História Pais por Acaso - Dezenove.

Antes eu só queria minha vida antiga de volta, hoje em dia, eu quero as crianças de volta. Uma semana passa mais lentamente quando você não tem preocupações, quando sua vida só se resume a cuidar de um neném que fica quieto o tempo todo. 

Não reclamo de Hyungwon, mas eu via o quanto ele estava sofrendo. A todo momento ele me perguntava sobre os irmãos e eu tinha de dizer que eles estavam bem. E isso me deixava mal, parecia que eu era uma criança que tinha descoberto que papai noel não existe. Não contem pro Hyungwon que ele não existe pelo amor de Deus. 

A casa parecia tão vazia que eu tinha vontade de ir buscar os meninos e trazer a alegria de volta pra essa casa. Mas como não posso, eu só aceito e choro no banho. Já fazia uma semana e faltava apenas uma para o julgamento, e nesse tempo todo eu percebi que precisava dos meninos assim como eles precisavam de mim. 

E numa bela manhã de segunda-feria, eu resolvi que animaria a mim e a Hyungwon. Depois que Hyunwoo foi para a faculdade e a vovó Lee foi saiu com uma amiga, deixei Hyungwon escolher sua roupa favorita e então saímos em direção ao centro da cidade. 

Enquanto caminhávamos, Hyungwon olhava para suas pantufas de patinho e dava risada ao vê-los chacoalhar com seu andar. Eu quero uma pantufa de patinho.  

— Aonde vamos, Minuki? — Ele perguntou. 

— Nós vamos fazer umas compras. — Indiquei a ele o shopping um pouco longe dali. 

— O que vamos comprar? — Ele ficou curioso. 

— Você gosta de que tipo de roupa? — Eu perguntei em resposta. 

Quando chegamos ao shopping, fui direto a uma loja de roupas. Eu não havia esquecido daquele pedido importante. Fui até a sessão de roupas femininas e pedi para Hyungwon me ajudar a escolher uma peça. Eram tantas opções que eu me sentia perdido. Deus do céu, desde quando existem tantas cores nesse mundo? 

— Minuki. — Ele me chamou e mostrou a saia cor de rosa no estilo colegial. 

— Se um dia você quiser virar consultor de moda, eu vou te apoiar sempre. — Eu sorri. 

— É pra quem essa saia? — Ele perguntou. 

— Para o Changkyun. — Disse a ele. 

— Mas saias são para meninas, Chang é um menino. — Ele disse todo confuso. 

— Sim, ele é, mas isso não o impede de usar saias. — Expliquei. 

— Eu posso ter uma saia? — Ele perguntou olhando para as peças penduradas. 

— Se você quiser. — Sorri. — Pode escolher. 

— Eu gostei daquela. — Ele apontou a saia com desenhos de gatinho. 

— Você quer que eu compre ela? — Perguntei pegando a saia e entregando a ele. 

— Hm... — Olhou para a saia e então para algo atrás de mim. — Olha, Minuki!  

Pantufas.  

Conclusão: sai da loja com uma saia cor de rosa, uma saia de gatinhos, uma pantufa de ovelhinha e uma pantufa de porquinho.  

Meta de ter uma pantufa de animal completada com sucesso. 

Depois de sairmos do shopping, caminhamos mais um pouco pelas ruas. Hyungwon dizia o tempo todo que Changkyun iria amar a saia e que ele usaria a sua de gatinhos para o irmão não se sentir mal em ser um menino usando saias. Mais amorzinho do que Hyungwon? Impossível. 

Enquanto eu ouvia Hyungwon cantar pela centésima vez Why Not, do Bulldok, eu tentava acalmar minha ansiedade para o dia do julgamento. Meu medo de perder os meninos me atormenta o dia todo, desde a hora que eu acordo até a hora que adormeço, e de brinde eu sonho com isso. E o pior, os meninos iriam ficar com ela, e quanto a Hyungwon? Ele viveria sem os irmãos? 

— Ey oh ey oh, b-u-l-l-d-o-k girl! — Hyungwon balançava nossas mãos cantando. 

— Quem é que esta te mostrando esses grupos, hein? — Perguntei rindo. 

— Vovó Lee disse que esse grupo era legal. — Ele respondeu. 

— E você aprende a cantar as músicas todas em menos de um dia. — Eu balancei a cabeça rindo. 

— Ey oh, ey oh. — Ele nem deu bola, continuando a cantar. 

