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História Paraisópolis (Romance Gay) - Tarde morgada


Escrita por: EdBeraldo

Capítulo 5 - Tarde morgada


Caio tinha razão. Caminhei por cinco minutos e em pouco tempo já adentrava o portão do condomínio. Dessa vez peguei o elevador e fui até o meu apartamento.

-Até que enfim você chegou! - minha mãe estava na sala, e, ao me ver, levanta do sofá com um pulo e toma meu rosto em suas mãos, o examinando. Talvez procura-se um ferimento? - Eu já estava para chamar a polícia.

-Não exagera, mãe. Eu tô bem. - digo saindo de perto dela.

-Como a empregada nova só chega amanhã eu pedi um almoço para nós! –ela diz me seguindo em direção a mesa e me mostrando alguns pacotes de comida, aqueles de delivery –O melhor restaurante da cidade!

-Isso é daqueles restaurantes que serve a galera fitness? –pergunto me sentando à mesa.

-Sim, tudo de primeira qualidade!

-A comida de lá é horrível.

-Alex! –minha mãe me repreende –Eu não sei a quem foi que você puxou para ser assim tão chato. Deve ter sido o lado da família do seu pai. O seu tio é exatamente assim.

-Se você diz. – começo a comer a salada na minha frente com pouco caso.

-Vai sair outra vez? - minha mãe pergunta.

-Não. Acho que vou dormir.

-Você precisa se exercitar meu filho! Só faz comer e dormir, comer e dormir, comer e dormir. Sabia que levar uma vida sedentária engorda?! Você quer engordar, Alex?

-Não mãe, eu não quero engordar. - digo com um fio de voz tomando um gole de suco.

-Então venha comigo para a academia lá do shopping. Eu soube que tem aulas de Zumba!

-Academia? Zumba? Tô fora! Me deixe aqui mofando encima da cama enquanto como comida decente.

-Comida decente? Do tipo bolacha, salgadinhos e refri?

-Palmas para você! –ironizo - Conseguiu decifrar o enigma de um adolescente do século vinte e um!

-Você é um caso sério mesmo!

Levanto as duas sobrancelhas.

-Tá precisando comprar algo para escola? –ela pergunta tomando outro tipo de assunto.

-Mãe, estamos em Junho! As férias mal começaram e você já quer falar de comprar materiais.

-Quer um sapato novo?

-Não.

-Quer que eu lhe compre alguma coisa?

-Você poderia comprar uma fita adesiva pra eu colocar na sua boca! Será que dá pra você ficar quieta por um minuto?

-Eu não acredito que você está falando assim comigo!

Como eu não tenho paciência para os assuntos da minha mãe, me levantei da mesa e a deixo falando sozinha. Tranco-me em meu quarto e me esparramo na cadeira da escrivaninha suspirando. Viro-a para a janela e analiso novamente a grande Paraisópolis. Começo a alisar minha mão e me lembro do número que Caio anotou nela. Um sorriso bobo brota dos meus lábios lembrando da situação de hoje e de Caio. Puxo o celular do bolso para adicionar o número em meus contatos.

Depois disso vou tomar um banho e tomo cuidado para não tirar o número de Caio de minha mão, se acontecesse qualquer coisa, aquele seria o meu passe livre em Paraisópolis. Ao sair do banheiro, visto uma roupa e vou em direção a sala. Encontro minha mãe se preparando para sair. Ela também havia tomado banho e estava bem arrumada usando um longo vestido branco.

-Alex, tem certeza que não quer que eu lhe traga nada? - ela pergunta.

-Mãe... –lhe lanço um olhar que responde a sua pergunta.

-Tá bom. - ela abre a porta- Alex, lembre-se que eu não quero...

-Que eu vá até Paraisópolis. –termino a sua frase –Por favor, muda o disco!

Ela não responde. Apenas abaixa a cabeça, passa a alça da bolsa pelo braço e sai.

Me jogo no sofá e levo as minhas mãos a até a cabeça. Não vejo a hora de fazer dezoito anos e dar o fora daqui! A minha mãe me deixa muito estressado!

Preciso de algo, quero algo. Vou até meu quarto e abro meu guarda-roupas. E lá está! No bolso de um meu jeans se encontra uma carteira de cigarros –é, eu fumo. Mas não é algo que eu seja viciado, só faço isso quando tô acompanhado de amigos ou quando estou estressado. E agora eu estou estressado, então...

