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História Paranoid - O início de uma grande amizade.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Hey, boa leitura e notas finais ;)

Capítulo 14 - O início de uma grande amizade.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - O início de uma grande amizade.

Mal prestava atenção no episódio de Sobrenatural enquanto Lauren ficava fazendo comentários paralelos que eram respondidos por meus vagos múrmuros e eu tive sorte por ela não ter percebido que eu estava viajando na maionese ou então começaria a fazer diversas perguntas que eu nem ao menos teria capacidade racional para responder. O enorme relógio que ficava na parede da sala tinha toda a minha atenção, pois, durante todo o tempo, eu não deixei de olhá-lo, contando os segundos até, enfim, poder me levantar e ir até a casa do Justin.

— Ai meu Deus, como o Sam pode ser tão lindo? — Ouvi Lauren questionar e olhei-a brevemente.

Ela estava no sofá do outro lado da mesinha de centro, havia ido deitar-se nele após acabar a pipoca, porque, segundo suas palavras, eu era muito espaçosa e não havia como ficarmos no mesmo sofá. Aquilo era uma calúnia colossal. 

— O nome do ator é Jared, né?

Concordei com um aceno de cabeça e ela suspirou fitando a televisão deslumbrada.

— Você sabe que ele é casado, certo? — Pronunciei e ela fuzilou-me com os olhos, fazendo-me rir.

Adorava irritá-la, por isso sempre que ela elogiava o Jared eu fazia questão de lembrá-la que o mesmo era casado.

— A mulher dele é a morena que fez a Ruby, ele pegou a demônio e a atriz.

Dei uma gargalhada enquanto Lauren revirava os olhos e adotava sua peculiar expressão emburrada de quando eu a provocava, no entanto aquilo só me fez rir ainda mais da cara da minha estúpida amiga.

— Cala a boca que eu quero assistir, Savannah! — Ordenou não poupando seu mau-humor e eu soltei outra gargalhada audível, fazendo-a me olhar feio. Observei que ela estava realmente brava e engoli a risada.

— Isso tudo por que o Jared é casado? — Averiguei e a vi respirando profundamente, facilmente notando que havia algo errado e me xinguei mentalmente por não ter percebido antes.

Ela permaneceu hesitante durante um tempo e eu continuei olhando na expectativa de que ela finalmente começasse a falar, no entanto a mesma parecia um bocado indecisa. Logo constatei que, seja lá o que houvesse acontecido, não era nada bom.

— Seu pai esteve lá na lanchonete ontem. — Contou de uma vez e minha primeira reação fora estreitar as sobrancelhas involuntariamente enquanto meu cérebro ponderava suas palavras.

 “O Mason esteve na lanchonete? O que ele fora fazer lá?” Indaguei mentalmente e a confusão me dominava a cada segundo que eu tentava entender aquilo cegamente.

— O que ele foi fazer lá?

Abandonei a linha meditativa, expondo aquela enorme dúvida e minha voz saiu completamente rude. A tão incontrolável raiva que me domava sempre que se tratava daquele ser que, infelizmente, era meu pai, começando a transparecer ligeiramente.

— Foi atrás de você. — Respondeu rapidamente e eu involuntariamente rosnei furiosa, mirei a TV procurando um pouco de autocontrole, contudo nem a bela face do Dean exposta naquela televisão enorme conseguiu fazer-me controlar a raiva que começava a me assolar internamente.

— Atrás de mim? — Repeti entre dentes, tentando me controlar, mas parecia cada vez mais difícil. — O que aquele desgraçado queria atrás de mim?

— Eu não sei, na verdade ele não disse. Só foi lá e... — pausou, respirando fundo. — Me disse diversas atrocidades.

Olhei-a e ela também parecia enfurecida, aliás, Lauren pouco gostava de papai e vice-versa. Ambos nunca foram com a cara um do outro, pois Lauren era o que papai denominava: extrema má influencia, já que a mesma havia saído de casa aos dezessete anos para morar com um namoradinho de colegial e depois de quebrar à cara – como aquele imbecil costumava dizer – começou a trabalhar em uma lanchonete ao invés de voltar para a casa de sua mãe e começar a fazer uma faculdade, correr atrás do prejuízo. Eu não exagerava e nem era injusta ao dizer que o Mason era um dos maiores imbecis do universo, pois ele realmente era. Era a pessoa que mais julgava os outros, que mais apedrejava sem sequer procurar saber os motivos alheios, sem nem ao menos olhar para a própria vida e reconhecer o quanto ele era apenas um hipócrita quase solitário – já que mamãe era a única que não havia o abandonado ainda – digno de pena.

