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História Pandemônio - Raios caem duas vezes no mesmo lugar


Escrita por: TJDuke

Capítulo 3 - Raios caem duas vezes no mesmo lugar


Mikael voltou para casa. Apenas para pegar trocas de roupa. E claro, para avisar aos seus pais que iria passar a noite na casa de Blake.

Foi até seu quarto ver como estava o anjo estava.

Ele ainda estava inconsciente, mas agora ele parecia mais como dormindo do que morrendo, o que era uma coisa boa.

Sua pele continuava gelada. Assim que o tocou ele se moveu e resmungou algo incompreensível, mas não abriu os olhos.

Arriscou uma olhada para o espelho. Apenas para ver o caos que seu cabelo e roupas se encontravam. Decidiu tomar um banho antes que Mikael voltasse.

Estava só de toalha enquanto pegava uma troca de roupa para vestir quando percebeu que um par de olhos mortalmente quietos a seguiam.

Blake gritou e ficou tentada a jogar alguma coisa nele, porém a única coisa que tinha em mãos era a toalha e não estava disposta a abrir mão dela.

— Pervertido! Pode ir fechando os olhos.

Preguiçosamente ele fechou-os. Pensando melhor Blake pegou suas roupas e foi trocar-se no banheiro ouvindo um gemido indignado.

Estava terminando de arrumar o cabelo quando ouviu a campainha tocar.

Correu esperando ver Mikael, mas foi surpreendida ao se deparar com seu pai, ele estava com uma expressão severa e segurava Mikael pela nuca de uma maneira possessiva.

— Meu filho disse... — começou com a voz severa.

— Mika! — Blake pulou em Mikael abraçando-o da forma mais "menininha" que conseguia e acabou lhe dando um beijo de leve. — Então, você vai passar a noite aqui para gente estudar?

A expressão do pai era algo que ambos levariam para o resto da vida.

Ele estava com a boca aberta e os olhos tão abertos em uma expressão de descrença tão ridícula que Blake teve que morder seu lábio inferior quase a ponto de sangrar para não começar a rir.

- Não sabia que vocês se conheciam. - Disse o pai com uma gentileza repentina.

- Você não falou de mim? - Ela disse a Mika dando lhe um soco de brincadeira no braço.

- Onde estão seus pais? - Perguntou o homem.

Mikael olhou alarmado.

- Minha mãe acabou de entrar no chuveiro. - Respondeu Blake mentindo com naturalidade.

Ela não o convidou para entrar e esperar, ele não insistiu também.

Mikael o encarava enquanto ia embora sem ter dirigido uma palavra a ele, e ela fingia não ver.

 

- Quem é você? - Perguntou Blake. O garoto agora acordado e tentava se levantar.

- Não faça isso. - Avisou Mikael, sentado na cadeira da escrivaninha, observando tudo.

Isso não impediu o garoto de se colocar em uma posição sentado. Na verdade, ele já parecia muito melhor, considerando que não havia sequer se queixado de dor.

- Rex. - Respondeu o garoto.

Rex, pensou Blake. Ele tinha nome de cachorro... será que causava conflitos de identidade?

- Você está bem? - Perguntou, tentando ser mais atenciosa.

Ele acenou quase imperceptivelmente. Seu olhar dizia que ele estava receando alguma coisa, como se esperasse que fizessem alguma coisa.

— Podemos leva-lo a um médico. — Disse Mikael.

— Não. — Disse o anjo Rex abruptamente.

Blake trocou um olhar com Mikael. Ele pareceu discordar, mas Blake não se importou.

— Você é um anjo, não é? — Perguntou ela.

Rex riu e isso pareceu causar dor e um leve gemido.

— Algo do tipo. — Disse ele, com um estranho brilho no olhar. — Eu só estou cansado... preciso dormir. — Havia um leve sotaque, talvez francês. Blake não sabia de onde, mas gostou de como soava. Ela nunca conseguiria falar daquele jeito, com os “erres” diferentes. Exótico.

— Diga-me, você acha que é tão impossível assim alguém como eu, namorar alguém como você? — Perguntou Mikael algum tempo depois enquanto almoçavam uma das refeições prontas que Cassie, a tia de Blake, havia deixado preparadas, como ela sempre fazia muito era o suficiente para duas pessoas.

