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História Outro Mundo - Escuridão


Escrita por: KateMoura

Notas do Autor


Boa leitura :)

Capítulo 29 - Escuridão


Dimitri saiu do meu quarto e eu não esperei nem um minuto para sair também. Esperei ele na entrada do nosso prédio e o porteiro ficou meio desconfiado ao me ver andando de um lado para o outro completamente angustiada, mas quando ele ia se aproximar eu fui mais rápida e me aproximei dizendo que eu precisava falar urgentemente com o guardião Belikov.

A recepcionista estava com telefone na mão quando Dimitri entrou no prédio, e seguindo o nosso plano, eu corri na direção dele e deixei transparecer toda a agonia que eu estava sentindo. 

Sem enrolar muito, nós fomos andando em passos rápidos até o prédio da Lissa. Quando chegamos na porta do quarto dela, eu notei que a porta estava entreaberta, e antes que Dimitri pudesse passar na minha frente eu o parei.

-Espera! - Eu espalmei minha mão no seu peito e ele me olhou confuso. Sua postura estava tensa e ele estava atento no seu modo guardião-fodão-preparado-para-lutar-com-30-strigois - Deixa eu entrar primeiro e espere um pouco, depois você entra 

-Mas...

-Dimitri! - Eu falei quase implorando - Lissa está mal e precisa de mim, se realmente houver um perigo real você entra em ação e salva a sua protegida, mas agora ela só precisa da melhor amiga dela. 

Lissa realmente estava mal e uma imensa sensação de desespero e vazio me inundavam, e até vergonha, ela tinha feito algo e queria que ninguém soubesse, e eu não estava alcançando muito para saber exatamente o que ela tinha feito.

Dimitri assentiu e eu entrei na frente tentando não fazer barulho e acordar Natalie, que estava na sua parte do quarto e dormia tranquilamente. Bati na porta do banheiro e quando entrei quase desmaio com a cena que eu vi. Lissa tinha enormes e profundos cortes no braço esquerdo, e tinha sangue. Muito sangue. 

-Liss... - Eu balbuciei me aproximando dela - O...oque você fez? 

-Rose, eu tentei - Lissa disse entre soluços - Mas eu não consegui. Desculpe.  

Não pude deixar de praguejar em turco. Embora eu não fosse turca, eu tinha pegado essa mania do meu pai aos sete anos e sempre fazia isso quando eu estava nervosa ou quando eu não queria que ninguém entendesse que eu estava xingando. Acho que era a mesma coisa que Dimitri fazia quando xingava em russo. Quando isso acontecia eu até achava graça porque era uma coisa que eu fazia inconscientemente, mas naquele momento eu não achei graça nenhuma. 

Percebi que minhas mãos começaram a tremer e eu me aproximei de Lissa, pegando gentilmente o braço dela e analisando os cortes. Eles não eram tão fundos quanto eu pensava, era apenas o excesso de sangue acumulado no seu braço.

-Fazia tanto tempo... - Lissa chorou e fez um gesto brusco afastando seu braço - Eu prometi ao Chris que nunca mais faria. 

Tentei não entrar em pânico e agi de modo rápido antes que Dimitri chegasse. Levantei e peguei algumas folhas de papel toalha, molhando na pia e passando gentilmente no seu braço. Lissa reclamou da ardência que isso causou e eu não falei nada, apenas continuei. 

Se Lissa fazia isso, por quê eu nunca tinha visto cicatrizes nela? Obviamente ela se curava. Mas por que eu nunca consegui captar isso? Eu sempre captava suas emoções, detalhes do seu dia-a-dia que invadiam minha mente depois, e até momentos íntimos com Christian - Esses eram os piores - mas nunca captei nada do tipo. Uma vez eu especulei se Lissa não sofria de nenhum problema psicológico porque havia dias que ela ficava muito fragilizada, e em dias como esses eu fazia de tudo para deixar ela feliz. Eu nunca ia imaginar que a tristeza de Lissa seria tão forte a esse ponto, e o pior, que isso tudo podia passar para mim também.

