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História Paraisópolis (Romance Gay) - Café quente


Escrita por: EdBeraldo

Capítulo 14 - Café quente


Em casa tomei o banho mais longo da minha vida. Usei esse tempo para pensar um pouco. Duas semanas de esforços para me desligar daquele mané jogados fora em menos de cinco minutos ao seu lado. E pra piorar ele estaria aqui amanhã de tarde e provavelmente vai fazer uma das suas maluquices. Eu não mereço isso!

Saí do chuveiro já com uma boxer e vesti uma roupa para dormir. Fui até a sala e encontro minha avó no sofá. A TV estava ligada. Ela havia caído no sono. Rio baixinho ao lhe ver ali com a cabeça pendendo pro lado. Pensei no que ela me disse mais cedo sobre como eu era bonito e que logo estaria namorando. Namorando uma garota. Tento imaginar a sua reação se descobrisse as coisas que passei nas últimas semanas com o seu convidado. O sorriso em meus lábios morre. Vou até a televisão e a desligo. Minha avó acorda.

-Por que diabos você desligou a televisão? –ela reclama.

-A senhora tava no maior ronco. –digo rindo.

-Mas que besteira. Eu estava somente descansando os olhos. –ela diz.

-Vem, vó. Eu te levo pro seu quarto. –a ajudo a levantar do sofá- A senhora pode ver televisão lá.

-Ah, sendo assim tudo bem. –ela sorri.

Caminho com ela até o quarto e a ajudo a deitar na cama. Vou até a cômoda e lhe entrego o controle da televisão.

-Você é tão bom pra mim, meu filho. –ela diz sorrindo.

-A senhora também é muito boa para mim. –sorrio de volta.

-Eu? Ora, sou só uma velha que enche o seu saco.

-Não diga isso, vó. –digo a cobrindo- Eu te amo.

-Eu também te amo, meu neto. –ela beija minha bochecha.

-Durma bem. –digo indo até a porta. Ela me lança um beijo. Sorrio e saio do quarto.

No caminho até o meu quarto vejo o meu pai chegando em casa. Ele joga sua pasta no sofá.

-Oi, pai. –digo sorrindo –Chegou mais cedo.

-Alex. –ele diz tirando a gravata –É, estou com um ajudante agora e terminei algumas coisas mais cedo.

-Legal. Eu já vou dormir. –digo apontando para a porta do meu quarto.

-Boa noite então.

-Igual. –dou um pequeno sorriso e entro no meu quarto.

Me jogo na cama e enfio a cara no travesseiro. Minha serenidade é interrompida pelo som do celular tocando. Era Caio. Eu não sei o porquê de eu ainda ter o número dele mas o seu nome estava ali no visor. Decido atender depois de ter passado as últimas semanas ignorado várias das suas ligações, afinal, eu tinha que falar umas coisas para ele sobre ele ter aceitado o convite da minha avó de vir aqui amanhã.

-Até que enfim me atendeu. –ele diz calmo.

-Caio, me diz com o que você tava na cabeça quando aceitou o convite da minha avó. –começo a falar.

-Eu só vou tomar um cafezinho, Alex. –ele ri –Nada demais. Conversar um pouco com sua avó, ela me pareceu ser bem legal.

-Olha bem o que você vai falar amanhã. Não quero que isso termine em merda.

-Que tipo de coisa eu falaria?

-Você sabe bem. –falo sério –Não quero minha avó por dentro de tudo. E é bom você inventar uma história para contar como nos conhecemos porque eu não mandei você entregar que a gente se conhecia.

-Deixa isso comigo.

-Eu vou dormir agora. –digo soltando um bocejo – Sétimo andar, apartamento 306. Por favor, não estraga tudo.

-O que eu ganho em troca se me comportar amanhã? –ele pergunta. Desligo o celular na sua cara.

***

-Vó, precisa mesmo de tudo isso? –olho para a mesa que minha avó preparou para essa tarde. Pães, queijo, presunto, bolo, suco, biscoitos, café e chá. Não satisfeita com tudo ela ainda prepara bolinho de chuva.

