História Outro Mundo - O peso do sobrenome Mazur

    Enquanto escovava os meus cabelos e agradecia por Stan não ter me enchido de aulas teóricas, eu repassava todo o plano que eu arquitetei no breve momento em que eu saia da enfermaria após tomar alguns remédios para dores musculares. O plano era basicamente deixar a Rosemarie Mazur adormecida e acordar a Rosemarie Hathaway que existia em mim. Se era uma guardiã que aquele Dimitri Belikov queria, era uma guardiã com resultados que ele iria ter. Meu plano incluía também descobrir o que tanto escondiam de mim: A viagem até a Pensilvânia. Eu também teria que aprender a equilibrar o laço com a Lissa. 

    Para isso eu iria parar de me queixar das aulas práticas com Dimitri e iria absorver tudo o que ele tinha para me ensinar, também ia abusar um pouco das aulas particulares com o Stan, e no meio de tudo isso, eu teria que descobrir sozinha como esse laço surgiu, mas de uma coisa eu tinha certeza, para entender ele, eu teria que descobrir o que aconteceu na Pensilvânia.

    Fui para a minha cama e me enrolei preguiçosamente no edredom, e já sentindo o remédio fazer efeito, relaxando meus músculos, eu fechei os olhos e escrevi uma nota mental de que antes das aulas com Dimitri, eu iria começar a ler aquele livro chato que a namorada moroi do Dave passou. 

    Acordei com o relógio fazendo o seu barulho irritante que indicava que toda a minha paz havia chegado ao fim. Eu me sentei na cama preguiçosamente, e com um pensamento um tanto infantil e desesperado, eu pensei em sair correndo pelos limites da escola e fugir pela floresta que cobria toda a área da St. Vladimir. Ainda relutante, e sem a mesma empolgação para seguir o plano que eu meticulosamente arquitetei na minha mente, eu segui para o banheiro e joguei um rápida água pelo meu corpo para eliminar o sono, depois eu me olhei no espelho e vi que a minha aparência recém acordada definitivamente não era uma coisa muito bela de ser vista. Escovei meus dentes e domei meus cabelos fazendo um rabo de cavalo e prometendo para mim mesma que eu iria lavá-los quando eu chegasse do treino. Segui para o meu quarto, ainda um pouco sonolenta e passei hidratante pelo meu corpo na esperança de não deixar minha pele cor de amêndoas completamente seca e mal tratada com esse clima horrível de Montana. Vestindo minhas roupas de treino, eu olhei para o meu lap top e sorri maliciosamente ao descobrir que a escola não conseguiu arranjar um meio de bloquear os sites piratas que disponibilizavam filmes e séries. Ah sim... Meu tempo livre seria muito bem aproveitado. 

    Mais cedo do que eu esperava, Dave bateu na minha porta para me levar para o treino e ele se impressionou por eu já estar arrumada e até adiantando alguns deveres da escola que me foi passado ontem.

  -Caiu da cama, Rose? - Ele perguntou divertido e me abraçando - Já estava até preparando meus braços para te levar porque eu tinha certeza de que você estaria completamente sonolenta. 

  -Isso eu não vou recusar, Dave. - Eu ri e peguei minha garrafinha de água com uma toalha - Eu estava começando a ler o livro que a sua namorada passou para a classe. Você tem falado com os meus pais? 

  -Tenho sim - Ele disse enquanto se ajeitava para eu subir nas suas costas - Sua mãe já voltou ao trabalho e seu pai teve que sair do país por uns dias, mas todos ainda estão trabalhando incansavelmente para que a sua situação seja resolvida logo. 

  -Eu espero que sim. - Eu disse soltando um suspiro - Tudo fica cada vez mais confuso. Você sabia que Mason Ashford já estudou comigo? E eu ainda não entendo nada da minha ligação com a Lissa. - Eu disse plantando a semente - O que você sabe sobre isso?

  -Eu sei tanto quanto você. - Ele disse sério e olhando para os lados para ver se encontrava algum guardião ou alguém que pudesse ver a situação nada apropriada que nos encontrávamos.

