Jeongguk seguia seu caminho para o colégio, pensando em como faria com a aula de literatura, já que, ao acordar, recebeu uma mensagem da sua amiga Dahyun, dizendo que a mesma estava sentindo uma forte dor de garganta, e que isso iria impossibilita-la de ensaiar a peça.
Gukie quis faltar de aula, mas como todas as vezes em que ele pensava em burlar esse teatro, algo veio em sua mente. Sempre que ele pensava em faltar às aulas do teatro, ou simplesmente desistir do papel, ele chegava à conclusão de que os pontos obtidos na matéria, seriam bem necessários para seu rendimento escolar, que sempre fora impecável. Apesar de saber que o valor em pontos do teatro era necessário, dessa vez não foram os 50 pontos que o fizeram se arrumar às pressas e sair comendo seu lanche no meio do caminho.
Um motivo novo era evidente e por mais que ele não assumisse para si mesmo, este motivo estava ali, batucando na sua cabeça desde o primeiro dia de aula. Este motivo o fazia acordar de bom humor, se arrumar sem xingar com todos os palavrões possíveis o fato de estar de pé tão cedo, e principalmente, o garoto tomava o vento matinal sem ao menos se dar conta de que o mesmo estava ali, congelando a ponta do seu nariz e o fazendo bater os dentes.
Este motivo o fazia querer ir trabalhar na doceria todos os dias, e torcer para que a hora do café chegasse logo, para que ele pudesse levar Kim Taehyung ao mesmo café, ou à uma lanchonete nova, mostrando um pouco mais do bairro para seu novo amigo.
Um motivo novo. Um motivo único, que tinha nome, sobrenome e endereço.
Um motivo chamado Kim Taehyung.
Jeongguk chegou na porta do colégio, e percebeu que Yoongi e Namjoon ainda não haviam chegado. Talvez eles estivessem atrasados, ou Gukie que saíra bem mais cedo de casa, afim de se encontrar logo com seu novo amigo e perguntar como havia sido o seu dia anterior, depois que as lojas de ambas as famílias, haviam se fechado e cada um seguira para sua casa.
O garoto de olhos negros e mais arredondados que o normal, espiou pelos poucos alunos que estavam parados em frente ao portão do colégio, e ao espiar mais de lado, o encontrou, sentado sozinho num canto, lendo um livro de cabeça baixa e se escondendo atrás da franja.
Jeongguk sorriu e caminhou às pressas até lá, querendo logo ser o primeiro a dar bom dia para o garotinho misterioso de olhos coloridos e lábios avermelhados.
Taehyung se mantinha imerso à sua leitura, e mal percebera quando Gukie passou a caminhar a passos rápidos até ele.
O vento matinal bagunçava seus cabelos castanhos, e a única coisa que ele fazia, era se manter imóvel, prestando máxima atenção nas páginas amareladas, que guardavam alguma história deveras magnífica.
— Bom dia. – Jeongguk falou animado até demais, captando a atenção do novato, que o encarou com os olhos semicerrados pela claridade, e sorriu um pouco mais animado, do que costumava sorrir.
— Bom dia. – Kim respondeu em tom baixo, e desviou o olhar, para evitar de ficar mantendo contato visual por muito tempo com Gukie, e também, porque o dia claro, fazia suas orbes – ainda esverdeadas – doerem.
— Tudo bem? – O moreno perguntou, ao que se sentava ao lado do Kim.
— Tudo sim, e com você? – Aquela pergunta fez Jeongguk pensar bastante antes de responder.
Quando acordara, a mensagem que residia em seu celular, contava que ele iria ensaiar com outra pessoa a peça de teatro, e isso realmente o fez tremer por uma pequena onda de ódio, já que era esse sentimento que ele tinha por cada pessoa daquele colégio.
Porém, ao parar para pensar que ele estava junto com seu amigo naquele momento, e saber que eles passariam a manhã inteira juntos, e mais uma parte da tarde, fazia aquele ódio desaparecer, e o lugar do sentimento ruim, ser ocupado por outro sentimento, que ele ainda não sabia descrever.
