História Outro Mundo - Laços que nos unem

  Não quis encher mais Lissa com aquele assunto porque eu vi que aquilo não despertava lembranças boas nela, e eu teria que descobrir tudo isso sozinha. Não ocultei o fato do David saber alguma coisa sobre esse laço, mas que também não falava nada, e se eu fosse tirar alguma coisa dele, eu teria que ser rápida pois ele iria embora em duas semanas. 

    Eu voltei para o meu quarto poucos minutos antes do horário de recolher depois de acompanhar Lissa até o quarto dela. Exausta, eu abri a porta do meu quarto e pluguei meu ipod na caixa de som, deixei em um volume baixo e fui direto tomar um banho bem quente. Eu vi que ainda eram 10h e fui arrumar minhas roupas no armário, e só então eu percebi que tinha três sacolas em cima da minha cama. Como eu posso ser tão distraída?

    Praticamente voando em cima das sacolas, eu vi o que tinha dentro e eram roupas de ginásticas apropriadas para o meu treinamento com o Dimitri. No fundo de uma sacola tinha um bilhete do Dave.

"Rose, eu comprei essas roupas para você. Como você está segura dentro da Academia, e você teve um boa reação a tudo, eu vou passar umas horas fora mas assim que você acordar eu estarei de volta. Não apronte nada. 

-Dave"

    Eu bufei em irritação mas voltei a arrumar minhas roupas e separar o uniforme e os trajes de treino para amanhã, depois organizei algumas coisas pelo quarto e deitei completamente esgotada, puxando o pesado edredom e dormindo logo em seguida. Algumas horas depois eu senti uma força me puxando e me despertando, novamente eu estava na cabeça de Lissa, mas ela estava sonhado, e deus, a cena era horrível. Havia sangue, corpos estirados no chão e metal amassado. Eu identifiquei como sendo o acidente que matou a família dela. Droga. Eu queria tanto acordá-la mas ela não podia me ouvir e eu não podia ir até ela, então a única opção era me forçar a sair da mente dela, mas eu não conseguia, as emoções dela estavam muito intensas e isso só me prendia ainda mais. Pânico e horror se apossavam dela e eu comecei a me desesperar porque era uma sensação horrível. Eu me debati na cama em total desespero, tentando afirmar para mim mesma que aquelas emoções eram delas e não minhas. 

    Finalmente consegui voltar a mim e sentei na cama completamente assustada. Não era com você, era com ela. Eu repetia para mim mesma. Isso havia sido perturbador, nunca ocorreu com uma intensidade tão grande. Eu era acostumada a sentir suas emoções de forma leve e sútil porque estávamos longe e o laço fraco, mas isso foi horrível. Ela ainda sofria tanto e nesse momento eu quis abracá-la, mesmo a conhecendo em tão pouco tempo. 

    Mais calma, eu olhei a hora e vi que eram 14h. Eu me dei conta que eu fiquei tão cansada que meu corpo nem reclamou da mudança de horário, mas ele estava completamente mal tratado por causa do treino. Apesar de tudo, o sono não tinha me abandonado, e mesmo eu estando um pouco preocupada com Lissa e receosa de que eu fosse puxada novamente para a mente dela, o cansaço falou mais alto e eu acabei adormecendo de novo, e dessa vez sem os pesadelos de Lissa. 

    Exatamente três horas depois, eu ouvi o maldito despertador soar o bipe. Olhei no relógio que marcava cinco da tarde e apenas virei para o outro lado. Meu corpo todo doía, parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão e depois ele ainda deu marcha ré em cima de mim. Eu definitivamente não ia para o treino marcado para daqui há meia hora, e sem contar que eu tive uma noite agitada com os pesadelos de Lissa. Meu corpo doía tanto que eu duvidava até que eu conseguisse levantar da cama, quem dirá treinar novamente. Com uma decisão em mente, eu desativei o despertador e voltei a dormir. 

    Acordei novamente com batidas na porta e um Dave chamando meu nome. Merda. Levantei preguiçosamente, me enrolei no edredom e fui abrir a porta. 

  -O que você quer? - Eu disse e dei passagem para ele entrar.

