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História Para Sempre - Antes


Escrita por: Ryuu_bywhim

Notas do Autor


Hei, guys ~
Este é, na realidade, um oneshot prolongado.
A historia era inicialmente original, mas mudei para SasuHina porque achei que combinava bastante.

Espero que gostem ~ Boa leitura

Capítulo 1 - Antes


- Não acredito que citou meu nome naquela entrevista, Sasuke!  

Ela estava furiosa, é claro, com razão, talvez.

Suspirei. Ela sempre exagerava tudo. Se dando ao trabalho de dirigir por uma hora até meu apartamento no centro de Tókio apenas para gritar comigo.

- Eu não quis irritá-la, Hinata, foi só uma pergunta que eu respondi... Quando dei por mim já tinha citado seu nome, desculpe.

- Desculpas não mudam nada, Sasuke... minha casa está cercada desses piolhos de celebridades. – disse ela, com as mechas dos cabelos negro-azulados se soltando por debaixo da boina a cada balançar brusco de cabeça.

Apertei os lábios numa linha rígida. Sentira tanta falta daqueles cabelos... Da cor incomum, das textura dos fios irritantemente lisos que desciam como uma cascata por seus ombros finos e delicados...

Ela tinha uma pinta parda em forma de coração no ombro esquerdo, eu me lembrava, contrastava com sua pele clara demais e com seus cabelos escuros demais. Era um charme, um detalhe sobre seu corpo, um dos detalhes que eu queria acreditar que apenas eu conhecia.

Tive de piscar para afastar a distração, ela ficaria ainda mais furiosa se percebesse que me abstraía de sua bronca... Falaria ainda mais e uma ruga surgiria entre suas sobrancelhas escuras perfeitamente delineadas, os olhos de pérola adquiririam um tom azulado e ela colocaria as mãos em ambos os lados da cintura.

- Ontem mesmo – a ouvi dizer - um deles invadiu minha casa e quase tirou uma foto indecente! Se Naruto-kun não estivesse lá...

Despertei de repente. Naruto, é claro. O nome era mágico, fazia algo antigo se remexer no fundo do meu ser. Me fazia desviar os olhos, irritado, e cruzar os braços, mas dessa vez, só dessa vez, eu me contive.

- Naruto? – repeti - O que Naruto fazia na sua casa? – tentei não estreitar os olhos.

Ela corou e meus dedos se fecharam nos braços da poltrona.

Hinata hesitou, desviando os olhos, despreparada. Deixou os braços balançarem de cada lado do corpo, apertou os lábios um no outro e cruzou os braços, segurando seus próprios cotovelos em cada mão.

- Pedi para ele ficar comigo até isso tudo passar. – explicou baixinho, sem olhar para mim, como se confessasse um pecado.

Senti meus dentes doerem quando os trinquei.

- Por que simplesmente não me ligou? Sabe que eu...

- Sei, Sasuke! Mas você tem essa droga de vida! – ela me interrompeu, deixando os braços caírem e suspirando logo depois – O que você poderia fazer além de piorar as coisas? – murmurou, como se para si mesma.

Eu não sabia o que responder. Não havia resposta. O que eu podia fazer além de piorar tudo? Eu era apenas um prisioneiro da minha própria vida, do meu próprio sonho. Baixei meus olhos e relaxei os dedos.

- Desculpe. – cedi – Não devia ter dito a eles sobre você. Me desculpe. De verdade. 

Senti seus dedos alcançarem minha cabeça e se enveredarem pelos fios negros e bagunçados. Foi um toque gentil, como sempre fora, tão delicado que fez meus olhos arderem de saudades dos dias em que eu tinha aquilo todos os dias, aqueles dedos nos meus cabelos, consolando-me sempre que tudo dava errado.

- Não vim por suas desculpas, Sas, apenas não fale de mim para eles. – se aproximou e beijou minha testa.  

O beijo durou um segundo, dois, talvez, mas pareceu muito mais.

Um choque elétrico percorreu todo meu corpo ao contato dos seus lábios na minha pele. Mil flashes encheram meus olhos, mil pensamentos, mil desejos, mil sonhos e, quando ela se afastou, gentil e lentamente, o vazio voltou avassalador como jamais fora; podia sentir minha alma se contraindo, tentando fechar o buraco que ela deixara.

- Um beijo para o seu irmão. – murmurei – Um beijo para seu pai moribundo. – ergui os olhos para encará-la.

- Um beijo carinhoso, Sasuke. Um beijo. – ela respondeu, afastando a mão, tocando minha bochecha ao fazê-lo – Um beijo sincero... como deveria ser.

- Sabe que não. – desviei os olhos.

Estaríamos trancados no quarto se ela fosse mais sincera.

