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História Paraisópolis (Romance Gay) - Lar Doce Lar


Escrita por: EdBeraldo

Capítulo 1 - Lar Doce Lar


Eu observo os prédios luxuosos ao meu redor com certa atenção, são bem bonitos e atraem olhares, mas é a mesma monotonia de sempre: pessoas ricas e mesquinhas enfornadas em seus apartamentos de milhares e milhares de reais. A mesma monotonia da qual eu fujo, mas estou preso à ela. Estou me mudando para um desses apartamentos contra a minha vontade. Sinto-me como um daqueles criminosos que andam acorrentados. Apesar de ser um deles este não é o meu lugar, eu não me sinto como sendo um deles, mesmo observando tudo dentro de um carro que custou mais alguns milhares de reais. Meu rosto segue escorado no vidro do banco traseiro.

-Já chegamos, querido. - minha mãe se vira para mim e passa a mão em minha perna.

Olho para o lado e vejo que paramos em frente a um enorme conjunto habitacional. Há três prédios, todos brancos e com uma arquitetura diferente, uma espécie de escada circular. É um bom lugar para se morar, mas como eu já disse antes, eu não me encaixo nisso.

-A gente vai ter que mesmo morar aqui? - pergunto saindo do carro e encarando o enorme prédio na minha frente - Eu gostava de onde morávamos.

-Enquanto eu estiver trabalhando nesse novo projeto do governo...sim. - meu pai coloca a mão sobre meu ombro. Ele também admira nosso novo lar.

Meu pai é um médico renomeado que foi chamado para atuar em um projeto do governo cujo objetivo é trazer atendimento de saúde de qualidade para as áreas carentes de São Paulo. Agora, teremos que morar no bom e velho Morumbi para que ele fique perto do novo trabalho: a favela de Paraisópolis.

Tolice, em minha opinião. Não querendo ser chato, mas acho que um médico como ele deveria estar em um grande hospital, e não em um postinho de saúde receitando xarope para pessoas com dor de garganta.

-Ora, Alexandre, deixe disso! –minha mãe surge ao meu lado e me repreende –Nós vamos ficar muito bem aqui!

-Que seja. - dou alguns passos e passo pelo portão principal.

-Boa tarde. –um segurança no portão me cumprimenta com um breve aceno de cabeça.

Forcei um sorriso e continuei andando. Dou uma olhada no pátio do condômino e vejo o quão luxuoso ele é. Só aqui embaixo já pude notar uma piscina, um playground e uma quadra de basquete.

-Olha isso, Filho. Não é maravilhoso? - meu pai novamente aparece atrás de mim - Podemos fazer algumas cestas depois.

-Pode ser. - volto a andar e passo pela portaria. Alguns moradores passam por mim. Subo as escadas em direção ao andar em que fica nosso novo apartamento.

-Filho, tem um elevador aqui. - minha mãe me chama. Paro, olho para trás, reviro os olhos e volto a subir as escadas.

-Alex, nós moramos no sétimo andar, é mais fácil subir de elevador! - ouço meu pai insistir para que eu desça e siga com eles para o elevador.

A escadaria parecia não ter fim, quando finalmente chego ao andar encontro meus pais me esperando na porta.

-Se tivesse me ouvido não demoraria tanto. - minha mãe estende a mão para que me junte a eles.

-Prontos? - meu pai pergunta enquanto balança as chaves do apartamento entre seus dedos

-Estou prontinha! E você, Alex? - minha mãe sorri para mim.

-Êêê! - levanto os braços fingindo animação.

-Na contagem. –meu pai coloca a chave na fechadura e começa uma contagem. –Em três, dois, um! –a porta é aberta.

-Aaaaaaaaah! - minha mãe grita de alegria e corre para dentro- Que lindo! Alex, veja isso!

-Mobiliado? – entro no apartamento e analiso os móveis que cuidam da decoração do apartamento.