  -Você vai se atrasar para o seu treino, nem pense em ficar aqui. - Ele colocou uma mochila em cima da minha cama e cruzou os braços - Eu sei que seu corpo está doendo, e muito, mas em duas semanas ou menos você se acostuma. Se dedique aos treinos pois você tem que ficar igual aos seus colegas. Rose, isso não se trata de você querer ou não, se trata da sua vida e da princesa. Colabore. - Ele disse em um tom gentil e doce. 

    Ele estava certo, completamente certo. Eu não estava aqui de férias, estava porque era necessário e eu devia ao menos fazer minha parte, que era seguir as instruções que me deram. Imediatamente me lembrei sobre Lissa ter me dito que eu tinha sido compulsada para não lembrar do ocorrido na Pensilvânia, lembrei também que pela conversa de Dave com o Dimitri ele sabia de algo, mas não iria colocar ele contra a parede agora. 

  -Onde você estava? - Eu disse sentando na cama tentando ignorar a dor nas minhas coxas. 

  -Deixei você sozinha com o Belikov porque eu precisava ir ao shopping mais próximo comprar umas roupas para você, depois fui me encontrar com seus pais, e sua mãe te mandou algumas roupas de frio pois você não tem muitas. - Ele me puxou para que eu ficasse em pé novamente - Vá se arrumar, você vai se atrasar.

    Odiava quando Dave tinha razão, mas eu realmente me atrasei dez minutos e Dimitri não falou nada, mas eu sabia que ele estava irritado por eu não ter sido pontual, principalmente porque eu cheguei com Dave me carregando nas costas enquanto eu tentava tirar uma soneca.

  -Desculpe pelo atraso, Belikov, mas se não fosse pelo Dave eu nem viria ao treino hoje. Você não foi misericordioso ontem - Eu disse com a maior cara de pau e um sorriso cínico - Eu tô sentindo dores em partes do meu corpo que eu nem sabia que existia.

  -Se aqueça. - Ele disse seco, provavelmente me odiando por causa do meu atraso.

    Eu revirei os olhos e comecei a me aquecer e ignorar a dor que se intensificava no meu corpo. Estreitei meus olhos na direção de Dimitri e notei que ele estava lendo um livro de faroeste, continuei observando por alguns segundos e quando eu estiquei meu corpo na direção oposta eu reprimi uma risada, mas não deu muito certo. Dimitri parecia tão concentrado na sua leitura que não me escutou rindo, e eu agradeci por isso, ou pelo menos foi o que pareceu.

  -Agora dê cinco voltas ao redor do ginásio. - Ele disse sem nem tirar os olhos do seu livro.

    Ele realmente não tinha pena de mim e eu já estava começando a desenvolver um pequeno ódio por ele. Dimitri me fez correr cinco vezes sem direito a pausa e quando eu parei, eu tive a impressão que o meu pulmão iria sair correndo pela minha boca. E como se não bastasse toda a dor nos meus músculos, ele ainda me fez fazer alguns exercícios de musculação.

  -Eu ainda vou ter que participar das aulas em grupo? - Eu disse me deitando no chão completamente exausta - Eu acho que não tenho mais forças para isso.

  -Sim, você terá. - Dimitri disse sem demonstrar qualquer compaixão por eu estar praticamente desmaiada no meio do ginásio - Srta Hathaway, você vai...

  -Wow, Srta Hathaway? - Eu o interrompi - Me chame apenas de Rose, camarada.

  -Rose, - Ele deu ênfase no meu nome - Não me chame de camarada.

  -Você não é a favor do comunismo no seu país? - Eu sorri ao perceber que essa era a minha oportunidade do dia de soltar piadas - Por isso você veio para a America? Oh meu deus, temos um russo capitalista aqui! Devo admitir, camarada Belikov - Eu soltei um gemido de dor ao me virar de barriga para baixo e passar minhas mãos para baixo do meu rosto, onde eu me apoiei e continuei a encarar aquele deus russo - Isso é algo totalmente inusitado. 

    Ele cruzou os braços e levantou sua sobrancelha, como se analisasse a minha ousadia de chamá-lo por um apelido que não o agradava e ainda fazer piadas com a política do seu país. 

  -Não foi o meu posicionamento político que me trouxe à America, Rose. - Ele disse com a voz calma e firme - Como eu ia dizendo, seu corpo realmente irá reclamar, mas você vai ficar resistente, e não é só porque você está aqui temporariamente que eu vou apenas fingir que estou treinando você. 