— O que ele disse Lauren? —  Indaguei e ela olhou-me insegura, arqueei uma sobrancelha em uma expressão de impaciência e ela respirou resignada.

— Disse que não era para eu ter aceitado você em minha casa, que se eu achava que era uma boa amiga eu estava redondamente enganada, pois eu sou a pior amiga do mundo. —  Relatou desanimada e eu senti a crueldade daquelas palavras cortando meu coração, da mesma forma que devia ter cortado o de Lauren. —  Que se eu tivesse deixado você desabrigada, você teria voltado para o lugar de onde você nunca deveria ter saído e aprenderia a ser uma pessoa responsável, que você deixaria de ser uma hipócrita insolente que só sabe fazer e falar as asneiras, que sequer sabe responder por suas próprias atitudes...

Senti o ódio amargar minha boca e a vontade de gritar me domou sendo dificilmente controlada, além do mais, quem aquele idiota achava que era para me ofender daquela maneira? Quem ele achava que era para se achar no direito de me criticar e ofender a Lauren?, uma vez que ele era a pior pessoa do mundo! Era uma das pessoas mais cruéis que existia e era repugnante a forma como ele se orgulhava de si mesmo, como se orgulhava de precisar rebaixar as pessoas com sua psicologia infame para poder se sentir um estúpido poderoso acima dos outros.

— Eu quero que ele se dane, quero que ele e as estúpidas palavras dele vão para o inferno. —  Fora tudo o que eu disse após um tempo em silencio, remoendo-me internamente enquanto o ódio me assolava de forma massacrante.

— E o pior é que eu entrei na pilha dele, a minha sorte é que meu expediente já havia acabado então pude dizer tudo o que estava entalado em minha garganta. —  Ela disse e eu podia ver a fúria em seu semblante, contudo a raiva que me dominava era o quádruplo do que a que ela estava sentindo e a vontade de ir atrás do Mason e lhe dizer umas boas verdades se tornava cada vez mais incontrolável dentro de mim. —  Ele até mesmo me ameaçou Sav, você tem noção disso? Me desculpe, mas seu pai é um doente miserável!

— Não se desculpe por dizer a verdade. —  Chiei travando meu maxilar. — E ele ameaçou você? O que ele disse?

— Disse que minhas ofensas terão troco, que ele não deixa nada impune e que vai fazer eu me arrepender por ter entrado na sua vida, pois se você é assim hoje, a culpa é minha.

Franziu levemente as sobrancelhas, adotando uma expressão de culpa que me feriu profundamente.

— Ele não é nem louco de fazer algo contra você Lauren ou eu acabo com a raça dele! —  Murmurei friamente olhando-a nos olhos e ela ficou cabisbaixa durante um tempo. —  E não cai na pilha dele Laurie, você não tem culpa de nada e ele é só um imbecil que tem mania de jogar a culpa dos erros dele em cima de outras pessoas.

— Eu sei Sav, eu conheço a má-fama do seu pai. —  Resmungou aborrecida. —  Mas eu sinto raiva, ódio e não gosto de sentir essas coisas.

— Eu sei disso Lauren, sei que você não gosta de brigas e eu sinceramente sinto muito por você ter que aturar o fardo de suportar o Mason comigo. É por isso que você é uma das melhores amigas do mundo e ele não sabe de nada, ele sequer sabe o real significado da amizade, porque nunca teve um amigo de verdade.

Ela olhou-me brevemente e sorriu minimamente tentando quebrar o clima tenso, contudo não teve muito sucesso.

— Se ele fosse meu pai, eu já teria enlouquecido!

— Acho que é por isso que sou assim. —  Intervim zombeteira tentando deixar a tensão de lado e consegui fazê-la gargalhar, senti meu corpo relaxando aos poucos e me estressar com o Mason não me traria benefício algum, pois tudo o que ele merecia era o meu desprezo.

— Eu não o suporto.