Pelo que Oksana explicou, isso era o efeito colateral do espírito, e Lissa não estava usando tanto assim. A última vez que ela usou tanta magia foi para curar um corvo, e nem com isso ela ficou tão mal. O que tinha acontecido? 

-Liss, o que aconteceu? - Eu perguntei enquanto colocava meu casaco nela. Dimitri podia entrar a qualquer minuto - Por que você fez isso? 

-Eu recebi outra - Ela me abraçou de modo inesperado e eu demorei um tempo para retribuir, ainda estava muito assustada - Eles vão pegar nós duas, Rose. 

-Calma - Eu a abracei - Estamos seguras aqui e eles não vão nos pegar. Cadê a carta? 

Lissa me entregou um pequeno pedaço de papel e eu tive que fazer um esforço enorme para que eu não fosse arrastada para a mente dela. As emoções de Lissa estavam tão fortes que por um momento eu achei que fossem minhas. 

"Não importa o quanto vocês se esforcem, nunca estarão seguras de verdade. A sua hora vai chegar, mas a garota Mazur vai primeiro. Eu tenho planos para ela, mas os seus são melhores ainda."

-Merda! - Foi tudo o que eu consegui dizer antes de levar minhas mãos para a minha cabeça - Vou chamar o Dimitri.

-Rose, espera! - Ela segurou meu braço antes que eu levantasse do chão - Não fale nada para ele sobre isso, por favor!

-Não falar o quê? - Dimitri entrou no banheiro de uma só vez, e eu agradeci porque ele não entrou segundos antes senão ele teria visto os cortes de Lissa.

-Nada, Camarada - Eu tentei sorrir mas em nada sua expressão mudou. Dimitri percorreu todo o local em busca de alguma ameaça e depois olhou para Lissa. Sua camisola estava suja de sangue e ele foi na direção dela, me ignorando completamente - Coisas de garota! - Eu disse e ele parou instantaneamente.

Eu tinha que pensar rápido, e a única coisa que deixa um homem constrangido na frente de uma mulher é usar o argumento "Coisas de menina" . Eu sabia disso pois usava direto com os seguranças da minha casa, já que Dave nunca se deixou constranger por isso. Mas Dimitri não era burro, ele olhou melhor para Lissa e depois para mim, me encarando com uma expressão que dizia muito bem eu sei que você está mentindo, então lembrei da carta nas minhas mãos e tratei de chamar sua atenção. Isso seria a única coisa que o distrairia. 

-Lissa recebeu uma carta! - Eu estiquei minha mão e percebi que eu estava tremendo. 

Dimitri leu a carta e resmungou algo em russo, depois saiu dizendo que ia fazer umas ligações e que voltava para me buscar. Por poucos segundos me senti desprotegida e com medo, e desejei que Dave estivesse aqui para me abraçar e dizer que tudo ia ficar bem.

Você não é indefesa, Rose, e eles não vão pegar você. Uma voz ecoou dentro de mim e eu olhei para Lissa que tentava se acalmar no chão do banheiro. Fechei os olhos e respirei fundo me preparando para quando Dimitri voltasse e fizesse perguntas.

-Vou pegar roupas limpas para você. - Eu disse e saí do banheiro, indo direto para o guarda-roupa de Lissa e tirando um novo pijama para ela.

Sentamos na cama dela e por um momento eu quis acordar Natalie e chutar ela dali só para termos um pouco mais de privacidade. Se Lissa morasse em uma casa de verdade, ela teria um quarto só dela e não teríamos que agir como duas cobras silenciosas. Odeio colégio interno.

-Liss, por que você fez isso? - Eu perguntei baixinho enquanto colocava um edredom em cima da minha amiga - Era só você ter me chamado.

