1. Spirit Fanfics >
  2. Pandemônio >
  3. Não humano

História Pandemônio - Não humano


Escrita por: TJDuke

Capítulo 1 - Não humano


Os adultos o olhavam como se fosse um monstro. Talvez ele fosse, por que deveria se importar? Mas ainda assim ele se sentia mal. No último dia que ficou em casa antes de ser mandado a um reformatório, Mikael ouviu a discussão de seus pais.

— ...vamos, não finja que não acha que tem algo errado com aquele garoto. — Seu pai dizia a sua mãe, quando achava que o garoto não estava escutando. Infelizmente, sua audição era melhor do que gostaria.

— Ele não age como uma criança normalmente as vezes... — admitia a mãe relutante.

— Ele não age como humano! — Retrucava o pai.

Essas palavras, atormentariam Mikael para o resto da vida.

 

 

Estava começando tudo novamente. Ficar naquela casa o estava deixando louco, estava começando a ver coisas nas sombras da janela a noite, sem falar nos pesadelos. Ultimamente era quase difícil diferenciar a realidade do sonho e tudo o que ele não precisava agora, seria ficar louco. Quer dizer, mais louco.

A verdade é que coisas estranhas aconteciam a sua volta. Coisas que Mikael não conseguia explicar e deixavam as pessoas apreensivas a seu respeito.

Realmente precisava sair daquela casa. Seus pais não paravam de discutir. Eles brigavam todos os dias, todas as horas. Ele era o motivo da briga.

Tudo o que se sabe, é que ele causa muitos problemas, tanto para si mesmo, quanto para seus pais, que a muito tempo eles já desistiram dele. Acabou indo parar em um reformatório, mas talvez por alguma razão do destino, estava de volta. Esse era o motivo da briga de seus pais. E ironicamente o que estava o fazendo pirar, era estar em casa e não em um reformatório.

Entende por que de repente até a escola pode parecer um lugar... talvez não bom, mas razoável?

Entrar na escola praticamente no final do ano não era algo tão divertido também. E lá estava Mikael, o aluno novo. Poderia ser um novo começo, onde seria o cara legal e popular que chegaria se tornaria amigo do garoto estranho e recluso que costuma se sentar sozinho no almoço.

Ah, espera. Esse garoto sou eu.

Assim como todos os professores, os outros estudantes também sabiam, que Mikael era diferente, era o tipo de assunto que esse tipo de cidade pequena adorava, um dos mais comentados entre as donas de casa fofoqueiras, quase tão interessante quanto ao ataque de animal que matou Mike Norton, um garoto problemático com pais ricos, mas é claro, agora todos o falavam dele como se fosse um anjo, uma pessoa cheia de luz que iluminava a vida de muita gente.

Mikael apenas queria saber se alguém também diria que ele era um bom garoto, caso acontecesse o mesmo com ele. Duvidava, recebia o tratamento de uma bomba relógio, todos já esperavam ou até ansiavam, que ele explodisse.

Uma prova disso era o olhar censurador que recebia ao entrar na sala da Sra. Burton, uma senhora de quase uns seiscentos anos, vestindo um suéter de lã cor-de-rosa e usando óculos com armação vermelha presos a uma correntinha no pescoço. A sala era um quadrado perfeito com umas vinte e cinco pessoas sentadas em carteiras retangulares do tamanho de mesas de cozinha, com dois alunos em cada uma. Todos olhavam para ele e o ignoravam ao mesmo tempo.

Mikael ficou tentando a dar um pulo e gritar; Buh! Apenas para ver a reação. Mas enquanto esse dia não chegava ele seguia para a mesa e se sentava ao lado de Blake, sua nova parceira desde o mapa de sala ter sido reorganizado. Era obvio o critério que eles haviam usado para os tornar parceiros. Todos queriam ser parceiros dela, e ninguém queria ser o seu.

A Sra. Burton começava a explicar porque há anéis em torno de Saturno e que eles são feitos basicamente de partículas de gelo e de poeira.

Depois de um tempo, Mikael deixou de ouvi-la e se concentrou nos alunos. Ethan estava sentado duas mesas a frente, ele era o capitão do time de futebol, loiro, alto, marombado e as garotas o adoravam, como se isso ainda não fosse o suficiente, ele ainda era rico e dirigia um porsche novo. Sua namorada deveria ser Tiffany Connor, a líder das líderes de torcida, loira e muito bonita, que infelizmente odiava Mikael.

Tá. Sem querer, poderia ter acertado uma bola no olho dela quando fazia o teste para o time de futebol, seu olho ficou roxo e inchado por uma semana... nem era como se esperasse entrar para o time mesmo.

Enfim, Ethan joga furtivos olhares para a mesa de Mikael, e considerando que os olhares não eram para ele - ou pelo menos assim esperava. -, ele estava olhando para sua parceira de estudos.