- Não seja infantil. – quase podia ver o sorriso brincar nos seus lábios.

- Age como se tivesse esquecido tudo. – me levantei e dei a volta por trás da poltrona, estava bravo – De todas as coisas... – olhei para ela, para os olhos de pérola cheios daquela tristeza antiga, aquele ressentimento que havia entre nós – Até pediu para o Naruto ir dormir com você...

- Eu não... – ela começou, mas parou furiosa – Eu não te devo satisfações! Com quem eu durmo ou deixo de dormir não é da sua conta! – ela estava brava e seu orgulho estava ferido.

Mas eu também. Meu orgulho também estava ferido, mas eu tinha tanto ou mais ciúme... Tanto... Eu a prenderia naquele maldito quarto no fim do corredor e jamais a deixaria sair, jamais a deixaria ir embora de novo.

- Ele não é perfeito como você pensa! Ele pode ter deixado a banda e dito que foi por sua causa, mas é porque eu não o suporto... Naruto sempre procurou apenas por uma boa transa, Hina, e, assim que ele fodê-la, como ele planeja desde sempre, ele...

- Não ouse, Sasuke! – ela me interrompeu com o indicador levantado, acusando-me, os olhos úmidos e azulados pela fúria - Não ouse falar de mim desse jeito e não ouse falar de Naruto. Ele sempre esteve lá para mim quando você não estava.

- Acha que eu não sei? – ri sarcástico - Que ele “esteve lá pra você”?

Eu estava sendo amargo, sabia, estava ferindo-a onde doía mais e estava fazendo por orgulho.

Tudo o que eu queria era parar de falar, implorar para que ela voltasse, confessar o quão insuportável os dias eram sem ela e o quão sozinho eu me sentia. ‘Dói em lugares que eu não sabia que doíam, querida’, ela não podia ouvir quando eu gritava as frases no rádio? Ela não podia simplesmente entender? Que era sobre ela. Que sempre foi. Que a queria. Que a amava. Que estava difícil sem ela. Que eu queria morrer às vezes?

O queixo dela tremeu.

- Você é um cretino, Sasuke. – disse com a voz falhada, cheia de ressentimento e raiva.

Senti meu peito rasgar quando ela derramou aquela lagrima e virou as costas no mesmo instante, pegando a bolsa no meio do caminho.

- Não. – murmurei – Não! – disse mais alto, mas ela já estava saindo.

Corri.

- Hinata!? – chamei. Ela não se virou – Hina! – ela estava quase no elevador – Hinata, por favor... – o elevador se abriu – Hinata, eu... – Estendi a mão para agarrar seu pulso – Hinata... – ela já tinha entrado e as portas se fechavam.

- Eu odeio você. – ela disse com os olhos vermelhos, enxugando o nariz com a manga da blusa.

Eu parei, congelado. O elevador apitou.

- Eu... – um bolo se formou enquanto as portas se fechavam.

- Adeus. – ela sussurrou.

Não era o primeiro.

As portas se fecharam e eu fiquei ali, parado, destruído.

Não demorou muito para ativar meu sistema de proteção.

- Vadia! – gritei para as portas, socando o aço com força - Sua estúpida! - meus joelhos cederam e as lagrimas escaparam - Espero que seja feliz com aquele porra! – gritei.

Quase podia vê-la se desfazendo e uma dor súbita me tomou.

- Eu amo você. – sussurrei – Amo tanto você... Por que é tão difícil? Por que sempre foi difícil pra você acreditar, Hinata? – encostei a testa no metal frio – Eu podia te dar tudo o que queria... Podia te fazer feliz...

‘Não, não podia e você sabe. Sabe porquê. ’

Sabia. Ela tinha passado por muito ao meu lado, por mim, para mim, comigo. Ela tinha sido minha musa inspiradora, meu anjo da guarda, mas ela tinha se consumido no processo.

Tínhamos aprendido a tocar guitarra juntos desde os 10 anos e aprendemos como fazer sexo juntos quando ela fez 15. Ela gostava de escrever e compor e eu gostava de tocar e cantar. Aos 17, nós fizemos nossas malas e eu a arrastei comigo para Tókio, alugamos um lugar barato, pequeno, dividimos um colchão no chão e sentimos o chão balançar sempre que o metrô passava ao lado, um braço de distancia abaixo da janela. Ela trabalhou como garçonete num bar e eu ajudei a fritar hambúrgueres no mesmo lugar. Saíamos ao anoitecer, íamos aos bares com microfone aberto e cantávamos e tocávamos as musicas dela até cansarmos, então, bebíamos um drink - alguém sempre nos pagava um – conversávamos com estranhos e íamos para casa fazer amor até adormecermos.