— O que você quer dizer com alguém como eu? — Perguntou dando uma boa garfada na macarronada com bastante mussarela.

— Bonita, popular... inteligente. — Disse ele olhando para a comida.

— E o que você quis dizer com alguém como você? — Perguntou Blake tentando não sorrir com os elogios.

Ele se limitou a lançar um olhar que consistia em tudo o que sabia sobre ele, sem amigos, pais horríveis, autodepreciativo.

— Sinceramente? — Ele confirmou. — Não é impossível, você é bem bonitinho. — Ela adorava provoca-lo, ele ficava vermelho e isso o fazia ser fofo, ele tinha o cabelo castanho-escuro desleixado e olhos azuis que chamariam a atenção se eles não estivessem sempre abaixados. Ok, talvez também tivesse um temperamento meio explosivo quando ficava irritado, o que só acontecia com razão, não era nenhum megalomaníaco. - Só que você não é um desses falsos e idiotas como Ethan. Logicamente, nem todo mundo vai te amar, por apenas ficar na sua e não ser um puxa-saco. E é por isso que eu acho você interessante, você tem tudo para ser como ele, mas você é diferente em todos os sentidos.

— E as garotas adoram quando um garoto fica corado... — completou tentando não rir, vendo que sua cor agora era quase um vermelho vivo.

Mikael dormiu no sofá da sala, onde Blake havia arrumado com cobertores e travesseiros, era ainda mais macio que sua cama. Pela primeira vez em muito tempo, Mikael sentiu que havia realmente dormido, como não fazia a muito tempo.

Capitulo 4 Tiffany a Terrível

 

Amanheceu nevando. Em pleno outono. Um sinal claro de que algo sinistro estava acontecendo.

Blake havia dormido sentada ao lado da cama de Rex, sua cama. Quando Mikael foi acordar a garota, encontrou-a dormindo em cima dele. Por sorte ainda estava cedo e ele estava sonolento de mais para pensar qualquer coisa, acordou Blake que levou exatamente dez segundos para entender onde estava dormindo e então sair da cama em um pulo.

— Como... Eu... Ele... — murmurou ela incoerentemente.

— Nós. Escola. Atrasados. — Bocejou Mikael.

Por algum motivo nenhum dos dois se deu conta do que estava acontecendo até saírem pela porta.

Estava tudo branco. Uma fina camada de neve cobria cada centímetro da rua e os telhados das casas.

Por sorte, graças a tempestade do dia anterior, Mikael ainda estava com seu casaco, três camisas, duas calças e botas, se não provavelmente teria virado sorvete de delinquente.

— Me diga novamente por que nós estamos indo para a escola. — Resmungou Blake enquanto caminhavam pela neve.

— O diretor Miller está ligando para casa de todo mundo, ele disse que se faltássemos estaríamos automaticamente de recuperação nas férias.

— Isso é tão injusto! — Respondeu Blake, ela usava botas que chegavam até as coxas, uma saia que não parecia muito útil para manter o frio longe, uma jaqueta preta com gorro felpudo. Mikael parecia duas vezes mais agasalhado do que ela e ainda assim estava sofrendo tentando encarar o frio como um homem enquanto ela parecia mal se importar com a baixa temperatura.

— Ele praticamente nos obrigou a ir...

— Eu vou ficar de recuperação de qualquer jeito, então eu não precisava ir hoje. — Disse Blake, esperançosamente.

— Se eu vou ter que ir, você também vai. — Respondeu Mikael simplesmente.

Para que serve o inferno se não podemos levar os amigos?

— Você sempre pega esse caminho? — Perguntou ele quando já estavam no meio de uma reserva cercados por arvores.

— Sempre. — Respondeu ela sorrindo. Ele jamais admitiria, mas aquilo o assustava. A neve... O silêncio. Bem, talvez não devesse ter assistido tantos filmes como: Zumbis na neve. Terror no gelo. Pânico na neve. Dora aventureira.

O último não tinha muito haver com a neve. Mas ainda assustava.

— Mas não diga isso a minha tia. Ela surtaria. — Disse Blake, como se não fosse compreendida.