    Eu bufei e resolvi ver se o laço me mostrava alguma coisa sobre a Lissa, mas nada passou pela ligação, claro, ela devia estar dormindo ainda. Me virando para Dave eu resolvi provocar ele.

  -Então, Quanto tempo tem que você está dando uns amassos na Srta Geler? 

  -Eu não estou dando uns amassos nela, Rose. - Ele riu e começou a apressar o passo - Nós estamos namorando há cinco meses.

  -Traidor! - Eu gritei indignada e dei um tapa na sua cabeça - Como você não me contou? Qual é, isso é injusto. Se fosse comigo você teria feito um escândalo por eu ter escondido de você. - Eu fiz menção de sair das suas costas aborrecida mas ele me segurou antes que eu pudesse fazer.

  -Na verdade estava planejando te contar nas férias. Você ia fazer uma visita à Harvard e seu pai ia contratar mais guardiões para te acompanhar, e eu ia te apresentar ela enquanto tirava uns dias de folga. 

  -Nas férias? Daqui há quatro meses. Você é um traidor, Dave! - Eu ri e encaixei minha cabeça entre o seu pescoço e o seu ombro - Cassie ficaria desapontada agora. - Eu suspirei ao lembrar da minha amiga.

  -Ela supera. - Ele disse com um tom de voz convencido - Como você está se saindo aqui na academia? 

  -Bem, eu acho. - Eu vi que já estávamos perto do ginásio e fiz uma careta - Levando em consideração que eu ainda não enlouqueci, eu tô ótima. O laço está se fortalecendo aos poucos e eu fico um pouco confusa. 

  -Hum... Isso é uma coisa que vocês duas terão que controlar. - Dave disse me botando no chão e esticando suas costas - Existem histórias de guardiões que tiveram esses laços psíquicos com os seus protegidos, inclusive eles foram os melhores, mas isso não acontece há séculos! 

    Eu dei de ombros e sorri ao perceber que agora tudo o que eu tinha que fazer era aos poucos ir arrancando isso de Dave. Os melhores guardiões tinham esse laço, então isso significava que tinha alguma coisa registrada sobre eles, eu teria apenas que encontrar, o que não ia ser fácil, talvez a internet me fosse útil nesse caso. 

    Enquanto Dimitri não chegava, eu fiquei conversando casualidades com Dave e reclamando que não tinha comida o suficiente na cantina do meu prédio. Não demorou muito e Dimitri chegou e pareceu surpreso ao me ver ali tão cedo. Meus olhos brilharam com isso, mas eu me senti desapontada pois toda a dor que se fora minimamente com os remédios iria voltar totalmente com os treinos, também lembrei das suas mãos nos meus quadris e bufei irritada. Prometendo para mim mesma que eu não ia reclamar e me esforçar para dar resultados no treino de hoje, eu permaneci calada enquanto Dave cumprimentava o meu mentor e dizia que iria participar do treino.

  -Se aqueça, Srta Hathaway. - Ele disse enquanto começava a fazer movimentos sendo seguido por Dave.

  -Vamos começar dez minutos adiantados hoje? Ok, quanto mais treino melhor! - Eu disse ironicamente.

    Rose, você disse que não ia reclamar, então controle-se e reprima a vontade de enforcar esse russo gostoso.

    E eu não reclamei, mesmo Dimitri me colocando para correr ao redor do ginásio incontáveis vezes e usando o resto do tempo para que concluíssemos o exercício das barras de ontem, eu não reclamei nenhum pouco. 

