1. Spirit Fanfics >
  2. Paralisia do Sono >
  3. Capítulo Único

História Paralisia do Sono - Capítulo Único


Escrita por: RageFloyd

Notas do Autor


Obrigado pela atenção e boa leitura!

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Paralisia do Sono - Capítulo Único

E de repente, numa fração de instante, o garoto estava de olhos abertos. A respiração, ofegante. As mãos, em tremor. O corpo, paralisado. O coração, disparado de um modo como nunca esteve — ou pelo menos era o que parecia, apesar do pesadelo repetido de incontáveis noites. Havia, por fim, acabado.

De súbito recobra os movimentos e consegue afastar o resto de coberta que não deixou de cobri-lo devido aos incansáveis movimentos daquela noite fria. Ele senta na cama molhada de suor a fim de refletir sobre seus sonhos. Por fim liga o abajur.

Ao decidir que era melhor tentar esquecer, ele levanta, aliviado de ter acordado do que ele poderia sim chamar de inferno. Anda pelo próprio quarto, atormentado por seus próprios pensamentos e sentindo que a insônia era eminente. Ele não voltaria a dormir tão cedo.

Cansado de refletir, o garoto apoia as costas na parede azul do quarto. Repetia em sua mente, de olhos fechados, que tudo havia acabado. Tudo estava bem. Nada daquilo era real. Mas será que não era real? E se tudo que sonhava fosse um presságio? Como ele poderia distinguir o que é real do que é ilusão criada por seu próprio intelecto?

E então, sem aviso ou qualquer coisa, o garoto se ergue da parede rapidamente, movimentado por seus reflexos atentos. A parede moveu. Ele pode sentir. Ao virar-se para examinar, sem entender o que acontecia, a visão o surpreendeu e espantou. Uma das quatro paredes de seu quarto caia lentamente.

Após alguns segundos, ela se encontrou com o chão num enorme estrondo. Uma nuvem de poeira levantou e ardeu os olhos do garoto, que foi forçado a fecha-los. Enquanto nada parecia fazer sentido, no caos de poeira e concreto cedendo ao chão, ele pode identificar as outras três paredes desabando.

Quando pode abrir os olhos, assim que a poeira pareceu abaixar, o garoto se viu em uma cena absurda. Entre tosse e espanto, identificou o que era uma estrada muito longa passando à sua frente, apesar de não conseguir ver muito adiante devido à chuva. Grossas gotas d’água desciam impiedosamente dum céu de nuvens escuras e se chocavam com a terra, a grama e o concreto da estrada que trespassava a paisagem.

O frio era penetrante e o água que encharcou seu pijama não ajudava. O garoto, ainda assustado, reparou numa placa a alguns metros de distância de seu ser. “BR-352”, uma rodovia que ligava as cidades de Abaeté e Pitangui. Em cima da placa, repousando tranquilamente — apesar da chuva assustadoramente forte — jazia um corvo. O agoureiro, pressagio de morte, a ave que traz doença e trevas.

Seu pescoço direcionava a cabeça para um dos lados da rodovia, quando ele finalmente reparou no garoto. Ao soltar um grasno amedrontador, a criatura das trevas abriu voo e sumiu no céu nebuloso. Em um instante o garoto pode observar uma luz surgindo do lado da rodovia onde o corvo olhava. Duas luzes muito fortes vindo de um lado para o outro da estrada.

Um barulho de motor e derrapagem preencheu seus ouvidos, fundido com o som atordoante de chuva extremamente forte. O carro vinha em alta velocidade enquanto derrapava pela rua. Os pneus escorregavam. O veículo andava em zigue-zague, com as rodas girando descontroladas. De súbito, o carro derrapou de vez e se virou de lado na estrada, mesmo que ainda indo em frente. No momento em que a aderência dos pneus cedeu e o carro levantou-se do chão, o tempo desacelerou.