— Eu também não o suporto.

Ela riu novamente e daquela vez fora acompanhada por mim. Como um imã meus olhos subiram até o relógio na parede que marcava 18h30 e um sorriso enorme se alastrou em meu rosto. Levantei-me e corri até meu quarto, entrei no banheiro e escovei meus dentes. Dei uma ajeitada em meu cabelo e em minha roupa, em seguida voltei para a sala e Lauren me olhou confusa.

— Vou me encontrar com o Justin às 19h00. —  Avisei pegando as chaves do carro sobre a mesa de centro e ela revirou os olhos.

— Tinha até me esquecido que tenho uma amiga cupido, quero saber quando você irá me ajudar com minha vida amorosa!

— Só Jesus pode ajudar em sua vida amorosa! —  Rebati irreverente e ela adotou uma expressão indignada, liberei uma gargalhada escandalosa e ela me fuzilou com o olhar.

 — Tudo bem, vá embora! Coitado do Justin tendo que aturar você ajudando-o na vida amorosa, até porque você também é meio suspeita em criticar a vida amorosa alheia. —  Ela cuspiu vingativa e eu estreitei minhas sobrancelhas, me sentindo realmente insultada.

— Lauren! — Ralhei estridente e ela deu uma gargalhada muito mais escandalosa do que a que eu havia dado há tempos atrás.

— Estamos no mesmo barco Sav, não reclame.

— Quer saber, estou perdendo tempo.  

Ela me olhou ofendida, ergui as sobrancelhas em um semblante indiferente e ela estreitou as sobrancelhas.

— Tchau. —  Mandei beijos no ar.

— Tchau. —  Rebateu posteriormente, para a minha surpresa e pareceu segurar o riso quando me viu fitando-a contrariada.

— Tchau. —  Repeti caminhando apressadamente até a porta e antes que saísse escutei-a gritando:

— Te amo Sav, tenha cuidado com o Creed.

— O nome dele é Justin, Lauren. —  Corrigi rolando os olhos e ouvi-a gargalhar.

— Obrigado por dizer que também me ama, mande lembranças ao Nolan.

Engoli em seco e umedeci meus lábios, era horrível ter que esconder algo dela, mas no tempo certo eu contaria a verdade.

— Disponha e claro que mando, ele vai adorar. —  Forcei a indiferença e ouvi-a gargalhar escandalosamente antes de eu finalmente sair batendo a porta com a força necessária.

Caminhei rapidamente até meu carro e adentrei o mesmo dando partida posteriormente, me sentia extremamente ansiosa para chegar até a casa do Justin e começarmos com o segundo dia dos conselhos amorosos e, por mais que em alguns momentos o fato dele estar a fim da Melanie parecesse não me agradar, naquele instante eu me encontrava um bocado animada para compartilhar as descobertas sobre a mesma que com sorte eu havia conseguido. O caminho fora tranquilo e o trânsito naquele período era tranquilo, já que o horário de pico já havia passado. Quando me aproximei do meu destino a ansiedade surgiu completamente e havia uma excitação estranha em meu estômago que parecia estar sendo retorcido em diversas maneiras, um nervosismo ininteligível e que fora ignorado por conta de sua insignificância, aliás, não era hora de começar a agir feito imbecil novamente, na verdade, já era hora de começar a controlar meu próprio corpo e as reações estranhas que andavam o dominando. No momento em que adentrei o Forest Park as sensações pareciam mais intensas, no entanto comecei a me esforçar para esquecê-las e em alguns momentos até dava certo. Me aproximei da trilha que me levaria até a casa do Justin mais rápido do que eu havia calculado e estacionei o carro, permanecendo dentro do mesmo durante um tempo, preparando-me e controlando-me para não pôr tudo a perder novamente. Saí quando finalmente encontrei a coragem para fazer aquilo e caminhei em passos calmos na direção da trilha pouco iluminada e por estar sozinha senti um pouco de medo me dominando. Abracei meu próprio corpo tentando me proteger das rajadas frias do vento que batia entre as árvores e aquilo de certa forma fez com eu me sentisse menos insegura. Apressei meus passos e olhei para trás algumas vezes, sentindo-me observada, mas sabia que aquilo deveria ser apenas coisa da minha cabeça, aliás, a única pessoa que morava naquele lugar era o Justin e qual sentido teria me sentir daquela maneira quando não havia mais ninguém ali? Exatamente, sentido algum! Continuei minha caminhada e, em alguns momentos tropecei em meus próprios pés por causa do desespero em meus passos, quando finalmente alcancei o final da trilha e avistei a casa iluminada do Justin, respirei profundamente controlando minha respiração que ficou descompassada. Joguei meus cabelos para o lado e umedeci meus lábios preparando-me para ir até aquela casa e ter que enfrentar todas as sensações estranhas – que eu desnecessariamente já estava sentindo, mesmo distante dele – que a presença do Justin me causava.