Continuamos a caminhar pelas ruas, eu queria muito chegar em casa para descansar, mas quando passamos pelo parquinho a caminho de casa, Hyungwon quis brincar um pouco. Sentei-me em um banco debaixo das árvores altas e então o pequenininho me entregou as pantufinhas, correndo desajeitado até o balanço. 

Você tem noção de que essas pantufas são pequeninhas? Eu morro de amores. 

Enquanto eu prestava atenção em Hyungwon brincando, para que ele não se machucasse ou algo do tipo, meus pensamentos voltaram a me atormentar, mas não eram sobre os meninos. Eram sobre Hyunwoo. Olhei para a fita amarela em meu pulso e sorri fraco, lembrando-me da primeira vez que nos vimos. 

Eu jurava que tinha esquecido algo em casa, porque pessoa mais avoada que eu, não existe. Olhei minha mochila pela milésima vez em menos de quinze minutos e tentei focar na paisagem que passava pela janela de fora do ônibus. Eu ouvia as pessoas conversando e me sentia mal por não ter ninguém ao meu lado. Todos tinham entrado no ônibus e nem ligaram para a minha presença.  

Mas como se fosse porque eu tivesse pensado nisso que um estranho sorriu e pediu para se sentar ao meu lado. Puxei meu corpo para mais perto do lado da janela e o mesmo se sentou, colocando a mochila sobre o colo. 

— Sou Son Hyunwoo. — Ele sorriu, fazendo seus olhos se tornarem dois risquinhos. 

— Lee Minhyuk. — Retribui o sorriso. 

— Camisa legal. — Ele comentou. 

Minha camiseta era uma blusa estilo social, com vários desenhos de tênis e bolinhas pretas. Presente de aniversário da minha mãe, e com certeza era uma das minhas roupas favoritas. 

— Valeu. — Respondi sentindo minhas bochechas queimarem. 

E acabamos por ficar nesse silêncio pelo resto da viagem. Assim que chegamos a faculdade, ele desceu primeiro, e eu esperei algumas pessoas irem na minha frente para então entrar na fila para sair do veículo. Sai andando em direção ao motorista, que tirava as malas dos alunos do ônibus, e depois de pegar a minha, caminhei para dentro da faculdade, já sabendo onde tinha de ir para buscar o número de meu quarto nos dormitórios. 

Quando abri a porta do quarto, meu coração pareceu entrar numa escola de samba. Era ele. O menino que se sentou ao meu lado no ônibus, que elogiou minha camiseta, o que eu achei que nunca mais veria na minha vida. Mas a vida adora pregar peças. 

— Parece que seremos colegas de quarto. — Sorriu. 

— Vai ser um longo ano. — Comentei baixo, somente para mim. 

E assim começamos nossa amizade, primeiro conversando coisas idiotas, pois no começo nós dois erámos muito tímidos. Depois, passamos a almoçar juntos, trocamos músicas favoritas, começamos a andar juntos, estudarmos. Lembro-me até hoje que todas as noites de chuva forte, ele deixava-me dormir com ele, mas sempre com uma distância considerável, ou então de costas um para o outro.  

E hoje em dia, dormimos de conchinha. E hoje em dia, namoramos. Foi tudo tão de repente, sem explicação, sem querer. Uma amizade de dois anos que em menos de uma semana evoluiu para um namoro. O cara que sentou ao meu lado no ônibus se tornou uma das pessoas mais importantes da minha vida. E sem ele, com certeza, eu não conseguiria aguentar essa barra de ser pai de cinco crianças. 

Poético. 

Hyungwon corria pelo parquinho, escorregando no escorregador, tentando balançar no balanço, e quando cansou, veio até mim ofegante, sorrindo. Calçou as pantufas e então nos colocamos a caminho de casa novamente. No meio do caminho, acabei o pegando no colo, pois o mesmo parecia cansado, e outra, eu tenho que aproveitar enquanto ele ainda é pequeninho para leva-lo no colo. 

Enquanto andava pela rua, eu percebia os olhares das pessoas sob mim. Alguns sorriam, outros olhavam com indiferença, e algumas pessoas pareciam ver uma assombração. E nem eu sei o porquê disso. Assim que coloquei o pé para dentro do portão, quase desmaiei ali mesmo. Não pode ser. 

Acordei Hyungwon chacoalhando-o todo como se fosse um ursinho de pelúcia e apontei para o gramado. E o menino coçou os olhinhos com sono, descendo do meu colo. 