Acabamos conhecendo alguns caras, formando uma banda, tocando todas as noites, fazendo sucesso. Então, uma gravadora nos contratou. Ela odiava o modo como nos mandavam fazer as coisas, como nos colocavam em quartos separados, odiava o modo como davam palpites e diziam a ela o que fazer, como fazer, como se vestir. Quando quiseram pintar o cabelo dela, foi a gota d’água. Ela não me pediu para ir com ela e continuou comigo no nosso novo e enorme apartamento. Naruto a substituiu na banda, eu passei a compor as musicas com a ajuda dela e ela não deixou de sorrir nenhuma das vezes desde então.

Então, lançamos nosso primeiro disco e, nessa noite, fizemos amor como nunca, gritando de prazer e rindo. Depois, ela passou os dedos nos meus cabelos, como sempre fez, me beijou e disse que me amava e eu a levei para a turnê porque não ficaria mais nenhum dia sequer sem ela, não depois daquelas palavras, não depois de ser a primeira vez. Mas ela nunca voltou a dizê-las.

Tudo despencou depois daquela turnê. A banda ganhou popularidade muito rapidamente, trabalho atrás de trabalho, show atrás de show. E eu estava sempre exausto, precisava sempre estar recobrando as energias. Primeiro vieram os drinks, então, os cigarros e, finalmente, as drogas, mas quando alcancei este ponto, ela já não ia mais me ver tocar. Brigávamos todas as vezes quando eu ficava bêbado e eu nunca me lembrava no dia seguinte. Apenas acordava e caminhava pelo apartamento, zumbificado, sentindo falta dela e a encontrava na mesa de café da manhã, escrevendo seus romances no seu notebook, levando a xícara de café à boca e baixando-a com os olhos fixos na tela. Eu a observava por um momento, admirando-a, então ela me notava, erguia seus olhos para mim, fechava o computador, se levantava e ia para o quarto bater a porta e se trancar lá dentro. E brigávamos de novo por isso.

Ela ainda ia aos nossos ensaios, mas falava com Naruto ao invés de mim, ainda ia aos shows, mas sorria para Naruto ao invés de mim. E ele sorria de volta para ela. E quando ela fugia de mim, quando eu a fazia ouvir, ela corria para os braços abertos dele, ele me lançava aquele maldito olhar ressentido, com um ódio contido, e a envolvia, apoiando o queixo no topo de sua cabeça e eu enlouquecia e quebrava tudo que podia.

Foi a gota d’água quando, num de meus acessos, chapado, eu bati nela. Nós estávamos brigando por causa do meu ciúme, eu estava furioso e ela gritou comigo, argumentando que eu me tornara aquilo, aquela coisa bêbada e chapada que ela não reconhecia mais, aquele homem desagradável. Eu joguei, então, meu ciúme sobre ela, com palavras cruéis sobre sua traição com Naruto, eu a ofendi e tentei agarrá-la, tentando possuí-la como teria feito com qualquer prostituta, tocando-a sem permissão, sem carinho e ela lutou para se desvencilhar e, num lapso de raiva, bati as costas da mão em seu rosto com força. Ela caiu no chão e olhou para mim por debaixo daquela franja e eu nunca tinha visto seus olhos tão azuis. Quando ela limpou o sangue dos lábios, a verdade caiu sobre mim como água fria. ‘Me perdoe’, foi tudo o que pude dizer naquele momento. Mas ela estava furiosa. Ela me odiava. Se levantou e passou por mim sem uma palavra, foi para o quarto e voltou com uma mala. Eu estava surpreso demais para reagir. ‘Hinata... Me perdoe’, a minha voz falhou ‘Por favor, Hinata...’, mas ela se virou para mim, segurando a maçaneta, com raiva no olhar ‘Você é um monstro. Eu odeio você’.

- Não... não diga isso... – eu me ouvi repetir, de volta a porta do elevador, como repetira naquela vez – Eu amo você... volte e diga que me ama também... diga que não pode viver sem mim, Hina... por favor?

O elevador apitou. As portas se abriram e, por um momento, achei que fosse ela e ergui os olhos cheios daquela esperança vã, mas era apenas Gaara, meu melhor amigo, o baixista.

- Nem vou perguntar por que está aí desse jeito. – ele me ajudou a levantar – Encontrei Hinata lá embaixo.

Eu me recompus, quase que imediatamente.

- Ela veio me dar um sermão. – contei – Veio gritar comigo... de novo.

- Por aquela entrevista? – Gaara me guiou apartamento adentro – Naruto me disse que ela está tendo problemas com os paparazzi. Um deles invadiu o quarto dela e ela estava saindo do banho quando foi surpreendida pelas fotos... – suspirou fechando a porta atrás de nós – Naruto cuidou dele. Por sorte ele estava lá.