Voltei a caminhar após um tempo relutante e mantive meus passos apressados, pois me sentia pouco segura do lado de fora, por conta do céu já escurecido e o vento que batia, chacoalhando as folhas das árvores, deixando tudo ainda mais assustador. Subi os degraus que me levariam para a varanda da casa e me aproximei rapidamente da porta, dando três batidas um tanto quanto exageradas e olhei para trás analisando tudo atentamente. Escutei o barulho da porta sendo aberta, porém mantive meus olhos nas enormes árvores durante um tempo e quando virei meu rosto para frente me deparei com um Justin confuso me encarando.  

— Oi, Savannah. —  Saudou e eu forcei um sorriso de lado. — Entra.

Logo as sensações estranhas mais presentes e incontroláveis do que nunca surgiram. Minha mente vagando em adoração a beleza do ser em minha frente e era impressão minha ou ele estava impossivelmente mais bonito? Deixei meus olhos passearem disfarçadamente por ele enquanto entrávamos e – como na noite anterior – íamos até o jardim no fundo da casa, notando que ele usava uma calça de moletom azul escura, um tanto quanto larga, e uma camiseta regata branca que realçava os músculos de seus braços e deixava exposto seu braço direito completamente tatuado. Seus cabelos dourados estavam desgrenhados como se o mesmo houvesse acabado de acordar e subitamente me lembrei de quando eu havia visto-o dormindo, quase sorrindo tola, lembrando-me do quão encantador o mesmo era adormecido e balancei minha cabeça em seguida, tentando me livrar daqueles pensamentos. Mordi meus lábios, esforçando-me para controlar aquelas abstrações, entretanto nada parecia funcionar e de certa forma aquilo se tornava incômodo, pois, não me entender e não entender o que andava acontecia comigo, me deixava imensamente frustrada.

Quando passamos pela cozinha senti um cheirinho tentador de chocolate e me perguntei se ele havia feito mais cupcakes, sentindo minha boca encher d’água só por recordar o sabor delicioso dos bolinhos, porém a resposta negativa veio no momento em que avistei-o caminhando direto para a porta de vidro, abrindo-a e –  após sair – deixando-a aberta para que eu fizesse o mesmo. Caminhei atrás dele, como havia feito desde que entrei na casa, e ele foi andando na direção das árvores em que havíamos ficado sentados próximos na noite anterior. Hesitei durante um tempo, recordando-me do que havia acontecido, lembrando-me da minha ida repentina para casa e as más lembranças que eu havia tentado evitar o dia inteiro voltaram como flashes mais nítidos, torturando-me mais do que das outras vezes em que as mesmas vieram à tona. Senti uma repressão em meu peito, porém daquela vez a vontade de chorar manteve-se distante. Tudo o que eu conseguia sentir era desgosto, vergonha e acima de tudo a tão peculiar revolta que a lembrança de minhas estúpidas atitudes me causava. Sentia-me esgotada e, de certa forma, nunca ter –  diretamente – falado sobre aquilo com ninguém talvez fosse à razão por eu me sentir tão péssima em relação a tudo. Lauren já havia tentando conversar comigo, mas, uma vez que, eu sequer gostava das lembranças, era bem óbvio o quanto tampouco gostaria de conversar sobre, até porque sentia vergonha, sentia raiva de mim mesma e de tudo o que eu havia feito.

