História Outro Mundo - Elogios

    Segui pelo campus até entrar por um corredor e outro e finalmente chegar até onde Lissa estava. Suas emoções se contrastavam com as minhas. Raiva, medo, curiosidade e hesitação borbulhavam dentro de mim. Cheguei mais perto e pude analisar rapidamente a pessoa que dava um show as custas de Lissa. Era uma Moroi com aparência de boneca, loira com os cabelos modelados em belos cachos e olhos azuis brilhando em fúria, mas diferente dos outros morois, ela não era alta.

    A medida em que eu ia chegando, eu conseguia ouvir mais os gritos, eu empurrei facilmente um aglomerado de alunos que se formava ali, me coloquei em um ponto onde nenhuma das duas me viam e pude ouvir tudo com mais clareza.

  -Vocês dois, os renegados da realiza, andam por aí como se não ligassem para nada. - Seu tom de voz exalava veneno - Mas deixa eu te lembrar de uma coisa, princesa: Seu namorado é um Ozera. Não vai demorar muito para ele se transformar em Strigoi e te levar junto também, aí poderemos dar adeus ao clã Dragomir. - Ela sorriu cínica.

    Ouvir sobre a sua família, ou o pior, a extinção dela, fez acender em Lissa um misto de medo e raiva. Ignorando os sentimentos dela e indo em direção as duas, eu me coloquei na frente de Lissa e olhei para a menina me perguntando se ela tinha idade o suficiente para estar ao menos cursando o ensino médio. 

  -O show acabou. - Eu empurrei Lissa mais para trás de mim, mas agora ela tinha se posto ao meu lado - Eu não sei quem você é mas dê o fora daqui antes que eu esmurre a sua cara.

    A garota me olhou com fúria mas rapidamente assumiu sua postura arrogante e me encarou com um sorriso triunfante.

  -Você não pode me bater, dhampir. Você não sabe quem eu sou, mas eu posso fazer da sua vida um verdadeiro inferno! Você mal chegou e já anda no encalço da princesa. - Ela disse e sorriu ao observar a mim e a Lissa - Pretende ser a guardiã dela?

    Essa garota me lembrou as líderes de torcidas (Lê-se: Strippers em formação) da minha escola, e em um reflexo eu novamente empurrei Lissa para trás de mim, o que fez com que eu lembrasse das garotas do clube de matemática que eu defendia quando Kelly Moudley e sua gangue de vadias iam perturbar as pobres nerds. Também me dei conta que o modo como eu defendi Lissa e a coloquei atrás de mim era a formação básica de defesa com os morois.

    Procurei me concentrar na garota desconhecida, a olhei com o meu típico olhar ameaçador dos Mazur e disse em um tom tão calmo que soou psicopata demais até para mim.

  -Eu não vou te bater, ainda. - Eu sorri - Na primeira vez eu deixo um aviso e apenas bato na segunda. Se eu ver você perturbando a princesa mais uma vez, eu juro que faço questão de quebrar o seu nariz e você vai precisar de uma cirurgia de reconstituição nasal.

  -Quem você pensa que é? - Ela perguntou tentando manter a postura superior, mas foi perceptível o modo como suas feições mudaram por causa da ameaça, dando lugar ao medo.

  -Eu sou uma dhampir que não liga em bater em uma moroi - Eu respondi elevando minha voz o suficiente para os alunos que estavam ao nosso redor escutarem. Se ela pensa que vou ficar quieta só por causa dessas regras estúpidas entre morois e dhampirs ela está muito enganada.

     Eu olhei ao redor e vi Dimitri e David próximos o bastante para escutarem as minhas últimas ameaças, mas dane-se.

  -Algum problema aqui? - Dimitri falou com sua voz calma porém autoritária.