Ele sabia apenas que o fazia ficar ansioso.
— Bem. – Respondeu, convicto de que esse “novo” sentimento era melhor que o ódio. – Na verdade, eu estou mais ou menos... mas estou melhor do que pior.
— Como assim? – Taehyung soltara uma risada soprada, que obrigou Jeon a fazer o mesmo e esconder o rosto entre as mãos, ao perceber que pensar demais, o fazia falar coisas desconexas.
— Ah, é que a Dahyun está com dor de garganta e não vai poder ensaiar hoje comigo; então isso faz com que eu me sinta mal por ela e por ter que arrumar alguma substituta.
— Mas é só hoje, não é?
— Sim, mas você já percebeu como são as garotas desse colégio? – Gukie torceu o nariz. – Dahyun é um anjinho perto delas e com certeza, será um ensaio horrível.
— Yoongi vai ficar feliz. – Kim falou baixo, mas, ao mesmo tempo fez uma careta como quem diz “eu não devia falar isso”.
— Relaxa. – Jeon gargalhou baixo com a expressão do amigo. – Ele vai mesmo ficar feliz, já que durante os ensaios, ele prefere ficar te enchendo o saco, do que prestar atenção em nós. Isso é ciúmes.
— Ele não me enche o saco. – Taehyung falou simples, guardando seu livro na mochila. – Yoongi é legal.
— Ah você acha? – Gukie perguntou e viu o outro assentir. – Ele é tão antissocial, não sei como conversa com você.
— Eu também sou antissocial e converso com ele.
— Sei. – Jeongguk mordeu de leve a unha do dedão direito e desviou o olhar, sentindo a ponta das suas orelhas queimarem.
Mas que diabos está acontecendo?
— Eu realmente fico feliz por você ter conseguido o papel de Romeu. – Kim comentou, afim de desviar o assunto para outra coisa, já que o anterior deixara Gukie visivelmente incomodado. – Eu sempre quis participar de algum teatro importante, mas sou muito tímido e não tenho coragem.
— Você não deveria ser tão tímido assim. – JJ sorriu. – Sei lá, é bobeira ficar se escondendo... e estes olhos verdes então... são lindos, por que se esconder atrás da franja?
— Meus olhos... – Kim riu soprado e fitou o chão, piscando inúmeras vezes.
— O que foi, não gosta deles?
— Vamos? — Taehyung pegou sua mochila, assim que o sinal do colégio soou.
— Vamos. – Jeongguk se levantou e ambos passaram a caminhar em silêncio.
Por que o Kim era tão misterioso, tão quieto, desviava da conversa, quando o assunto era algo seu e principalmente seus olhos?
Por que ele não mantinha contato visual?
Gukie não sabia que o Kim sofria de um trauma, mas estava ansioso para saber mais e faria o impossível para descobrir que o deixava seu amigo tão cabisbaixo de uma hora para outra.
Talvez eu procure aquele tal de “V” e peça para ele fazer um desenho do Tae com os olhos coloridos, para ele ver como são lindos. – JJ pensou, e acabou por querer se juntar à sua amiga Dahyun, na busca implacável pelo artista “V”.
•••
*~*~*
Jeongguk mexia os pés em sinal de nervosismo e mordia os nós dos dedos, enquanto esperava que todos os alunos das duas turmas se acomodassem na mini arquibancada da sala de ensaio.
Enquanto fitava o chão, dois pezinhos pequenos, calçados com um par de All Stars vermelhos, se aproximaram e pararam na sua frente. Seus olhos subiram por aquele ser de baixa estatura, que ele logo reconhecera como Dahyun. A garota que ostentava uma cara de culpa e tristeza.
— Me desculpe, JJ. – Falou baixinho, ao que fazia uma careta, pela dor na garganta.
— Tudo bem. – Jeongguk parou de morder os dedos e puxou a amiga para se sentar ao seu lado. – Você nem deveria ter vindo à aula, isso dá febre.