  -Eu tenho alguma aula em grupo com você? - Perguntei enquanto ele me dava a mão para eu me levantar - Se eu tiver, será uma das primeiras que eu vou matar. Você deve ser do tipo que todos saem correndo de medo ou têm uma raiva eterna. - E com certeza deixa as alunas sem fôlego também. Eu pensei ao me permitir analisar toda a beleza de Dimitri naquela manhã. 

    Dimitri com certeza era um homem bonito e que não passava despercebido. Desde a primeira vez em que eu o vi, há três dias no escritório do meu pai, eu tive consciência da sua beleza, pena que ele era muito calado e o próprio capeta como professor. 

  -Eu não dou aulas, Rose - Ele disse e eu reprimi um sorriso por ele ter me chamado pelo apelido - Na verdade eu sou o guardião da princesa Dragomir. Geralmente os alunos não têm guardiões, mas como ela é a última da sua linhagem, eu fui designado para ela mais cedo.

  -Então você só fica aqui observando ela? - Eu perguntei um pouco confusa.

  -Não. - Ele me entregou uma garrafinha de água - Eu faço rondas pela escola também, ajudando na segurança. Por enquanto ela não precisa da minha total atenção pois há vários guardiões na escola e as wards, que são barreiras protetoras mágicas que impedem os Strigois de se aproximarem, aumentam mais ainda a segurança. 

  -Interessante... - Eu murmurei enquanto nós estávamos indo para fora. 

    Eu ainda não me acostumei com a ideia de que a minha raça tinha que abrir mão de tudo para proteger os Moroi. Por que os Morois não lutavam? Nesse momento eu vi o porquê do Dave ter desistido. Não era nada legal você abrir mão das suas vontade, da sua vida, por causa de um Moroi. Mas mesmo assim eu preferi não julgar, era a sociedade e regras deles no final das contas. 

    Moroi... Lissa... Eu imediatamente me lembrei do sonho horrível que ela teve e eu me despedi rapidamente de Dimitri e saí correndo em direção ao meu dormitório. Eu queria vê-la no café da manhã e tinha esperanças de encontrar ela antes da aula. Tomei um banho e me arrumei rapidamente, pensando em passar maquiagem durante o café. Eu cheguei rápido no refeitório mas eu não a encontrei, na verdade não tinha quase nenhum Moroi, apenas dhampirs. 

  -Rose! - Eu ouvi a voz de Mason - Aqui!

    Eu o avistei e fui na sua direção. Seu grupo de amigos era basicamente constituído por garotos Dhampirs.

  -Esse é Eddie Castile - Mason me apresentou para o seu melhor amigo.

    Cumprimentei Eddie e depois todos os outros, fiquei conversando um pouco e depois fui pegar meu café, apenas duas rosquinhas e um suco de laranja. Me sentei com os amigos de Mason e olhei ao redor de todo o refeitório procurando por Lissa, tentei sentir onde ela estava pelo laço mas essa coisa não queria funcionar muito bem. Eu tenho que aprender a controlar isso. 

  -Mase, você viu a Lissa hoje? - Eu perguntei para o garoto ruivo de olhos azuis.

  -Não, mas ela deve estar com os alimentadores - Eu tremi ao ver ele se referindo a humanos como alimentadores - Todos os Morois preferem se alimentar de manha cedo, aí depois eles vêm por aqui e comem comida normal pelo resto do dia. 

  -Oh... Ok. - Eu disse encarando-o e ele riu do meu desconforto.

  -Não se preocupe, Rose. Você irá se acostumar. - Ele disse baixo para que seus amigos não escutassem. 

    Não mesmo. 

    Roubei duas rosquinhas de Mason e saí a procura de Lissa, aos poucos eu sentia o laço me indicando onde ela estava e eu cheguei ao que parecia ser a sala de alimentação, mas não cheguei a entrar pois Lissa já estava de saída com Christian. 

  -Hey, como você me achou? - Ela perguntou surpresa e sorrindo.

  -Eu tenho uma espécie de gps mental que localiza você, eu acho. - Eu sorri de volta e me virei para Christian - Hey...

  -Hey, Rose. - Ele sorriu mostrando suas presas na intenção de me provocar e eu me encolhi um pouco.

  -Não faça isso! - Lissa o repreendeu - Ela ainda não é acostumada. 

