- Lauraaaaa! - Grita a Sra. Cesaroni.
Sento na cama assustada com o grito da minha avó, desvio meu olhar para o criado-mudo e arregalo os olhos ao ver que encontra-se tarde demais para estar dormindo. Começo a tatear toda a superfície da cama em procura do meu celular e esbarro nele por baixo do meu travesseiro.
- Anda, Laura. Seu irmão está te esperando! -
- Já estou descendo, vó! - Devolvo o grito na esperança de acalma-la ao mesmo tempo que tento me conformar com o sexto atraso desse mês.
Levanto da cama e começo a procurar em meio a tantas roupas jogadas no chão, uma que dê para levar Daniel ao colégio. Enquanto esforço-me em procurar uma peça que preste, visualizo meu celular para saber se alguém da noite de ontem entrou em contato ou se uma das empresas me buscaram com a intenção de oferecer emprego.
Ao perceber que ninguém deu conta de mim, largo o celular sobre a mesa onde deixo meu antigos livros da faculdade e computador. Pego a calça jeans despojada de ontem sobre o encosto da cadeira e puxo uma camisa com estampas psicodélicas jogada próxima ao tapete.
Paro em frente ao espelho após calçar minha sandália de dedo, começo a analisar essa figura nada interessante e faço uma careta.
- Lauraaa, não irei chamar de novo! - Reviro os olhos ao ouvir minha avó chamar mais uma vez.
- Que saco... - Sussurro enquanto pego um óculos de sol sobre a mesa, em seguida meu celular e a chave do carro.
Saio do meu quarto às pressas e desço os degraus da escada correndo, vejo minha avó com uma expressão de brava e esboço um sorriso largo, tentando divertir aquela senhora ranzinza.
- Bom dia, Sra. Cesaroni. Maravilhoso esse despertador carinhoso - Aplico um beijo em sua testa e logo vejo sua expressão mudar.
- É sério, Laura. Perdi a conta de quantas vezes seu irmão chegou atrasado esse mês no colégio, em plena reunião com a professora você se atrasa. -
- Me perdoe, vó. Mas minhas noites tem sido longas, fora que tem rendido bons frutos. -
- Chegar tarde todos os dias? - Me indaga.
- Dinheiro e fama, vó! - Levanto os braços dando enfase nos meus dizeres e balanço levemente meu quadril pretendendo conquistar aquele coração de pedra.
- Anda logo! - Sinto um tapa em minha bunda e saio correndo de casa.
(...)
Ao chegar em frente a casa dos meus pais, buzino com a intenção de chamar meu irmão e vejo aparecer um menino lindo, branquinho, com olhos verdes, iguais aos meus. Daniel tem apenas 10 anos e sinto um aperto no coração em não estar em todos os momentos da vida dele.
Daniel começa a correr em direção ao carro enquanto grita todo alegre, tentando me mostrar algo. Me viro toda sem jeito com a intenção de abrir a porta de trás do carro e empurro sem muito sucesso.
- Entra logo, tampinha. Estamos atrasados - Falo acelerada e preocupada com o tempo.
- Tampinha é você, ninguém manda acordar tarde. E eu vim rápido. - Ouço reclamar.
- Uhum, fecha a porta e vamos. -
Dou partida no carro e começo a correr por entre os outros veículos. Escuto Daniel gritar de animação e soltar algumas palavras no meio das rajadas de ventos que invadem pelas janelas abertas.
Após 10 min correndo em alta velocidade, faço a curva em uma esquina próxima da escola e vejo pouca movimentação de carro em frente ao instituto.
- Estamos super atrasados outras vez, tudo sua culpa, Laura! - Ouço Daniel falar indignado. - Estão me caçoando na escola... -
Estaciono o carro de qualquer forma sobre a calçada e viro-me para Daniel após desligar o veículo. - Calma, tampinha. Vou dar um jeito. -
O vejo dar de ombros e abaixar a cabeça enquanto tenta me mostrar novamente algo que não percebi antes.
- Toma.... - Pego uma folha de ofício em uma das suas mãos e esboço um sorriso singelo ao ver que desenhou nós dois.
- Que lindo, dan. Essa sou eu? - Volto a olha-lo cheia de admiração.
- Claro que não! Queria saber se minha pretendente vai gostar... - Ouço zombar da minha cara.
- Seu babaca! - Fuzilo aquele menor com os olhos enquanto amasso a folha e jogo pra cima dele.
Escuto algumas batidas sobre o teto do carro e viro para a janela ainda com expressão de raiva até que vejo Ela.
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