Ela torceu o nariz e respirou fundo, abrindo um bolsinho da mochila e mostrando uma enorme quantidade de remédios que residiam ali dentro.
— Prevenida. – Jeon sorriu e acariciou os cabelos da amiga, que achou muito estranha essa atitude, mas preferiu não contestar, afinal, estava evitando de falar, e aquele carinho estava gostoso.
— Turma? – A professora chegou na frente da arquibancada. – Vamos começar? – Gesticulou os dedos na direção de Jeongguk e Dahyun, que já se levantou com o atestado médico nas mãos.
A garota entregou seu atestado a pontou para a garganta, deixando claro que estava meio difícil de falar, e assim, a professora entendeu na hora que ela estaria fora dos ensaios da semana.
— Oh, Dah, eu sinto muito. – A mais velha assinou o atestado e devolveu para a garota. – Então, parece que vamos precisar de uma substituta para a Dahyun, já que ela está com dor de garganta e impossibilitada de falar. Quem se habilita?
E assim, ninguém levantou a mão, já que, para qualquer garota daquela escola, encenar a Julieta, apenas como uma mera substituta de Dahyun, era uma afronta sobre sua reputação.
As garotas reviraram os olhos e nem se quer prestaram o trabalho de olhar para a professora, que estava meio nervosa por saber que definitivamente ninguém gostaria de ser apenas uma substituta.
— Eu só farei essa cena, se eu pegar o papel principal a partir de hoje. – Uma garota que Jeongguk nem tinha reparado a existência dela, se pronunciou, e a professora negou rapidamente com a cabeça.
— Fora de cogitação. – A mais velha disse firme. – Eu sei que as mocinhas estão de complô para atrapalhar o teatro, mas tomar o papel de Dahyun, nenhuma de vocês irá. Ela e Jeongguk encenam muito bem e será esse casal até a apresentação final.
A garota deu de ombros e abriu um pirulito, sorrindo perversamente para a professora, deixando claro que com ela, a educadora não poderia contar.
Neste momento, algo surgiu na mente de JJ, fazendo-o corar, e ficar inquieto, louco para se pronunciar. Era uma ideia que fazia os pelos dos seus braços se arrepiarem, e uma sensação de borboletas voando, tomar conta do seu estômago.
Seus olhos percorreram pela arquibancada, e se focaram em Taehyung, que estava – como sempre – de cabeça baixa, e escrevendo algo em seu caderno.
— Posso convidar alguém, então? – Falou mais alto do que planejava e a professora assentiu rapidamente, quase que num pedido silencioso de ajuda. – Taehyung, porque não substitui a Dahyun?
Neste momento, todos ficaram calados, e o Kim se paralisou no seu lugar, sem saber se encarava o amigo, se o xingava, ou se saía correndo. Fora de cogitação substituir a Dahyun. Fora de cogitação ser o centro das atenções. Fora de cogitação ir para a frente das duas turmas e falar um A que fosse.
Definitivamente, não.
O Kim levantou os olhos, e fuzilou o amigo, sentindo suas bochechas ficarem extremamente rubras.
— Vem, Tae? – Gukie o encarou com aqueles olhos pedintes, sentindo que o olhar esverdeado do Tae, o faria petrificar.
Um contato visual intenso demais.
— Hum. Hum. – Kim negou várias vezes com a cabeça e engoliu em seco.
— Medrosinho. – Jooheon falou num tom de deboche, que fez o sangue de Jeongguk ferver.
— Medroso? – Namjoon falou sério. – Engraçado, porque quando a professora pediu um substituto, você não se manifestou.
— E nem você. – O garoto de cabelos vermelhos retrucou.
— Mas ele não está chamando ninguém de medroso por isso. – Yoongi levantou as sobrancelhas. – Vá lá, Tae, mostre o quão talentoso você é.
Definitivamente, aquele “Tae” e aquele “talentoso” deixaram Jeongguk meio intrigado. Como ele sabia que o Tae era talentoso e por que chamá-lo pelo apelido?