- A vadia está dormindo com ele já faz um tempo. – resmunguei, irritado – Nem esperou minha raiva passar.

- Quem esperaria? Sua raiva é eterna. – ele sorriu zombeteiro e se deixou cair na poltrona com as pernas sobre o braço dela – Soube que Hinata vai publicar outro romance? Parece que você a deixou bem famosa.

Desviei os olhos, ressentido, e sentei no sofá, procurando pelo maço de cigarros amassado num nos bolsos. É claro que sabia sobre o livro, tinha usado um cachecol ridículo que pinicava como disfarce para ir até a livraria mais próxima comprá-lo. Tinha-o devorado na mesma tarde, sedento por qualquer indício do que se passava na mente dela. E me descobri em seu protagonista, na maneira violenta como se comportava, no linguajar cruel que usava e nos seus lapsos de fúria. Tinha deixado escapar isso na entrevista. ‘Soube que gosta de ler, Sasuke, pode nos dizer qual foi o ultimo livro que leu?’, ela perguntara gentilmente, desviando os olhos para o papel de perguntas, mas sorrindo gentilmente quando olhava para mim, tinha uma voz irritante e um cabelo escuro com os fios grudados à cabeça, penteados meticulosamente para juntarem-se num prendedor na nuca, preto e simples como o terninho que ela usava. Eu tinha pensado um pouco, antes de responder, pego de surpresa, então, sorri jovialmente como sempre fazia nessas entrevistas ‘O ultimo que li foi The Wind, da Hina’ soltara naturalmente, sem notar que usara o apelido dela ‘Ela escreve muito bem, me identifiquei com seu personagem, Hinata sempre foi ótima com as palavras’. A entrevistadora não deixou essa passar, ajeitou-se na cadeira confortável, remexendo seu traseiro magro na almofada enquanto Gaara continha o riso de escárnio e Shikamaru suspirava.

 ‘Qual seu relacionamento com Hinata Hyuuga? Vocês parecem íntimos’ ela sorrira. A merda já estava feita, então, eu rolei nela. ‘Hinata foi minha primeira namorada. Foi guitarrista da Akatsuki antes de Naruto, como poucos sabem’.

 

- Hei! – Gaara estralou os dedos, irritado.

Eu pisquei duas vezes para despertar e escolhi um cigarro no maço.

- Que foi? – perguntei com o cigarro entre os dentes.

- Estava viajando. – ele constatou – No que estava pensando? – ele sorriu - Saaaasuke... não está chapado já, está? – ele se sentou direito na poltrona – Ainda são três da tarde...

- Não. – acendi o cigarro – Sabe que parei.

Ele voltou para sua postura anterior.

- No que estava pensando então? – insistiu.

- Sobre a entrevista que demos.

- Aquela em que quase se declarou para Hinata? – ele riu.

- Eu só disse que foi minha primeira namorada.

- A única. Estava claramente subentendido.

Dei de ombros.

- Ela não queria a maldita fama ou o maldito dinheiro. – bufei, esmagando o cigarro no cinzeiro sobre a mesinha de centro entre nós – Sempre fez as coisas ao seu bel prazer e nunca admitiu precisar de ninguém. – reclamei e uni as sobrancelhas, fitando a madeira do móvel – Levou anos para dizer as malditas palavras. – resmunguei.

- Que malditas palavras? – Gaara quis saber.

Me recostei no estofado.

- Esqueça. Hinata é o tipo de mulher que não presta. – desviei os olhos para a janela e brinquei com o maço de cigarros nas mãos – O tipo cruel.

- Você é o tipo cruel. – ele corrigiu.

Eu desviei os olhos dele, com desgosto, o canto dos meus lábios se curvando para baixo, e olhei para a janela enorme do outro lado, podia ver meu reflexo fraco, fazia um dia nublado lá fora, teríamos um show mais tarde, provavelmente choveria.

Ela adorava a chuva.

Se fechasse os olhos podia vê-la girar na calçada encharcada debaixo da tempestade, girando, girando com os braços abertos, rindo como se soubesse de alguma piada. Tinha 15 anos nessa lembrança, eu tinha 16. Estávamos na praça que ela adorava, onde tocávamos até escurecer. Ela correu para mim e me deu um de seus beijos inesquecíveis, molhados e sedutores. Eu tinha segurado seus cabelos, tocando seu pescoço liso e ela suspirara. ‘Oh, Sass, devíamos fazer aquilo esta noite’ ela tinha dito e eu rira dela e a abraçara e a girara. Ela era meu tudo e eu mal sabia. Ela era tão simples e tão honesta... Mantínhamos aquela coisa sem complicações, não um namoro oficial, mas por conveniência, eu a beijava, ela me beijava, fazíamos sexo quando dava vontade e continuávamos nossas vidas, sempre amigos, sempre tolerantes, mas ela nunca teve outro, eu sabia, ela fazia questão de me deixar saber e eu nunca tive outra, nunca desejei outra, ela sempre foi a mais interessante, a única que eu queria.

