História Pandemônio - Capítulo Único

PANDEMÔNIO. s.m. 1. Associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balburdias; 2. fig. mistura confusa de pessoas ou coisas; 3. confusão; 4. Grimmjow Jaegerjaquez.

“-Eu acho que gosto mesmo de você –o ruivo sussurrou após a terceira rodada de sexo da noite sem esperar respostas. Grimmjow ainda se recusava a dizer as palavras que tanto significavam para Ichigo, um ‘eu acho que gosto mesmo de você’ seria maravilhoso para o ruivo; que antes estava envolto no estupor do sexo  mas agora se encontrava acanhado, definitivamente não deveria ter aberto sua boca grande, era sempre a mesma coisa, mas Kurosaki não se importava mais, para si essas coisas eram detalhes, o que importava era o sentimento que nutria pelo azulado, porém, sentia que era unilateral. Grimmjow era temperamental, nunca descobriria porque este era  tão amargurado para com a vida, mas tão apegado a si. É, Grimmjow poderia nunca ter dito as palavras, mas os gestos... Ah, os gestos que o fez se apaixonar por aquele ogro.”

Perdido em pensamentos, Ichigo suspirou cansado olhando seu reflexo no espelho da penteadeira de sua nova casa, aquele não era seu quarto, o único lugar que considerava seu quarto era onde ele estava. Sentiu o peito doer e o coração... Bem, o coração estava estilhaçado, ainda era possível ouvir os cacos desse órgão inútil chocando-se contra as paredes da casa que dividia com Grimmjow, seu lar. Onde deveria ficar.

“Desculpa Grim... A culpa não foi minha.”

“Não venha me dizer que ele te obrigou a beijá-lo! Mentiroso!”

“Eu nunca beijaria outra pessoa, Grimmjow! Eu gosto mesmo de você, idiota. Você é surdo ou o que? Para que todo esse ciúme desnecessário?”

“Não é ciúmes, filho da puta! Eu nunca sentiria ciúme de você, eu sabia que essa sua rixa com o vadio do Ulquiorra era pura mentira. Mas eu nunca esperei isso de você. Eu devia ter me preparado, não é? Você parece uma putinha, Kurosaki! Só foi brigarmos mais uma vez que já foi dar para aquele filho da mãe.”

“E-eu já disse que eu não fiz nada, acredita em mim, seu idiota.”

“Some da minha vida, você não vale nada para mim.”

Confusão. Medo. Balburdia.

“G-Grimmjow...?”

Desespero. Dor.

“Você traiu minha confiança, Ichigo, estou com nojo de você.”

Lágrimas.

“Eu gosto mesmo de você.”

-O café está pronto, Kurosaki-kun! –ouviu a voz de Inoue soar pela casa. Orihime Inoue estava sendo uma boa namorada, apesar de querer ficar sozinho, decidira dar a chance que a garota sempre pedia.

Inoue era boa em muitas coisas, uma garota com certeza muito prendada. Mas havia aquela coisa que Inoue não era boa: Ser Grimmjow Jaegerjaquez.

Toda vez que olhava nos olhos dela, ele queria estar olhando nos olhos azuis do azulado, quando a beijava, sentia o gosto da boca dele, quando faziam sexo, ainda podia ouvir as frases pervertidas do mais velho em seu ouvido, quando dormia, Inoue não aparecia em seus sonhos, era sempre Grimmjow, quando acordava com um sorriso no rosto, Orihime questionava se havia sonhado com ela, e Ichigo apenas concordava, porém, isso o matava por dentro.

Kurosaki queria que fosse ele. Só podia ser um doente, um dependente químico.

Por que fez isso com a gente, Grimmjow?

“-Você anda muito irritadinho, não acha? O que houve? TPM? –Grimmjow questiona, porém tudo que ganha é silêncio –Até quando pretende me ignorar, morango? –o azulado passa o braço direito pelo pescoço do mais novo e encosta a cabeça em seu ombro, podendo assim, sentir o aroma delicioso que a pele do mesmo emana e o leve cheiro de morango dos fios que tanto ama. Grimmjow sempre soube que era um idiota, mas cada vez se superava mais, era cheio de marra e gostava de dizer que era o rei, entretanto, não tinha coragem de dizer que gosta mesmo do ruivo. Esperava que o ruivo percebesse, pois seu orgulho não permitia que tais palavras saíssem de sua boca. Nem ao menos estariam juntos se dependesse de seu orgulho, não por não querer, porque caralho... Só o deus Supremo do Universo para entender o tamanho do sentimento que sempre existiu para com Ichigo, mas sim porque se sentiria rebaixado e fraco se confessasse seu ‘gostar’.

O ruivo respirou fundo ao se dar conta de que não conseguiria ficar bravo com o outro.

-Carniça! –resmungou, porém, depositou um beijo na bochecha de Grimmjow. O azulado foi mais rápido e o prensou no chão em que estavam sentados, ficou um tempo admirando o menor sem perceber, que tinha as pálpebras pousadas escondendo os olhos. Ele era tão bonito. Tão seu –Eu gosto mesmo de você –o ruivo murmurou ao puxar o maior para um beijo intenso, assim como todos os outros,mas este em especial fez o peito do Jaegerjaquez dar um pulo. Era como se Kurosaki estivesse lhe dizendo ‘Está tudo bem, não precisa me responder, porque eu gosto mesmo de você’.

Mas Grimmjow apenas cometia burradas.”

Remorso.

Meio a uma sexta garrafa de whisky, Grimmjow sentia a pálpebra móvel pesar, mas pouco importava. Ele queria dormir por dias, meses... As lembranças de momentos com Kurosaki não passava, estava a ponto de colapsar. Nunca se arrependera tanto na vida. Assim que descobriu que tinha um problema sério de coração, seu mundo pareceu tremer e então ele finalmente deixara arrepender-se por completo, proferiu tantas mentiras, dissera que ele não importava e que tinha nojo do homem, por Kami! Ninguém sabia a vontade que tinha de pegar seu morango de volta e tirá-lo daquela piranha peituda, mas agora já era tarde demais.

“Eu gosto tanto do seu sorriso, morango.”

“Idiota.”

Tapas. Risadas. 

Com um sorriso amargurado, tomou o último gole da garrafa, sua cabeça pendeu e o peito pesou, tinha vontade de chorar, mas não choraria mais. Estava em abstinência, ele precisava de Kurosaki Ichigo. Entretanto, o perdeu. Tudo por causa do seu orgulho idiota. O que lhe restava? Nada. Ichigo era sua família, seu tudo.

Pegou seu frasco de antidepressivos e tomou alguns a seco, sem saber ao certo quantos foram. Alcançou seu celular e mandou uma mensagem para Ichigo fazendo muito esforço para que digitasse corretamente, pois seu coração começou a doer e seus olhos pesavam cada vez mais.

Sem condições de pensar, enviou a mensagem e mal pôde sentir quando o corpo tombou.

*Para: Morango

Eu gosto mesmo de você.* 

Grimmjow nunca saberia que a mensagem nunca fora enviada, pois fazia meses que uma nova recarga não era feita; Nunca saberia do pandemônio de Ichigo, pois tudo o que lhe restou foi saudades, e dela, até sua vida já se foi.

SAUDADE. s.f. 1. sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas (freq. us. tb. no pl.); 2. Kurosaki Ichigo.