-Como assim isso tudo, Alex? –ela pergunta colocando os bolinhos em papel absorvente –É só algumas coisinhas, não dá nem para tampar o buraco do dente.

-Eu não acho que Caio se importaria se fosse somente um café com bolo. –digo pegando um biscoito na mesa.

-E sair daqui morrendo de fome? Não enquanto eu estiver aqui.

-Ele vai sair daqui rolando. –digo me virando para ir até a sala.

-Acho que ele é outro que precisa engordar um pouquinho. –ela diz colocando o prato com os bolinhos encima da mesa e vindo para a sala.

-E a senhora precisa colocar juízo na cabeça. –digo.

-Ora Alex, vai ficar com raiva de mim? –ela pergunta colocando as mãos na cintura.

-Eu não estou com raiva de você, vó. –direciono meu olhar para ela –Só acho que é meio loucura convidar um estranho para tomar café. E tipo assim, nem é a sua casa.

-Mas ele não é estranho, é? –ela arqueia uma sobrancelha –Ele disse que já lhe conhecia. Como vocês se conheceram, Alex? Você me disse que nunca tinha ido até Paraisópolis.

Fico em silêncio por um momento tentando pensar em algo para dizer a minha avó. Eu mentia para os meus pai com facilidade, mas mentir para a minha avó me deixava estranho. Eu não gostava. Por um momento cogito contar a verdade, tirando as partes mais picantes, claro.

-Bem, vó... –começo a falar mas nesse momento o interfone toca.

-Ai meu Deus. –minha avó olha para o relógio –Deve ser ele. Atenda a porta, eu vou só dá uma ajeitadinha ali no visual. –minha avó correndo para o banheiro. Correndo como alguém da terceira idade correria.

-Ajeitadinha no visual? –não acredito que ouvi minha avó dizer isso –Vou até o interfone e o atendo. O porteiro avisa da chegada de Caio e eu libero sua entrada.

Saio para fora do apartamento e fecho a porta. Fico esperando Caio em frente ao apartamento. Cruzo os braços e fito a porta do elevador que se abre. Caio está ali com sua típica cara de despreocupado, como se tivesse o controle sobre as coisas. Usava uma camisa preta, uma calça jeans (acho que ele só tem calças) e um tênis. Ele abre um sorriso de lado ao me ver ali e anda calmamente em minha direção.

-Tava tão ansioso com minha vinda que esperou do lado de fora? –ele pergunta rindo pelo nariz.

-Só queria ter certeza de que você não vai entrar na minha casa para falar alguma besteira. –digo –Sei que é difícil para você passar cinco minutos de um diálogo sem soltar um palavrão ou falar sacanagem.

-Você está sendo tão bruto comigo, pequeno A.

-Dá pra parar de me chamar de pequeno A? Eu tenho nome!

-Eu paro se você parar de me negar. –ele diz me olhando de cima a baixo.

-Você é incrível. –viro os olhos e abro a porta –Vamos acabar logo com isso. –entro no apartamento e dou passagem para Caio entrar.

-Tá bem de vida, hein? –ele diz.

Passo direto por ele e vou até o corredor.

-Vó, o Caio já tá aqui. –bato na porta do banheiro.

Minha avó sai no mesmo instante com um sorrisinho no rosto. Ela passa a mão no meu rosto e vai até a sala.

-Dona Luciana, a senhora tá uma gata! –Caio diz ao avistar minha avó.

-Ora, mais que exagero! –ela ri –Sou só uma velha enrugada!

-É a velha mais bonita que já vi. –ele diz olhando para mim.

-Está me deixando vermelha, Caio. –minha avó continua a rir –Vamos sentar. Preparei algumas guloseimas para comermos.

-A senhora não devia se incomodar. –Caio diz puxando a cadeira para a minha avó se sentar.

-Obrigada. –ela diz se sentando –Não foi incomodo nenhum.