     Lissa ainda estava atrás de mim, e toda essa atenção estava deixando ela nervosa, mas ela ficou mais preocupada quando viu que eu realmente não estava brincando quando ameacei bater na garota. Eu estava blefando, eu não ia bater nela, por enquanto, mas Lissa não sabia disso. Eu senti ela me mandar pensamentos calmos e tranquilos, e isso era estranho. Não era compulsão, como ela me explicara na noite anterior, era mais um pare porque ela é vadia mas se você continuar a ferrada vai ser você. Eu senti a mão de Dave no meu ombro e me virei para ele, mas não sem antes perceber que todos os alunos já tinham ido embora, até a garota que estava perturbando Lissa não estava mais lá. Dimitri tinha despachado todos.

  -Rose, o que aconteceu? - Dave perguntou preocupado - Eu estava no meio de uma ronda quando o Belikov me manda um aviso pelo celular dizendo que você não estava bem, e que depois saiu correndo que nem um louca atrás da princesa.

  -Louca? - Eu perguntei um pouco irritada. Ele sabia que eu não gostava desses termos pelo tempo que eu passei tomando remédios de tarja preta.

  -Desculpe. - Ele passou as mãos pelos cabelos, mas um brilho passou pelos seus olhos e ele me olhou com pena, imediatamente eu percebi as intenções dele e tratei de escondê-las.

  -Conversamos depois. - Eu me virei para Lissa e a vi olhando para baixo, ela estava se sentindo culpada por toda aquela confusão - Lissa, você está bem? Quem era aquela garota e porque ela estava falando com você daquele jeito?  

  -Mia Rinaldi - Lissa respondeu quase como um sussurro - Os pais de Christian se transformaram em Strigois por vontade própria, desde então a família Ozera não é bem vista nos lugares, e aqui na escola eles insinuam que Christian vai se transformar em um Strigoi assim que tiver a chance.

    Eu franzi o cenho. Isso não tinha sentido, pelo que eu soube, para se transformar em um Strigoi, ou você tinha que ser despertado por um outro Strigoi ou você tinha que drenar o sangue de alguém até a morte. Mas não preferindo arriscar, eu me virei para Dave e Dimitri:

  -Isso é possível? - Eu fiz questão de deixar um tom confuso para que Lissa não entendesse errado.

  -Não - Dimitri respondeu - São apenas boatos maldosos de adolescentes. 

    Eu assenti.

  -Vamos, Lissa. - Eu peguei no ombro dela - Vamos sair daqui. 

    Nós passamos para uma parte mais calma e que quase não tinha alunos. Credo, St. Vladimir era enorme. Andávamos em silêncio uma ao lado da outra, com Dimitri e Dave atrás de nós mas não perto o bastante para ouvir alguma coisa, claro que se eles expandissem os sentidos dhampirs eles ouviriam. 

    Obrigada. 

    Eu ouvi ela dizer através do laço e me virei em sua direção, ela olhava para mim e eu apenas sorri.

  -Se ela te perturbar mais uma vez, será a última - Eu olhei para ela ainda com um sorriso - Eu sou de cumprir minhas ameaças. 

  -Lissa! - Ouvimos a voz de Christian e ele rapidamente nos alcançou - Você está bem? Eu ouvi os comentários pelos corredores. Eu não posso te deixar sozinha nem por míseros três segundos que aqueles nojentos já caem matando. - Ele disse em um tom irritado.

  -Eu tô bem, Chris. - Lissa sorriu na direção dele e ele ficou menos irritado - A Rose chegou e colocou a Mia no lugar dela, e ela não irá nos perturbar por um bom tempo.

    Christian olhou na minha direção e acenou minimamente com a cabeça em um claro sinal de agradecimento. Me certifiquei de que Lissa realmente estava bem, e após combinar de encontrá-la no jantar, eu os deixei. Eles precisavam conversar, eu sentia isso, até porque a discussão envolvia o passado de Christian. 

    Já afastados deles, eu, Dimitri e Dave estávamos caminhando sem rumo, pelo menos era o que eu pensava até os dois me arrastarem para um lugar completamente afastado.

  -Rose, - Começou Dave - Aqui é um lugar diferente da sua escola humana. Você não pode sair batendo nas pessoas, principalmente se essas pessoas forem morois.

