História Outro Mundo - Don't You Forget About Me

Entramos no jatinho de volta à St Vlad, e dessa vez faríamos um percurso rápido. Apenas eu, Lissa, Christian, Dave e Dimitri estavam no voo, os outros ficaram e voltariam para as suas respectivas casas.

-Por que estamos voltando? – Eu perguntei sentando entre Dave e Dimitri.

-Segurança – Dimitri respondeu curto e grosso.

Semicerrei meus olhos e olhei para Dave que segurou minhas mãos enfaixadas e sorriu para mim. Acho que agora que ele ia ser pai, ele não ia ficar muito mais tempo comigo. Suspirei e o abracei, triste com a ideia de nunca mais poder infernizar ele todos os dias. Aproveitei o resto do voo e me mantive longe de Lissa, pois toda vez que ela me via a vontade de curar meus hematomas e minhas mãos vinham nela, e eu não queria isso porque mais cedo ou mais tarde a escuridão ia se manifestar, e ela se esforçou bastante curando Dave.

Quando chegamos em Montana, gemi de desgosto ao sentir a mudança brusca de clima e me perguntei se a notícia de que a última Dragomir, e a amiga dampira, que tinham sido sequestradas já tinha se espalhado, e a julgar pelos olhares curiosos de alguns guardiões que vieram nos receber, receber mais Lissa do que o resto de nós, eu acho que sim.

Devo confessar que uma onda de alívio me inundou ao pisar na St Vlad. Segurança. Era exatamente o que eu estava sentindo, não só eu como Lissa e Christian também. Alguns poucos morois e dhampirs que ficavam nas férias de inverno fizeram um amontoado e lançavam olhares curiosos para nós. Suspirei cansada e continuei andando. Quando chegamos em um corredor que levava para o refeitório, Dave segurou minha mão e Dimitri me olhou com tristeza.

-Vamos para a sala da Kirova – Dave disse tentando sorrir – Seus pais estão lá. Dimitri vai acompanhar Christian e a princesa até o dormitório.

-O quê? – Eu disse dando um passo para trás – Por que meus pais estão aqui e eu tenho que ir para a sala da Kirova? Eles não estavam na corte?

-Você dormiu bastante – Dave falou me guiando e me separando dos meus amigos. Olhei para Dimitri confusa enquanto Lissa me perguntava o que estava acontecendo pelo laço – Eles não demoraram nem duas horas resolvendo seus assuntos e agora estão aqui.

-Por que eles estão aqui? – Eu perguntei já tendo uma vaga ideia da resposta.

-Para você voltar para casa, Rose.

As palavras de Dave soaram como um soco na boca do meu estômago. Voltar para casa significaria deixar Lissa e Dimitri para trás, e eu amo ambos. Senti um nó na minha garganta e engoli, me sentindo enjoada. Mas ao mesmo tempo eu não fui feita para esse mundo e nunca me encaixaria nas normas deles. Mas também eu não queria ir embora.

-Eu vou para onde agora? – Perguntei cruzando meus braços. Eu ouvi que Dave falou “Voltar para casa” mas eu só queria ouvir de novo enquanto meu enjoo passava e eu digeria a notícia.

-E onde mais você mora, Baixinha? – Dave olhou para mim e sorriu – Para a sua linda e amada California. Você pode até fazer sua comeback party com o tema de California Girls da Katy Perry de novo, hum? E você pode até me fantasiar daqueles ursinhos de açúcar.

-Isso não é nada original repetir um tema de festa, Dave – Revirei meus olhos e entrei na brincadeira – Vou fazer com o tema de sereia, ou seja, pode ir arranjando uma cauda para mim, na cor roxa.

-Igual essa sua gargantilha? – Dave disse olhando para o meu pescoço.

-É... – Passei a mão timidamente na pedra ametista e sorri – Uma pessoa me disse que roxo é a minha cor.

-Quem foi? – Dave sorriu e estalou os dedos.

-Ninguém... – Disse confiante. Isso é uma coisa que Dave nunca ia tirar de mim.

Chegamos até a porta e Dave deu duas batidas e a abriu, me deixando entrar primeiro e logo em seguida ele.

-Garota – Meu pai disse sorrindo e eu vi minha mãe me olhando com orgulho – Seu boletim está ótimo, até me fez esquecer da conta de destruição de propriedade que a diretora Kirova está me cobrando.

-O quê?! – Eu disse indignada – Eu nunca destruí nada. Ela está tentando ganhar dinheiro as nossas custas!