 

- Hina? – eu chamei – Hinata? – olhei para os lados do apartamento escuro – Hina, não brinque comigo, está em casa? – entrei no nosso quarto escuro, podia ver a silhueta da cama.

Me aproximei e me sentei e senti quando ela se mexeu para o outro lado.

- Sas? – resmungou sonolenta.

Eu sorri. Tão linda. Me inclinei e beijei seu rosto, sua bochecha, sua testa, seus olhos, seu nariz e, por fim, sua boca. Ela não disse nada, apenas me retribuiu, me puxando para um abraço enquanto eu deixava meu corpo encostar ao dela com um suspiro.

- Céus... – murmurei – Você é a melhor parte da minha vida.

Ela abriu um de meus sorrisos preferidos, aquele grande, sedutor e muito convencido.

- Eu sei que sou. – disse e apertou o abraço – Agora venha, vamos fazer aquilo até você ficar exausto.

Eu a beijei.

- Então é só sobre você? – sorri zombeteiro.

Ela me fez deitar para ficar por cima de mim, sentada sobre meu membro já ereto, sabendo do efeito que tinha sobre mim, muito consciente do torpor que me causava.

- Você é o único, Sasuke, você é ótimo... – beijou meu pescoço – Você é o único. – sussurrou.  

Eu a abracei forte.

- Seja minha. – não era um pedido.

Ela mordeu minha orelha.

- Eu sou sua, idiota. – riu.

Eu ri também e a beijei com selvageria. ‘Eu te amo’, eu queria ter dito, ‘Eu te amo mais do que poderia sonhar amar, então nunca me deixe, nunca vá embora, porque eu te amo e eu não sei se consigo viver sem você’.

‘Não seja bobo, Sasuke’, a voz dela sussurrou no escuro enquanto eu caia no vácuo infinito ‘Veja... você está indo bem sem mim, não está? Você vai ficar bem sem mim’. Eu comecei a cair mais rápido, os flashes passavam como filmes no escuro, o rosto dela, os olhos dela, os sorrisos dela, o choro dela, vermelho, perolado, azul. ‘É uma medida temporária. Se eu melhorar, você vai voltar pra mim’ argumentei para o escuro. ‘Não, Sasuke’ senti os dedos dela nos meus cabelos ‘Sabe que não’.

 

- Sasuke! – Gaara me sacudiu – Sasuke! Caramba! Acorda, porra!

Eu abri meus olhos lentamente, ainda estava claro. O sonho ainda estava fresco na minha mente, a voz dela dizendo ‘não’ para mim pela centésima vez.

- Cochilei... – constatei, irritado, esfregando o rosto e limpando a baba no canto dos lábios enquanto me sentava no sofá.

- Não. – Gaara sorriu tenso – Você dormiu pra caralho. É hora de irmos.

Inspirei profundamente, sentindo meu peito pesado. E Hinata invadiu minha mente novamente.

- Acha que ela vai ao show? – perguntei, sabendo quão patético soava.

- Por que iria? – ele já estava de pé, se enfiando na jaqueta de couro, de costas para mim.

Baixei os olhos.

- Ela... – eu não sabia – Esquece. – me levantei – Vamos. – disse eu, pegando o sobretudo sobre a poltrona.

- Sua guitarra...?

- Está no carro. – eu disse abrindo a porta.

Gaara me seguiu, calado demais para o meu gosto, desviando os olhos sempre que eu o olhava. Estranhei, mas não disse nada, não queria saber, não tinha interesse, só queria subir na porra do palco com minha guitarra em mãos e gritar até não aguentar mais. Até toda angustia me deixar e a solidão passar. Gritar alto, até ela me ouvir de onde quer que estivesse.

- Vão tocar o show na rádio? Ou algum canal vai emitir ao vivo? – perguntei enquanto dirigia.

- Não sei. Peter deve ter essa informação. – ele disse, batendo a perna num tique irritante.

Suspirei e desisti de qualquer conversa que tivesse em mente. Liguei o radio e o obriguei a ouvir suas musicas mais odiadas do Led Zeppelin, mas Gaara não pareceu se importar, tão pouco pareceu ouvi-las, olhava para fora com um olhar nervoso.

- O que você tem? – perguntei quando chegamos e eu estacionei o carro.

- Nada. – ele uniu as sobrancelhas, encolheu os ombros e saiu do carro.

Eu saí e bati a porta com força desnecessária, tirando um cigarro do maço.

- Eu vou ficar aqui e fumar um pouco. – disse.