Quando Yoongi fez menção em tocar no Kim, Gukie andou às pressas até o garoto, que fechou seu caderno de desenhos imediatamente, já que um novo esboço do moreno estava sendo feito ali.
— Tae? – Se abaixou na sua frente. – É a sua oportunidade de deixar essa timidez de lado. Vamos, eu sei que você sabe as falas, porque vejo você murmurando todas elas enquanto eu e a Dah estamos ensaiando.
— Você só pode estar louco, Jeongguk!
— Eu vou estar lá com você. Por favor, então faça por mim? Me ajude? Não quero encenar com outra pessoa.
O Kim queria morrer, queria fazer um buraco no chão da sala, se enfiar lá dentro e nunca mais sair. Ele queria estapear o JJ, e manda-lo sumir, por estar o fazendo passar tanta vergonha assim. Ele queria simplesmente correr, mas seu subconsciente o obrigou a segurar na mão estendida de Jeongguk e o seguir até o centro da sala.
Péssima ideia. Definitivamente a pior ideia que sua mente já tivera. Como ela pôde traí-lo assim?
Tantas pessoas encaravam os dois, e aquilo fazia com que Taehyung começasse a suar de nervoso e a tremer feito bambu verde. A sensação de estar sendo observado era péssima. A sensação de ter um nó na garganta, era péssima e a sensação de ter Jeongguk tão perto era... O que era?
Mas o que era aquilo que o deixava sem ar e mais trêmulo do que deveria?
— São estas falas. – A professora estendeu os papéis para eles. – Tae, não precisa ficar nervoso. Lembre-se, que eu sou a autoridade nessa sala, e qualquer gracinha que acontecer aqui, eu posso descontar quantos pontos eu quiser.
O Kim ao menos se deu o trabalho de concordar ou discordar. Ele se sentia tão estranho, tão absorto nos seus pensamentos e medos, que qualquer coisa o faria vomitar bem ali, na frente de todos.
— Não precisa se preocupar. – Gukie sussurrou. – Eu estou aqui também.
— Então vamos começar! – A professora se sentou no seu lugar, para fazer suas anotações do teatro. – Ato 1, cena 5; entrem os criados.
O ensaio então, começou. Os outros atores faziam seus papéis, e aquilo, estranhamente deixou Taehyung um pouquinho mais tranquilo, já que tinham pessoas que erravam as falas toda hora, e nem por isso, se deixavam levar pela timidez.
Definitivamente, estava sendo uma experiência nova, e mesmo que sua timidez o corroesse por dentro, a sensação de finalmente ensaiar uma peça de teatro, lhe era agradável e lhe causava aquele gostoso frio na barriga.
As pessoas erravam as falas, tropeçavam umas nas outras, por andarem com o olhar focado no roteiro, esqueciam o que tinham que fazer, e isso contribuía para que seu medo de ser julgado, fosse diminuindo aos pouquinhos.
Na arquibancada, Dahyun notou como que eles estavam agarrados um no outro, e decidiu se aproximar de Yoongi, para comentar sobre eles.
— Ei, Gi. – Falou baixinho.
— Ei, Dahyun. – O garoto respondeu baixo, como se não desse a mínima importância para a amiga que sentara ao seu lado.
— Será que eles irão se sair bem no ensaio?
— Quem sabe.
— Por que você está me tratando com tanta frieza assim, seu azedo?
— Desculpa. – Yoongi percebeu que sua tentativa de não demonstrar tanta emoção por Dahyun estar indo conversar consigo, estava saindo mais como grosseria e incômodo por estar perto da baixinha. – Desculpa, Dah. – Falou sinceramente. – Eu não estou me sentindo muito bem. – Na verdade, Yoongi não se sentia bem desde o dia do beijo entre Jeongguk e Dahyun.
— O que aconteceu? – A moça de cabelos coloridos acariciou os fios negros do amigo, que tirou sua mão dali, imediatamente.