-Srta Mazur, você foi pega dentro da sala de biologia enquanto saia de uma festa clandestina, e ainda quebrou mais de 30 tubos de ensaio de vidro. Você não lembra?

-É... – Eu cruzei meus braços – Talvez fossem 20, e eu não estava sozinha.

-Ou da vez em que a estátua do Santo Vladmir apareceu pichada com palavras obscenas e no final ainda tinha “Rose Hathaway esteve aqui” – Kirova falou me lançando um olhar acusador.

-Não fui eu! – Revirei meus olhos – Eu não ia ser tão burra.

-Você não facilitou – Meu pai me olhou sorrindo e eu bufei, desistindo de tentar explicar que eu não pichei a estátua do santo, até porque quando fizeram isso eu estava no meu quarto, bastante ocupada com Dimitri.

-Rose! – Dave disse impressionado com o meu boletim nas mãos – Suas notas... Eu sabia que você ia se sair bem, mas isso... Devo confessar... É maravilhoso.

-É sobre isso que quero falar com vocês – Kirova me olhou – Graças ao incrível trabalho do Guardião Belikov, e os outros professores, a Srta Mazur alcançou uma das melhores médias da turma e...

-Foi graças a mim! – Eu a interrompi revirando os olhos.

-Como eu ia dizendo – Kirova continuou – Com o sequestro da princesa, ficou claro que Rose fez um bom trabalho e botou em prática tudo o que lhe foi ensinado. O laço é importante, e com as notas dela eu tenho certeza que ela passaria no teste final e...

-Diretora Kirova – Meu pai a interrompeu – Não sei a mando de quem a senhora está repetindo palavras que eu e Janine já escutamos, mas Rosemarie não tem interesse em se tornar uma guardiã oficial. Apenas tire o nome da minha filha da sua lista de alunos matriculados e nos entregue uma transferência, juntamente com o histórico dela do curto período em que ela estudou aqui. Obrigado.

Kirova respirou fundo enquanto passava seus olhos entre meu pai e eu. Lembrei novamente de quando eu estive na corte e a rainha fez a proposta para que eu me formasse e fosse a guardiã de Lissa. Ótimo! Agora por causa desse laço querem me forçar a ser guardiã.

-Srta Mazur – A velha olhou diretamente para mim – Estaria você disposta a se formar na St Vladmir e ser a guardiã da Princesa Dragomir?

-Como? – Eu e Dave falamos juntos.

Por um momento eu vacilei e realmente pensei que a vida ao lado de Lissa, Dimitri e Christian não seria tão ruim assim, mas logo em seguida me veio os meus sonhos e objetivos na cabeça, e tudo o que eu passei recentemente. Infelizmente essa não era a vida que eu queria. Eles não me teriam como uma guardiã. Eu os amava, de verdade, mas eu me amava em primeiro lugar.

-Diretora Kirova – Respirei fundo enquanto eu mordia minhas bochechas e sentia meus olhos marejarem – Eu agradeço muito a oferta, até porque no verão deve ser muito bom pular na piscina sem motivos e pegar uma detenção, mas a minha resposta é não. Eu não fui criada com o mantra Eles vêm primeiro e é muita politicagem em cima disso, e eu não concordo. Eu gosto da minha liberdade – Eu disse sentindo meu coração se quebrar em mil pedacinhos.

A sala ficou em silêncio por um tempo enquanto Kirova ainda me olhava chocada e eu sentia meu estômago embrulhar mais uma vez. Há quanto tempo eu não comia? E o que eu comi mesmo da última vez?

-A garota já deu a resposta dela – Meu pai disse passando sua mão pelo meu ombro e me guiando para a saída – Aguardo os papéis com urgência, Diretora Kirova, partiremos em menos de duas horas.

-O quê? – Eu disse arregalando meus olhos e sentindo uma ânsia subir pela minha garganta, enquanto meu coração batia tão forte que eu achava que ele ia quebrar minha caixa torácica.

-Vá arrumar suas coisas, Rose - Minha mãe disse - David irá lhe ajudar e depois você pode se despedir dos seus amigos e...

-Merda! – Eu a interrompi antes da primeira lágrima no meu olho cair e eu sair correndo até o fim do corredor.

Entrei em um banheiro e abri a porta de um dos box rapidamente, sem me dar o trabalho de realmente trancar, e comecei a tentar vomitar, tirando aquele nó da minha garganta, aquela ânsia e embrulho do meu estômago. Não era assim que tinha que terminar. E Dimitri? O que ia ser de nós.

Nunca houve um nós.