    Eu deitei no meio do tatame do ginásio exausta tentando controlar a minha respiração e ignorar as novas dores que se formavam pelo meu corpo, principalmente nos meus braços e pernas. Enquanto Dave e Dimitri estavam tendo uma conversa sobre mim, que eu não me interessei muito em ouvir porque devia ser algo do quanto eu era péssima, eu me perdi nos meus pensamento e me perguntei o que eu estaria fazendo se estivesse na Califórnia, e cheguei a conclusão que ou eu estaria indo para uma festa ou indo apenas à um encontro casual com os meus amigos. Eu gostava de treinar, gostava bastante, era uma dos meus passatempos preferido com a minha mãe e o Dave, e eu sabia que eu era boa, pelo menos eu pensava até chegar nessa academia dos infernos. Ainda era meu segundo dia, então por isso ignorei a voz da razão, ou não tão racional assim, que dizia para eu sair correndo. Infelizmente eu sabia que o mundo lá fora escondia perigos bem maiores que serial killers, existiam os Strigois, que não eram muito diferentes, apenas mais assustadores, e eu me dei conta do quanto eu estive sujeita à eles, principalmente na noite em que eu fugi. Dave esteve esse tempo todo me protegendo deles.

  -Rose? Ainda está aí? - Eu ouvi a voz de Dave e não parecia a primeira vez que ele me chamava. 

  -Infelizmente sim! - Eu respondi rolando no chão.

  -Que bom. - Ele riu e se aproximou de mim - Eu pensei que você tivesse desmaiado. Você se saiu ótima hoje, eu disse para o Belikov que você era boa e realmente você não está me contrariando.

    Ignorando o comentário de Dave, eu notei que Dimitri já tinha ido embora e eu finalmente senti uma onda de alívio passar por mim. A sessão de tortura havia acabado, pelo menos pela manhã. 

  -Isso tudo é real mesmo? - Eu sentei e soltei um gemido de dor ao flexionar minhas pernas. 

  -Sim, Rose. - Ele se sentou ao meu lado, aparentemente ele nem suou nesse treinamento ridículo - Seus pais fizeram de tudo para você ficar longe desse mundo, para que você tivesse a chance de ter uma vida normal, mas não foi possível por muito tempo. 

  -Por que eles estão atrás de mim? Por que a Lissa? Eu não entendo... Se eles quisessem me pegar, eles poderiam ter feito isso na Califórnia em um momento em que a minha segurança não era reforçada, tipo eu estando na escola. 

  -Na verdade não, Rose. - Ele disse afagando meus cabelos - Eu era seu guardião de perto, mas sempre que você saía, dois guardiões da casa nos seguiam, e a escola onde você estudava era vigiada por mim e Paul de longe, e dentro dela haviam mais três guardiões disfarçados. Era praticamente impossível eles te pegarem, quanto mais livre você pensava que estava, mais vigiada você era. Seu pai se preocupa mais com a sua segurança do que com a dele própria. Você tinha mais segurança que qualquer um da realeza, se duvidar você se igualou a rainha em termos de guardiões.

  -Por que? - Eu apoiei minha cabeça nos seus ombros e tentei engolir o choro.

     Dave hesitou um pouco antes de continuar, mas prosseguiu.

  -Seu pai... Ele, bem, ele não chega a ser um homem ruim, mas ele tem uma certa fama no nosso submundo, e digamos que ele faz jus a essa fama. Até os próprios Strigois têm medo dele. 

  -Eu não posso acreditar nisso. - Eu sentia meus olhos cheio de lágrimas.

  -Eu sei, baixinha. - Ele me abraçou - Eu também não sou o que você esperava. Eu fiz... - Ele limpou a garganta - Eu faço coisas ruins ainda, coisas que você não precisava saber. 

     Eu não tinha essa imagem do meu pai, não essa que Dave me falou. Eu sabia que ele podia ser intimidador e que boatos circulavam sobre ele, mas era difícil de aceitar porque ele não era essa pessoa comigo, simplesmente não parecia fazer parte da índole daquele homem que se dizia o meu pai. Ele podia ter o meu gênio, que digamos não era um dos melhores para se lidar, mas isso... Era demais. Era como se ele realmente fosse um mafioso assustador. E agora Dave falando dele mesmo dessa forma só piorava as coisas. 

  -Quando você estava comigo você era você mesmo? - Eu perguntei limpando as lágrimas.

  -Sim. - Ele respondeu baixinho soltando um sorriso - Você iluminou meus dias desde a primeira vez que eu botei meus olhos em você e você me fez pentear os cabelos das suas bonecas.