  -Não se preocupem. - Eu tentei soar como se aquilo fosse comum para mim - Eu vou ter que me acostumar de qualquer jeito.

    Christian fechou a cara e não falou mais comigo enquanto eu ia conversando coisas sem importância com a Lissa. Em um determinado momento Christian disse que já iria para a sala e esperaria Lissa lá, foi aí que eu resolvi tocar no assunto do pesadelo.

  -Como você está? - Eu perguntei desconfortável. Isso era tão estranho para mim quanto para ela. 

  -Você já me perguntou isso hoje. - Ela sorriu e um sentimento de tristeza passou pelo laço - Você com certeza deve saber que eu não estou bem. Eu tive um...

  -Eu sei, Lissa. - Eu a interrompi e abaixei minha cabeça - Eu estava lá. Foi estranho, mas eu estava lá. 

  -Como? - Eu vi que ela ficou desconfortável com isso e até sentiu que a sua privacidade foi invadida.

  -Eu sei, eu também acho estranho e nada agradável, acredite, foi horrível para mim. - Eu fiquei em silêncio enquanto ela ainda olhava para mim absorvendo tudo aquilo - Não tem um jeito de nós buscarmos ajuda com isso? 

  -Não... Isso é meio raro de acontecer e vamos aprender a controlar com o tempo. - Ela disse incomodada. 

    Se para ela isso era estranho, para mim era mais ainda já que meu cérebro estava absorvendo mais coisas que o permitido. Naquele momento eu vi que ela estava triste, confusa e se sentindo péssima. Em uma tentativa de confortá-la, eu coloquei minha mão no seu ombro e fiquei ponderando algumas palavras na minha mente.

  -Éee... Deve ser horrível passar pelo que você passou e ainda passa, mas vai ficar tudo bem. A noite de ontem foi horrível, eu fiquei com vontade de sair correndo e ver se você estava bem, mas certamente eu iria ser contida na metade do caminho. Eu sei que você deve ter o Christian ou outras amigas para conversar, mas se você precisar de um ombro amigo, o meu está disponível. - Eu dei um tapinha no meu ombro para enfatizar - E quanto a essa coisa de eu ser puxada para a sua mente, eu vou me controlar para isso não acontecer de novo. Isso é desagradável para nós duas. Se acontecer alguma coisa parecida como essa, eu vou estar junto e você pode me chamar pelo laço que eu vou correndo até você, onde quer que você esteja. 

  -Obrigada. - Ela sorriu e eu pude perceber uma imensa gratidão passando pelo laço - Você será uma boa amiga. 

  -Eu sei. - Eu sorri convencida e ela riu - Você também. 

  -Eu não acho que você vá conseguir chegar no meu quarto. Os guardiões te impediriam até mesmo de sair do seu dormitório no meio da noite moroi. - Ela disse enquanto nós íamos para a aula.

  -Nah - Eu deu de ombros - No dia em que me contaram toda a verdade eu fugi de uma mansão com oito guardiões, acho que fugir para o seu quarto será fichinha. 

  -Meu deus! - Ela estava totalmente surpresa - Você fugiu de casa? Isso foi totalmente incrível e irresponsável. - Ela riu - Isso explica porque a sua chegada atrasou um dia.

  -Na verdade eles conseguiram me achar 2 horas depois, acho que minha chegada foi atrasada porque meu pai deixou eu fazer uma festa de despedida com os meus amigos.

  -Você tem cara de quem era bastante popular na sua antiga escola, até por aqui já se pode ouvir todo mundo comentando sobre a bela dhampir novata que é amiga da princesa. - Ela piscou para mim - Sua festa de despedida deve ter sido bastante épica!

  -Sim. - Eu ri e vi que já estávamos próximo a sala dela - Eu era bastante popular, mas a minha festa de despedida foi somente com uns poucos amigos que eu considero amigos de verdade. Mas eu já dei várias festas épicas, inclusive me lembro de uma que eu acordei e o cachorro da vizinha estava flutuando na piscina em cima de uma boneca inflável! - Eu ri com aquela lembrança e do quanto Dave ficou puto comigo porque era sua folga e eu fiquei sozinha em casa com os outros guardiões. 

  -Você é incrível! -  Lissa disse entre gritinhos e batendo palmas.