Esse pensamento me veio à mente e outra vez meu estômago embrulhou, e a prova de que eu estava a bastante tempo sem comer era que eu simplesmente não vomitava nada, apenas ácido gástrico e um suco que eu bebi no avião.

-Rose? – Ouvi a voz de Dave e tranquei a porta do box enquanto eu abafava meu choro e dava a descarga – Oh meu deus, não acredito que você voltou a vomitar quando fica nervosa.

-Eu fui uma sobrevivente de um maldito ataque de Strigois! – Eu disse sentindo uma raiva típica que não era minha – O que você queria?

-Abre aí – Ouvi ele suspirar – Vamos conversar.

Abri a porta com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e Dave me abraçou imediatamente.

-Eu vou sentir tanta falta deles... – Eu disse soltando um soluço de choro e abraçando Dave mais forte.

-Deles quem?- Dave perguntou alisando meus cabelos. Seu tom de voz não estava desconfiado ou algo do tipo, ele apenas parecia querer entender a minha dor.

-Lissa, Christian, Mason... – Eu soltei outro soluço e mordi meus lábios – Até do chato do Dimitri e das nossas seções de tortura.

 Na verdade ele era a pessoa que eu mais ia sentir falta...

-Deixa eu te falar uma coisa – Dave se desvencilhou do abraço e me olhou sorrindo – O que você está sentindo, eu já senti uma vez. É medo. Medo de perder as pessoas que você ama, mas se toda essa coisa entre vocês for verdadeira... – Ele suspirou – Vai durar o tempo que for.

Eu abaixei minha cabeça e pensei nas palavras do meu amigo. Todo esse meu repentino nervosismo desde que ficou bem claro que eu iria voltar para casa, para longe de Dimitri, realmente podia ser interpretado dessa forma.

-É... – Eu disse indo para a pia e abrindo a torneira – Você tem razão. Isso me deixa com mais medo ainda.

-Se você não arriscar, nunca irá saber – Ele disse.

Depois que eu me recompus no banheiro, fui atrás de Lissa que estava comendo um iogurte em baixo de uma árvore junto com Christian, praticamente escondidos dos alunos curiosos que já tinham enchido ela com perguntas. Eu pedi para Dave ir atrás dos meus pais porque eu iria falar com os meus amigos primeiro, e depois iria arrumar minhas coisas.

Minha casa sempre estaria aberta para Lissa e Christian, e óbvio, para Dimitri. O russo também, se quisesse, poderia acumular algumas folgas e passar o fim de semana comigo. Nós dois na casa de praia que meu pai tem em Malibu, e que eu já dei algumas festas as escondidas, não seria uma má ideia, na verdade seria ótimo. E quando eu fosse para a faculdade, as coisas ficariam mais fáceis ainda. Se eu e Dimitri ainda estivermos juntos, não vamos ficar escondidos, e eu verei Lissa com mais frequência, pois Massachussetts ficava só a um pulo da Pensylvania.

Avistei Lissa em baixo da árvore. A pequena tempestade de neve que caía combinava perfeitamente bem com ela, e quando os pequenos flocos de neve deslizavam nos seus fios platinados, eles se perdiam por ali com um encanto que só reforçava a ideia de que a minha amiga era um anjo.

-Rose! – Ela exclamou assim que me viu. Seus olhos cor de jade estavam mais escuros que quando em Miami – O que eles queriam?

-Podemos sair daqui? – Christian disse incomodado com os flocos de neve que se acumulavam no seu cabelo negro.

-Pessoal... – Eu me encolhi por conta do frio – Eu vou embora.

Se eu pensava que minhas emoções foram intensas com a notícia de que eu estava voltando para a California, foi porque eu não tinha visto as de Lissa ainda. Ela não falou nada durante os primeiros segundos, apenas ficou me observando com seus olhos verdes sem piscar, mas por dentro passava um flashback de tudo o que passamos juntas, todas as confusões, tudo o que uma ensinou para a outra, e o mais importante, a relação forte que construímos nesses últimos meses.

-Eu... Eu... – Ela balbuciou piscando repetidas vezes.

-É... – Foi a vez de Christian se pronunciar – Não é o fim do mundo, certo Mazur? – Eu acenei positivamente tentando conter minhas lágrimas – Skype tá aí para isso, os celulares com as mensagens clandestinas, e além de tudo, quando nos formamos, seja lá para onde formos, sempre iremos estar de portas abertas para você.

-Minha casa na California também – Eu disse olhando para os dois – Obrigada, Christian.