Voltei a caminhar assim que acordei de meus enleios, forçando-me a focar na realidade, aliás, aquelas obscuras lembranças não iriam me atrapalhar novamente, pois já bastava eu ter ido embora cheia de estranheza na noite anterior, portanto não repetiria aquela tolice novamente. Mais a frente o Justin já se aproximava da árvore e eu apressei meus passos, no entanto ele se sentou antes que eu me aproximasse o suficiente para que o mesmo não percebesse que eu estranhamente havia ficado um bocado para trás em nossa caminhada. Por sorte o mesmo disfarçou, fitando o chão procurando por alguma coisa, até que encontrou um pedaço de madeira e começou a fuçar a terra. Involuntariamente sorri de lado, observando aquela cena e em seguida balancei minha cabeça.

“Foco, Savannah! Foco!” Refleti lutando contra meus pensamentos e finalmente me aproximei, sentando-me no mesmo lugar da noite anterior que me mantinha em uma segura distância dele e que me permitia respirar tranquilamente. Sem ficar idolatrando a beleza do mesmo.

— Achei que não viria. — Ouvi a voz dele soando roucamente e rapidamente mirei seus olhos cor de mel, vacilante e questionadora.

Ele simplesmente respirou profundamente desviando o olhar e virando seu rosto para frente, analisando a casa.

— É que ontem você quis embora de uma hora para outra, então — suspirou. — me desculpe se fiz  ou disse algo que você não tenha gostado.

Os olhos dele vieram em direção aos meus e fora minha vez de desviar o olhar, sentindo-me culpada por fazê-lo se sentir daquela maneira. Uma pontada atingindo meu peito e engoli em seco.  No fundo eu, honestamente, sabia que ele iria comentar sobre aquilo, porém me surpreendi fortemente ao ouvi-lo se desculpando, facilmente observando que ele estava achando que havia feito ou dito algo para que eu decidisse de uma hora para outra ir embora daquela maneira, que o ultrapassava a perturbação, e me senti pior do que já estava me sentindo ao vê-lo visivelmente preocupado com o fato de ter sido a razão por minha repentina mudança. Contudo aquele fato, de modo complexo, parecia fascinante e perturbador ao mesmo tempo, pois a fragilidade e inocência que ele demonstrou durante o pedido de desculpa, fizeram com que o mesmo soasse extremamente encantador para os meus ouvidos, no entanto era terrível o fato de ele estar sentindo-se culpado por algo que, definitivamente, não tinha culpa alguma.

— Não, Justin. — Intervim retomando a consciência da situação e o fitei, tentando demonstrar convicção. — Você não me fez nada, é só que... Eu... Erm...

Ele olhou-me confuso e me chutei mentalmente por estar agindo como uma tola novamente. Respirei resignada e de certa forma me senti à vontade na presença dele. Além do mais, ele sabia melhor do que ninguém como era ter um passado obscuro, então por que eu não poderia falar sobre o meu passado com ele? Uma vez que eu precisava desabafar, decididamente, com alguém e por mais que ele ainda não confiasse tanto em mim, eu estranhamente sentia que podia confiar completamente nele. Aquelas lembranças estavam me matando aos poucos e eu estava me tornando uma bomba-relógio que a qualquer momento explodiria e então tudo estaria perdido, eu precisava conversar com alguém antes que aquilo me enlouquecesse e, por mais insano que me parecesse ter toda aquela confiança em contar para um cara que eu mal conhecia algo que eu nem ao menos havia contado para minha melhor amiga, eu possuía aquela estranha segurança em relação ao Justin e naquele momento, aquela sensação, era maior do que qualquer outra coisa.

— Ontem me lembrei de algumas coisas que eu queria tanto poder esquecer, mas... Não consigo. — Confessei virando meu rosto para frente e fitando o chão.

Escorei-me ao tronco da árvore e me sentei abraçando minhas pernas, tentando de certa forma esconder o nervosismo e os turbilhões de sensações que me dominavam.

— E o que foi? — Ele indagou e eu confesso que já esperava por aquela pergunta, contudo mesmo assim ela me surpreendeu e eu umedeci meus lábios pensando na melhor maneira de responder.

— Lembra quando você disse que eu sou o tipo de pessoa que não parece ter um passado um obscuro? — Respondi com outra pergunta e olhei-o, ele confirmou com a cabeça e eu desviei meu olhar voltando a fitar o chão novamente. — Você estava errado.

— Então, você tem um passado obscuro? — Interrogou e eu pude notar a confusão em sua voz que soou titubeante.