Sento ao lado da minha avó e Caio no outro lado, de frente para nós dois.

 -Adoro cozinhar e acho que ainda não descobriram algo do que comer. –minha avó continua a falar.

-Com certeza não existe nada melhor que comer. –Caio diz olhando para mim com sua cara de safado. Chuto sua perna por debaixo da mesa sabendo muito bem o que ele queria dizer com aquilo. –Porra! –ele diz baixinho gemendo de dor.

-Disse alguma coisa? –minha avó, que mexia em uma cesta com pães, não percebeu a movimentação.

-Ah, eu disse: oba, bolinho de chuva! –Caio disfarça.

-Ah, sim! Eu sou conhecida na família pelos meus bolinhos de chuva! –ela diz pegando um bolinho coberto com um pouco de açúcar e praticamente enfiando na boca de Caio –Minha mãe me ensinou a fazer. Pensei em ensinar para a mãe do Alex ou para minha outra filha mas elas nunca mostraram interesse. Então ensinei o Alex a fazer. –minha avó sorri para mim. Retribuo.

-Está uma delícia mesmo. – Caio diz tentando sorrir. Parece que ainda sente dor.

-Não se acanhe em pegar mais, querido. –minha avó então pega um prato e enche uma mão de bolinho de chuva colocando-os no prato. Depois ela pega um pedaço de bolo e dois pães para acompanhar. Ela estenda o prato até Caio.

-Tem muita coisa, dona Luciana. –ele diz olhando o pequeno monte de comida no prato.

-É só algumas besteirinhas para forrar o estômago, tome. –ela sorri e Caio pega o prato.

-E você, Alex, não vai pegar nada pra comer? –Caio olha para mim.

Forço um sorriso para Caio e pego um bolinho no seu prato e levo para a minha boca.

-Que coisa feia, Alex. –minha avó diz –Ainda tem aqui no prato.

-Ah, desculpe, eu não vi. –sorrio. Caio ri.

-Eu esqueci o açúcar, olha só! –minha avó diz se levantando depois de colocar café em sua xícara. –Já volto. –ela diz indo para a cozinha.

Caio sorri para ela e a acompanhar com o olhar. Quando ela some ele olha para mim.

-Que história foi aquela de me chutar? –ele pergunta.

-Isso é pra você aprender a deixar de falar merda. –digo com raiva –Cala a boca!

-Vem me calar. –ele rebate fazendo bico com a boca para que eu o beije. Que idiotice.

-Olha aqui o açúcar! –minha avó volta para a mesa.

***

-Mas era assim que levávamos a vida no sítio! Eram tempos difíceis mas eu era muito feliz. –minha avó dizia –Apesar de tudo, eu consegui estudar.

A tarde se passou com as histórias de vida da minha avó. Caio ouvia atentamente ria com minha avó. De vez em quando eu me pegava olhando o seu sorriso.

-Eu passei a tarde toda aqui falando de mim e você ficou ai só ouvindo. Fale um pouco de você, Caio. –minha avó diz.

Desperto naquele instante e minha orelhas parecem levantar.

-Opa, é Caio, fale de você! –apoio.

-Eu? –Caio sorri –Eu sou só um cara de Paraisópolis.

-Mas todo mundo tem uma história para contar. –digo.

-Bem, eu nasci e fui criado na favela mesmo. Quando eu era pirralho éramos só eu, meu pai e minha mãe, que morreu quando eu tinha 2 anos. Depois disso minha tia ajudou o meu pai a me criar. Meu pai já era velho conhecido do povo de lá e ganhou a confiança de todo mundo por lá. As pessoas o vinham como um tipo de suporte, sei lá, ele cuidava das pessoas, sabe?

-Eu entendo. –minha avó assente. Eu apenas continuo a prestar atenção na história.