Minha relação com Christian sempre foi de implicância, mas no fundo ele era uma boa pessoa e eu gostava dele. Ele havia se tornado meu melhor amigo. Ele deu um passo para frente e me deu um abraço meio desajeitado e eu retribuí igualmente.

-Você é um bom amigo – Eu disse sorrindo enquanto ele puxava uma mecha do meu cabelo – Solte meu cabelo se você não quiser perder seu braço – Desfizemos o abraço e eu dei leves tapinhas no seu ombro – Cuide bem da nossa princesa.

-Vou cuidar como se fosse uma rainha – Ele sorriu e saiu, me deixando a sós com Lissa.

-É sério? - Ela perguntou dando um passo para trás e deixando uma lágrima cair.

-Liss…

-Eu sabia que essa hora ia chegar, Rose - Ela disse me olhando com os olhos cheios de água - Eu só não esperava que fosse assim que nós puséssemos nossos pés na academia.

-Nem eu… - Eu dei um passo na sua direção e a abracei - Você pode ir me ver na Califórnia quando você quiser, e quando você se mudar para a corte, eu vou correndo passar uns dias com você.

-Promete não se afastar? - Ela disse me apertando.

Na cabeça de Lissa, eu ir embora significava perder mais alguém que ela amava, e isso estava me quebrando por dentro porque lá no fundo eu também sentia esse medo.

-Só se você também prometer não se afastar - Eu desfiz o abraço e a encarei - Nós temos um laço. Eu jamais vou me afastar, aliás, acho que vou ter que fazer visitas mensais para você caso ele fique fraco, e além de tudo, nós temos que trabalhar juntas nessa coisa de espírito, certo?

-Certo… - Ela sorriu mostrando seus caninos.

De repente deixar Lissa sozinha não me pareceu uma boa ideia. E se ela precisasse de mim? E se ela voltasse a se cortar e a escuridão a levasse longe demais? Dimitri e Christian não saberiam se acontecesse algo do tipo, apenas eu, e eu estaria há milhas de distância.

-Liss, me prometa uma coisa - Eu suspirei e ela acenou com a cabeça - Se você se sentir mal com a escuridão, e eu não conseguir absorver, ou até não perceber, e você sentir que ela te levará muito longe - Eu a olhei com olhos suplicantes - Por favor, chame o Christian ou Dimitri, até me mande mensagem ou grite o máximo que você puder através do laço. Só não faça besteira.

-Claro… - Liss sorriu e limpou seu rosto por causa de algumas lágrimas insistentes - Eu prometo, Rose.

-Eu vou cuidar de você mesmo longe - Eu a puxei para um outro abraço - Eu prometo.

Passamos um tempo abraçadas, e a tempestade de neve aumentou consideravelmente, o que nos fez ir para o pátio. Eu ainda precisava falar com Dimitri, principalmente ele. Era ele quem eu ia sentir mais falta, já que Lissa eu sempre poderia acompanhar pelo laço.

-Mande uma mensagem para ele e o encontre no seu quarto - Lissa disse quase adivinhando meus pensamentos.

-Claro… - Eu sorri fraco para ela.

Respirei fundo, puxei meu celular e mandei uma mensagem para Dimitri, pedindo para o mesmo me encontrar no meu quarto em dez minutos.

Enquanto eu andava pelo prédio dos dhampirs, eu me recordava dos amigos que eu fiz por aqui e que eu iria sentir falta deles também. O que iriam espalhar quando eu fosse embora? Que eu voltei para a Turquia? Suspirei e abri a porta do meu quarto, levando um susto ao ver Dimitri recolhendo algumas roupas de inverno que eu deixei.

-Meu Deus! - Eu exclamei - Você não cansa de me matar do coração?

-Você demorou - Ele suspirou fechando uma mala - Não temos muito tempo.

Olhei ao redor e vi que as únicas coisas que eu tinha que recolher eram meus materiais de estudo e alguns itens de decoração que eu fui enfiando no quarto com o passar dos meses, já que grande parte das minhas roupas e calçados estavam no avião.

Parei e olhei para Dimitri, o amor da minha vida, e ele estava lindo com o seu sobretudo e o seu cabelo preso. Eu ia sentir falta dele, afinal eu começava e terminava meu dia ao seu lado.

-Você sabia, não sabia? - Eu disse sentando na cama e não conseguindo impedir meus olhos de encherem de lágrimas novamente - Por isso você estava tão estranho no avião - Ele sentou ao meu lado - Droga, Dimitri!

-Você ainda ia ter uma escolha - Ele disse quase inaudível, olhando fixamente para o chão.