-Eu me desesperei, Rose - Lissa soluçou e afundou o rosto no travesseiro - Eu costumava fazer isso com mais frequência, mas desde que eu comecei a namorar com o Chris eu prometi que não faria mais. Hoje eu só perdi o controle. Eu estava um pouco triste mas tentei ignorar esses pensamentos e me ocupar com você, mas não tem jeito. É confuso. Eu posso me distrair como for, mas no final do dia essa tristeza sempre vai estar aguardando que eu fique sozinha para me pegar. E quando eu cheguei, esse bilhete estava em cima da minha cama. Rose, você vai morrer por minha culpa. Eu vou morrer também, e eu sou a última da minha família!

-Ei! - Eu sussurrei e passei minha mão nos seus cabelos tentando acalmá-la. Lissa realmente estava desesperada, eu sentia pelo laço, mas ela tentava se conter para não acordar Natalie - Eu não vou morrer, ok? E se eu estou viva agora é graças a você! Eu sou ótima na briga, e se um Strigoi tentar me matar quem vai sair morto é ele - Eu pisquei - Não se preocupe. Meu pai e Dave não deixariam nada acontecer comigo. Pelo que me disseram, eu tenho mais guardiões que a rainha de vocês, lembra? E estão trabalhando muito na sua segurança e ninguém vai te deixar morrer. Eu não vou deixar - Eu segurei sua mão e a apertei - Logo isso tudo vai acabar e vamos voltar a ter paz. 

Lissa me fitou e não falou nada, e eu senti um sentimento confuso de alívio e tristeza passando pelo laço. Um sentimento que eu também tinha. Lissa queria que tudo isso acabasse logo, mas ela sabia que era tudo isso acabando e eu voltando para a Califórnia, e consequentemente, nós nos separaríamos. 

-Eu sei... - Eu sorri triste para ela - Eu também sinto a mesma coisa. 

-Você vai para Harvard, certo? - Eu assenti - Seus guardiões vão com você? 

-Na verdade eu não sei. Eu tinha um trato com o meu pai de que com a faculdade a liberdade ia vir junto, mas agora, com tudo isso acontecendo, eu não sei se ele vai me deixar sozinha. 

-Eu sempre quis ir para uma universidade grande, mas normalmente os moroi vão para uma pequena e que tenha a vigilância dos guardiões. Você vai fazer direito, certo? 

-Eu sinceramente não sei, só quero entrar na harvard college com o meu melhor amigo e depois eu vejo o rumo que eu tomo. - Eu ri baixinho e ela me acompanhou - Você já pensou sobre a minha proposta sobre as férias?

-Sim. - Lissa soltou um sorriso que alcançou os seus lindos olhos cor de jade. Na verdade não importava para Lissa o destino, ela só queria sair da escola e passar o tempo como uma adolescente normal, mas o que mais me impressionou não foi isso, foi que não importava para onde fôssemos, importava que eu estivesse com ela - Eu topo, e o Chris também.

-Ótimo! - Eu ri e me deitei ao lado dela - Vou falar com o velhote. Ele pode alugar um apartamento perto da praia para gente, hum? Ou uma casa na praia também. - Eu bocejei e vi Natalie se revirando na cama - Como é férias nós poderemos seguir os nossos próprios horários. Eu posso pegar sol com o Dave e de noite nós duas aproveitamos.

-Eu achei perfeito! - Lissa sorriu e olhou bem fundo nos meus olhos - Obrigada, Rose.

-Pelo quê? - Eu perguntei confusa - Por não dizer sobre os cortes? Eu não vou contar para ninguém, e também... - Eu levantei meu olhar e vi Natalie se remexendo. Ela estava acordando - Eu tenho que pensar sobre isso.

-Pensar sobre o quê? Você vai contar? - Ela me fitou e eu vi um fio de medo passar pelos seus olhos.

-Não, eu tenho que pensar em um jeito de te ajudar e...

-Rose, o que você está fazendo aqui? - Fui interrompida por Natalie que estava sentada na sua cama do outro lado do quarto.

-Lissa teve um pesadelo - Menti - E eu senti e vim atrás dela. Desculpe se te acordamos, Natalie.

-Tudo bem, vou voltar a dormir. - Natalie disse completamente sonolenta e se deitou e virou para o outro lado.

-Tente dormir... - Eu sussurrei para Lissa - Amanhã conversamos melhor.