Yoon não podia se deixar levar tão fácil.
— Você está triste?
— Não. – Ele falou sério, mas com um aperto enorme no peito. – Eu só não estou me sentindo muito bem, sabe? Como se eu estivesse preso a algo e quisesse respirar...
— Você precisa se divertir. – Dahyun sorriu de lado, mas fora um sorriso falso, porque ela sentia pena do amigo e se sentia uma traíra, por não contar a ele, a verdade sobre a megera da sua namorada. – Vamos no cinema, no sábado?
Yoongi suspirou e soltou o ar pesadamente.
— Eu não posso. – Falou baixo. – Eu tenho uma festa de família para ir com a Jiwoo.
E foi aí que Dahyun abriu a boca para dizer que eles precisavam conversar, onde ela contaria toda a verdade para o garoto, mas o mesmo a interrompeu, antes que qualquer som saísse de sua boca.
— É a vez deles. – Ele apontou para os amigos e a pequena respirou fundo, focando a atenção nos dois amigos que encenariam Romeu e Julieta.
Jeongguk sentiu seu coração bater a mil por hora, quando Taehyung ficou de frente para si, assim que o personagem de Tebaldo saiu de cena.
Agora era a vez dele. Era a vez de Romeu falar alguma coisa e para o pior – ou melhor – dos seus pesadelos – ou sonhos –, era a mesma cena que ele fizera com Dahyun e que a garota lhe beijara.
Talvez chamar o Kim para substituí-la, não tivesse sido uma ideia muito boa; mas agora já era, e o seu Romeu deveria entrar em cena.
Falou sua parte, com a maior naturalidade que conseguiu, passando a sensação para Taehyung e para a turma, de que aquele ensaio era um como outro qualquer.
O Kim engoliu em seco, e pensou em todos os erros que seus colegas de classe cometeram anteriormente, sendo que os mesmos ensaiavam a peça desde o primeiro dia.
Não tinha o que temer.
Respirou fundo, segurou firme os papéis entre os dedos e falou, encarando os olhos castanhos de Jeongguk, que percebera que o outro não leu uma palavra sequer do roteiro.
Tudo foi dito com naturalidade e com uma demonstração impecável de que ele prestava atenção em cada cena do ensaio.
Gukie ainda estava maravilhado, e fez uma pregunta do roteiro, umedecendo os lábios.
Tae respondia com tanta facilidade, que parecia uma conversa real entre os dois.
Aquilo estava de longe um ensaio para Romeu e Julieta; e tanto Yoongi, quanto Dahyun, que se entreolharam, sabiam que existia algo bem intenso ali. Intenso até demais.
Jeongguk murmurou mais uma de suas falas.
Tae o respondeu de modo provocativo, entrando completamente na personagem.
E foi aí que Jeongguk percebeu que rolava um beijo na cena; aquilo o fez suar frio antes de continuar. Ele não poderia parar com o ensaio no meio, mas também não poderia beijar o Kim na frente de todo mundo! Não que ele não tivesse vontade, mas e o Tae? O que ele faria? Seria loucura beijá-lo.
Na plateia, Jeongguk pôde ouvir Jooheon rir soprado e sussurrar um “eu duvido que rola um beijo”. Todos estavam na expectativa de saber o que iria acontecer, e ele não queria perder a pose de Romeu e quebrar o clima que havia criado ali. Todos queriam ver, e numa espiada rápida na direção da professora, Gukie constatou que até a mesma estava curiosa para saber o que iria acontecer.
Seu olhar se focou novamente em Taehyung; o garoto o encarava com um certo medo, mas ao mesmo tempo com um pingo de expectativa nos olhos esverdeados, que agora ostentavam algumas manchinhas amarronzadas.
A próxima fala e o próximo ato era de Romeu, e Romeu era Jeongguk. O Kim não podia simplesmente sair andando, já que a cena continuava, então, Gukie não poderia se calar e fingir que tudo apenas acabou.