  -Do jeito que você fala me faz parecer uma selvagem. - Eu revirei os olhos e olhei para Dimitri, que apenas me encarava de volta.

  -Eu não estou dizendo isso, mas o seu histórico realmente não é um dos melhores. Você com cinco anos já agredia seus professores jogando livros na cara deles. - Dave disse sério, mas logo em seguida sorriu - O que eu tô querendo dizer é que aqui você não pode agir desse modo. Aquela garota era um moroi, aqui você não agride os moroi, você protege eles. Entendeu? 

  -Eu não vou seguir nenhuma regra sobre isso. Se eu ver aquela garota perturbando a Lissa de novo, eu vou cumprir a minha ameaça! - Eu disse completamente irritada.

    Metade de toda a minha vontade de bater na Mia realmente era por Lissa, eu não gosto de ver alguém maltratando outra pessoa e principalmente alguém como Lissa, que mesmo conhecendo em tão pouco tempo eu já estava desenvolvendo um carinho enorme. Já a outra metade era por pura rebeldia, para eu quebrar o nariz dela e mostrar para todos que eu não dava a mínima para essas regras de guardiões de que nós não podíamos agredir um moroi.

    Quando Dave ia falar alguma coisa o seu celular tocou e ele fez um sinal para eu esperar, ele se afastou até ter certeza de que eu não escutaria nada. Percebendo que eu fiquei sozinha com Dimitri, eu me virei para ele e o encarei, procurando de algum modo descontar toda a minha raiva naquele russo.

  -E você? Por que você não fez nada a respeito daquela merda? A Lissa é a sua protegida! - Eu não disse alto, mas disse em um tom que demonstrasse que eu estava irritada. 

  -Eu não fiz nada porque você já estava fazendo. - Ele disse em um tom calmo e olhando fixamente para mim - São apenas fofocas de colegial.

  -Fofocas de colegial que a deixam completamente triste e irritada! - Eu o encarei, tendo que tombar minha cabeça para trás por causa da sua altura. Por que tão alto, senhor? 

  -Rose, nós devemos ter auto controle sob as nossas ações futuras. Você deve pensar antes de agir. Talvez você ache que ameaçar a Srta Rinaldi tenha sido o melhor modo de manter ela longe da princesa, mas não foi, e você terá que arcar com as consequências disso. - Ele disse me encarando com aqueles olhos cor de chocolate e com um calma incrível. 

    Eu bufei irritada e não o respondi. Ele soava como um velho falando, um ancião na verdade. Será que todos os guardiões formados agiam dessa maneira e davam lições zen?

  -Você fala isso porque não é você quem descobriu que é uma filhote de vampiro, tem uma ligação maluca com uma princesa moroi e agora se sente numa droga de um filme baseado nos livros da Stephenie Meyer. Me diz aí, lobisomens também existem? Porque se existirem, vamos logo pular para a parte onde eu conheço o meu Jacob Black. - Eu nunca gostei do idiota do Edward mesmo.

  -Filhote? Lobisomens? - Ele franziu o cenho demonstrando estar confuso - Não, eles não existem. Você não é uma filhote, nós não usamos esses termos, ninguém aqui é um animal. E quem é Stephenie Meyer?

  -É uma escritora que minha amiga é fã. - Eu disse sorrindo ao lembrar de Cassie, e me calei ao constatar que eu já sentia sua falta.

    Me permiti divagar ao imaginar qual seria sua reação ao descobrir que eu, a sua melhor amiga, era uma meia vampira e estava em uma escola onde só tinha vampiros, ela com certeza iria surtar. Eu suspirei e me voltei para Dimitri, que me observava atentamente, como se escolhesse suas próximas palavras. Era noite e estava bastante frio, e eu não senti as consequências da mudança de horário ontem, mas eu estava sentindo agora, minhas horas de sono estavam completamente bagunçadas, era como se o meu corpo soubesse que era de madrugada e que deveríamos estar dormindo. Eu estava com sono mas ainda estávamos na metade do dia. Eu bocejei e olhei novamente para Dimitri, Dave estava demorando.