Acho que Dimitri sempre foi uma das pessoas que esperava que eu me tornasse uma guardiã, afinal ele nasceu com esse mantra.

-Eu não fui criada assim, Camarada - Eu disse limpando uma lágrima - Eu não fui.

-Eu sei, Roza - Ele me olhou e sorriu - Eu não esperava que você ficasse. Na verdade... - Ele pegou ambas as minhas duas mãos - Se você quiser eu posso acumular algumas folgas e ir passar o final de semana com você.

-Sério? - Eu sorri e lhe dei um selinho - Eu adoraria, Camarada. Podemos combinar tudo e você fica na casa de praia e... - Eu ri e balancei a cabeça - Vemos esses detalhes depois.

-Eu não vou desistir de nós, minha Roza - Dimitri passou suas mãos gentilmente pela minha bochecha e levou até o meu cabelo - Nós vamos dar um jeito. Nossa situação agora fica mais complicada, mas isso não significa que temos que nos afastar.

Com Dimitri me dizendo essas palavras eu senti meu coração se apertar. Como eu podia estar deixando um homem desses para trás? Eu o amava tanto e ele ainda estava disposto a tentar fazer funcionar seja lá o que fosse o que nós tínhamos. Dave tinha razão, eu tinha que tentar.

-Eu te amo - Eu o abracei.

-Eu também te amo, minha Roza.

Eu ia sentir falta dele, desde as suas broncas durante os treinos até do jeito como o meu nome em russo deslizava pela sua boca.

-Me prometa que não irá se meter em confusão - Dimitri disse passando suas mãos pelo meu cabelo.

-Como? - Eu o olhei confusa.

-Lá fora - Ele suspirou e afastou meus cabelos, depositando alguns beijos no meu pescoço - No mundo dos humanos. Eu não vou estar por perto. Me prometa que não vai se meter em confusão. Você não sabe o quanto eu fiquei com medo de te perder - Ele olhou no fundo dos meus olhos - Rose, você chegou na minha vida e a modificou de uma maneira que eu não sei explicar, e quero que você permaneça nela. Não faça nada lá fora que ponha a sua vida em risco. Estamos combinados?

-Estamos - Eu disse lhe dando um selinho e depois sorri, eliminando o pouco espaço que tinha entre nós - Eu modifiquei a sua vida foi?

Acho que a partir do momento em que ele teve que me treinar, isso mudou um pouco os planos do seu dia a dia. Mas eu entendia que consegui ir além disso.

-Você sabe que sim - Ele disse passando sua mão delicadamente pelo meu rosto, como se procurasse decorar cada detalhe dele.

-E você modificou a minha também, Camarada - Eu sorri e espalmei minha mão na sua bochecha, olhando bem fundo naqueles olhos cor de chocolate, aproveitando aquele nosso último momento juntos.

Nossos rostos foram se aproximando e selamos nossos lábios em um último beijo. Eu amava beijar Dimitri, e sempre amaria. Eu sentei no seu colo e desci meus beijos para o seu pescoço. Uma necessidade de ter Dimitri cresceu em mim, e eu procurei demonstrar isso com pequenas mordidinhas no seu pescoço.

-Não podemos… - Ele murmurou enquanto eu tirava seu sobretudo e via seus pelos do braço arrepiados.

-Já ouvi essa conversa antes - Eu dei uma risadinha e voltei a beijar ele.

Duas batidas na porta nos fizeram parar e eu saí de cima de Dimitri imediatamente, olhando ao redor e vendo que quase nada estava na mala.

-Rosemarie? - Era Janine - Você está aí?

Eu fiz um sinal para Dimitri permanecer em silêncio e quieto, mas eu tive a impressão que até a respiração ele prendeu, porque quando ela foi embora ele soltou um longo suspiro e estava um pouco pálido.

-Você está bem? - Eu perguntei pegando minha caixa de som do PacMan e colocando na mala.

-Sim - Ele respondeu neutro e pegando um porta retratos que tinha eu e Lissa.

-Você não estava com medo da Janine, certo? - Eu debochei pegando meus preciosos livros de biologia e colocando em uma outra mala menor - Ela é só um pouco louca, mas é gente boa.

Dimitri não me respondeu, apenas continuou pegando as outras coisas e colocando dentro da mala. Ele estava com medo dela? Isso é novidade.

Conseguimos terminar tudo em menos de uma hora, até porque não tinha muito o que arrumar. Eram apenas algumas poucas roupas de inverno, meus itens de decoração e algumas coisas de cama e banho.