Lentamente, o carro voava o que pareciam intermináveis metros pelo céu, rodopiando sem parar até cair no chão, capotando e produzindo enorme estrondo e uma chuva de faíscas quando a lataria metálica do teto do veículo se arrastou pelo chão de asfalto.

O garoto não conseguiu segurar o berro que urrou de sua garganta. Era seu pai. Ele conhecia aquele sonho. Um momento traumatizante que sempre vinha à tona em suas noites de sono atormentado — o dia da morte de seu pai, num inevitável acidente de trânsito.

Quando se aproximou, desesperado, o garoto pôde identificar o corpo. Entre chamas e chuva, num momento nauseante, ele pode enxergar o corpo de seu pai, ensanguentado e deformado pelo acidente. A visão agoniante não permitiu o menino de segurar outro grito que escapou por entre os lábios.

Ele correu na direção do carro sem hesitar, mas o veículo não parecia se aproximar. Na verdade, quanto mais ele corria, mais distante o carro se encontrava. Cada vez mais longe e inalcançável. Quando de repente o menino não estava mais na chuva e sim sentado numa cadeira de uma sala de hospital, como se tudo que se passou entre esse momento e o acidente tivesse se perdido num lapso de memória.

Ao olhar ao redor, o garoto observou a sala branca, com azulejos azuis cobrindo o chão. Uma pequena mesa móvel com instrumentos médicos se encontrava no centro do cômodo e, ao seu lado, uma maca. Deitada ali e ligada a garrafas de soro por tubos conectados a suas veias, estava sua mãe. O rosto magro. A feição de dor.

Os olhos estavam fechados. Ao fundo, podia-se ouvir um “bip” a cada segundo, indicando que a vida da mulher ainda permanecia. Mas o som não era constante como deveria. Haviam tempos maiores e menores que distanciavam um som do outro — o batimento cardíaco não era constante. Ao olhar para o aparelho que produzia os barulhos, o garoto observou mais um corvo. A criatura agourenta observava o monitor com informações sobre o batimento cardíaco, até que ele notou o garoto, grasnou e abriu voo por uma janela.

A tensão no quarto só crescia. A cada instante, a respiração do garoto ficava mais ofegante. Até que, de repente, o “bip” deixou de ser o que era e se tornou num atormentador som constante, uma única frequência que indicava a morte de sua mãe, fumante vítima de um câncer de pulmão.

Ao som único do monitor cardíaco, o garoto se sentiu sem chão para pisar. Seu pior pesadelo acabara de se tornar realidade. A mãe fumante contraiu a doença. Morreu por conta de um vício adquirido após a morte do marido, que a deixou depressiva. Aquilo era terrível. Um verdadeiro inferno. O garoto pensava que situação não poderia piorar.

Quando de repente, ele descobriu que estava errado.

O chão desapareceu. O menino agora despencava em queda livre, indo a fundo numa escuridão sem fim. As trevas o cercavam. Ele não podia enxergar nada além do próprio ser. Quando, num instante, ele estava sentado num sofá na sala de espera de seu dentista.

A sala era escura. O chão de madeira. As paredes acinzentadas. Um corvo jazia no meio da sala. Ao reparar no garoto, grasnou e saiu voando pela porta. O menino instantaneamente reconheceu a situação. No mesmo momento começou a tremer e suar incontrolavelmente. Seu corpo estava colado ao assento. Os braços colados ao corpo. Ele não teria como fugir. Nesse momento, aconteceu o que ele esperava nervosamente.

Descendo do teto, ele pode identificar uma pequena criatura. Uma pequenina aranha, descendo por sua teia. A aracnofobia gritou. O suor já descia o rosto. As pupilas tremiam assim como todo o corpo.

A aranha por fim pousou logo em seu nariz. De fato aquilo devia ser a pior coisa do mundo. Relembrava ao garoto o dia atormentador em que isso aconteceu na sala de espera de seu dentista, quando ele ainda era uma pequenina criança. A aranha daquele dia despertou uma fobia que o acompanharia pelo resto da vida.