-Tudo bem - Ela bocejou e eu a acompanhei - Rose, na verdade eu ia te agradecer por ser minha amiga.

 -Não tem o que agradecer. - Eu fechei os olhos e sorri - Eu seria sua amiga de qualquer jeito. 

Ficamos em silêncio depois disso, e eu notei seus pensamentos ficando mais tranquilos. Seu braço estava latejando por causa dos cortes, que estavam devidamente cobertos, e a tristeza ainda estava lá, bem no fundo, mas o que realmente ocupava sua mente era que ela estava grata pela minha amizade. Estava grata por eu ter ajudado ela e não ter revelado seu segredo. Lissa estava grata porque pela primeira vez ela sentia que tinha uma irmã. E eu também. 

 

Acordar no outro dia e perceber que eu estava dormindo com Lissa, e que Dimitri estava em pé me cutucando e me chamando de Rose, ao invés de estar ao meu lado me beijando e me chamando de Roza, foi um tanto frustrante. Eu já tinha me acostumado a dormir com ele. Isso era péssimo. Eu não posso me acostumar dessa maneira, não quando mais cedo ou mais tarde eu vou voltar para casa e ele ficará para cumprir seu dever com Lissa.

E eu não preciso que Dimitri seja uma espécie de Janine na minha vida, que sempre vai colocar o trabalho em primeiro lugar. E por que eu tô pensando nisso agora? Eu disse para mim mesma que eu ia aproveitar enquanto eu tivesse a chance.

Esses pensamentos somados ao fato de que eu passava pelos corredores e ouvia sussurros como "Dhampir vadia" e "Meretriz de sangue" me deixaram com um humor péssimo, e também porque eu evitei tomar café da manhã, preferindo ficar alguns minutos a mais treinando com Dimitri, e ele fez eu tomar um suco verde horrível para eu não ficar de estômago vazio. Dave fazia um suco verde com gosto de laranja para mim, e eu gostava, mas o de Dimitri era horrível. O que será que tinha ali? Ele podia ter feito um chocolate quente. 

Estava seguindo para a aula chata da Piper quando eu passo por Chris.

-Hey, Chris... - Eu o chamei e ele se aproximou de mim. 

Christian parecia um emo andando com roupas pretas e sozinho pelos cantos dos corredores. O perfeito excluído do colégio. Ele se daria bem com a panelinha gótica da minha escola humana. 

-O que você quer, Hathaway? - Ele sorriu e deu ênfase no meu sobrenome. 

-Você tem aula com a Lissa agora? 

-Não, por quê? - Ele fez uma cara confusa - Eu vi ela no café da manhã e...

-Eu sei - Eu suspirei - Eu tô péssima também.

Com Lissa triste e arrependida do que fez, eu também me sentia assim, apenas me esforçava para não deixar transparecer.

-Eu ia dar o meu anel para ela - Eu apontei para o meu dedo anelar direito - Isso deve ser a escuridão... - Eu falei baixo e me aproximei dele - Você sabe... 

-É, eu sei - Ele suspirou e olhou para baixo. Eu não podia ter um laço com Christian, mas eu não precisava de muito para saber que ele se sentia impotente quanto a situação de Lissa - Eu posso passar na sala dela e entregar, talvez ela melhore até a hora do almoço. 

-Ótimo... - Eu sorri fraco e tirei o anel para entregar para ele - Passe o dia com ela hoje. Eu não tenho mais tempo e talvez só veja ela na hora do almoço...

-Já não bastava ser uma meretriz de sangue, agora vai ser uma futura amante de strigoi também, dhampir? - Ouvi a voz de Mia logo atrás de mim e fechei meu punho - Isso seria uma traição e tanto com a sua amiga e futura protegida, não? Ou você pretende pedir para o Ozera te transformar também? Aí quem sabe vocês tenham o mesmo destino que...

-Cala a boca! - Christian rosnou na direção dela - Não ouse terminar a  frase...

-Ou o quê? - Mia sorriu debochada.