-Será que não tem como eu ficar nem mais um dia? Ou pelo menos até as aulas começarem? - Eu perguntei triste para Dimitri.

-Não - Ele disse suspirando e olhando para as malas - Você ficar na academia era apenas uma forma de proteção e de te aproximar da princesa. Rupert já está morto, e já sabemos sobre o espírito. E também - Ele fechou os olhos e depois os abriu, olhando diretamente para mim - O melhor para você é que volte para a Califórnia, Rose. Que se reacostume a sua antiga vida e tente esquecer as coisas ruins que você presenciou aqui.

-Você promete que vem me ver quando Lissa vier também? Ou até antes disso? - Eu lhe dei um abraço, aspirando todo o seu cheiro que eu com certeza nunca esqueceria.

-Claro que sim, Roza - Dimitri disse passando as mãos no meu cabelo.

Passamos um tempo abraçados, e naquele momento eu desejei que o tempo parasse ali e nós pudéssemos ficar assim para sempre. Mas uma batida na porta seguido da voz de Dave nos fez desfazer o abraço. Antes que eu olhasse para Dimitri sem saber o que fazer, já que uma segunda tentativa de me esconder dentro do quarto não ia dar certo, o russo abriu a porta naturalmente, fazendo eu ficar um pouco confusa.

-Tanaka - Dimitri disse apertando a mão do meu guardião - A princesa esteve aqui e a mesma me pediu para ajudar Rose com as malas.

E a porta trancada? Como ele vai explicar isso?

-Tudo bem então - Dave deu de ombros, olhou para mim com os olhos brilhando e tirou dois pares de sapatinhos do bolso - Olha o que eu achei no quarto da Piper.

-Pare de mexer - Eu revirei os olhos - Isso é feio.

-Ela disse que eu podia - Ele deu de ombros e sentou no colchão da minha cama, mas depois levantou como se tivesse sido espetado por uma agulha ali - Acho que eu vou voltar para o quarto da Piper e ver mais roupas dos meus filhos. Belikov, já que você está aqui, você leva as malas até o jatinho. Baixinha, nos encontramos lá.

-Ok… - Eu murmurei vendo ele sair e deixar a porta aberta, depois me virei para Dimitri que passava a mão no estômago - A paternidade tá mexendo com a cabeça dele.

-Talvez… - Ele respondeu um pouco diferente - Vamos logo para o jatinho. Só falta o seu pai aparecer aqui.

-Isso seria horrível - Eu disse imaginando meu pai usando a magia da terra e tacando alguma pedra grande no belo rosto de Dimitri.

Enquanto nós íamos para o jatinho, eu observei que já tinha amanhecido e que o toque de recolher para os alunos que ficaram já tinha sido ativado. Seria melhor assim, não chamaria tanta atenção. Dimitri colocou minhas malas dentro do jato e eu vi que faltava 45 minutos para eu ir embora. Meu coração se apertou e uma tristeza começou a me inundar. Eu não queria ir embora, mas era necessário.

-Rose! - Ouvi Christian me chamar, e quando me virei ele e Lissa estavam com potes descartáveis nas mãos - Você não comeu quase nada, então eu e Lissa passamos na cantina e pegamos algumas coisas para você.

Ele está mentindo. Foi ele quem ficou preocupado e pegou tudo sozinho Lissa disse no meu pensamento.

-Ah claro… - Eu disse observando o casal na minha frente e sorri internamente - Obrigada.

-Por que você está indo embora tão rápido? - Lissa perguntou e uma dúvida genuína passou pelo laço.

-Eu sinceramente não sei, Liss - Suspirei - Mas não é como se eu fosse ficar apagada do mundo moroi agora. Eu venho te visitar mensalmente, como prometemos uma para a outra.

-Ainda acho que uma chamada por Skype, uma vez ao mês, está de bom tamanho - Christian disse revirando os olhos - Não sou obrigado a ver essa sua cara feia, Mazur.

-Ozera! - Eu rosnei - Eu vou chutar essa sua bunda real!

-Vocês já começaram? - Lissa gemeu em desgosto.

-É só para não perder o costume - Ele piscou para mim, recebendo meu dedo do meio em troca.

Eu ia sentir falta deles, ia sentir tanta falta do mesmo jeito que senti falta dos meus amigos, e só então eu me dei conta que eu iria revê-los novamente. Isso fez meu coração se acelerar e até uma pequena empolgação surgir. Eu me virei para Dimitri, com um sorriso no rosto, e perguntei:

-Dimitri, agora que tudo acabou e eu estou voltando para casa, eu posso entrar em contato com os meus amigos, certo?