Blake era pequena, apesar de magra, era curvilínea, com longos cabelos loiros-dourados. O rosto era quase infantil, poderia se passar por bem mais jovem, provavelmente quando tivesse trinta ainda iria parecer uma adolescente. Mas não se engane, ainda era a garota mais bonita que já havia visto, poderia afirmar que praticamente todos os garotos - e talvez algumas garotas - fossem pelo menos meio apaixonados por ela. Mas o que a mais a destacava eram a cor de seus olhos, verde-vivo. Não o verde quase azul. Era um verde veneno. Era lindo e hipnótico, mas havia algo estranho neles e não era a cor.

Será que ninguém mais percebia que seus olhos as vezes ficavam ligeiramente insanos? Mikael conhecia bem de mais esse olhar para não perceber, era o mesmo olhar que apenas os piores garotos do reformatório tinham e que os outros apenas tentavam imitar. Ela, no entanto, o escondia atrás de uma faixada de doce inocência.

— Perdeu a hora fofinho? — Perguntou a garota entediada, até sua voz parecia mel.

— Na verdade acho que cheguei até mais cedo... — resmungou.

Ela riu.

— Verdade, você praticamente chegou na hora certa hoje.

Não era difícil entender por que todos gostavam dela.

— Ethan está olhando para você, de novo. — Comentou Mikael.

— Talvez seja para você. — Disse ela, repentinamente o avaliando de cima a baixo como se realmente estivesse considerando. — Você fica uma graça com essas botas.

Automaticamente Mikael escondeu seus pés em baixo da cadeira. Eram botas militares do último reformatório que havia passado.

— Você por acaso tem dupla personalidade? — Perguntou sem pensar tentando tirar a atenção do seu rosto vermelho. — Ou é bipolar?

Ela parou. Surpresa por um momento. E então sorriu.

Um sorriso que não alcançava seus olhos. O mesmo sorriso que você dá antes de jogar gasolina em uma pessoa e acender o fosforo.

Mikael desviou o olhar, repentinamente interessado na explicação da Sra. Burton.

Nenhum deles disse mais nada durante o resto da aula, tampouco aprenderam sobre os mistérios do universo que a Sra. Burton tentava ensinar. Durante boa parte dela, Blake desenhava imagens que pareciam ser um monstro alado, ela era muito boa com desenhos. Por vezes a via sentada desenhando sozinha, ela era uma artista sombria com o rosto da Barbie. Blake fechou o caderno abruptamente, quando percebeu que estava sendo observada.

 

Havia um alvoroço acontecendo no refeitório. Alguns corriam e outros gritavam incentivos, não era preciso ser um gênio para saber que estava acontecendo uma briga. O que parecia estar se tornando algo quase frequente. Era a terceira na semana, e ao contrário do que se poderia pensar, Mikael não tinha absolutamente nada a ver com esse aumento no índice.

Conseguiu chegar a tempo de ver Ethan socar a mandíbula de Gary Collins e então ser jogado no chão por outro garoto que sequer sabia o nome. Era estranho de se ver mas parecia que a briga começava a se tornar uma guerra, alguns tomando partido e alguns até escorregando para de baixo da mesa, - isso mesmo Ronald, eu vi você. – Até mesmo Algumas garotas se envolviam na briga e arremessavam pratos. Entretanto uma chamava a atenção. Uma que parecia totalmente confortável no meio de tudo isso, Blake. Ela estava sentada no seu lugar bebendo suco de morango em caixinha enquanto tudo isso acontecia, apenas observando. Seus olhos pareciam quase brilhar.

Mikael esqueceu tudo isso quando alguém o acertou no estomago, sequer chegou a ver quem era quando se dobrou de dor. Depois disso a racionalidade apagou-se e quando se deu conta, havia feito de novo. O único de pé era Mikael. Por todo o refeitório os outros alunos o observavam horrorizados. Talvez exceto por um, o diretor Miller estava com uma expressão de raiva e sua careca brilhava numa bonita coloração de vermelho beterraba.

"Ele não age como humano!" A voz de seu pai ecoava em sua cabeça.

Isso foi o suficiente. O diretor teve um tipo de acesso e depois de mandar todos para a enfermaria, teve uma recaída nos antidepressivos e precisou de uma ambulância.

O que na verdade foi interessante é que no final descobriram que a briga havia começado apenas porque Collins havia espirrado um pouco de suco de caixinha em Roger - o qual agora estava com os dois olhos roxos como um panda e talvez um dente quebrado -, e então um simples empurrão acabou virando uma enorme bola de neve.

Ninguém falou com Mikael sobre o que aconteceu, mas ele podia sentir os olhares. Ele ainda era o monstro dessa história, sequer conseguia levantar a cabeça, era tudo o que ele mais odiava, perder o controle, e a memória aparentemente.

Ele estava no lugar errado, na hora errada, certo? Então por que todos ainda o olhavam como se devesse estar em uma camisa de força?


Notas Finais


Inspirado em As Peças Infernais, mas não totalmente fixado no livro... espero que gostem, qualquer coisa comentem ai :)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...