Sigo para a varanda e acendo um cigarro. Nessa parte do apartamento dá para ter uma bela visão de Paraisópolis. Observo as pessoas e os carros. Daqui de cima elas parecem até formigas. Pequenas formigas levando suas vidas.

***

Na manhã seguinte eu acordei com a luz do Sol em meu rosto. Domingo decididamente não é meu dia favorito pelo simples fato de ser um dia morgado que se passa rapidamente dando lugar a Segunda-Feira, outro dia na minha lista de dias para se odiar. 

Levanto e faço minha higiene. Ao sair em direção a sala vejo meu pai muito bem acomodado no sofá assistindo a Fórmula 1 –uma de suas paixões. Meu pai era um homem ocupado, mas quando tinha um momento de folga se dedicava ao que gostava, como; estar conosco; assistir e discutir sobre Fórmula 1, e, uma de suas maiores paixões, o xadrez. Meu pai estudou em um internato em Londres quando tinha mais ou menos a minha idade. Levou vários troféus para a instituição por conta de sua prática no jogo.

-Bom dia, filhão! –ele me cumprimenta sem tirar os olhos da televisão –Acordou cedo. 

-Oi, pai. –sorri e sentei do seu lado –É, acabei acordando mais cedo do que o planejado.

-Acontece. –ele ri.

-Não te vi chegando ontem.

-Pois é. –ele concordou –Acabei chegando mais tarde. Coisas lá do trabalho, sabe?

-Entendo. –não, eu não entendia.

Nesse momento minha mãe chega. Deve ter acabado de tomar banho dado ao cheiro de perfume que exalava. 

-Alex? Já está acordado? –ela ficou surpresa ao me ver.

Balanço a cabeça positivamente.

-Bem, eu estava aqui pensando que como o papai não vai precisar trabalhar hoje nós podíamos sair para almoçar. Que tal?

-Eu estou de acordo. E você, Alex?- meu pai me pergunta pousando a mão sobre meu ombro.

-Pode ser. –forço um pequeno sorriso.

-Ótimo! –minha mãe sorri –Vá tomar seu café.

-Tudo bem. Será que voltaríamos muito tarde? –pergunto lembrando que mais tarde eu ainda tinha que ir até a festa de Caio.

-Não, por quê? –ela pergunta.

-Nada não.

***

Mesmo não tendo uma boa convivência com minha mãe eu gostaria de dizer que o almoço foi uma maravilha. Gostaria. Acontece, que, a realidade foi bem diferente. Depois de dar um chilique no restaurante por achar que não foi bem atendida ela ainda veio metade do caminho discutindo com meu pai por escolher aquele lugar. ''Eu sou da alta classe e mereço frequentar lugares da minha elite''. Estas foram suas palavras. Ela só se calou depois de quase fazer meu pai bater o carro.

Finalmente em casa vou até meu quarto, meu refúgio. Me deito e fico mexendo em meu celular enquanto espero chegar a hora da festa em Paraisópolis.  Depois de um tempo um música alta soa em meio a Paraisópolis. Dou um sorriso de lado e decido que é hora de me arrumar.

Coloco um short cor de caramelo que bate na altura dos joelhos, uma camisa de botões azul marinha com alguns detalhes brancos e –me julguem –um crocs na cor da camisa.

Me olho no espelho e, satisfeito com o que vejo, saio pela porta.

-Aonde você vai todo arrumado? –minha mãe pergunta assim que me vê.

-Sair, ora. –respondo.

-Algum programa legal para hoje à noite, filho? –meu pai pergunta.

-É. 

-Mas...- minha mãe iria questionar, mas é interrompida por meu pai.

-Ah, Isabel. Deixa o garoto, ele é um adolescente. Não lembra que aprontávamos todas quando tínhamos a idade dele? –meu pai pisca para mim. Adoro esse cara! –Precisa de algum dinheiro?

-Não, pai. Valeu. –respondo.

-Certo, pode ir. Só tenha cuidado. –ele levanta o dedo ao falar.

-Pode deixar. –sorri e fui em direção a porta.

Ao sair ainda posso ouvir minha mãe dizer.

-Será que esse som alto vai durar a noite toda?

 


Notas Finais


Também estou no Wattpad, como Ed_Beraldo. Lá, Paraisópolis já está completa.


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