Só queria me livrar dele.     

Gaara me deixou, com demasiado alívio, e subiu as escadas do estacionamento com pressa.

Eu bufei para as costas dele, peguei a guitarra no banco de trás, sentei com as portas abertas e dedilhei um pouco as cordas, murmurando mentalmente uma nova canção, parando para soltar a fumaça do cigarro vez ou outra. Hinata teria jogado o cigarro no chão e pisado sobre ele com raiva, ‘Concentre-se no que está fazendo, Sasuke, e pare de fazer pela metade’, ela teria dito. E eu sorriria, acenderia outro cigarro e a puxaria para abraçar sua cintura fina e deitar a cabeça em seus seios. Ela nunca usava sutiã em casa, me lembrei de repente e sorri. Era uma frase boa para a nova musica que estava compondo. Onde ela estava agora? Estaria em casa? Chorando por mim ainda? Ou estaria compartilhando a cama e o suor com Naruto?

Trinquei os dentes e falhei um acorde, fazendo as cordas estralarem num som agudo e desafinado.

- Sasuke? – ouvi Shikamaru chamar das escadas, estava com as mãos nos bolsos da blusa e a habitual mascara de indiferença – Vamos começar. – disse ele.

Eu soltei a fumaça com os olhos fixos nele. Shikamaru era, inegavelmente, irritante, mas eu gostava dele, da sua máscara de tédio e do seu sarcasmo, principalmente.

Joguei o resto do cigarro no chão e pisei sobre ele, jogando a guitarra por sobre o ombro e batendo a porta do carro. Arrastei meus pés até onde ele estava, apenas para parar e olhá-lo nos olhos, de baixo.

Shikamaru ergueu as sobrancelhas.

- Está tentando me intimidar?

Sorri torto, baixei a cabeça, balançando-a negativamente, rindo baixinho e subi os malditos degraus.

- Ao trabalho. – bati em seu ombro quando passei por ele.

- Não ligou o alarme do carro. – ele me lembrou.

Procurei as chaves no bolso e apertei o botão para ouvir o carro apitar em resposta.

- Vamos. – insisti.

Ele me seguiu até o acesso a sala onde os assistentes técnicos ficavam e Orochimaru veio direto em minha direção quando entrei, havia uma expressão de pânico em seu rosto, os olhos estavam cheios de nervosismo e preocupação.

- Você está bem? – perguntou para mim.

Uni as sobrancelhas.

- Mais que bem. Vamos entrar agora?

- Claro. – ele forçou um sorriso.

Outras pessoas se aproximaram para nos passar o cronograma da apresentação. Começaríamos com uma das letras mais antigas dessa vez, uma das letras dela. A minha preferida. Orochimaru sorriu nervoso para mim quando eu pendurei a guitarra nos ombros.

- Bom show. – disse ele.

Sorri.

- Isso eu garanto. – prometi.

 

A plateia gritou quando entramos e aquela velha sensação de liberdade e prazer puros me preencheu, o único prazer que restara desde que ela tinha me deixado. Dedilhei rapidamente o primeiro solo, me aproximei do microfone e cantei e gritei.

Eu ri e pulei e me deixei afogar em êxtase até que não aguentasse mais, até que o grito uníssono da plateia se tornasse rouco e Shikamaru fizesse seu habitual showzinho de fim de show com duas batidas dramáticas no final.

Eu os vira sorrir enquanto tocavam, Gaara e Shikamaru, mas quando saímos do palco, exaustos, com os cabelos grudados no suor do rosto, eles assumiram uma postura séria e tensa, como se tivessem recebido um balde de água fria em suas cabeças. Os assistentes olharam para nós e voltaram às suas atividades de fim de show e Orochimaru foi nos encontrar com aquele sorriso forçado.

Eu tinha um sorriso no rosto quando deixei a guitarra encostada num canto, um sorriso que sumiu na atmosfera carregada.

Para onde quer que eu olhasse havia pessoas fugindo da minha presença, dos meus olhares, das minhas perguntas mudas. Tão irritante. Era quase como no dia em que Hinata me deixara, todos pisando em ovos comigo, como se eu fosse explodir a qualquer momento num dos meus lapsos de raiva.

- O que foi? Por que estão todos sérios? – eu exigi.

Estava confuso, de inicio, mas eles estavam me deixando furioso.

Gaara segurou meu ombro, como que para me impedir de avançar sobre eles.

- Sasuke... vamos para casa.

Eu me desvencilhei.

- Mas que merda... o que está errado? Desde quando cheguei estão todos tensos e nervosos...

Orochimaru apertou os lábios, Gaara baixou os olhos e Shikamaru suspirou e deu um passo a frente.

- Vamos levá-lo até a Hinata... ela sofreu um acidente de carro essa tarde.