  -Eu sei que não é fácil para você, mas lembre-se que não é para sempre. - Ele disse neutro - Enquanto isso, aja como um dhampir qualquer e não saia por aí ameaçando morois.

  -Vai dizer que você nunca bateu em um moroi? - Eu perguntei debochada e ele mudou suas feições.

     Seu rosto antes neutro e livre de qualquer emoção, me encarou por breves instantes e eu o vi vacilar, significando que ele já agrediu um moroi. Eu semicerrei meus olhos na sua direção e pensei em tirar proveito desse fato recém descoberto, mas achei melhor não. Sem saber onde eu estava pisando, eu resolvi mudar de assunto.

  -Você é mesmo esse deus todo que os meninos disseram? - Eu perguntei como quem não quer nada.

  -Eu não sou um deus, sou apenas um guardião que cumpre bem o seu dever. - Ele disse calmo. 

  -Você bem que poderia me mostrar alguma coisa. você sabe... - Eu cruzei meus braços e por um momento me senti constrangida, mas camuflando isso eu continuei  - Eu não posso sair por aí dizendo que você é sensacional sem realmente você ter me dado provas disso. - Eu murmurei e percebi que ele me encarava, e internamente me repreendi porque isso saiu com duplo sentido.

  -Então não diga isso de mim por aí. - Ele disse seco e foi embora.

     Ótimo! O que eu fiz para irritar ele? 

    Eu me virei para trás ao sentir a presença de alguém e respirei aliviada quando eu vi que era Dave. Ele ainda tinha aquele olhar de quem ia me dar um puta sermão.

  -Olha, não precisa me dar um sermão, ok? Eu já entendi que eu não posso encostar em um fio de cabelo moroi nessa merda de lugar. Dimitri já me deu uma lição zen. - Eu disse começando a andar.

  -Lição zen? - Ele perguntou divertido.

  -O cara age como um velho! - Eu disse deixando escapar um tom de indignação - Todos os guardiões são assim?

  -Não. - Ele disse tranquilo - Ele deve agir assim porque ele é o seu mentor. Ele só é muito reservado e não é muito de conversar.

  -Antissocial!! - Eu cantarolei. 

                                                                                -x-

    A semana passou rápido depois disso, até porque eu iniciei meus estudos no meio dela, e por incrível que pareça, a minha primeira semana em uma escola de vampiros não foi tão ruim assim. Depois da discussão com a Mia, ela realmente nos deixou em paz, mas algo no seu olhar dizia que não ia demorar muito para que ela voltasse a nos perturbar. Eu não fui mais arrastada para a cabeça de Lissa, mas sentia o laço se fortalecendo aos poucos e eu acho que estava meio que conseguindo descobrir um jeito de bloquear as emoções dela, somente as sentindo quando eu me permitia expandir minha mente. Ela era uma boa companhia, admito, e graças a deus nós estávamos nos dando super bem para o desgosto de Christian, que ainda me lançava olhares raivosos quando percebia que Lissa dava mais atenção para mim do que para ele. Não posso deixar de fora também as farpas que começamos a trocar, e da vez em que ele ameaçou tacar fogo no meu dever, já que a sua especialização era fogo. Lissa era a única que ainda não tinha declarado magia, mas isso viria com o tempo, segundo o que me disseram.

    Meus treinos com Dimitri e Dave ainda estavam me matando, mas as dores chegaram em um nível onde não poderiam ficar piores, então acho que isso já é um bom começo, só falta se acostumar com elas agora. Dave dividia seu tempo entre ficar comigo e fazer suas rondas pela escola, e pelo que eu pude perceber, dar as suas escapadinhas com a Srta Geler. Dimitri e eu não tocamos mais no assunto de agredir morois e ele também não me mostrou que era sensacional, o que me deixou desapontada. 