— Sim. — Respondi, nervosamente.

— E o que foi que você fez?

Fitei-o brevemente e ele me olhava com as sobrancelhas estreitas, seu semblante demonstrando confusão e abatimento, fazendo-me hesitar momentaneamente e eu fitei a casa em nossa frente tomando o resto de coragem que me faltava. Sentia os olhos dele em minha direção e as sensações que antes me assolavam se tonaram nada perto da tristeza que havia me dominado enquanto as lembranças iam se tornando nítidos flashes que permaneciam guardados em minha memória.

Flashback ON

— Vira! Vira! Vira! Vira! — Ouvia a gritaria ao meu lado enquanto eu entornava em minha boca uma garrafa de tequila pura em grandes goladas que cruelmente queimavam minha garganta, acabando com a bebida numa velocidade recorde e fazendo com que meus amigos vibrassem escandalosamente, chamando a atenção de todos ao nosso redor.

— Mandou bem, Sav! — Mike disse tocando em minha mão e mesmo me sentindo um pouco tonta, eu ainda tinha minha consciência intacta.

— Ela sempre manda bem. — Jonah disse, encostando ao nosso lado e eu revirei meus olhos, ouvindo Mike gargalhar com escárnio.

— Vou deixar os pombinhos a sós. — Brincou e eu lhe lancei o dedo do meio antes que o mesmo se afastasse.

— E aí, Sav? — Jonah voltou a se pronunciar após um tempo e eu olhei-o momentaneamente.

— O que é? — Questionei forjando indiferença e ele sorriu maroto, puxando-me possessivamente para mais perto. Me debati de forma dissimulada e ele liberou uma gargalhada gostosa, fazendo-me morder meus lábios.

— Vem cá. — Murmurou, colocando a mão em meu queixo e ergueu meu rosto grudando seus lábios aos meus em seguida.

Senti o gosta da nicotina se impregnar em meus lábios quando a língua do mesmo os contornou e dei espaço para que ele aprofundasse o beijo, erguendo meus pés minimamente e entrelaçando meus braços em volta do pescoço dele. Jonah não era meu namorado e nem nada do tipo, mas em alguns momentos de nossas noites excêntricas acabávamos nos pegando pelos cantos, porém não era nada muito sério e confesso que eu gostava de ficar com ele, até porque ele era extremamente lindo e beijava extremamente bem. Contudo, nossas ficadas nunca passaram de umas mãos bobas em público e por mais que ele constantemente me chamasse para ir até seu apartamento, eu simplesmente recusava. Não fazia o tipo que se rendia facilmente.

Nos afastamos após um tempo por conta da falta de ar e ele sorriu fazendo-me sorrir também, dei um tapinha em seu ombro e me afastei do mesmo, olhando pelos arredores à procura de nossos amigos.

— Agora que o momento pegação acabou, cá estou eu. — Emilly apareceu ao nosso lado tagarelando e eu fitei-a como se a mesma fosse alguma espécie de assombração. — Eu já sei, assustei vocês e blá-blá-blá.

— Pare de ficar andando feito um fantasma. — Jonah reclamou e ela lhe mostrou o dedo do meio, recebendo um entediado revirar de olhos em resposta.

— Sav, temos umas coisas novas, você quer vir hoje? — Emmy questionou e eu estreitei minhas sobrancelhas, olhei para Jonah e ele olhava distraído para algum lugar dentro daquele pub.

— Eu... — gaguejei na dúvida, lembrando-me da conversa que havia tido com meus pais na noite anterior e a revolta fez com que eu confirmasse com um aceno de cabeça. — Sim, eu vou.

— Tem certeza, Savannah? — Jonah indagou, arrastando seus olhos verdes em minha direção e eu confirmei com um aceno de cabeça.

Ele suspirou não escondendo seu descontentamento.

— Você é uma merda de amiga, Emilly. — Resmungou passando rudemente ao lado dela que, como sempre, ignorou-o.

— Vamos, Sav. — Chamou animada e eu sorri de lado, estava nervosa, aliás, fazia um tempo desde há último vez que eu havia feito aquilo e sentia uma certa abstinência me dominando.