Eu congelei e o ar congelou comigo. Estavam todos esperando pelo meu showzinho agora.

- Como Hinata sofreu um acidente? É a melhor motorista de Tókio... – eu não queria acreditar.

- Escute, Sasuke...

Eu precisava de respostas.

- Escute? – gritei para ele - Quando isso aconteceu? Porque só fiquei sabendo disso agora? Onde ela está? Como ela está? Hinata... – engoli em seco – Ela...

Eu não conseguia perguntar. Não sabia se queria saber a resposta e a expressão deles só fez piorar.

- Foi no caminho dela para casa, quando ela saiu do seu apartamento... – Gaara contou – Nós não podíamos contar antes do show... você não ia conseguir fazer nada... não tínhamos como contar antes... – ele explicou exasperado, mas eu conhecia aqueles argumentos, de onde eles tinham vindo.

Me virei para Orochimaru.

- Sasuke, escute... nós... – ele começou.

Eu o ergui pelo colarinho, empurrando-o até uma parede.

- Você. Você. – rosnei – Sempre você. Seu maldito show em primeiro lugar, não é? Não. Seu maldito dinheiro. – corrigi – Foi por sua causa que ela deixou a banda, por sua causa Naruto entrou na banda, por sua causa ela o conheceu e por sua causa ela me deixou. E agora você vira meus amigos contra mim, os faz omitir uma informação dessas... Você sabia que eu correria até ela e abandonaria toda essa merda. Você esteve sempre me dizendo... – trinquei os dentes – Me dando conselhos. – estreitei os olhos – Nós estamos vendendo a nossa alma para o diabo. – franzi o nariz, enojado e o soltei, deixando-o cair no chão, sem ar.

- Ela está bem! – ele gritou assim que conseguiu ar suficiente.

Eu peguei minha guitarra onde a tinha deixado.

- Vamos continuar a conversa depois, Oroshimaru. – prometi e saí.

Shikamaru e Gaara me seguiram, correndo escadas abaixo até o carro.

Quando entramos, Shikamaru deixou escapar uma risada sombria.

- O que é tão engraçado? – Gaara quis saber, batendo a porta do banco de trás.

Dei a partida.

- Eu esperei tanto por esse dia. – ele estava aliviado.

Os pneus cantaram quando dei a ré.

- O dia em que Hinata sofreria um acidente? – Gaara perguntou, irritado.

- O dia em que Sasuke abriria os malditos olhos.

Eles estavam olhando para mim, mas eu não respondi, tão pouco prestei atenção neles, tudo o que eu queria era alcançá-la logo. O mais rápido possível.

Gaara foi quem me disse para onde ir quando saímos da garagem para a movimentada e lotada Tókio noturna e, novamente, fiz os pneus cantarem quando acelerei pela avenida.

  

 

Estacionei o carro em alta velocidade perto da calçada e corri para dentro do hospital, Gaara resmungou um palavrão quando tentava se desvencilhar do cinto enquanto Shikamaru já saia do carro para me seguir.

As portas se abriram automaticamente e nós entramos, sem saber exatamente para onde ir.

As enfermeiras olharam para nós com curiosidade e alguns olhos se encheram de reconhecimento e elas murmuraram entre si enquanto caminhávamos até a recepção, onde uma enfermeira jovem e cansada ergueu os olhos para nós.

- Em que posso ajudá-los?

- Hyuuga Hinata está internada neste hospital.

- Hyuuga Hinata... – ela digitou no computador – Sim, ela está repousando no quarto...

- Qual? – exigi, com as mãos no balcão.

Ela me fitou por um instante.

- No quarto 104, no terceiro andar. Ela...

Eu não a deixei concluir, corri para o elevador e apertei o botão, mas ele estava longe demais e eu não tinha a paciência necessária. Desviei para as escadas e subi correndo os degraus até o terceiro andar, quando alcancei o corredor, estava sem fôlego e meu corpo tremia, mesmo assim eu me arrastei até a porta fechada do quarto dela e parei com a mão na maçaneta.

‘Eu odeio você’ a voz dela ressoou na minha mente e os seus olhos perolados úmidos pelas lagrimas encheram minha mente.  Um acidente quando ela saiu do meu apartamento naquele estado...

A culpa era minha, percebi de repente e recolhi a mão.

Será que ela queria me ver? Esperava me ver? Se eu entrasse... E se ela chorasse de novo? Se dissesse que me odeia de novo? Se me mandasse embora? E se eu piorasse seu estado?

- Ela está inconsciente. – alguém disse.

Eu ergui a cabeça e olhei para ele, os cabelos loiros caiam sobre a testa e os olhos azuis, os fios eram grossos e sedosos e os olhos tinham um brilho de ressentimento. Naruto estava segurando um copo de café e não parecia nada feliz em me ver, mas conformado de uma maneira estranha.