Ele respirou fundo, se aproximou de Taehyung, engoliu em seco e proferiu as palavras da fala de Romeu, que antecediam o beijo.
Gukie passou sua mão esquerda para o rosto delicado do Kim, e a cada centímetro que ele cortava entre os dois, seu coração batia mais rápido, parecendo que sairia pela garganta.
A respiração do novato estava cortada, suas mãos suavam frio e ele tremia de nervoso. Seus olhos analisavam cada pedacinho do rosto de Jeongguk, e se focavam por mais tempo sobre os lábios levemente carnudinhos e avermelhados, do amigo.
Não seria possível que Gukie iria beijá-lo na frente de todos. Aquilo seria loucura, tanta loucura, que ele mesmo quis beijá-lo, para acabar com aquilo logo e voltar a se sentar no seu lugar, afim de se esconder no caderninho e esboçar a cena que ele imaginaria que seria o beijo.
Que loucura, por que ele queria desenhar o beijo?
Seus pensamentos mais loucos foram cortados pela raiz, quando a respiração pesada de JJ bateu contra seu rosto, o fazendo acordar do transe e se dar conta de que faltavam menos de dois centímetros para seus lábios estarem finalmente colados nos do amigo.
Jeongguk acariciava a bochecha do Kim com o polegar, mas quando a distância entre eles se tornou mínima, este mesmo polegar escorregou para os lábios do garoto de cabelos castanhos, e Gukie deixou um leve selar sobre o próprio dedo, simulando um beijo, mas que na verdade, nunca acontecera.
Taehyung se assustou com a atitude do Jeon, e achou muito nobre de sua parte, não beijá-lo de verdade, mas também não cortar o clima romântico que a cena proporcionava. Jeongguk era definitivamente um ótimo ator, e sabia improvisar em cima da hora; mas aquele beijo que poderia ter acontecido, mas não aconteceu, deixou que ambas as bocas se sentissem solitárias, carentes de um mínimo selar que fosse, necessitadas de que aquele polegar voltasse para a bochecha do Kim, e fizesse os lábios finalmente se pressionarem uns sobre os outros...
Mas isto não aconteceu.
Gukie se afastou, e antes que a próxima fala fosse proferida, a professora começou a bater palmas de uma forma extremamente animada, sendo seguida pelo restante das turmas, que por incrível que pareça, sorriam e demonstravam que a cena realmente fora bem-feita.
Taehyung agradecia mentalmente, inúmeras vezes, pela salva de palmas que se seguiu do falso beijo. Ele estava meio atordoado e não sabia se conseguiria continuar com as falas; mas graças àquelas palmas e assobios, ele poderia se acalmar e tentar regular sua respiração.
JJ estava muito feliz pela reação das pessoas, e principalmente por ter conseguido fazer algo legal, sem quebrar o clima do ensaio e muito menos sem deixar seu amigo constrangido.
Então ele também bateu palmas e sorriu abertamente, tirando um sorriso tímido dos lábios do Kim, aqueles lábios que ele definitivamente criara uma curiosidade imensa de provar.
— Eu me surpreendi com você, Jeongguk! – Jooheon falou alto e apontou para o garoto de cabelos pretos.
Gukie acenou e agradeceu, fazendo o garoto ruivo gargalhar mais alto.
— Eu realmente pensei que você fosse beijá-lo. – Jooheon continuou. – Mas você é mais esperto do que eu pensei. – Duas garotas ao lado dele começaram a rir com deboche. – Jeongguk também acha o Taehyung um esquisito; ele preferiu beijar o próprio dedo, do que a bochecha do esquisitinho.
E foi aí que Gukie percebeu que não era um elogio pela encenação, ele estava era caçoando de Taehyung, fazendo o garoto ruborizar as bochechas de uma forma que ele nunca tinha visto, e sair correndo da sala de ensaio.
— Tae? – Jeongguk tentou ir atrás, mas já era tarde demais; o Kim já havia desaparecido dali. – Jooheon! – Gritou. – Você meça suas palavras para falar dele de novo, okay?