Christian soltou um sorriso sádico, e quando eu me preparei para impedi-lo caso ele fosse bater nela - Mia podia ser uma vadia, mas mesmo assim eu ainda não ia deixar um homem bater em uma mulher, e nem deixar Chris se ferrar por causa disso - Ele não bateu. Claro que não, Christian jamais faria isso, na verdade bater nas pessoas é algo mais a ver comigo. Ele simplesmente esticou sua mão e em uma fração de segundos a mochila de Mia estava em chamas.

Eu dei um pulo e gritei:

-Christian, para! Você é louco? 

Usar magia ofensiva não era proibido? Meu deus, era magia! E pela primeira vez na vida, eu fiquei com medo da magia moroi.

-Se acalme, Hathaway - Ele sorriu - É só um susto.

Mia tirou a mochila das costas e jogou no chão, nesse momento Chris fez com que o fogo acabasse, e por incrível que pareça, a mochila de Mia estava inteira, nem parecia que há segundos a mochila em três tons de rosa da Dior, que eu sinceramente achava que era falsificada, estava em chamas. 

-Seu idiota! - Mia gritou furiosa. 

-Se você voltar a incomodar, a próxima coisa que eu vou botar fogo vai ser você! - Christian disse baixo pois alguns alunos passaram pela gente. 

Com um aceno discreto e com o anel na ponta dos dedos, o garoto tocha foi embora e me deixou sozinha com Mia, que ainda estava no chão e olhava para a sua preciosa mochila. Me recuperei de choque de ver uma pequena demonstração de magia ofensiva e fui para a sala da Piper. 

Quando eu cheguei ela estava falando no celular e não percebeu a minha presença, e pelo movimento do seu braço direito ela estava alisando a barriga, mas antes que eu chegasse mais perto ela desligou, e quando percebeu que eu cheguei, tirou a mão da barriga em um gesto rápido, o que foi bem estranho. 

-Rose! - Ela sorriu doce como sempre e eu retribuí - Estava falando com o Dave.

-Droga... - Eu murmurei baixinho e meu sorriso se desfez. Eu não contei nada para o Dave sobre essa fofoca de meretriz de sangue, mas não tomei o cuidado de falar para a Piper não comentar com ele - É... Acho que você ouviu o que estão falando de mim desde ontem - Eu me aproximei envergonhada - Você falou para o Dave? 

-Boatos são apenas boatos, Rose - Ela se sentou na cadeira e mordeu uma maça - E não, não falei. 

-Ainda bem! - Eu suspirei aliviada - Dave ia ficar louco e eu não quero que ele tenha mais preocupação, e também eu posso me virar sozinha. 

Piper me olhou por um tempo antes de responder. Seus lindos olhos azuis safira me encararam e ela soltou outro sorriso.

-Eu não me meto nos assuntos de trabalho do meu namorado, Rose. - Piper piscou para mim.

Trabalho...

Será que era assim que Dave e Piper realmente me viam? Ele nunca me falou sobre ela e eu só descobri que ele tinha uma namorada quando eu pisei nessa escola. Por que Dave nunca me falou? Eu nunca considerei ele um segurança, ou guardião, mas sim um irmão mais velho e amigo. Dave sabia muito sobre mim, mas estava bem claro que eu não sabia muito sobre ele, apesar de achar que sim.

Amigos? Claro que não! Como a Piper disse: Você é apenas trabalho. Ele não tem que contar nada da vida pessoal dele para você. Se ele realmente fosse seu amigo, ele teria contado sobre a namorada vampira dele.

-Eu não sou apenas trabalho! - Eu disse para a minha professora moroi, e ao mesmo tempo tentei afastar esses pensamentos - Dave é como o meu irmão mais velho e eu tenho certeza que para ele eu não sou apenas um assunto de trabalho! - Eu disse mais ríspida do que eu queria.

-Não foi o que eu quis dizer, Rose. - Piper me olhou confusa - Claro que você não é apenas trabalho, vocês são praticamente irmãos. Ele sempre me falava o quanto eu ia gostar de te conhecer.