    Como era fim de semana, e eu tinha explicado para Mason e Lissa que eu não tinha intenções de comparecer à missa no domingo de manhã, ou noite, eu me permiti viver no meu horário, no horário humano. No sábado, assim que Dimitri e eu encerramos o treino, eu corri para o meu quarto, me tranquei lá e passei boa parte do resto da noite atualizando algumas séries, já que eu consegui descobrir que a escola não arranjou meios de bloquear sites piratas.

    Depois de uma maratona de sete episódios, eu olhei no relógio e vi que era duas horas da tarde. Se eu tivesse na minha casa, essa seria a hora em que eu iria dar o ar da graça para Dave e arrastá-lo para a praia, mas como eu não estava em casa e não fazia a mínima ideia de onde Dave estava, e minha barriga estava roncando, eu apenas vesti uma calça e um casaco e desci para a cozinha do meu dormitório para ver se tinha alguma comida decente. Bem, eu não podia ficar vagando por aí depois do toque de recolher, era proibido, mas eu tinha passe livre por ali. Depois de constatar que não tinha nada de decente para comer ali, eu peguei apenas umas frutas e biscoitos e voltei para o meu quarto. Decidida a encontrar Dave, eu novamente saí do meu dormitório e tentei fugir do inspetor que ficava na entrada do nosso prédio, o que deu certo já que ele estava dormindo em uma cadeira. Andei pelos cantos do pátio, para que nenhuma câmera ou guardião me visse, e tentei ir para a parte onde Dimitri e Dave me arrastaram para conversar comigo. Lá era calmo e totalmente livre de pessoas. Achei que seria um bom tempo para pensar e aproveitar os raios de sol que penetravam na minha pele depois de dias, mas claro, sempre acompanhados de um vento frio, o que dava uma sensação boa.

     Amarrei meus cabelos em um coque e continuei andando, mas a figura de um certo asiático de araque me fez parar.

  -Rose, o que você está fazendo aqui? Você deveria estar dormindo! - Ele disse me repreendendo.

  -Hoje é domingo, Dave, e eu vou seguir meu horário humano. - Eu disse e bocejei de sono - Mesmo meu corpo já se acostumando ao horário vampírico.

    Ele balançou a cabeça e começou a andar junto comigo, nós estávamos indo mesmo para a parte onde eu planejei fugir temporariamente para pensar sobre tudo. Seguimos em um silêncio confortável, mas quando estávamos chegando perto, ele tocou em um assunto que eu percebi que ele queria falar desde do acontecimento com Mia.

  -Você está bem? - Ele perguntou em um tom cauteloso - Nós não sabemos o que esse laço pode fazer com você, e se vermos que está te deixando mal nós podemos conseguir com que você volte a tomar os remédios.

  -Não! - Eu disse assustada - Eu não quero voltar a tomar remédios! Eu não sou louca, Dave. Você sabe o quanto tá sendo difícil para mim descobrir tudo isso e olhar para trás e realmente ver que eu não era louca? Que vocês fizeram eu acreditar nisso somente porque queriam me manter oculta dessa droga de mundo de vampiros! Eu não vou voltar a tomar remédios controlados - Eu disse completamente irritada - Você sabe o que aconteceu da última vez em que eu tomei eles. E outra, os remédios não vão adiantar agora, eu estou perto de Lissa, será inútil. - Eu disse em um tom mais calmo, mas que ainda demonstrava que eu estava nervosa. Eu realmente não quero voltar a ser dependente de remédios de tarja preta.

  -Tudo bem, Rose - Dave disse em um tom calmo e me abraçou - Sem remédios então. 

    Nós nos sentamos em baixo de uma árvore e ficamos lá durante um bom tempo apreciando o sol. Dave me deu notícias do meu pai e me falou um pouco sobre a minha situação, nada de relevante foi descoberto e o conselho de guardiões da corte iria entrar em ação em breve. 

  -Ei, eu tenho uma coisa aqui. - Ele disse enquanto tirava uma barra de chocolate do seu casaco.

  -Eu não acredito! - Meu rosto se iluminou - E é da minha marca preferida! - Eu avancei em cima dele e peguei a barra.