- Você já está aqui. – constatei o óbvio.

Ele revirou os olhos.

- É claro que eu estou aqui. Eu estive com ela desde que soube do acidente... – suspirou cansado – Ela ainda não acordou.

- Ela...

- Não corre risco de vida. – ele abriu a porta e entrou, deixando-a aberta para mim.

Eu não consegui me mover, mas a procurei no quarto escurecido pela noite e encontrei primeiro a luz dos aparelhos ao lado da cama, meus olhos passaram por todos eles, evitando-a. Eu podia sentir o mal que eu tinha feito a ela, a mim mesmo, a nós...

- Sasuke! – Shikamaru e Gaara me alcançaram.

Eu não olhei para eles, meus olhos estavam presos nela. Estava deitada da cama, a perna engessada, a cabeça enfaixada, os cabelos negro-azulados emaranhados em torno do pescoço, o rosto cheio de arranhões.

Dei um passo na direção dela, um passo lento, hipnotizado, sem sequer piscar.

Naruto se deixou cair numa poltrona distante com seu café nas mãos enquanto eu me aproximava dela devagar e estendia a mão para tocá-la.

Ela não reagiu quando meus dedos alcançaram seu rosto ou quando apertei sua mão na minha, nem mesmo quando afaguei seus cabelos e beijei sua testa deixando as lágrimas correrem livremente pelo meu rosto.

- Me perdoe, Hina... – murmurei para ela, tentando conter o choro e a culpa – Eu tenho sido tão imbecil... – apertei meus lábios contra a sua testa, abraçando-a com cuidado – Eu amo você. Sempre amei você. – confessei baixinho.

Senti seus dedos se moverem fracamente e suas sobrancelhas unirem-se.

Ela respirou fundo.

- Sass... – sussurrou grogue, com as pálpebras estremecendo, tentando abrir os olhos – Você é tão barulhento... Tão... Sass – resmungou com um suspiro – Naruto-kun? É você?

Naruto se levantou, espantado e se aproximou, tocando o colchão dela, buscando sua mão.

- Hinata-chan? – ele sorriu aliviado.

Ela resmungou e abriu os olhos. Estava, obviamente, dopada; as pupilas dilatadas, as pálpebras pesadas. Ela olhou para Naruto primeiro, perdida, depois olhou para mim e fixou seu olhar.

- Sass? – umedeceu os lábios e ergueu a mão para tocar meu rosto.

- Sou eu, amor. – sorri, aliviado, pondo a mão sobre a sua no meu rosto.

Ela fez um esforço frágil para me puxar para perto e eu me aproximei, até que seus lábios ficassem próximos do meu ouvido.

- Vem... – ela sussurrou com sua voz grogue e fraca - Vamos fazer aquilo até você ficar exausto...

Meu peito se aqueceu de repente e eu a abracei, rindo.

- Sim, vamos fazer aquilo, amor, vamos fazer o que você quiser.

Senti sua mão se erguer para limpar o suor na minha testa.

- Está tão suado... – ela resmungou – Aposto que se divertiu no show hoje. – sorriu.

Eu amava tanto aquele sorriso. Sentira tanto sua falta.

- Eu te amo. – disse para ela – Nunca, nunca, nunca vou deixá-la ir de novo.

Ela respirou fundo mais uma vez.

- Shh... – resmungou – Só fique comigo. – pediu, mas soou como uma ordem.

Eu me deitei ao seu lado na cama e Naruto se afastou com a cara fechada enquanto eu a ajudava a se aninhar a mim, com a cabeça sobre o meu peito.

- Vou ficar com você. – prometi – Para sempre. – beijei o topo de sua cabeça.

Ela suspirou.

- Adoro seu cheiro... – disse vagamente, caindo no sono – Cigarros... – sussurrou cada vez mais distante - ... e algo refrescante... – sua respiração tornou-se lenta e profunda.

Sorri para mim mesmo, protegendo-a nos meus braços, aproveitando cada segundo da embriagues dela.

- Vou para casa. – Naruto disse – Diga a ela que voltarei amanhã pela manhã.

- Eu direi. – garanti.

Ele se foi, tempestuoso, irritado e, pela primeira vez, eu não senti ciúme. Pela primeira vez desde muito tempo eu tive certeza de que ela era minha de que só tinha sido minha como eu sempre fui dela.

Shikamaru assentiu para mim, com um sorriso, na porta, e ele e Gaara se foram também.

E eu me deixei deitar e fechar os olhos, aproveitando seu cheiro e sua respiração tranquila. 


Notas Finais


Haverá mais um capítulo em breve ~ Espero qe tenham gostado. Comentem!


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