Por que sua tia é sensata, pensou Mikael.

— Estamos chegando. — Falou ao ver um pedaço do telhado da escola apesar da neve.

Graças a Deus.

Saíram atrás da escola, ao invés de contornarem Blake seguiu saltitando e puxando Mikael consigo pela entrada do refeitório que era aberta. As vezes era como se ela sempre estivesse dançando no ritmo de uma música que só ela podia ouvir.

— Será que a aula já começou? — Perguntou ela quando entraram no corredor vazio.

Mas isso não explicava o silêncio. Por mais que estivessem em aula sempre havia um barulho de conversa e coisas caindo e quebrando.

— Acho que não tem ninguém aqui. — Falou Mikael confuso. A aula não podia ter sido cancelada. Por que haviam sido intimados a irem até lá, então? Primeiro sentiu alivio por que não havia aula. Depois se sentiu assustado, alguém havia feito eles irem até a escola, e o motivo eles ainda não sabiam. Mas qualquer pessoa que arma para você ir à escola, não pode ser boa coisa.

— Olá.

Uma líder de torcida com uniforme vermelho e branco estavam de pé no meio do corredor.

— Oi Tiffany. — Disse Blake. Em qualquer outra ocasião isso seria algo normal, mas havia algo muito errado considerando que ela estava usando aquela roupa nesse frio. Bem, Blake também usava roupas não muito melhores, sempre soube que ouvia algo de errado com ela, então não era uma surpresa. Mas Tiffany? Isso definitivamente era uma surpresa... E talvez o fato da escola estar vazia e ela ali parada no meio do corredor.

— Cadê todo mundo? — Perguntou Mikael desconfiado.

Tiffany o ignorou.

— Qual de vocês fez isso? — Ela perguntou ao mesmo tempo que um relâmpago iluminava tudo como um efeito dramático.

— Ligaram para gente também. — Tentou explicar Blake.

Ela estava sorrindo. Uma vozinha do subconsciente de Mikael dizia: CORRA.

Ao menos Blake parecia estar na mesma sincronia por que ambos nos viraram para o outro corredor ao mesmo tempo.

Blake começou a empalidecer.

No outro corredor, estava Ethan segurando alguma coisa na mão. Ao menos ele parecia estar sentindo o frio o que fez Mikael sentir-se levemente melhor, por outro lado o que ele tinha na mão era um machado. Sim, um machado. Isso o fez sentir-se bem pior.

— Blake. — Disse ele.

Que tipo de pessoa leva um machado para escola? pensou Mikael. Tinha certeza de que havia leis contra isso. Qual é? Um canivete não, mas um machado tudo bem?

— Que piada é essa? — Perguntou Mikael. Só podia ser uma. Se olhassem bem, tinha certeza de que veriam câmeras ou talvez olhares curiosos observando e rindo.

Mas tudo o que percebia era que agora estava chovendo.

Ethan e Tiffany estavam indo em sua direção. Bem... um grandalhão com um machado ou uma líder de torcida com pompons. Em qualquer outra situação teria escolhido a líder de torcida, mas seus olhos estavam assustadoramente brancos e brilhantes. Por um momento Mikael sentiu-se totalmente paralisado por aquilo.

Mas abençoada seja a presença de espirito de Blake que empurrou Mikael para dentro da sala de artes e então eles barraram a porta com uma cadeira em baixo da maçaneta.

— O que eles estão fazendo? — Perguntou.

Nenhuma palavra parecia sair da boca de Blake.

Uma batida na porta. Não era uma batida do tipo "toc toc" estava mais para uma machadada.

Mikael correu até a janela. Bom, se isso fosse de alguma forma uma piada ruim, não seria sua culpa quebrar a janela, certo? Pegou um pedaço de pano sujo que usavam para limpar a tinta e o enrolou em seu punho.

— Espere! — Blake o impediu repentinamente. Esperava que ela dissesse qualquer coisa, menos o que ela realmente disse. — Posso fazer isso? Eu sempre quis fazer.

Mikael ficou um momento sem reação.

— Ha-yaa! — Disse ela antes de socar o vidro.

E depois gritou de dor e o vidro continuava inteiro.

