História Palhaço - Butterfly

- E ele veio e me contou tudo, e só agora eu percebi que não tinha perguntando nada – eu estava conversando com Jung Kook horas mais tarde e já espalhando a história.

- Paciência... – ele estava mexendo na sua bancada e pegou seu caderno de desenho para fazer alguma coisa.

- Não dou um mês e eles já brigaram.

- E você acha que eles vão ficar juntos? – ele levantou a vista até a mim.

- Por que não?

- Eles são clichê do magoado com o pegador, isso vai demorar eras pra acontecer.

- Não tinha visto isso por esse ângulo.

- Aliás Taehyung tinha me falado de que tinha levado uma multa, estranhei porque não me contou a história toda.

- Nunca vou entender os dois, eu vou estudar, isso vai mudar muita coisa pra mim.

- Eu apoio sua decisão, deixa eles lá.

- Mas e você, já teve assédio dos fãs?

- Não – ele riu – mas os professores elogiaram bastante.

- Alguns colegas meus falaram comigo, quem realmente se interessou em ler o roteiro da apresentação, já que eu não apareci.

- Você quis assim.

- Eu sei, eu sei, não estou pronto ainda.

- E quando você vai ficar? As coisas não esperam por muito tempo.

- Não sei, nunca me senti tão medroso quanto agora.

- Porque você está saindo da sua zona de conforto.

Cada vez eu me sentia como se estivesse sendo encurralado na ponta de um abismo, as outras pessoas pareciam me rotular a todo momento e eu nem imaginava o que iria passar, onde minha mente me levaria, mas incrivelmente Jung Kook estava ali, nem que como coadjuvante no motivo, mesmo assim ele tentava não achar isso afetável ou me fazer não achar.

Todos aqueles comentários desrespeitosos em relação a sexualidade que os parentes falam, todo um costume, o medo de decepcionar, sempre falando mais alto que minha vontade, que meu coração, ninguém esperava de mim todo esse drama. E ainda tinha muito pra acontecer pra isso só piorar.

Dando um fim a esse momento de tristeza, voltemos ao que estava acontecendo, eu olhando para a cara de Jung Kook fazendo careta enquanto via algo no celular, e do nada dormiu. Continuei acordado até a umas duas horas da manhã quando numa piscada de olho as pálpebras pesaram mais. 

 A semana foi não surpreendentemente chata, só segurei vela umas três vezes, sentia saudades quando Hoseok não se relacionava com humanos. Ele chamou para ir numa casa de praia da família dele junto com uns amigos, o tempo não estava necessariamente bom pra isso, mas era o único jeito de ele participar de uma festa. E lá fomos nós na sexta-feira para a tal casa, fomos eu, ele, Jung Kook e Taehyung no carro do mais novo e o resto iria em outros carros. 

Foi nesse momento que eu me toquei que a família dele era meio rica, ele não fazia questão de ostentar nada, o que achava bom e confortável já estava ótimo. Tinha dois quartos para os garotos e dois para as garotas, na verdade eram duas camas a cada cômodo, e o resto teria de deitar no chão com um colchão. 

Chegamos a casa durante a noite, o que deixava meio sombrio, mas não demorou pra acharmos onde ligava a energia. Só foi o tempo de arrumar as camas e todos foram dormir, eu fiquei na cama e o resto do meu grupo no chão por motivos de forrar a cama mais rápido e deitar logo.

Pela manhã todos se dividiram em tarefas, uns limpavam, outros preparavam as bebidas e comidas e o resto ia comprar o que faltava e montar o espaço. Eu fui comprar com Hoseok e mais uma colega. Ele parecia animado, isso era bom, não iria passar a folga reclamando de algo. Demorou até conseguimos chegar num mercado, primeiro tínhamos que andar uma boa parte do caminho com o carro e até ao centro daquela cidade. Depois de checarmos se havia esquecido algo fizemos todo o caminho cansativo e quando adentramos a casa boa parte do trabalho já estava feito, inclusive Jung Kook mexia nos fios do som.

- Vocês brigaram? – Hoseok disse ao perceber que eu estava encarando o mais novo.

- Não, esses dias não conversamos muito – eu disse e Hoseok saiu sem saber se eu continuaria a falar algo, explicando, afinal nós dois tínhamos uma sacola pesada na mão.