-Meu velho morreu no final do ano retrasado, câncer no pulmão. Estava sempre acompanhado de um cigarro. –Caio volta a falar e sinto uma pontada no coração. Era por isso que ele ficou estranho comigo depois que fumei na sua frente no dia da festa –Desde então as pessoas esperaram que eu assumisse o cargo que meu pai conquistou em Paraisópolis. Eu tento, mas o meu pai era um líder melhor do que estou sendo. Não tenho uma grande história, mas já passei dificuldade também. Hoje em dia eu não sou rico, mas tenho o suficiente pra viver confortavelmente. Posso dizer que sou feliz.

-Isso é importante. –minha avó diz –Não precisamos de rios de dinheiro para viver bem e ser feliz.

Caio assente.

-Quer dizer então que você é responsável pelo pessoal de lá? –minha avó pergunta e Caio novamente balança a cabeça –Tão jovem!

-Não faço tudo sozinho, tenho ajuda de uns amigos meus.

-E como conheceu meu neto? –minha avó pergunta. Olho para Caio que também olha para mim.

-Vó, eu menti quando disse que não tinha ido até Paraisópolis. –digo –Fui até lá logo depois que nos mudamos. Conheci Caio ao tentar entrar lá, eles não costumam deixar gente desconhecida entrar. Conversamos um pouco e foi só isso.

-É, só cumplicidade. –Caio diz sorrindo. Não sei o que me deu mas eu também sorri para ele, e não foi forçado.

Ficamos ali mais um pouco até que Caio decidiu que estava na hora de ir embora. Ele se despediu de minha avó, que o beijou no rosto.

-Deixe-me descer junto com você. –ela se oferece.

-Não, não precisa. –ele diz –Fique aqui. Foi muito bom passar a tarde com a senhora.

-Foi mesmo muito bom. –ela sorri –Alex, vá com Caio até a portaria, sim?

-Tá bom, vó. –sorrio.

É então que eu e Caio vamos até o elevador.

-Sua vó é uma pessoa legal. –Caio diz entrando no elevador.

-Sim, ela é. –concordo apertando o botão do térreo. A porta do elevador se fecha.

-Mas e então, fui bom? –ele pergunta.

-Você parece um daqueles namorados melosos que fica todo preocupado com a impressão que passou para a família da namorada. –digo.

-Namoro? Sai pra lá. –ele diz e eu dou risada.

-Você foi bom sim. –admito –Não precisou falar besteira no final de tudo.

-Que bom. –ele diz –Posso ganhar meu prêmio agora?

-Você não desiste? –pergunto.

-Nunca. –ele sorri –E aí?

Sorrio. Olho para o LED do elevador e vejo que estamos no quinto andar. Eu não deveria fazer isso, só aumentaria mais o ego de Caio em relação a mim, só que eu talvez até quisesse beija-lo naquele instante. Olho para ele e então o beijo, um beijo calmo e sem estripulias como os nossos primeiros beijos que eram totalmente ferozes e famintos. Era só pra ser um beijo rápido e quando eu estava encerrando Caio puxa o meu corpo que se choca contra o seu. Ele agarra a minha cintura e muda o ritmo do beijo que agora voltava a ser como antes, totalmente feroz. Não tentei resistir, eu estava querendo muito aquilo. Segurei em seu pescoço. O corpo em alerta pedindo para que levássemos o beijo adiante, mas tive que lembrar-me que estávamos em um elevador. A porta do mesmo se abre atrás de nós.

-Caio. –digo entre o beijo.

-Foda-se a porta. –ele diz e continua a me beijar.

Ele continuou me beijando e só parou depois de um tempo porque não tinha mais fôlego. Ele sorri para mim e sai do elevador. Vou atrás dele e vejo o porteiro que observava a cena curioso.

-Valeu ai. –Caio faz um cumprimento com a cabeça ao passar por ele.

Acompanho Caio até o portão e então me despeço.

-Vou te ver em breve? –ele pergunta.

-Talvez. –digo com um pequeno sorriso. Caio sorri e pisca para mim.

Ele então parte de volta para Paraisópolis. Depois dessa tarde eu até cogitava a ideia de dar a Caio aquilo que ele queria.

 

 

 


Notas Finais


Alex é trouxa?


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