian disse incomodado e nesse momento eu quis voar no pescoço dele. 

  -Ozera, eu juro que falta pouco para eu chutar sua bunda real! - Eu cerrei os dentes. 

  -Ela não é minha namorada... - Mase falou sério e eu o olhei agradecida - Ainda. - Ele sorriu sacana e eu arregalei meus olhos e olhei na direção de Dimitri e a mulher.

    Dimitri tinha uma expressão que eu não conseguia decifrar, mas eu me sentia terrivelmente envergonhada, e a mulher nos olhava com diversão.

  -Então você é Rose Hathaway? - A mulher que eu notei ter olhos idênticos ao de Christian tinha um tom simpático - Sou Tasha Ozera, tia de Christian e uma velha amiga do Dimka.