    Nos despedimos e eu fui para a minha aula de literatura inglesa, quando eu cheguei na classe eu me surpreendi por a professora ser a Srta Geler. Ela era linda e aparentava ser frágil, mas como professora ela conseguia impor autoridade dentro da sala de aula. Ela falava sobre O Morro Dos Ventos Uivantes com paixão, como se a sua vida dependesse disso e explicava pontos e características da autora sendo refletidas na obra. No final da aula ela disse que nós teríamos quinze dias para ler o livro e entregar uma síntese para ela. Eu bufei e resmunguei mentalmente sobre o quanto eu não era chegada em ler.

    O dia, ou noite, passou rápido e na hora do almoço eu me sentei com Lissa, Christian e Natalie Dashkov, as amigas de Natalie não estavam por perto. Como só estávamos nós quatro na mesa, e Natalie sabia da verdade, Lissa me pediu para contar a todos como era a minha vida na California, e eu, vendo que a nossa conversa de mais cedo a fez se sentir melhor e que eu a animava, continuei falando sobre a festa que eu comentei com ela. Eu ainda não sabia como funcionava a hierarquia chata da escola, mas eu tenho certeza que Lissa estava entre as mais populares.

    No próximo período eu tinha aula prática de ataque e defesa avançada, ou seja, aula dos dhampirs que provavelmente resultaria em uma surra. Quando eu cheguei lá eu vi que Mason era quem comandava a aula e Dave era o Guardião instrutor, provavelmente para ficar perto de mim. Eu sorri na direção dele e ele me deu um aceno e fez menção para eu me juntar aos outros.

  -Hathaway - Mason fez um gesto para que eu me aproximasse - Faça par comigo. 

    Eu apenas assenti na esperança de não levar tanta surra e deixar meu corpo mais dolorido do que ele já estava, mas claro que foi em vão. Eu saí daquela aula sentindo que toda a minha dignidade foi jogada no chão e pisada, e eu ainda tinha outro maldito treino com o Dimitri, sem contar que hoje começam as minhas aulas teóricas com o Stan. Bufando e choramingando, eu fui até o ginásio acompanhada por Dave, que apenas ria da minha cara de dor.

  -Eu odeio tudo isso. - Eu comentei enquanto entrava no ginásio e via Dimitri ajeitar alguns pesos - Mase me derrubou no chão como se eu fosse uma pena.

  -Relaxa. - Dave não conseguia parar de rir - Eu vou para a minha ronda de agora, e quando você acabar com o Belikov, eu passo no seu quarto para te acompanhar na aula teórica com o Stan.

  -Era para você ficar do meu lado - Eu grunhi e falei baixinho - E não fazendo rondas pela escola. Sua protegida sou eu e você não tem obrigação nenhuma com a escola. Dimitri pode ser considerado um deus entre os alunos, mas para mim ele é o próprio demônio. Esse cara não tem pena de mim! 

  -Rose, acredite, é uma honra você ser treinada pelo Belikov. Apenas aproveite a oportunidade porque não é qualquer um que a tem. - Ele disse passando a mão pelos meus cabelos e se despedindo com um beijo na testa.

    Gemendo de dor, e quase correndo para um canto onde eu pudesse ficar escondida até todas as minhas dores cessarem, eu me aproximei de Dimitri com o olhar mais suplicante que eu fiz em toda a minha vida, mas que não o afetou de maneira alguma.

  -Se aqueça e depois faça três séries de vinte com aqueles pesos. - Dimitri disse apontado para uma máquina de musculação. 

    Eu fiz o que ele mandou e quando eu já estava quase no fim do exercício, sentindo todos os músculos dos meus braços queimarem, eu paro e encaro o russo que apenas me observava. 

  -Eu não aguento mais! - Eu tentei me levantar, mas eu estava com dificuldades de apoiar meu braço de tanta dor. 

  -Termine o resto do exercício e depois faça duas séries de dez na barra. - Ele disse ignorando minhas queixas - Eu já disse, você se acostuma. 

  -Camarada, - Eu voltei a fazer os exercícios - Não precisa ser tão duro, não é como se eu realmente fosse me formar. Que merda! - Eu me queixei novamente ao sentir a queimação voltando para os meus braços.

    Dimitri me ignorou e me auxiliou algumas vezes, mas quando eu cheguei na barra eu vi que não conseguiria levantar todo o meu peso e ainda fazer isso vinte vezes seguidas.

