História Para você trago apenas as flores - Sendo estas desprovidas de espinhos

Venho semeando a terra com as sementes que me deras, originadas por seu jeito doce, pelos momentos alegres e por suas risadas imprevisíveis.

A terra já não é mais tão fértil ou úmida quanto antes, mas alguns brotos tímidos ainda persistem em se erguerem até ramificarem em belas flores. Magoadas pelo mau tempo, mas ainda belas.

Falta pouco para que eu te veja mais uma vez, cuido com esmero do amor que ramificou em alguém que luta para manter as esperanças todos os dias, os botões se abrindo aos poucos até revelarem pétalas novas, facilmente esfaceladas por mãos cruéis.

Há quem diga que eu devo te trazer comigo para morarmos juntas, dividirmos vasos e cobertas. No entanto, não consigo te ver num mundo como este, prefiro viajar por campos, distâncias grandes e mares abertos a ter teus pés nesta terra.

Pois é a flor mais bela e corre o risco de se magoar como as raízes arrancadas das plantas que me dera.

Por esses lados há a guerra, a injustiça, a fome e a miséria, o bonito é consumido pelo fogo que propagam por infinitos metros.  

E eu te peço tanto para que não vá ver o mundo, que permaneça em seus ramos fora do alcance de dedos imundos. Só que eu não posso te impedir de ver a escassez da beleza das suas flores enfeitando teu jardim, assim como a água em meu país.

Tento mentir sobre estar em período de inverno, já que onde mora o sol sempre brilha, reluzindo tudo que ainda resta de bom no mundo. E me sinto mal toda vez que concorda, tão ingênua.

Mal sabe que até mesmo as flores que aprecia machucam minhas mãos com seus espinhos, ainda mais você que sempre me espera, assoprando um dente de leão a cada despedida em um pedido.

“Você voa com o vento e retorna florescida.”

Por isso podo até mesmo suas flores, deixando-a desprovidas de qualquer coisa que vá te ferir, mesmo sabendo que um dia tomará conhecimento de que aqui não é seu lugar.

Enquanto o fatídico momento não chega, enfaixo minhas mãos e coração de seus olhos, enterrando meu desespero junto às minhocas que ainda restam na natureza. Aproveitando o ar fresco e a liberdade de atravessar a fronteira com tuas rosas, lírios e jasmins.

E se um dia eu não retornar, assoprarei uma flor na esperança de que as pétalas levem meu amor em mensagem para saber que suas flores continuarão sendo cultivadas, ainda que apenas dentro de mim.

Falta pouco para que eu vá te ver e de tudo que há no mundo, para você trarei apenas as flores, Cheng Xiao.