— Bolinha! — Ele gritou e saiu andando até a bola de pelos. 

Esse gato deve ter ido pro inferno tirar umas férias e acabou de brotar de algum canto desse quintal. 

Entramos dentro de casa e Hyungwon correu logo para dar comida ao gatinho. Adeus atenção do Hyungwon, adeus amor, adeus tudo. Maldito seja esse gato. Deixei as coisas no sofá e fui atrás de meu notebook para resolver alguns trabalhos da faculdade. Assim que peguei meu notebook, esbarrei numa jaqueta de Hyunwoo que estava pendurada, e ouvi algo cair no chão. 

Era como se eu estivesse vendo um tesouro, e era quase isso. Uma caixinha vermelha. Abaixei-me e sentei no chão mesmo, abrindo-a. Tive de tapar minha boca com minha mão para não soltar um grito. Alianças. Duas alianças douradas e brilhantes.  

Hyunwoo vai me pedir em namoro com alianças? Ou em casamento? Deus não brinca comigo não, eu sou cardíaco, o coração é fraco. Eu estou me tremendo todo? Ou seria mal de Parkinson?  

Guardei a caixinha novamente e desci até a cozinha, encontrando Hyungwon sentado ao lado do gatinho, observando-o comer. Me acomodei na cadeira do balcão e abri o notebook, tentando me concentrar no que tinha de fazer, e também tentando esquecer da caixinha que eu havia descoberto. 

Hyunwoo, esconda as coisas melhor da próxima vez. 

Quando Hyunwoo entrou pela porta da sala com o sorriso de orelha a orelha, eu quis logo soltar um “Que alianças são aquelas? Você vai me pedir em casamento ou eu estou sando traído?”. Desse jeito mesmo, eu sou inseguro, fazer o que. Mas tudo o que eu fiz foi lhe dar um selinho rápido e mostrar a pantufa de porquinho que eu havia comprado. Também mostrei o pacote de presente, onde estava a saia de Changkyun, e o mesmo sorriu largo. 

— Você é um ótimo appa. — Ele beijou minha testa. 

— Você também é. — Eu disse sorrindo. 

— Appa! Appa! — Hyungwon chegou correndo com o gatinho no colo. — O Bolinha voltou! 

— Mas olha só! — Ele se abaixou, ficando da altura do Hyungwon. — Onde é que você se meteu, hein, danadinho? 

— Appa, eu sabia que ele ia voltar. — Hyungwon sorriu. — Minuki-appa disse que ele ia voltar. 

— O appa Minhyuk nunca mente. — Hyunwoo sorriu para mim. 

— Minuki é o melhor appa do mundo. — Hyungwon continuou enquanto eu me derretia todo. — E você também Souiu, é o melhor appa do mundo. 

— Que que deu em você, baixinho? — Hyunwoo sorriu. — Tá elogiando a gente demais. 

— Eu amo vocês, e vovó Lee disse que quando nós amamos, temos de demostrar... — Ele fez um biquinho. — Demorar... Demonstro... 

— Demonstrar? — Hyunwoo perguntou. 

— Sim! — Hyungwon assentiu e sorriu. 

— Vovó Lee está certa. — Baguncei o cabelo de Hyungwon. 

E assim o pequenininho rumou escada acima, brincando com o gatinho. Olhei para Hyunwoo sorrindo, me segurando para não perguntar sobre as alianças, e então ele envolveu minha cintura em seus braços, puxando-me para um beijo calmo e sem segundas intensões. 

Um beijo que transmitiu tudo o que sentíamos um pelo outro, mas não conseguíamos dizer. Um beijo longo e calmo, com os corpos colados, causando-me arrepios tão intensos quanto os toques do mesmo. Permiti-me arranhar levemente sua nuca, sentindo-o sorrir entre o beijo. Separamo-nos sem nos afastar, colando nossas testas e fazendo nossos narizes roçarem entre si singelamente. 

— Eu amo você. — Ele sussurrou, como se quisesse que só eu ouvisse. 

— Eu amo você também. — Respondi depositando um selo rápido em seus lábios. 

E como se os deuses não gostassem do amor, nosso clima fora quebrado pelo toque do celular de Hyunwoo. Bufei e o mesmo atendeu, olhando-me com uma cara de espanto. 

— Como assim as crianças sumiram? — Ele perguntou. 

E eu desmaiei. 

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