A porta não iria aguentar mais um golpe. Mikael se preparou para socar a janela com as mãos limpas. Isso iria machucar, sabia disso por que já havia feito antes, alguns bons pontos poderiam ser necessários.

— HA-YA! — Berrou Blake irritada e jogando a bolsa contra a janela que se espatifou em milhares de pedacinhos.

Isso pareceu mais divertido do que imaginava, mas não teve muito para testar por que Ethan já estava no dentro da sala.

— Não dificulte as coisas, Blake. — Disse ele. Para seu credito ele realmente parecia contrariado por estar fazendo isso. Mas perdeu qualquer credito por estar fazendo isso com um machado na mão.

Blake respondeu com um gesto obsceno, antes de dar um último olhar de nojo para ele e de pular a janela. Tinha que dar credito a ela também.

Mikael pulou logo em seguida, mas uma mão agarrou seu pé. Sua bota saiu e ele levantou correndo com um pé descalço. Como descrever isso em uma palavra? Gelado.

A neve havia se derretido na chuva, mas isso não mudava o fato de que ela continuava gelada e agora muito mais úmida encharcando sua meia.

Chegaram no estacionamento fantasmagórico dando de cara com algo aterrorizante.

Um porsche que entrava cantando os pneus. Conheciam aquele carro, era de Ethan. Por um momento de terror absoluto imaginaram que ele ou talvez até mesmo Tiffany tivesse pego o carro e decidido atropela-los.

Mas não era ele quem dirigia. No banco do motorista estava um garoto de cabelos brancos e olhos heterocromáticos. Mikael observou, provavelmente tão chocado quanto Blake, enquanto ele saia do carro.

Rex observava algo a distância, o rosto naturalmente já pálido, branco como a neve aos clarões dos relâmpagos.

— Entrem no carro. — Rex não gritou e sua voz era baixa, mas foi mais do que o suficiente para ouvirem e se apressarem.

Mas antes que Mikael conseguisse sentir o que havia acabado de acontecer viu uma luz branca iluminar tudo a sua volta, o olhar aterrorizado de Blake que com incrível velocidade havia chegado até o carro e a expressão de surpresa e fúria surgindo no rosto de Rex. Mikael teve uma visão muito ampla de tudo isso, incluindo o rosto de Tiffany olhando-o com cruel satisfação em seu uniforme de líder de torcida, seus olhos ainda brilhando como esferas de eletricidade. Mikael havia sido lançado há vários metros de distância por um raio.

Mikael notou várias coisas acontecerem ao mesmo tempo em uma questão de milésimos de segundo, seu corpo estava esfumaçando. Já havia ouvido falar que ao ser atingido por um raio a pessoa é literalmente torrada. Imaginou que se essa fosse a morte, não conseguia se forçar a respirar e seus olhos haviam permanecido abertos e agora simplesmente não conseguia fecha-los. Viu Blake e Rex saindo do carro ao mesmo tempo, Blake corria na direção de seu corpo inerte no chão. Em um instante ela estava ao seu lado e no instante seguinte o arrastava com o máximo de cuidado possível até o carro. Rex no entanto caminhava na direção de Tiffany sombrio.
 

Blake murmurava palavras que pareciam ser de conforto ou talvez queixas. Mikael não conseguia discernir o que estava sendo dito, mas imaginou que ela parecia estar chorando.
 Rex parou a frente de Tiffany e por um momento pareceu que ele iria lhe dar um soco no meio dos olhos. Parecia ser o que ela esperava também, pronta para o contragolpe, mas o que ele fez ela não conseguiu desviar nem sequer revidar. Ele a beijou.

Não foi só um beijo, ele realmente a beijou. Como em um filme de cinema, longo, romântico e ensaiado. Ela logo cedeu e envolveu os braços em seus ombros, desesperada por mais. E foi então que ele a soltou e começou a se afastar.

Quando Blake terminou arrastar Mikael até o carro e Rex deu partida, deixando Tiffany onde estava, agora sentada no chão e completamente molhada da chuva que recomeçava. Seus olhos normais e agora tudo o que viam era o vazio que Rex aparentemente havia deixado.

Mikael decidiu que a morte simplesmente não fazia sentido, e então a escuridão finalmente o atingiu enquanto arrancavam na tempestade.



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