História Para Sempre - Capítulo Quatro

-Ai Ali, foi incrível – Dizia Marcelina para a amiga pelo telefone, enquanto terminava de arrumar a casa. – Ele me deu um colar com uma âncora e explicou o significado, disse que eu sou como uma âncora para ele, um refúgio, uma força que o acalma, que sou mais que uma amiga e que vai além de qualquer título. Eu chorei tanto que quase inundei essa casa. Foi maravilhoso – Suspirou se jogando no sofá.

-Acho que temos uma mocinha apaixonada, hum? – Alicia riu enquanto Marcelina arregalava os olhos, mesmo a amiga não podendo ver.

-Claro que não, você ta doida? Mário é e sempre vai ser meu melhor amigo, Ali.

-Eu sei disso, Marce, só que não quer dizer que vocês não possam se relacionar também. Vê a Laurinha e o Adri, eram amigos inseparáveis e agora estão namorando –Lembrou Alicia, fazendo a baixinha revirar os olhos.

-Vamos parar de viagem, ok? – Pediu levantando novamente, tirando alguns copos da mesinha de centro da sala. – Eu tava pensando, Ali. Lembra quando fazíamos nossas reuniões de meninas? Faz tanto tempo que não nos reunimos mais – Lembrou triste.

-Pois é. Maioridade é isso né? Responsabilidade, trabalho, faculdade, uma pá de coisa chata – Alicia disse suspirando em seguida.  

-Nem me fala. Só que aos sábados e domingos nenhuma de nós trabalha, podíamos marcar de nos reunirmos e conversar sobre coisas idiotas, comer besteiras e ver filmes. Eu sinto falta de uns anos atrás.  

-Pior que eu também, amiga. Vou mandar uma mensagem para as meninas, combinar para semana que vem. O que você acha? – Perguntou animada.

-Isso! Vamos voltar aos tempos antigos – A baixinha animou-se também. – Fala com elas e me manda uma mensagem me avisando, pode ser aqui em casa sem problemas – Avisou. Elas se despediram e finalizaram a ligação.  

~*~

Jorge e Daniel estavam no shopping conversando. Como era domingo, eles não trabalhavam, então decidiram sair para conversar.

-Então cara, o que você tanto queria falar comigo? –Perguntou Daniel enquanto se sentavam em uma das mesas da praça de alimentação, esperando seus pedidos.

-É o seguinte. Você sabe que eu mudei bastante desde o colegial e que a cada dia eu tento ser alguém muito melhor, não é? – Perguntou ao amigo que assentiu. –Então, eu e a Margarida nunca nos demos muito bem, justamente pelo meu jeito arrogante de ser. Eu sempre a chamei de caipira e sem cultura e isso fez ela se afastar de mim – Suspirou continuando logo em seguida. – Quando ela foi embora, eu fiquei muito abalado. Mesmo falando todas essas besteiras, ela era a única menina que eu gostava, tirando a Majo, claro. Eu pensei que nunca mais a veria e quando ela voltou, eu me senti tão feliz, tão animado e ela simplesmente fingiu não me conhecer.

-Olha cara, você sempre falou mal do grupo todo, diminuiu todo mundo e todos nós te perdoamos e te aceitamos na turma. Quando nos reuníamos, a Marga sempre falava que era injusto você não participar, afinal você era da turma. Uma vez eu a ouvi dizer para a Carmem que você era o garoto mais bonito e educado que tinha na turma, mas no dia seguinte, ela chegou bastante chateada. A Carmem me confidenciou que ela estava assim, por sua causa. Caipira ela sabia que era, mas sem cultura não. E que não queria mais ouvir esse tipo de besteiras vindo de você e logo depois ela teve que voltar para o sítio. Creio que ela tenha tido um bom tempo para pensar e anulou qualquer tipo de sentimento por você – Finalizou vendo o amigo baixar a cabeça. – Mas o que tudo isso tem a ver com a nossa conversa, afinal?