  -Não coma tudo de uma vez. - Ele riu.

    Depois de comermos toda a barra de chocolate, passamos mais algum tempo conversando besteiras e algumas coisas de vampiros. Não demorou muito e eu adormeci deitada no chão com a cabeça no colo de Dave. Eu realmente estava cansada, não tinha dormido nada e os treinos com Dimitri junto com as aulas práticas só facilitavam meu cansaço. Quando eu já estava em um estágio de sono onde eu me encontrava sonhando com a praia de Malibu, eu escuto a voz de Dave me trazer de volta aos poucos.

  -Eu não tenho rondas hoje, por isso tô com essa baixinha aqui. E você, já acabou seu plantão? 

    Eu queria que Dave calasse a boca, eu estava cansada e a voz dele estava me despertando. Eu novamente tentei ignorar tudo a minha volta mas uma voz com sotaque me despertou, fazendo com que eu me mexesse e Dave acariciasse meus cabelos, quase fazendo com que eu voltasse a dormir, se não fosse pela voz de Dimitri.

  -Meu turno acabou há três minutos. - Ele disse calmo, e até relaxado? - Rose está se saindo bem, considerando as circunstâncias como ela foi trazida. 

    Escutar ele me elogiando fez acender uma pequena alegria dentro de mim. Ele nunca me elogiava, na verdade o que ele mais fazia nos nossos treinos era me corrigir, mas também ele me corrigia somente uma vez. Ver, ou melhor, escutar ele me elogiando fez meu coração bater mais forte, e eu achei isso estranho. 

  -Sim, - Dave concordou - Tirando o incidente com Mia, ela está se saindo bem socialmente e a relação dela com a princesa está evoluindo bem, bem até demais para quem se conhece a menos de uma semana. 

  -Acho que o laço ajuda nessa questão - Dimitri comentou - Vocês estavam certos sobre ela, ela realmente tem potencial.

    Espera... Ele disse que eu tenho potencial? Oh meu deus! Eu com certeza ganhei meu dia! Dois elogios de Dimitri em menos de um minuto. Meu coração começou a bater mais rápido, e eu vi que mostrar para ele que eu podia dar resultados era o certo a se fazer, e eu continuaria a mostrar, principalmente depois de um elogio desses. 

  -Sim, eu acho que ela seria uma ótima guardiã. - Dave disse com certo receio na voz - Ela é muito protetora com todos. Ela não tem medo de se jogar na frente de qualquer coisa para defender aqueles que ela acha que precisam da proteção dela, e isso, Belikov, é o que todo guardião deve ter na mente. - Dave falou com certa admiração, e ainda continuava a acariciar meus cabelos, ato que impedia que eu despertasse completamente. 

  -Eu percebi isso quando nós fomos buscar ela na casa daquele rapaz. O modo como ela me considerou uma ameaça e se colocou na frente dele realmente me lembrou um guardião protegendo seu moroi. 

  -Ela vai proteger as pessoas por outros meios. - Dave disse com a voz neutra - Ela pretende fazer diteiro em Harvard.

    Dimitri demorou um pouco para responder, e isso já estava me deixando inquieta, eu queria que ele falasse alguma coisa, queria que ele me elogiasse novamente. Quando sua voz veio, ela veio em um tom neutro, diferente da voz relaxada de alguns segundos atrás.

  -Se ela realmente escolhesse a carreira de guardiã, ela seria uma das melhores.

    Depois disso sua voz sumiu, e de algum modo eu sabia que ele não estava mais lá, eu não sentia mais a sua presença que sempre me deixava inquieta. O silêncio reinava, e se eu não tivesse dormindo no colo de Dave, eu diria que nem ele estava mais lá. Eu deixei me levar pelo sono e apaguei completamente. Acordei, já na minha cama, somente perto do horário do almoço, e me perguntei se aquela voz com sotaque russo me elogiando foi real mesmo, e o pior, por que eu tinha ficado tão feliz com aquilo, até mais do que deveria.