A sala não é muito grande. Uma grande televisão está acoplada a um painel de madeira. Algumas plantas e jarros espalhados pelo rack que parece grupado à parede. Um tapete muito felpudo que mataria uma pessoa alérgica com o tanto de poeira que deve acumular. Uma mesa de vidro no centro e uma grande sofá branco com várias almofadas. Me lembra daqueles do Big Brother. A sala faz divisória com uma cozinha aberta. Um balcão americano as divide.

-Dê créditos ao seu paizão aqui! - meu pai diz abraçando a minha mãe.

-Sempre um passo à frente não é, ursão? - minha mãe dá um beijo estalado em meu pai.

-Se me dão licença eu vou ali vomitar. – saio da sala e vou em busca do meu quarto.

Encontro uma porta com um ‘’A’’ de madeira pendurado, suponho que seja meu quarto. Entro e dou de cara com um quarto com paredes pretas, menos na parede em que está a cama, esta tem um papel de parede com listras azuis escuras e cinza. A cama de casal está bem arrumada e fica encima de um tapete. Duas mesinhas de canto amarelas em cada lado da cama. Uma escrivaninha onde está o meu notebook e meu iPad. Ao lado dela, uma grande janela.

-Nada mau. - digo sentando na cama e dando alguns sobressaltos para sentir a qualidade do colchão.

Vou até uma janela enorme ao lado da escrivaninha e me deparo com uma vista privilegiada do que seria a tal favela em que meu pai trabalhará. Paraisópolis. Tinha que ser tão perto?

-Legal, não é mesmo?!- meu pai e suas manias de aparecer atrás de mim.

-É enorme. - digo ainda olhando pela janela.

-Ah, você está falando de Paraisópolis. –ele diz ficando ao meu lado e olhando pela janela - Sim, é uma verdadeira cidade dentro da nossa metrópole. Amanhã estarei indo conhecer o posto onde ficarei.

-Espero que sobreviva, deve ter todo tipo de gente ai. - digo indo em direção a minha cama.

-Que bobeira, Alex! -meu pai se vira para mim- Paraisópolis não é tão ruim quanto pensa! Há várias coisas interessantes para se ver.

-Tipo o quê? O campinho de futebol?

-Sim! E os vários projetos que buscam manter os jovens fora do caminho ruim.

-Que tipo de projetos?

-Arte!

-Arte?

-Isso! Há apresentações de balé, a Casa de Pedra...até uma casa feita de garrafa PET!

-Quanta criatividade.

-Sim. Qualquer dia posso te levar para conhecer.

-Qualquer dia então...

-Bem, vou te deixar sozinho com seu novo quarto. –meu pai diz indo em direção a porta –Que tal pedirmos uma pizza para o jantar?

-Pode ser.- digo deitando na cama e analisando o teto.

-Pizza, então. - meu pai sai e fecha a porta.

Assim que ele deixa o quarto dou um grande suspiro. Me viro de lado e ajeito o travesseiro na cabeça. Decido dormir um pouco.


***


-Filho. - ouço a voz da minha mãe penetrar meu sonho –Alex, acorde!

-Oi, mãe. - digo com a voz sonolenta, coço os olhos tentando me adaptar à escuridão.

-Vem jantar. A pizza vai esfriar.

-Eu esquento no micro-ondas.

-Vem jantar! - minha mãe repete saindo do quarto.

Olho pelo relógio na cômoda e vejo que são 18:27PM. Levanto e vou ao banheiro lavar o rosto. Fico observando o meu reflexo. Os meus cabelos são castanhos, assim como os meus olhos. O meu rosto é um pouco afilado, não gosto muito dele. Não tenho nada de muito grandioso no meu corpo, eu sou...magro!

 Sigo para a sala de jantar onde uma caixa de pizza está entreaberta. Pego um pedaço e vou para a sala em seguida e junto-me aos meus pais que estão vendo jornal.

-Que bom que acordou, dorminhoco. - meu pai bagunça meu cabelo.

-Pai, para com isso. - digo arrumando o cabelo.