-Eu estou apaixonado por ela, Daniel – Confidenciou e o amigo lhe olhou espantado. – Eu acho que sempre senti isso, mas minha ignorância não me permitia ver. Agora ela simplesmente não quer nem olhar mais na minha cara.

-Você tentou se aproximar ao menos? –Perguntou enquanto via a garçonete deixar seus pedidos sobre a mesa. Agradeceu a moça que sorriu simpática saindo logo em seguida.

-Sim, na festa da Marce. Enquanto ela dançava com a Laura e a Bibi eu a chamei para uma conversa, mas ela disse que não tinha nada para me falar – Comentou enquanto degustava seu calzone.

-Olha cara, esse lance de menina é bem complicado. Mesmo agora que crescemos, parece que continuamos todos com nossos nove anos. Tirando Cirilo, Adriano, Davi e Jaime, estamos todos na mesma. A Margarida é uma menina incrível e você vai ter que ralar um pouco para consegui-la, mas não desiste – Falou dando um tapa no ombro de Jorge, que lhe deu um sorriso triste. – Tenta a chamar para conversar em um momento só de vocês dois. Mostre para ela que você se importa e gosta dela.

-É eu vou tentar – Falou suspirando.

Ficaram por mais um tempo no Shopping conversando para logo depois se despedirem e cada um seguir seu caminho.

~*~

Mário fazia manobras incríveis enquanto era admirado pelas garotas sentadas no banco ali perto. O skate virou uma paixão e sempre que tinha um tempo, ia para a pista andar. Ele geralmente era acompanhado por Paulo, mas este tinha um encontro com uma garota, no qual não queria lhe dizer quem. Finalizou outra manobra indo até um murinho e sentando ali para descansar. Olhou para o lado ao sentir a presença de alguém e sorriu para a garota que ali estava. Ela era muito bonita, tinha os cabelos claros e olhos castanhos.

-Oi, tudo bem? –Começou a garota.

-Sim e você, ta bem? –Devolveu a pergunta vendo a garota assentir.

-Me chamo Raissa, Raissa Chaddad, e você é? – Se apresentou estendendo a mão ao garoto que a apertou.

-Mário, Mário Ayala – A menina lhe sorriu.

-Então Mário, eu vi você andando de skate e achei super legal suas manobras. Eu gosto muito de skate, mesmo não sabendo andar direito – Contou rindo e fazendo o garoto rir também.

-Eu comecei a andar com treze anos e aprendi com meu melhor amigo. Posso ensinar você, se você quiser – Ofereceu.

-Claro que eu quero! – Animou-se, mas logo desanimou. – Eu não tenho um skate.

-Ah isso não é problema, eu lhe empresto o meu – Mário disse, fazendo Raissa sorrir. – Quer começar agora? – Perguntou e ela assentiu.

Ele foi ensinando os primeiros passos, como ficar em pé, a se equilibrar, virar em curvas e a pisar para pegar ele com a mão depois. Ficaram umas duas horas na praça conversando e andando.

-Olha depois de hoje eu vou correndo comprar um skate para mim, assim podemos marcar de vim aqui andar mais vezes – Contou enquanto iam caminhando para casa.

-É uma boa ideia, assim podemos conversar mais também – Mário lhe sorriu.

-Então, é aqui que eu moro – Apontou para a casa verde em frente aos dois. – Você tem whats? Poderia me passar seu número para a gente conversar – Palpitou e ele logo assentiu, colocando o número no celular que a garota lhe oferecia e ela fez o mesmo no celular dele. –Tchau Mário e obrigada por hoje – Disse e deu um beijo no canto da boca do garoto que ficou sem reação. Ela riu e entrou, enquanto ele ia para casa rebobinando à tarde que teve.

Quando chegou em casa, a primeira reação que teve foi mandar uma mensagem para Paulo contando que conhecera uma garota. O amigo ficou lhe fazendo milhares de perguntas, que foram todas respondidas detalhadamente.

Mais tarde, Raissa lhe chamou em uma conversa e ficaram trocando mensagens até tarde da noite.