Claro que eu não era apenas trabalho. Por que eu pensei isso? 

Porque ele não contou que estava namorando há cinco meses, sete agora, qualquer amigo contaria que estava pelo menos apaixonado. Aceite... Você nunca passou da protegida rebelde que ele tinha que manter longe de problemas e de Strigois.

Era péssimo ter essa voz dentro de mim que ficava me mandando esses pensamentos. Realmente eu fiquei um pouco chateada por Dave não ter me contado que estava namorando, mas eu também entendia que era porque ela era vampira, e o propósito era me manter longe do mundo moroi. Agora isso me incomodava, essa insegurança de que eu realmente nunca passei da protegida-dhampir-teimosa. 

-Claro... - Eu balancei a cabeça e enviei esses pensamentos para longe - Me desculpe, Piper. 

-Tudo bem, querida. - Ela sorriu gentil e eu notei ela com um brilho especial nos olhos, devia ser porque ela tinha acabado de falar com o namorado.

-Piper... - De repente uma dúvida me bateu - Dave raramente tirava folgas porque ele sabia que eu sempre aprontava, e eu lembro que ele nunca passou mais que uma semana fora quando tirava férias. Como vocês fizeram funcionar? 

-Bem... - Piper respirou fundo e tocou sua franjinha delicadamente com a ponta dos dedos - Estamos namorando sério há sete meses, mas antes passamos quase um ano enrolados. Nos víamos uma vezes por mês no começo mas depois aumentamos para dois. Quando decidimos que tentaríamos de verdade, começamos a passar alguns finais de semana juntos duas vezes por mês, e ele me prometeu que tiraria um mês de férias quando chegasse a hora, e nas férias de verão eu fiquei na Califórnia então nos vimos quase todos os dias. - Ela deu de ombros e me olhou calma - A distância atrapalha? Sim, mas valia a pena cada segundo quando estávamos juntos. Era um momento especial que compensava os dias em que passávamos sem nos ver. - Ela sorriu e deu outra mordida na maçã. 

-Entendi... - Eu sorri e o sinal tocou, e alguns alunos já entravam e se sentavam nas carteiras - Vou para o meu canto.

Eu nem prestei atenção na aula, e também analisar outro livro da Jane Austen era um saco. Eu juro que se ela mandar a gente ler Persuasão eu vou assistir qualquer filme e ver um resumo na internet. Já basta na semana passada ela ter feito a gente assistir As Patricinhas de Berverly Hills com a desculpa de que esse livro foi inspirado em um dos livros da Jane Austen, e depois fez a gente ler o livro e entregar um resumo - E quando estávamos analisando orgulho e preconceito, ela fez a gente assistir uma versão zumbi de algum livro adaptado, e devo admitir, eu amei o filme - Eu quero que essa coisa de "Analisar os livros de umas das maiores autoras da literatura inglesa" acabe logo. Será que quando chegar nas análises de Shakespeare ela vai fazer a gente assistir 10 coisas que eu odeio em você? Eu até que gosto desse filme. 

Me revirei na carteira impaciente e comecei a refletir nas últimas palavras que eu troquei com a minha professora e namorada do meu guardião. Será que eu e Dimitri seríamos capazes de fazer o mesmo que eles fizeram? Será que podíamos manter um relacionamento sério a distância? Ele já declarou o seu por mim, e eu o meu por ele, mas nem sempre o amor é suficiente. Havia a questão dele ser um guardião, e ele mesmo falou que não tinha tempo para relacionamentos, fora a minha idade e o fato de morarmos em estados diferentes. Tínhamos tanta dificuldades em ficar juntos de verdade, que eu preferi não pensar nisso agora porque no fundo eu sabia que nós nunca íamos passar disso. Ele era que nem minha mãe, e passaria a vida se dedicando à Lissa. 

Lissa... 