— AAAH, não brinca que ficou com pena daquele maluco?
— CHEGA! – A professora se levantou. – Suas palhaçadas já passaram dos limites, Jooheon! Cinco pontos serão descontados de você, por importunar meu ensaio e praticar bullyng com o colega.
— E você sabe com quem está falando? – O ruivo levantou a voz para a professora, com o intuito de fazê-la se intimidar.
— Eu não me importo que seja você! Eu só sei que dentro dessa sala, eu sou a professora e a autoridade! Se eu ver mais alguma gracinha sua, descontarei mais cinco pontos, até te reprovar... e pode ter certeza de que eu faria isso com gosto!
— Eu vou falar com o meu pai! – Ele continuou discutindo com a professora, mas Jeongguk parou de prestar atenção, porque Yoongi o chamou no meio da arquibancada.
Gukie caminhou até eles, sem saber o que fazer.
— Vá atrás dele! – Dahyun falou baixo e pegou a mochila do Kim.
Ali ao lado, ainda tinham alguns materiais que ele deixou espalhado, e Jeongguk fez questão de recolher tudo, até sentir os dedos frios da baixinha sobre seu braço direito e o fazer prestar atenção na mesma, que apontava para a folha aberta do caderninho de desenhos, onde tinha apenas a assinatura no canto, escrito “V”.
— É ele! – Gukie pegou o caderno, louco para folheá-lo.
— Não olhe os outros desenhos. – Yoongi falou sério. – Ele não gosta.
— É ele. – Dah sussurrou e sorriu animada. – Vá atrás dele, logo.
A baixinha de cabelos coloridos estava radiante de felicidade, e nunca imaginara que aquela dor de garganta chegaria num momento tão oportuno. Se ela não estivesse doente, Jeongguk e Taehyung não descobririam que se sentem atraídos um pelo outro – o que era fato -, eles não teriam descobertos quem era o “V”, Jooheon não teria perdido cinco pontos e não teria tomado um xingo servido da professora; ela não teria oportunidade de conversar a sós com Yoongi e também, não teria tido uma folguinha daquele teatro chato.
Jeongguk acabou de pegar todos os materiais do amigo e saiu correndo da sala, que ainda estava um caos, por causa da briga da professora contra Jooheon. Ele andava às pressas pelos corredores, torcendo para achar Taehyung em algum deles, já que ele não fazia ideia de onde encontraria o novato. Naquele instante, ele se xingou inúmeras vezes, por não ter pedido o número do telefone do outro, para que assim, pudesse ligar.
Jeongguk continuava procurando pelo amigo, se sentindo extremamente mal, por tê-lo feio passar por aquilo. Era tudo culpa sua. Se ele não tivesse insistido para que Taehyung encenasse com ele, tudo estaria bem agora; mas não, ele foi um idiota e agora, Tae está sozinho em algum canto, provavelmente chorando.
E foi aí que ele o viu. Sentado sobre o parapeito do jardim, abraçado com os joelhos e de cabeça baixa. Gukie sentiu seu coração falhar algumas batidas, por vê-lo daquele jeito e correu na sua direção, sem ao menos saber como iniciaria uma conversa.
JJ quis abraça-lo, quis prometer que aquilo não aconteceria de novo; mas Jooheon poderia fazer qualquer coisa, a qualquer momento e quebrar sua promessa... lhe restava pedir desculpas.
— Tae? – Chamou baixinho.
O garoto continuou imóvel, sem nem fazer algum som, que demonstrasse que ele ouvia Jeongguk.
— Tae, por favor, me desculpe? – Era estranho. Aquilo tudo era estranho, porque Gukie nunca teve costume de se desculpar por nada, além do mais, ele nunca deu motivo para se desculpar com alguém. – Eu não sabia-
— Você sabia. – Tae murmurou, e sua voz saiu extremamente falhada, contando que ele estava chorando.
— Eu não sabia, eu juro.