- Trouxe sorvete? – Taehyung puxou a sacola da minha mão para procurar.

- Trouxe, é pra mais tarde. Alguém esconde isso dele, por favor gente – eu disse.

- Jimin vem aqui – a colega que nos acompanhou me chamou enquanto estava calculando quanto ficaria para cada um pagar.

Aos poucos uns terminavam as tarefas e iam se arrumar, alguns até demais, todos iam ficam na casa com as mesmas pessoas, eu realmente não entendi, eu vesti um casaco de moletom, uma calça jeans mesmo e meu tênis que usei para ir pra lá por causa do frio. Assim que sai do quarto começou a tocar uma música, a sala de estar era bem espaçosa, então tiramos a mesa dali e montamos tudo. Só que eu não estava tão animado assim, então todo mundo estava dançando e eu estava no canto comendo algumas coisas.

- Você nem liga mais pra ida de Cindy e ainda anda com essa cara emburrada, Hoseok daqui a pouco vem te beliscar – Jung Kook apareceu repentinamente atrás de mim, já ele parecia muito animado, mesmo com um estilo, como vocês dizem, gótico rockeiro, aposto que dois dias depois ele estaria usando roupas rosa ou azul bebê.

- Oi Jung Kook – eu falei e fui em direção ao bar preparar algo e ele me seguiu.

- Desculpe não ter conversando muito esses dias, teve uns trabalhos de ultima hora e não deu tempo para nada – ele disse enquanto eu sem olhar no rosto dele ia juntando as coisas para fazer a bebida.

- Quer também? – estendi outro copo.

- Sim.

- Olha, eu não me importei com isso... na verdade me importei sim, mas eu também não queria conversar, essa foi uma das semanas que a gente só quer que acabe pra se revigorar.

- Você está achando que eu penso algo ruim de você só porque eu disse que era pra você se arriscar?

- Droga – essa hora eu deixei derramar muito a vodka na mistura por estar distraído – Sabe quando eu disse que eu não sei se meu sentimento pode não ser equivalente ao seu? Pois, com toda essa historia de dar um passo nessa relação eu tenho medo de te decepcionar.

- Porque você não coloca na sua cabeça que eu não sou essa imagem superior, eu erro como qualquer um, tenho defeitos também, eu sempre arroto e espirro em lugares públicos sem discrição – eu ri, isso era verdade.

- Você nunca me deixa ficar chateado, que droga, pareço um maluco tendo essas paranoias.

- Eu também tenho essas coisas, sempre quero saber o que você conversa com Taehyung na loja.

- Relaxa – lhe entreguei o copo com a bebida pronta – é sobre clientes que nunca tem trocado, festas ou palhaçada dos dois.

Fomos nos juntar aos outros, e finalmente pude ver Hoseok dançando, tudo bem que era música eletrônica, mas já era alguma coisa. Além disso, a festa nem tinha começado ainda e já tinha gente se pegando, era uma mistura dos amigos de Hoseok com uns colegas nossos e de Jung Kook.

Parece muito adolescente, mas jogamos verdade ou consequência, com uma garrafa recém vazia de soju, sentamos em roda como de costume e até baixamos o volume da música. Umas das nossas colegas perguntou se rolou algo entre Hoseok e Taehyung e o primeiro afirmou o que deixou alguns dali surpresos, mas eu achei noticia velha, quando eu pedi verdade um colega perguntou se a história do dormitório feminino era verdade. Começou um debate sobre essa divisão na república que seria muito polêmico retratar, mas envolve frases bem pertinentes como:

“ Dizem que a culpa é de nós, garotas, mas como vocês viram com o Jimin, são vocês mesmo que parecem não ter controle. “

“ Pra mim a gente virava planta e fazia fotossíntese e não precisava dormir e acabou conversa “  - Taehyung, Kim

“ Acho que deviam debater isso mais com os alunos, mas a nossa cultura procura censurar isso.”

E depois de dar voltas no assunto decidimos seguir o jogo, Taehyung girou a garrafa e tudo começou a ficar lento demais, ela ia girando, e quando já parava ia chegando a direção de Jung Kook e finalmente parou na frente dele.

- Verdade ou consequência? Sendo que sei 80% da sua vida – depois da pergunta eu gritava mentalmente pra o mais novo escolher verdade, eu já sabia o que esperar de Taehyung.