-Claro, Rose - Ele sorriu discretamente ao me ver empolgada - Você já não fez isso? - Ele perguntou em tom de provocação - Estou surpreso.

Eu soltei um gritinho de empolgação e peguei meu celular, o meu verdadeiro celular, e enviei uma mensagem para Cassie, avisando que eu fui expulsa da St Vlad por destruição de propriedade e que eu estaria de volta à Califórnia em poucos dias.

-Dias? - Dimitri disse ao meu lado, vendo enquanto eu enviava a mensagem - Você estará na Califórnia em poucas horas.

-Eu sei - Eu suspirei - É só que eu preciso de um tempo, e de uns dias para lidar com a escuridão de Lissa que irá aparecer em poucas horas - Eu disse me lembrando de tudo que passamos - Ela fez telecinese. Você acredita? - Dimitri se aproximou mais um pouco e até pareceu surpreso - Com as barras de metal. Isso exigiu bastante dela.

-Somente usuários de ar fazem isso - Ele disse sério.

-Ela fez - Eu suspirei cansada a vendo conversar com Christian um pouco distante - Me mantenha informada sobre ela, ok? Mesmo com o laço eu quero ficar sabendo tudo.

-Tudo bem, Rose - Ele sorriu - Eu te falo.

-Obrigada - Eu sorri.

Passamos o resto dos minutos conversando, e tentando não imaginar que esses eram os últimos minutos que nós nos veríamos, e o pior, o curto tempo que passamos um nos braços do outro no nosso quarto não foi, e nunca será, o suficiente.

Quando vi David de longe se aproximando, e Liss assim que percebeu tratou de vir para o meu lado, eu percebi que a hora de partir estava chegando.

-Pelo menos você vai parar de reclamar da neve e do quanto odeia frio - Chris resmungou com as mãos enfiadas dentro do seu enorme casaco de couro sintético.

-Pelo menos isso… - Eu revirei meus olhos ao olhar para cima e ver o sol brilhando, mas se eu ousasse tirar pelo menos um dos meus infinitos casacos, eu iria congelar.

Pelo menos disso eu não vou sentir falta. Clima de Montana que se ferre.

-Já deu tempo de se despedir? - Dave perguntou sem nem sequer tirar o rosto do celular - Seus pais só estão resolvendo umas últimas pendências com a Kirova e nós já vamos. Vou até pedir para irem esquentando os motores.

-Aquela mulher está tentando tirar mais dinheiro do meu pai dizendo que eu pichei o maldito santo? - Eu disse com um pouco de raiva.

-Rose! - Lissa me repreendeu.

-Que foi? - Dei de ombros.

-Eles estão apenas pegando sua transferência e um histórico sem a parte dhampir, tiveram que transferir tudo para ed física - Dave disse dando de ombros.

-Legal - Sorri - Primeira vez que vou ter A+ em Ed física.

-E quanto você tirava em Ed Física? - Dimitri perguntou cruzando os braços.

-Eu matava aula e subornava minha professora nos testes - Eu soltei um sorriso desconfiado enquanto ele erguia uma sobrancelha - Então era C+

-Você ainda pretende matar aulas de ed física? - Ele perguntou claramente desaprovando a minha atitude.

-Eu fazia isso para ir à praia - Eu dei de ombros - Claro que vou, mas agora eu tiro os testes de letra e não preciso mais subornar aquela senhora. Posso muito bem faltar e fazer os testes.

-Como funcionam os testes humanos? - Dimitri perguntou para Dave.

-Apenas uma subida de corda e dar uma volta ao redor do ginásio da escola. É a coisa mais fácil - Dave respondeu para Dimitri e depois voltou a mexer no celular.

-Se você não tirar A+ - Dimitri disse com a sobrancelha erguida - Eu vou dizer para Tanaka pegar pesado com você.

-Pode dizer - Eu garanti - Eu posso fazer isso com uma venda nos olhos - Pisquei maliciosamente para o russo ao meu lado.

Ficamos ali jogando conversa fora e até rindo de algumas coisas que a gente fazia. Meu coração estava se partindo em dois, e o de Lissa estava dilacerado, mas eu não precisava deixar essas emoções tomarem conta de mim agora, não com eles ali na minha frente.

-E também uma coisa que eu nunca vou esquecer era como você ficava assustada perto de nós, como se nós fôssemos te atacar a qualquer momento e oferecer seu sangue à Satã - Christian zombou.

