"Eu não tenho tanto medo assim da morte, pois só morrerei de verdade quando todos me esquecerem"
Eu não me lembro de ler nos livros e em histórias da internet que isso seria tão doloroso, e que eu sentiria tudo tão sobriamente.
A água fria envolvia meu corpo igual a um pedaço de seda vermelha que desliza seduzidamente por um corpo impuro. O ar me escapava como todas as oportunidades que deslizavam por minhas mãos quando eu tentava pega-las e ser alguém.
O gosto doce pelo menos fazia aquele momento ser agradável, mas, bom, a cada milésimo aquilo se tornava naturalmente sádico, a natureza zombava da minha escolha que nem as outras pessoas me zombavam.
Aquilo era uma arte em forma de liberdade que eu concluía.
Se alguém fotografasse ou retratasse isso em forma de pintura, séria melhor que "O Suicídio mais Belo"- daquela moça de New York que também se perguntou comigo "Será que a vida ainda é sádicamente bela nos últimos segundos?"
Nós duas temos nossas respostas.
Eu poderia poetizar a dor, os sentimentos e os efeitos que isso está me trazendo, mas, infelizmente meu subconsciente eu, lembre-se que ainda temos muitas memórias para recordarmos.
Me lembro de como minha mãe não gosta de cortinas azuis. De como meu melhor amigo acha águias incríveis. Sem contar de como uma conhecida minha não gosta da cor verdea, mas fica belíssima usando um vestido de tal cor.
Não posso me esquecer de como sorvete de manga com creme é bom. De como foi incrível o dia aonde eu e meus amigos aceleramos o carro loucamente pela aquela avenida enquanto ouviamos alguma música que tocava na rádio.
Droga, esqueci do jantar com aquela garota desconhecida. De ser astronauta pois era sonho do meu pai, ou do curso de gastronomia que eu fiz e abandonei duas semanas depois pois meu primo achava legal.
Me lembro também da vez que cai de um cavalo. Do dia que quase fui atropelado. Sem contar daquele dia pescando com meu pai.
Vivi muito mesmo não vivendo. Meus sonhos são grandes e eu pequeno. Estou me arrependendo, quero voltar para viver mais e te dizer como eu te amo. Estou sentindo a culpa me corroer, pelo menos na parte aonde a água ainda não invadiu.
Estou esquecendo das coisas, só consigo pensar nessa fria, doce, sádica água que invade minhas narinas, apagas minhas memórias e para meus movimentos.
Só consigo pensar em quanto odiei e amei. Por quanta tristeza passei, ou de como eu tinha medo de ser esquecido.
Meus segundos estão contados, meus segredos estão sendo esquecidos. Minhas memórias apagadas, meus sonhos não fazem mais sentido.
Eu estou com medo, estou perdido, estou me desmanchando em arrependimento enquanto meus olhos fecham em escuridão.
Será que valeu a pena tudo isso? Ou meu suicídio foi apenas mais um desperdício?
E assim eu morri, me arrependi, e sinto muito por nunca poder voltar, mas pelo menos demorará para eu ser esquecido.
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