  -Eram bons tempos. - Eu ri.

  -Sim. - Ele riu, mas depois fingiu estar irritado - Aí você cresceu e agora só me dá trabalho. sério, Rose, quando eu digo que você vai me dar cabelos brancos antes dos 30 eu não estou brincando. 

    Eu ri com aquele comentário. Realmente eu não dava sossego. Apesar de toda a segurança excessiva, eu tinha bastante liberdade quando minha mãe não estava em casa, o que era quase sempre, e eu aproveitava ela de todos os jeitos possíveis, e claro, me metendo em várias confusões. Dave só faltava sair gritando de desespero. Apesar de ter crescido com tudo o que eu sempre quis, eu não era uma garota mimada cheia de frescuras, talvez problemática pela necessidade de atenção da minha mãe, e um pouco inconsequente devido a liberdade desenfreada, e ao mesmo tempo limitada, que o meu pai me deu. Eu me considerava uma típica adolescente de 17 anos fazendo coisas estúpidas e inconsequentes de garotas de 17 anos, mas claro, com um batalhão de seguranças em volta para se certificar que nada sairia do controle. Era estranho, mas ao mesmo tempo compreensível, acho que fazia parte da minha experiência "humana vivendo no limite", algo que dhampirs e morois não tinham.   

    Eu não sei quanto tempo eu fiquei sentada no tatame pensando, eu só me dei conta quando Dave chamava por mim de novo e me ajudou a levantar. Começamos a andar pelo meio do caminho, mas eu me coloquei na frente dele e o parei.

  -Não importa. - Eu falei firme.

  -Quê? - Ele se mostrou confuso.

  -Não importa o que você ou Abe fizeram ou fazem, o que importa é que vocês sempre me amaram e se mostraram pessoas melhores ao meu lado, mostraram quem vocês realmente eram. Eu realmente não quero saber o que você fez de ruim ou ainda faz, não mesmo, e muito menos os tipo de negócios do meu pai. Vocês só precisam saber que independente de tudo, eu ainda amo vocês. Especialmente você, já que você é meu guardião-dhampir-mentiroso e eu não tenho escolha mesmo, eu tenho que aguentar essa sua cara feia de qualquer jeito. 

    Ele me deu um sorriso e me abraçou, depois ele foi me acompanhar até o meu dormitório e me deixou lá.

    O resto do dia foi bem tranquilo e eu já podia perceber que aquela seria a minha rotina: Acordar, treinar com Dimitri, ter aulas normais, depois práticas ou teóricas, estudar mais um pouco, treinar com Dimitri, ter aulas com o Stan e, por fim, conversar com os meus colegas e depois fazer qualquer coisa sozinha que não me levasse a loucura. 

    Eu ainda não tinha me esquecido dos meus planos, e eles estavam inclusos no meio dessa rotina. Ao longo do dia eu conversei com Lissa e vi que ela ainda estava um pouco abalada por causa do pesadelo, mas que já se recuperava. Ela tentava se distrair com as pessoas ao redor dela, e no tempo que nós passamos juntas eu fiz o meu máximo para distraí-la, depois Chris chegou e eu os deixei a sós. Não vou muito com a cara dele, e ele também não gosta de mim, mas fizemos uma trégua pela Lissa. Depois fui para as aulas dos dhampirs e eu agradeci por hoje só ser aula teórica. Eu tentei prestar o máximo de atenção e absorver tudo para aplicar nos treinos com Dimitri, mas teve uma hora que eu não aguentei e chamei Mason.

  -Mason... - Eu o cutuquei e ele se virou discretamente para mim -O quanto o meu sobrenome pesa aqui? - Eu falei baixo para que ninguém escutasse.

  -Sua mãe é uma guardiã muito respeitada e temida. Uma das melhores. O Hathaway te dá uma certa popularidade entre os dhampirs e morois, não que você precise dela, você por si só já chama bastante atenção. - Ele disse me olhando descaradamente.