Eu sinceramente tenho que arranjar um meio de ajudá-la. Fiz uma nota mental de mandar um e-mail para Oksana e fazer algumas pesquisas na internet sobre automutilação. Será que eu podia ficar assim também? Será que eu ia me machucar como Lissa se machucou? Por um momento comecei a temer o lado negativo de ser uma shadow kissed. Ficar louca era um medo constante que eu tinha, afinal eu tomava antipsicóticos há alguns anos logo quando o laço se formou, mas o que ferrou com a minha vida foram os remédios para dormir, e agora, com a chance de eu realmente ficar louca sugando a escuridão da Lissa, e de ver que ela ficou mal ontem, a minha vontade era a mesma de dois meses e meio atrás: Sair correndo pela floresta e me internar no sanatório mais próximo. 

 

O dia foi péssimo e eu não consegui me concentrar em nada. Nas aulas de treinamento dhampir, eu percebi as poucas meninas se afastarem de mim, e cara, eu tinha me esquecido do quanto isso era desconfortável e humilhante. Eu passava pelos corredores e as pessoas cochichavam, e alguns morois me olhavam com nojo e outros com malícia, e eu simplesmente fingia que não via nada e andava com a cabeça erguida na minha melhor pode Rose Mazur. Mas por dentro eu estava péssima e me perguntei se eu não estava sugando a escuridão de Lissa. Se eu estivesse, ela estaria melhor daqui para o final do dia e eu pegaria o anel de volta.

Mason se aproximou de mim e perguntou se eu estava bem, e eu não precisei nem mentir, apesar de ter tentado. Ele me abraçou e disse que não acreditava nessas fofocas, e tentou até me animar fazendo umas coisas engraçadas e que me arrancaram boas risadas.

Eu estava tão mal que no meu primeiro dia de castigo com Dimitri nós quase não nos falamos, e eu nem sequer consegui aproveitar o tempo que ele tinha me dado para estudar. No final do nosso treino, ele me olhou cruzando os braços e com a sobrancelha erguida. 

-Tenho que encontrar a Lissa - Eu peguei minha mochila - Nos vemos hoje ainda?

-Sim. - Ele ainda continuou me encarando - Por que você não me conta o que realmente aconteceu? Você está mal desde ontem.

-Camarada - Eu sorri e fui na sua direção - Eu estou bem, apenas Lissa que ainda está um pouco mal por causa da carta e isso passa para mim também.

-Sobre ontem... - Ele me lançou um olhar acusador e eu logo tratei de enrolar ele.

-Nem vem! - Eu fiquei na ponta dos pés e coloquei minhas duas mãos no seu rosto - Coisas de garota, Dimitri.

-Rose, você realmente acha...

-Dimitri - Eu respirei fundo - É sério. Não se preocupe. O que você foi fazer ontem que só apareceu de manhã?

-Na verdade eu fui te buscar uma hora depois, mas você já estava dormindo e as duas pareciam tão calmas que resolvi te acordar só quando fosse necessário - Ele me deu um selinho, que logo se transformou em um beijo calmo e carinhoso.

Admito que com o dia horrível que eu tive, ter aquela pequena troca de carinho entre mim e Dimitri foi algo tão reconfortante que por um momento eu senti como se tudo fosse ficar bem contanto que Dimitri sempre estivesse ao meu lado.

O que obviamente nunca vai acontecer porque o que vocês têm nunca vai passar disso, tola! 

-Nós estamos cuidando de tudo - Dimitri disse quebrando o beijo e me abraçando. Ele parecia angustiado - Nada de ruim vai acontecer com vocês. Com você. Eu não vou deixar, Roza. Eu vou te proteger.

-Esse é o trabalho do Dave. - Eu sorri e o beijei.

Suas palavras foram perigosas, afinal ele tinha que proteger somente a Lissa, mas mesmo assim fizeram meu peito se encher de amor. 

Lembrei da carta e o que nela dizia. Dizia que a primeira a morrer seria eu, e logo eu me perguntei se a angústia de Dimitri era por causa disso. Meu coração se apertou ao pensar nisso. Como minha vida foi virar de cabeça para baixo desse jeito?

-O baile é daqui duas semanas - Dimitri passou a mão nos meus cabelos - Você vai?