A pequena criatura se remexia entre os olhos do garoto, fazendo-o se desesperar cada vez mais. Até que, sem aviso, ela pulou para baixo e desapareceu sem deixar vestígios. Alguns momentos se passaram e a cada segundo a tensão aumentava. O silêncio era atordoante e amedrontador.

De repente, quando lágrimas de sofrimento já desciam as bochechas do menino, milhares de pequenas aranhas brotaram de baixo do sofá em que ele estava sentado. Mais e mais criaturas surgiam. A visão era traumatizante. As criaturas que pareciam mais monstros aos olhos do garoto subiam por suas pernas. E então por seu corpo. E seus braços. O pescoço já estava coberto. As aranhas já cobriam seu rosto e impediam sua visão ao subir por seus olhos quando tudo escureceu.

E de repente, numa fração de instante, o garoto estava de olhos abertos. A respiração, ofegante. As mãos, em tremor. O corpo, paralisado. O coração, disparado de um modo como nunca esteve — ou pelo menos era o que parecia, apesar do pesadelo repetido de incontáveis noites. Havia, por fim, acabado.

O garoto tem a intenção de afastar o resto de coberta que não deixou de cobri-lo devido aos incansáveis movimentos daquela noite fria, mas aparentemente ele não tem poder sobre seu corpo. Os movimentos eram impossíveis. Seu corpo estava completamente paralisado — como se tivesse ficado tetraplégico naquele momento isolado.

O desespero começa a embaçar a mente do menino, quando ele ouve um barulho. Um barulho vindo de fora do quarto. Outro. A tensão só aumentava. O frio era atordoante. Um barulho mais alto. A maçaneta virou. A porta se abriu lentamente. A luz amarelada do corredor invadiu o quarto, iluminando o chão e a cama do garoto. Uma sombra surgiu à porta.

A passos pesados e lentos, o vulto se aproxima. Coberto por um grosso casaco negro, o homem maníaco se encontrava com um sorriso assustador no rosto. Os olhos transmitiam a loucura do ser de mente volátil. A cabeça com poucos fiapos de cabelo grisalho. De um bolso interno, o homem puxa uma faca.

Mais um passo à frente, e o garoto não pode se mexer. Paralisado pela própria mente. Outro passo. O sorriso na cara do velho se abre mais, rasgando o que resta do rosto. Ele ergue a faca. A arma já cheira a sangue. Num movimento único, o homem desce numa velocidade absurda, atingindo o peito do garoto que parecia adormecido.

E de repente, numa fração de instante, o garoto estava de olhos abertos. Os pulmões vazios de tanto gritar. O menino gritava mais e mais, sem saber o que estava acontecendo. Se os instantes passados foram sonho ou realidade. Pela fresta da porta, pode-se ver a luz do corredor sendo acesa.

A mãe do garoto invade o quarto de súbito e corre para ver o que acontecia. Ela se espanta com os berros da criança. A mãe senta ao lado da mesma, na cama, e começa a acalma-la. Aos poucos, o garoto percebe que havia de fato acabado. Tudo foi um sonho? Um horrível pesadelo? Era a resposta óbvia, mas ele não tinha certeza.

Após alguns instantes de carinhos da mãe, o garoto por fim para de chorar. Tudo estava bem de novo.

Mas, quando o menino menos espera, a figura de sua mãe se deforma. As unhas crescem. Os dentes afiam. A pele empalidece. As olheiras se tornam negras. Ela, de forma lenta e aterrorizante, desce ao ouvido do garoto.

“Você achou mesmo que havia terminado? Que tolo...”


Notas Finais


Obrigado por ler! Caso tenha gostado ou tenha alguma critica a fazer, considere deixar um comentário dizendo o que achou.

Até a próxima!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...