Volto minha atenção para a TV, que começa a falar de uma notícia sobre o casamento gay.

-''Numa decisão histórica, a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou nesta sexta-feira o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país. Os 13 estados que ainda proibiam não podem mais barrar os casamentos entre homossexuais, que passam a ser legalizados em todos os 50 estados americanos. A decisão veio por cinco votos contra quatro.''- diz a âncora do jornal.

-Só se falam em gays ultimamente, eu não aguento mais! - minha mãe extravasa ao ouvir a notícia.

-É uma realidade, mãe. Eles só estão comemorando o direito que ganharam.

-Casamento é entre homem e mulher! - meu pai também entra na discussão.

Não digo nada. Nunca disse nada, na verdade. Discutir com meus pais sobre sexualidade é como tentar contar os grãos de areias em uma praia: impossível. Mesmo com total consciência da minha preferência por outros caras eu nunca contei nada pra ninguém. Quer dizer, tenho uns amigos que sabem, mas poucos. É uma das muitas coisas que guardo para mim mesmo.

-Vamos assistir outra coisa. - a voz de minha mãe interrompe meus pensamentos. Ela coloca em algum canal qualquer da TV por assinatura que passe filmes.

-Isso. –disse o meu pai - Olha só para nós assistindo televisão juntos como uma família! Nada no mundo paga momento como esses! – ele passa o braço no encosto do sofá e coloca os pés na mesinha de centro.

-Não seja folgado, Antônio! - minha mãe dá um tapa na coxa de meu pai.

-Desculpe, querida. Eu só queria me espreguiçar.

-Se quer se espreguiçar vá pra cama!

-Não é uma má ideia. - meu pai olha em seu relógio de pulso- Me acompanha?

-Claro.

-Ótimo! Preciso descansar bem, amanhã irei conhecer meu novo local de trabalho.

-Por falar nisso –cantarolou minha mãe -, Alex, você já deve ter visto do seu quarto que moramos bem pertinho dessa favela que o seu pai vai trabalhar.

-Sim, eu vi. –balancei a cabeça.

-Pois bem, não quero você lá. Aquele lugar não é para nós. Sabe-se lá as coisas que aquelas pessoas podem fazer conosco.

-Ah, que peninha! –fui irônico - O papai me chamou para um divertido tour pela comunidade mas vejo que não vai dá certo. - digo fazendo biquinho, na verdade, não estou triste com isso.

-Do que ele está falando, Antônio?- minha mãe olha para meu pai.

-Ora meu amor...não há problema nenhum em Alex ir comigo até Paraisópolis.

-Claro que há! Tem todo tipo de gentinha lá! Não quero meu filho com esses...esses, esses...delinquentes! - minha mãe faz careta.

-Não exagere, Isabel! Há muitos jovens bons naquele lugar!

-Faça-me o favor...- minha mãe vai em direção ao seu quarto.

-Não ligue para o que ela diz, nossa visita a comunidade ainda está de pé. - dizendo isso meu pai deixa a sala.

Levanto-me e desligo a televisão. Vou ao meu quarto.

-Deus, o que eu fiz pra merecer esses doidos como meus pais? - digo sentando em frente ao notebook. Quer dizer, o meu pai é legal, mas a minha mãe é um saco!

Entro no site de busca e digito por Paraisópolis.

-''Paraisópolis é um bairro favelizado da cidade de São Paulo...''- começo a ler os resultados da pesquisa- ''Paraisópolis vêm recebendo vários projetos de urbanização, entre eles encontram-se: a das vias de tráfego; obras emergenciais de reparos da infraestrutura; regularização fundiária; canalização de córregos; abertura de novas ruas e uma escola.''

Ora, ora...parece que Paraisópolis vêm mesmo avançado bastante. Não me parece ser um lugar tão pobre assim, pelo menos não na novela.

Desligo o notebook e deito na cama, decido ir dormir.

Acho que tenho planos para amanhã.


Notas Finais


Se gostaram, dêem votinho e comentem o que esperam da história! <3


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