Saímos do pub em passos apressados e do outro lado da rua encontramos Mike, Jonah, Paul, William e Dakota encostados na caminhonete preta que pertencia ao Will. Eles sorriram animados quando viram que eu estava vindo com a Emmy e eu forcei um sorriso, pois o nervosismo estava se tornando cada vez maior dentro de mim.

“Eu não quero que você faça essas coisas Savannah, não me obrigue a tomar uma atitude drástica contra isso, não me obrigue a ser o pai que você realmente merece” As palavras do Mason se repetiam em minha cabeça e de certa forma o nervosismo que eu sentia era devido àquilo, devido à ameaça dele e lá estava eu prestes a fazer o que ele havia me proibido de fazer. Contudo, boa parte de mim pouco se importava, a parte que almejava pela adrenalina e pelo prazer de ver meus pais aborrecidos, de sempre fazer o contrário do que eles queriam que eu fizesse e vê-los derrotados, decepcionados.

Subimos na caminhonete e enquanto Will dirigia, eu e os outros fomos na carroceria fazendo baderna e cantando feito loucos músicas do Fall Out Boy. Dakota, vez ou outra, beijava Mike e Jonah em alguns momentos me roubava um beijo. Sentia a tequila fazendo mais efeito sobre o meu corpo e quando Paul apareceu com uma garrafa de Whisky, eu peguei-a ligeiramente de suas mãos dando grandes goladas e o líquido desceu  suavemente por minha garganta – que já se encontrava anestesiada – e quando parei de beber soltei um grito involuntário, denunciando meu descontrole, porém, surpreendentemente, ainda estava consciente, mas a animação em meu corpo havia triplicado. Roubei um beijo de Jonah e bebi mais Whisky até que chegássemos ao nossos destino e Will estacionou, descemos da carroceria e ele saiu do carro.

— Hoje vai a Dakota e a Savannah. — Paul anunciou e eu sorri de lado confirmando veemente com a cabeça.

— ‘Tá maluco? — Jonah questionou e eu fitei-o confusa. — Por que a Sav de novo? Coloca a Dakota e a Emmy.

Vi o Paul revirar os olhos e o Jonah rosnou ao meu lado, até porque ele odiava quando Paul fazia pouco caso diante dos olhos do mesmo.

— Tudo bem, Jon. — Alertei tocando o ombro do mesmo, tentando acalmá-lo. — Eu quero ir.

— É a vez da Dakota e da Emilly. — Insistiu olhando para Paul, ignorando-me completamente.

— Jonah, eu já disse que quero ir, droga! — Bradei e ele finalmente me olhou, seu olhar regado por uma decepção que me incomodou, porém não fora o suficiente para me fazer desistir.

— Relaxa irmãozinho, a Sav não é mais criança. — Will falou, dando dois tapas no ombro do Jon e ele bufou. — Se ela quer ir, ela vai. 

— Droga, Sav... 

— Eu quero ir. — Repeti contundente e ele respirou resignado, se afastou após um tempo, mantendo-se distante do grupo.

— 'Tá pronta, Sav? — Dakota indagou encostando ao meu lado, me entregando o taco de baseball e eu confirmei com um aceno de cabeça.

— Vai ser moleza.

Sorri apática e eles confirmaram com um aceno animado de cabeça. Dakota sorriu dando um tapinha em meu ombro.

— Vamos nessa. — Sussurramos ao mesmo tempo e começamos a caminhar decididamente.

As ruas se encontravam vazias, dignas de alguma hora da madrugada, que eu desconhecia, em que nos encontrávamos e em que quase todas as pessoas provavelmente estavam dormindo ou em outros locais, se divertindo ou o quer que fosse. Dakota e eu caminhávamos em passos apressados e quando atravessamos as portas de vidro, ela me olhou significativa e eu confirmei disfarçadamente, entrando em um corredor enquanto ela entrava em outro. Olhei para o rapaz que estava sentado atrás do balcão e ele mantinha uma revista em quadrinhos em suas mãos, lendo-a completamente focado, sequer havia notado nossa presença, e era uma pena que ele fosse tão desligado. Passei pelo corredor pegando algumas coisas interessantes que encontrava e quando cheguei ao fim do mesmo, e ao ouvi o barulho de algo sendo quebrado, olhei para o rapaz – que antes tinha a atenção voltada para o gibi em suas mãos – e ele estava em pé procurando de onde havia surgido o barulho.