    Eu não pude deixar de rir. Eu tinha consciência da minha beleza, sabia do efeito que eu causava nos garotos da minha idade, e acho que entre os garotos da academia não era diferente, principalmente entre os morois. Mason era bonito, ruivo dos olhos azuis e um pouco musculoso. Pelo pouco que conversamos eu percebi que éramos parecidos, o que irá fazer dele uma boa companhia quando eu não estiver com Lissa. Minha mãe me falou para ser cuidadosa com os garotos morois, na verdade ela disse que preferia que eu ficasse longe deles, mas ela não falou nada sobre garotos dhampirs, especialmente garotos como Mason. 

  -Agradeço o elogio, Mase. - Eu sorri e vi que o sorriso dele se alargou mais ainda - Mas eu não estou falando desse, estou falando do outro. 

  -Bem... - Ele ficou desconfortável - Eu não sei muita coisa, mas aqui dentro da academia ele não te dá credibilidade alguma, porém não digo o mesmo lá fora - Ele coçou a garganta claramente incomodado - Seu pai não chega a ser da realeza, mas é tão rico quanto eles. Ele é muito temido e tem certa influência em algumas partes do mundo moroi. E acho que é verdade, já que ele te escondeu de todo mundo durante toda a sua vida e agora você está aqui e ninguém pode saber que você é filha dele. 

  -Sim. - Eu continuei falando no mesmo tom que o dele - Eu descobri tudo há pouco tempo e realmente o motivo de eu estar aqui não é nada bom. Eu só quero saber se ninguém está te ameaçando ou te obrigando a alguma coisa, sabe...

    Eu realmente não queria saber se alguém estava ameaçando ele ou algo do tipo, eu só queria vê se ele sabia de algo útil, mas Mason não sabia de nada, e ele era o mais próximo que eu podia arrancar alguma coisa, tirando Dave. 

  -Ele não me obrigou, ele só pediu que eu me aproximasse de você como um bom amigo e que não deixasse você se meter em confusões. A parte da confusão ele deixou bem claro que já era uma guerra perdida. - Ele sorriu e eu olhei para baixo reprimindo uma gargalhada - Mas ele me ameaçou, ele disse que se eu tentasse alguma coisa com você ele iria me levar para caçar.

    Eu não pude deixar de gargalhar com a última frase dele, até porque ele realmente se mostrou receoso. 

  -Não se preocupe - Eu disse em tom de flerte - Eu não vou deixar o velhote fazer nada com você.

  -Você não me engana, Rose - Ele sorriu - Eu tenho um dossiê completo seu, vi que você quebra muitos corações. 

    O sinal tocou e por algum milagre o Stan não nos viu conversando, e se viu apenas nos ignorou, mas não os amigos de Mason, que ao saírem ficaram falando em alto e bom som que eu mal tinha chegado e eu já estava roubando ele para mim. 

  -Você não pode nos abandonar assim, ela é só uma garota. O que ela tem que nós não temos? - Eddie falava em tom de brincadeira. 

  -Você realmente quer que eu fale, Eddie? - Mason disse entrando na onda do amigo - Encontro vocês na sala de recreação. 

    Não escutei mais nada ao notar que um homem alto e com um sobretudo passou por nós, e ele estava apressado. Era Dimitri. Eu olhei para trás e vi ele passar entre os alunos, atraindo os olhares de alguns. Ele, apesar da sua altura, era majestoso andando, e aquele sobretudo ridículo dava-lhe um charme quase que letal. 

  -Dimitri é um Deus. - Mason falou tão hipnotizado quanto eu - Ele é considerado o guardião número um. 

  -Verdade. - Eddie disse com o mesmo tom de adoração de Mason - Eu mataria para que ele fosse o meu mentor. 

  -Ele tem seis molnija. - Mason disse se voltando para Eddie e eu fiz o mesmo.

  -Moln-quê? - Eu disse claramente confusa.

  -As marcas que todo guardião receber quando mata Strigois - Mason falou rápido e eu percebi que Eddie me olhava franzindo o cenho - Na turquia vocês dão outro nome? - Mason me olhou com um olhar de quem fala por favor, só segue a maré que eu te explico depois.