— Qual a graça? – O Kim finalmente levantou o rosto, e mostrou que seus olhos estavam inchados e vermelhos até demais. – Qual a graça que vocês acham em me fazer chorar? Porque? Eu sou realmente tão estranho assim? Vocês realmente acham que eu— . – Tae parou de falar e balançou a cabeça negativamente. – Eu pensei que eram meus amigos.
— Mas eu sou seu amigo! – Jeongguk se sentou ao seu lado. – Tae, eu sou seu amigo.
— Foi tudo armação, não foi? A dor de garganta da Dahyun, sua ideia repentina de me chamar para fazer a Julieta... claro que foi armação, por que eu, logo eu seria a Julieta?
— Eu queria te ajudar a perder essa vergonha!
— Pare de mentir, Jeon. Vai continuar fingindo?
— Não fale assim, por favor? – Jeongguk sentia um nó na garganta, e aquele nó pareceu se apertar ainda mais, quando o Kim o chamara de Jeon e não de Gukie.
— Me deixe sozinho? – Tae pegou sua mochila nas mãos do outro e tentou sair.
— Não! – O moreno o segurou pelo braço. – Taehyung olha para mim.
— Jeon, eu não tenho a mínima vontade de discutir com quem faz isso comigo.
— Mas eu não fiz nada, por favor, Tae? Eu te juro que não fiz nada.
— Eu pensei que você fosse legal, e gostasse de mim. Eu pensei que em todas aquelas conversas no café, na doceria, nos almoços... você estava sendo sincero.
— Taehyung, eu não fiz nada contra você, pelo contrário, eu não quis te beijar, porque pensei que isso te faria se sentir mal. Olha, me desculpe pelo que o Jooheon falou, mas eu realmente achei que você acreditasse mais em mim... poxa, eu sou seu amigo.
— Você não sabe como é difícil para mim, confiar em alguém. – Tae murmurou, ao que encarava o chão.
— Eu sei que é difícil, mas por favor, eu te peço que confie em nós. Nem eu, nem Dahyun, nem Yoongi e nem o Namjoon queremos o seu mal... nós somos amigos! – Gukie se aproximou do garoto e segurou seu rosto. – Me perdoe pelas palhaçadas do Jooheon, ele é um idiota e se sente feliz em machucar as pessoas.
— Jeongguk? – Os olhos do novato já estavam lacrimejando mais uma vez, e ele segurou a alça da mochila com firmeza, mostrando que qualquer gesto impensado de JJ, o faria desabar. – Você me acha um esquisito? Você tem nojo de mim?
— Taehyung... – Gukie parou a fala ao meio e puxou o novato para um abraço apertado. – Se você me perguntar isso de novo, eu vou puxar sua cueca, e prender em cima da sua cabeça.
— Por favor, não faça isso. – O Kim respondeu entre lágrimas. – Isso dói demais, você não imagina.
— Já fizeram isso com você? – Jeongguk se sentiu péssimo pela ameaça idiota que fizera no minuto anterior.
— Já. – Tae respondeu baixinho.
— Olha aqui. – Jeon se afastou do abraço e segurou o rosto do outro, o fazendo encarar seus olhos. – Eu nunca faria isso, e muito menos com você, está me ouvindo? Eu não posso te prometer que Jooheon nunca mais fará esse tipo de coisa, porque isso é a única coisa que ele sabe fazer; mas eu te prometo que não vou deixar isso barato.
— Não faça nada. – Tae pediu. – Deixe, passe a fingir que ele não existe.
Jeongguk sabia que aquilo era impossível, mas preferiu assentir e tentar cortar aquele assunto desagradável.
— Okay, então vamos para o refeitório, porque já está quase na hora do lanche. – Gukie passou o braço esquerdo por sobre os ombros do Kim e ambos passaram a caminhar devagar na direção do refeitório.
Taehyung não precisava saber, mas durante as aulas de educação física, magicamente, Jooheon seria sorteado para lutar contra Jeongguk, e seria aí que ele faria o ruivo pagar por cada palavra proferida mais cedo.
Ele não perderia por esperar.
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