~*~

Margarida, Carmem e Bibi estavam na sorveteria. Era um domingo de sol e nada melhor do que um sorvete para amenizar o calor. As meninas colocavam a fofoca em dia quando receberam uma mensagem de Alicia.

-Gente, que ideia ótima que a Ali e a Marce tiveram. Eu sinto muita falta dos nossos encontros – Carmem comentou enquanto se deliciava com o sorvete.

-Me too – Concordou Bibi. – Eu super topo e digo mais, vai ser lá no meu apartamento – Ditou animada. Mandou uma mensagem para Alicia dizendo que iria ceder o espaço e a amiga de cara concordou.

-Eu estava pensando esses dias. Se não fossem as reuniões na casa abandonada, nós ainda manteríamos contato? –Margarida disse vagando em pensamentos.

-Pois é. A maioria ficou junta até o terceiro do ensino médio e tirando os casais, creio que a amizade ia diminuir e bastante. A vida adulta é de fato, um saco – Carmem reclamou.

-Jorge tentou conversar comigo na casa abandonada, mas eu disse que não tinha nada para falar – Margarida confidenciou parecendo chateada.

-Você ainda gosta dele, friend? –Perguntou Bibi e Margarida deu de ombros.

-Ele foi minha primeira paixão. Eu falava que gostava do Dan, mas vi depois que era apenas amizade, mas o Jorge... –Deixou a frase no ar, fazendo as amigas suspirarem.

-Você não teve nenhum namorado no tempo que ficou fora? –Carmem perguntou fazendo Margarida rir.

-Claro que eu tive Carmem! Você acha que uma adolescente cheia de hormônios ia ficar durante cinco anos, sozinha? – Perguntou, vendo Carmem e Bibi soltarem uma risada.

-De fato, amiga. Seria bem estranho – Carmem concordou. – Mas voltando ao assunto Jorge, porque você não dá uma chance e ouve o que ele tem a lhe dizer?

-É Marga, todos têm direito a uma segunda chance – Bibi opinou.

- Eu não sei meninas. Ele sempre me tratou de uma forma tão ruim, que eu peguei certo medo de falar novamente com ele. Tenho medo de ele me falar todas aquelas besteiras novamente – Margarida abaixou a cabeça, chateada.

-Como você vai saber se nem falou com ele? –Perguntou Bibi. – Ouve o que ele tem a lhe dizer e então você irá saber se ele continua o mesmo ou se ele de fato mudou.

-Talvez vocês tenham razão, vou pensar melhor na hipótese – Sorriu para as meninas que lhe abraçaram, formando um abraçado em grupo.

~*~

-Me fala Paulo, quem é a garota que você tanto conversa? –Perguntou Marcelina.

O irmão foi até sua casa lhe fazer uma visita quando já estava para anoitecer e a menina reparou que ele não parava de mexer no celular e sorria direto.

-Já disse que não é ninguém, anã – Falou enquanto a irmã lhe lançava um olhar desconfiado. – Ok, eu estou sim conversando com uma garota – Admitiu a vendo bater palma animada. – Mas ainda é segredo. Quando for o momento certo eu te conto – Finalizou vendo um bico se formar nos lábios de Marcelina.

-Isso é injusto Paulo. Eu sempre conto tudo a você – Disse chateada.

-É que não é nada certo ainda, não sabemos se vai vingar então decidimos manter segredo até termos certeza absoluta – Contou.

-Tudo bem, você que sabe – Desistiu de tentar fazer o irmão abrir a boca. – Você vai dormir aqui? –Perguntou mudando de assunto.

-Vou sim. Nosso pai está cada vez mais chato e implicante. Eu não aguento mais – Disse desanimado.

-Quando tudo me aconteceu fiquei chateada, mas vi que foi uma ótima decisão – Falou a menina e o irmão assentiu. – Agora vamos para o quarto dormir, que amanhã é um longo dia – Falou puxando o irmão para o quarto.

Ela estava feliz afinal, seu irmão merecia conhecer alguém legal e ser feliz. Ela sempre quis que ele e Alicia ficassem juntos, mas se eles não querem quem é ela para decidir alguma coisa, não é mesmo?