  -Ah... - Eu dei um tapinha na minha própria testa - Eu apenas não escutei direito. - Eu soltei um sorriso nervoso para Eddie. 

    As marcas que todo guardião recebe quando mata Strigois. Acho que isso explica aquelas tatuagens interessantes que a minha mãe tinha pelo pescoço que eu só vi duas vezes na vida e que eu achava que tinha sido resultado de alguma moda adolescente maluca da época dela. Uau, ela já matou vários Strigois.

  -Como ele é, Rose? - Eddie perguntava empolgado e me tirando do meu breve devaneio sobre essas tatuagens que eu já tinha esquecido como se chamavam.

  -Como é o quê? - Eu olhei para Mason alarmada pensando ser alguma outra coisa que eu não iria saber o que era.

  -Treinar com o Dimitri. - Mason respondeu - Eu mataria para que ele fosse meu mentor.

  -Verdade! O cara é um deus! - Eddie disse acompanhando Mason.

    Eu estava quase para contrariar todos eles e dizer que de deus aquele homem não tinha nada, que ele era o próprio capeta, mas desisti ao constatar que eu é quem era fraca e que talvez eles se sairiam bem em uma luta com Dimitri. Então me virando para eles, mais para Eddie porque provavelmente Mason sabia que eu não era capaz de dar uma descrição verdadeira, eu tentei soltar algumas palavras que convencessem eles.

  -Dimitri é sensacional! - Eu tentei soar empolgada que nem eles - Ele é bem rigoroso, mas ele realmente é tudo o que os outros dizem! 

    Eu esperei alguma resposta histérica deles, mas não veio, eles apenas olhavam para trás de mim completamente hipnotizados, eles nem sequer piscavam. Rapidamente eu me dei conta do que tanto os prendia, Dimitri estava atrás de mim e com certeza me ouviu falando sobre ele. Eu abaixei minha cabeça reprimindo a vontade de me xingar e olhei para os meninos e vi que eles já estavam recuperados e agora olhavam Dimitri apenas com admiração. 

  -Não fiquem muito tempo no corredor ou podem pegar detenção.- Ele disse neutro e sem demonstrar que ouviu alguma coisa, mas eu sei que ele ouviu.

    Eu me virei para ele e apenas assenti. Procurando sair daquela situação, eu me despedi deles e saí apressada, quando eu dobrei o corredor eu parei para checar Lissa e vê onde ela estava, ela estava com Christian então resolvi não atrapalhar e decidi ir atrás de David. Ele iria me ajudar a estudar a parte teórica de ataque e defesa básica. Sim, eu iria ler todos os livros e absorver o máximo deles e colocar em prática com aquele russo ridículo. Eu ia mostrar para ele quem era que não dava resultados. 

    Quando eu estava atravessando o campus, indo em direção próximo aos prédios dos morois, que era onde Dave estava fazendo sua ronda, eu parei instantaneamente e me senti ser arrastada para Lissa, era como se eu me apossasse do corpo dela e suas emoções. Ela estava bastante irritada, e uma moroi que parecia uma boneca de porcelana estava discutindo com ela, tinha a ver com Christian e algo relacionado a Strigois. A garota não poupava os gritos e isso estava atraindo platéia. Péssimo, muito péssimo. De repente eu estava no meu próprio corpo e alguém me sacudia.

  -Rose! Rose! Rose, você está bem? - Eu escutei a voz de Dimitri e pelo seu tom ele já estava ali há um bom tempo me chamado.

  -S-sim. - Eu disse tentando me recuperar dessa experiência e ignorar as mãos dele ao redor dos meus ombros.

  -Você estava no meio do campus parada e com os olhos sem foco! - Ele estava visivelmente preocupado - O que aconteceu? 

  -Eu estou bem, camarada. - Eu sorri e me distraí por breves segundos com os seus cabelos que esvoaçavam por causa do vento - Lissa é que não está. - Eu disse e saí correndo na direção de algum corredor onde ela estava.