-Ou do dia em que você disse que era uma filhote de vampiro - Lissa riu e se agarrou ao namorado.

-Hey! - Eu murmurei envergonhada e me aninhei em Dave - Eu não lembro disso.

-Mas eu lembro - Dimitri disse me olhando - Quando você quis bater na Srta Rinaldi, você repetiu a mesma coisa para mim.

-Filhote de vampiro! - Christian repetiu alto e soltou uma risada exagerada.

-Seus pais estão vindo - Dave disse olhando para frente e me empurrando gentilmente - Vou preparar as coisas para irmos. Vá se despedir dos seus amigos.

Nesse momento toda a força que tanto eu como Lissa fazíamos para segurarmos nossas emoções não foi suficiente. Nós corremos para um abraço e uma grande onda de gratidão passou pelo laço.

-Até logo, Rose - Lissa disse com voz de choro - Eu amei te conhecer, e mesmo eu te tornando uma Shadow Kissed sem eu saber, eu faria tudo de novo. Espero que não demore até uma poder ir visitar a outra.

-Eu também, Liss - Eu disse sentindo meu coração se despedaçar - E não se esqueça do nosso acordo, por favor.

-Jamais.

Eu aproveitei e resolvi dar uma última checada nela enquanto nós estávamos cara a cara, e felizmente eu ainda não tinha conseguido detectar escuridão alguma, mas logo essa coisa chegaria.

-Mantenha contato com Oksana, que eu manterei com Mark - Eu disse segurando suas frágeis e pálidas mãos.

-Tudo bem - Ela sorriu - E você não se meta em confusão por aí.

-Isso eu não prometo.

-Kiz! - Ouvi a voz do meu pai e quando me virei vi ele acompanhado da minha mãe - Sabia que você estaria aqui se despedindo dos seus amigos. O garoto Ashford mora perto da nossa casa, e atualmente ele está passando seus últimos dias de férias com a mãe dele.

-Claro - Sorri - Falo com ele depois.

-Seja rápida, Rosemarie - Minha mãe disse em um tom gentil e fazendo uma reverência para Lissa.

-Nossa mansão sempre estará aberta para vocês - Meu pai disse olhando para Lissa e Christian, depois se virou para Dimitri - E Belikov, tenho certeza que você gostará da academia onde os guardiões da Rose treinam, é tão boa quanto o ginásio da St Vladimir.

-Claro, Sr Mazur - Dimitri disse totalmente formal e meu coração deu uma leve acelerada. Por que ele estava falando com Dimitri? Por que eles estão interagindo?

-Termine de se despedir e vamos - Meu pai se virou para mim - Estou cansado, Kiz. Estou ficando velho e cansado. É uma droga - Essa última frase ele murmurou em turco.

Eu me virei para Christian e dei um abraço nele enquanto o mesmo irritantemente puxava uma mecha do meu cabelo.

-Sabe… - Ele disse desfazendo o abraço e fazendo uma pequena chama na ponta dos dedos - Obrigada por tudo, Mazur. Desde ter ajudado Lissa, até ter me defendido por aí como eu fiquei sabendo. Você praticamente causou uma revolução por aqui.

-Se você contar pra alguém que eu te defendi… - Eu revirei os olhos e depois sorri - Eu te mato.

Com o meu coração batendo descompassadamente, e com apenas Dave me aguardando na porta do jatinho, eu me virei para Dimitri e o olhei com certa tristeza, desejando ao menos poder abraçá-lo.

-Até, Camarada - Estendi minha mão direita e sorri triste.

-Até mais, Roza - Ele soltou um sorriso discreto e apertou minha mão.

Antes de virar minhas costas para ele, eu murmurei um eu te amo e recebi como resposta um discreto sorriso e um balançar de cabeça, depois Dimitri foi embora, e céus, aquilo doeu tanto. Lissa e Christian fizeram o mesmo, mas assim que minha amiga me deu as costas ela começou a chorar, sobrando para Chris a responsabilidade de consolar a garota.

Entrei no jatinho e me sentei no último banco, afastada de todos e coloquei meus fones. Eu estava um pouco chorosa. Depois de tudo o que passei, eu nem acreditava que voltaria para LA. Uma parte de mim estava feliz com isso, mas outra parte estava triste e vazia, até me perguntei se não seriam as emoções de Lissa, mas eu sabia que essa outra parte era a que eu estava deixando para trás. Era Dimitri e Lissa. Mas eu não podia ficar lá se eu não tinha a intenção de me tornar uma guardiã oficial. Era hora de voltar para a minha vida de verdade. A minha antiga vida.