-Que baile? - Eu perguntei confusa.

Vampiros têm baile? Será que é uma coisa bem macabra estilo conde Drácula? 

-Você não tá sabendo? 

-Não. Vocês fazem baile? 

-Isso é uma escola como qualquer outra, Rose. - Dimitri sorriu e passou a mão na minha bochecha.

-Eu não estava sabendo de nenhum baile.. - Eu resmunguei. Ótimo! não tenho nada para vestir - Eu já falei com a Lissa sobre as nossas férias e nós já decidimos para onde vamos. 

-Não era Los Angeles? - Ele perguntou confuso.

-Meu pai não acha seguro - Eu falei triste, mas logo tratei de fazer uma cara animada - Você quer saber o nosso novo destino de férias? - Ele assentiu e eu dei o meu melhor sorriso - Camarada, prepare o protetor solar pois nós vamos para Miami! 

-Miami? - Ele franziu a testa - É uma mudança de clima bem brusca.

-Exato! Eu não aguento mais esse frio. Eu quero botar um biquíni e sentir a areia da praia nos meus pés. 

-Biquíni? - Dimitri me olhou de cima abaixo e fez uma cara de quem não aprovou a ideia - Frio é bom! Você pode fazer bonecos de neve e ainda ficar totalmente vestida. 

-Eu tenho ótimo biquínis e vou usar cada um deles! - Eu falei lhe provocando - Posso até deixar você amarrar alguns, e quem sabe deixar você passar bronzeador em mim - Eu falei em um tom casual, mas depois o olhei curiosa e lembrando da sua última frase - Espera, quando que vai nevar? Vai demorar? Eu nunca fiz um boneco de neve.

-Eu não sei - Ele sorriu - Na Rússia já está nevando, mas são climas diferentes. Acho que pouco depois do baile, em dezembro. Você realmente nunca fez um boneco de neve? - Ele parecia surpreso.

-Eu cresci em Los Angeles! - Eu disse rindo.

 

Na hora do jantar eu encontrei Lissa e Christian. Lissa parecia melhor mas ela ainda estava cheia de remorso e culpa. Me concentrei em tentar captar alguma coisa que parecia a escuridão, porém eu não estava conseguindo. O laço enlouqueceu e só funciona quando ele quer. Me contentando em apenas ler suas expressões, e confiar na sua palavra, eu julguei que Lissa estava bem e peguei o anel de volta porque quem não estava bem era eu. 

Quando cheguei no meu quarto, eu aproveitei que Dimitri ainda iria demorar um pouco e comecei a fazer algumas pesquisas sobre automutilação e mandei um e-mail para Oksana contando tudo, mas pedindo que não falasse para Lissa. Essa coisa de espírito é estranha, e Lissa e eu temos que aprender a conviver com isso.

Coloquei um pijama, e quando já estava deitada, comecei a pensar na carta verdadeiramente. Nela dizia que eu ia ser a primeira a morrer, e que os planos para Lissa eram maiores. Pelo que eu pude entender, ela também vai morrer, mas não será junto comigo. Com esse pensamento eu me encolhi na cama e desejei que Dimitri estivesse logo aqui para eu procurar conforto com ele. Eu não queria morrer.

Olhei para o meu anel e fechei os olhos completamente cansada. Pensei no que aconteceu com a Piper, e vi que meus pensamentos em relação a ela e a Dave não estavam tão obscuros assim. Era a escuridão. Mas eu ainda sentia vontade de bater nele por não ter me falado que tinha uma namorada. 

Dimitri estava demorando, e eu me perguntei se ele ainda viria. A porta estava destrancada mas não era como se um maníaco fosse entrar e me matar, então eu relaxei e procurei dormir. O dia foi cheio e eu estava quase apagada, mas ainda estava um pouco, quase nada, acordada quando Dimitri entrou e se deitou junto comigo me abraçando. Ele passou um tempo calado, e antes que eu realmente caísse em sono profundo ele disse:

-Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você. Eu te amo, minha Roza.


Notas Finais


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