História Para fora do papel - Melodrama

Kyungsoo decidiu que Chanyeol tinha gosto de melodrama quando provou de seus lábios pela primeira vez numa madrugada de inverno em que o café já não fazia mais efeito. Os olhos de Chanyeol eram fundos, cansados de tanto encararem a tela do computador do estúdio e os cabelos ruivos apontavam como setas descoordenadas para direções tão aleatórias quanto as palavras que saíam de sua boca na voz grossa e rouca, o timbre dando a impressão de ecoar dentro do carro escuro e Kyungsoo achou que nunca viu o melhor amigo tão fascinante quanto naquele momento, iluminado pela luz do poste lá fora e sua silhueta desengonçada mexendo-se não muitas vezes porque estava exausto.

Teve vontade de abraçá-lo de repente, e se perguntou se era por que o moletom que ele usava parecia quentinho e bom de esfregar o rosto ou se era por que Chanyeol era simplesmente Chanyeol, da forma mais bobalhona e risonha que alguém poderia ser. A forma apaixonada por música que fazia os outros se apaixonarem pelos acordes e por si, que fazia Kyungsoo querer escrever letras sobre como eram bonitos os olhos brilhantes e o sorriso imenso que passava a sensação do infinito; sobre como as mãos calejadas tornavam-se hipnotizantes ao tocarem o violão cheio de memórias e cicatrizes e sobre como lhe atraíam o olhar as tatuagens subindo pelo braço e terminando no pescoço.

Decidiu beijá-lo, porque estava cansado demais para pensar em consequências e porque não tinha papel nem caneta para fazer de Chanyeol uma letra romântica. As mãos frias foram parar nas bochechas alheias para aproximarem o rosto cansado e curioso do compositor, os dedos passeando na mandíbula, no contorno dos olhos e na nuca, e foi quando chegaram nos lábios que Kyungsoo percebeu a respiração de Chanyeol falhar. Percebeu a face avermelhar e percebeu que seu próprio coração batia mais rápido. Quis congelar Chanyeol ali, capturar em versos e em notas o quanto ele estava lindo e o quanto o queria só para si pelo menos por aquele momento em que estavam os dois bêbados de cafeína e preguiçosos em suas pequenas angústias.

Os lábios se juntaram, um no molde de coração e o outro no molde de felicidade, ambos se movendo na típica lentidão de quem fingia que tinha todo o tempo do mundo até o amanhecer e o aproveitava ao brincar de amor por uma noite, resgatando gostos da boca que transformava em vício.

O sol se escondia do outro lado da janela, então ainda poderiam fingir mais um pouco. “Só mais um minuto”, eles pensavam a cada selo. Os segundos pararam até esse tempo chegar ao limite. Se separaram para Kyungsoo sair do carro e Chanyeol dirigir pela pista úmida, mas é sempre difícil deixar para trás o que te prendeu nas horas noturnas sem dar meia volta.

Antes de destravar a porta, Kyungsoo olhou para Chanyeol.

E aquilo era tudo o que diziam as baladas. Os lábios vermelhos e brilhantes e o rosto de quem tinha um coração que não cansava de acelerar, as mãos sem saber onde tocar porque já não estavam mais nos ombros ou na cintura de Kyungsoo, os olhos carregando o querer de uma promessa de próxima vez.

Os dedos de Kyungsoo largaram a trava do carro e seu corpo se inclinou na direção do de Chanyeol. Os orbes se encararam no silêncio e Kyungsoo passou a língua na própria boca antes de Chanyeol cobrí-la com a respiração trêmula. Ali, Kyungsoo sentiu.

Estava lá o gosto de melodrama.