  -Não, Dimitri, eu não consigo fazer isso! - Eu cruzei meus braços mas me arrependi pois senti eles doerem.

  -Tente, Rose. - Ele disse sério e olhando para mim. 

    Eu o olhei irritada e fiquei pensando no quanto ele era chato e alheio as minhas dores. Não era como se eu realmente precisasse saber de tudo. Droga. Eu suspirei com bastante raiva e fiquei na ponta do pé para que eu pudesse pegar na barra. Fechei meus olhos por um instante pensando que eu poderia fingir um desmaio ou realmente tentar fazer esse último exercício. Optando pelo último pensamento, eu dei um impulso de ir para cima e eu senti as mãos de Dimitri ao redor do meu quadril, me ajudando minimamente com o impulso, e por algum motivo eu senti meu corpo reagir a isso de uma maneira estranha, como se um corrente elétrica tivesse passado e feito ele reagir. Torcendo para que Dimitri não tivesse notado nada, eu murmurei um obrigada e ele não respondeu, apenas continuou com suas mão firmes me ajudando. Não tinha nada de sexual ali, era apenas um mentor auxiliando sua aluna, meu próprio professor da academia já tinha feito isso comigo nas raras vezes que eu tinha decidido realmente malhar e eu não reagi desse modo. Seguimos o resto do exercício em silêncio e e ele não pediu para eu fazer outra série. 

  -Realmente você não está dando muito resultado. - Ele falou isso e eu senti uma ligeira irritação subir - Vou te liberar mais cedo e você pode passar na enfermaria e tomar alguns remédios para dores musculares. Boa noite, Srta Hathaway. 

    Voltamos ao Srta Hathaway? Pelo menos ele me liberou mais cedo e realmente vou seguir a dica da enfermaria.

  -Só Rose, camarada. - Eu disse soltando um sorriso completamente agradecida pelo fim daquela tortura - Até amanhã. 

    Assim que eu saí e repassei toda a aula, eu me senti irritada por ele dizer que eu não estava dando resultados. Eu passei a aula toda fazendo o que ele mandou e ele ainda fala aquilo? Tudo bem que eu resmunguei praticamente e aula toda mas fiz. Era resultado que ele queria? Pois será isso que ele terá. Idiota. A sensação das suas mãos ao redor do meu quadril fez meu corpo reagir de novo apenas com a lembrança passando rapidamente pela minha cabeça.

    Ok, corpo, eu entendi que ele é gostoso, mas controle-se. 

  -Hey, Rose! - Eu ouvi a voz de Christian e me senti surpresa.

  -Hey, Chris... - Eu continuei andando em direção ao prédio da enfermaria. 

  -Eu queria agradecer pelo que você fez pela Lissa hoje, seja lá o que você fez. - Ele abaixou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos - Ela estava realmente muito mal hoje pela manhã antes de ver você, mas quando eu deixei vocês, e fui para a sala, ela voltou mais animada. Obrigada. - Ele sorriu sem mostrar as presas.

  -Tudo bem, Ozera. - Eu sorri - Para que servem os.... amigos? ou algo do tipo. - Eu me mostrei confusa ao definir o que eu era de Lissa, afinal era um pouco precipitado nos considerarmos amigas. 

  -Ela já considera você uma boa amiga. Ela falou muito de você nesses últimos dias e estava bem ansiosa para te conhecer, e depois que te conheceu te achou maravilhosa. - Ele fechou a cara de repente.

  -Ela também é maravilhosa - Eu ri - Eu gostei muito de conhecê-la e também já a considero uma boa amiga.

    Nós ficamos em silêncio e eu comecei a andar mais rápido por causa do frio que começava a me incomodar. 

  -Desculpe. - Ele disse de repente - Eu sei que não tenho sido gentil, mas depois do que você fez por ela hoje... 

  -Sem problemas - Eu ri - Eu também não fui com a sua cara, mas pela Lissa nós podemos fazer uma trégua.

  -Ok. - Ele sorriu mostrando as presas e dessa vez eu não recuei - Vejo que já se acostumou com as presas. - Ele sorriu maquiavelicamente, deixando seus caninos mais em evidência - Olha, esse laço que une vocês duas... Ele talvez seja uma coisa boa. - Ele disse se afastando.

  -Talvez. - Eu disse soltando um sorriso e tentando ver se o laço aparecia para eu checar Lissa.