- Consequência.

- Te desafio a beijar alguém daqui que não seja Jimin.

- Não entendi! – eu falei com tom de brincadeira, mas isso me afetou mesmo.

Jung Kook ficou olhando para minha cara como se perguntasse se podia, então eu assenti positivamente mesmo querendo estapear Taehyung. Então Kook cumpriu o desafio com o mesmo que desafiou. De relapso eu olhei para Hoseok, e vi que ele estava mexendo no celular na hora.

 E o jogo seguiu, um por um ia desistindo do jogo e indo dormir, o primeiro saiu e era umas duas horas da manhã, por final só sobrou as pessoas que apagaram ali mesmo, eu e Jung Kook, ele pegou a garrafa e girou até que parasse em mim.

- Verdade ou consequência? – ele perguntou.

- Consequência.

- Eu te desafio a se arriscar – assim que ele falou eu me arrepiei.

Me levantei, e ele foi atrás, fomos até o quarto onde estávamos, em que em uma incrível coincidência só estava ali o pessoal que dormiu na sala. Eu estava tremendo, era perceptível, por isso assim que ele trancou a porta veio até mim e segurou minhas mãos, e depois me abraçou, passando as mãos pelas costas, até tirar o moletom. Lentamente ele subia os beijos até que chegasse aos meu lábios, foi quando consegui me soltar, parecia hipnose, tudo que eu fazia já era o que ele esperava, e finalmente aconteceu.

Depois de um tempo estávamos tentando nos equilibrar numa cama de solteiro, mas não foi nada complicado, revezamos a cada coisa que fazia, e os dois pareciam muito satisfeitos, me senti um bobo por pensar que seria torturante. Claro que pra mim era mais complicado por nunca passar por isso, mas não foi nada anormal. 

E passando algum tempo começamos a ficar cansados então apenas ficamos acariciando o cabelo e o rosto do outro, aqueles tracinhos que apareciam no rosto dele quando sorria eram tão charmosos, e lentamente ele desfez o sorriso e caiu no sono antes de mim, mas não demorou muito para que eu dormisse.

De manhã fomos acordados no susto por murros na porta e uma risada bem alta de Taehyung, foi bem constrangedor sair no meio de todo mundo e só quando fomos comer que percebemos que ele estava com o moletom e eu uma  camisa  preta folgada.

Limpávamos a sala juntos e quando Hoseok não via até que rolava um selinho, eu não teria problema em que as pessoas nos vissem juntos, e se tivesse acho que todos que estava ali eram conscientes que nada poderia sair dali, mas o meu querido amigo iria ficar implicando se não nos visse limpando.

Pela tarde voltamos para Seul, e pelo menos dessa vez eu dormi a viagem toda, assim como Jung Kook também, e Taehyung assumiu a direção do carro. 

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Tinha se passado duas semanas desde a festa e eu estava acordando em um apartamento modesto, a minha direita tinha uma cabeceira de cama com um abajur e dois copos quase vazios, e a minha esquerda uma pessoa com uma cabeleira preta, na altura dos ombros, estava virada de costas, deitada do meu lado, levantei a cabeça do travesseiro e tentei me situar onde estava, depois fiquei de pé e peguei todas as minhas coisas, quando terminei de amarrar o cadarço do tênis uma mão passou a minha costa e por fim mexeu nos cabelos na minha nuca me fazendo virar o rosto, essa pessoa ria com o dedo indicador sobre os lábios, mas seus olhos eram bem firmes, parecia ser uma risada sarcástica, ou zombadeira, porque sabia em qual encrenca eu havia acabado de entrar. O efeito borboleta havia começado e eu mal sabia. 

Olhando para janela eu metaforizei novamente, você era a chuva caindo lá fora. Te fazem tanta imagem negativa, como se fosse um problema, mas apesar dos seus defeitos, nos dias de chuva as crianças amam brincar na poça, os preguiçosos desmarcam o compromisso com uma desculpa cabível e se rendem a um bom filme ao invés do trânsito estressante. No dia de chuva, uma moça pode ter ido vasculhar suas roupas de frio para usar e achou um casaco de tricô de sua falecida mãe e sentiu nostalgia. Você pode ter destruido meu guarda chuva com sua força, mas ainda sim amo ouvir o barulho da chuva.