— Vai, Sav! — Dakota gritou e instantaneamente ergui o taco, batendo violentamente com o mesmo sobre a prateleira em minha frente, quebrando-a e derrubando tudo o que havia na mesma.

Um sorriso satisfeito se apoderou dos meus lábios e eu estranhamente gostava de fazer aquilo, gostava do vandalismo e quando o rapaz começou a nos pedir para parar a vontade de continuar se tornou cada vez mais intensa dentro de mim e eu passei a bater em diversas prateleiras destruindo tudo. Dakota fazia o mesmo do outro lado e os gritos do rapaz, pedindo por nossa misericórdia, não era nada perto do barulho que as tacadas que dávamos nas prateleiras faziam e quando as coisas caíam nós gargalhávamos friamente.

— PAREM! PAREM! O que vocês estão fazendo? O que é isso? Vou chamar a polícia! — O rapaz dizia, atormentado e amedrontado.

— Chame quem você quiser! — Berrei e minha voz saiu arrastada, uma gargalhada indiferente saiu por minha boca e eu olhei para o rapaz, notando que o mesmo me olhava extremamente assustado. — Vamos quebrar tudinho!

Ouvi Dakota gargalhar do outro lado e voltamos a bater nas prateleiras novamente, escutava o cara gritando feito louco para que parássemos e nós continuávamos, fazendo até mesmo mais barulho e gritando algumas músicas para ignorar a presença do rapaz que tentava nos parar.

— O QUE VOCÊS QUEREM? — Ele gritou extremamente alto, parei de bater e percebi que a Dakota também havia parado, aliás, o aquele grito havia sido extremamente estridente e desnecessário.

— Queremos quebrar essa loja. — Falei da forma mais óbvia e ele riu nervoso.

— Esse é meu emprego e eu vou estar numa fria se vocês continuarem com isso.

Dei uma breve analisada aos arredores e estreitei minhas sobrancelhas.

— Bem, você já está numa fria. — Murmurei e vi-o engolir em seco, me aproximei um passo. — E... — arrastei meu olhar em sua direção. — Tem sorte de não estarmos dispostas a quebrar você também.

Sorri diabolicamente e ele engoliu em seco, dando alguns passos cambaleantes para trás.

— Olha — engoliu seco outra vez —, eu não quero chamar a polícia para vocês. — Avisou, forçando simpatia e eu estreitei ainda mais minhas sobrancelhas. — Até agora vocês só derrubaram algumas coisas e eu posso ajeitar isso, então, se puderem...

— Só derrubamos algumas coisas? — Repeti, interrompendo-o e vi-o engolindo em seco novamente.

— S-sim, quer dizer, n-não...

— Ah, qual é Kota? — Questionei em tom alto para que ela pudesse me ouvir do corredor onde a mesma se encontrava e ouvi o barulho do salto dela batendo no chão em passos rápidos, logo ela estava ao meu lado, encarando o rapaz medroso que nos olhava como se fossemos duas malucas. E de fato éramos!

— Sabe, Sav. — Dakota disse, analisando minuciosamente o rapaz de cima a baixo. — Acho que já podemos ir.

Vi o rapaz respirar profundamente e sorri de lado, era estranho como eu não sentia pena, como eu não conseguia sentir misericórdia, aliás, boa parte de mim estava sendo controlada pelo álcool e a outra parte pouco se importava em ceder ao álcool que me dominava. A garota começou a caminhar na direção da saída e eu fiz o mesmo, erguendo o taco ao passar ao lado do garoto e ele encolheu-se inteiro, fazendo-me rir maleficamente e em seguida abaixá-lo, caçoando de sua covardia. Ao perceber que, de fato, estávamos caminhando em direção à saída, franzi minhas sobrancelhas, afinal não estava entendendo porque realmente já estávamos indo embora, contudo, assim que saímos, e eu avistei Mike e Paul próximos – cada um com uma pedra enorme – e, antes que eu fizesse qualquer pergunta, o barulho de vidro se quebrando atrás de nós tornou-se completamente estrondoso, fazendo-me erguer minhas mãos até minha boca e demorei certo tempo para digerir a situação. Olhei para trás abismada com o que eles haviam feito e vi o rapaz – que antes aparentava estar tranquilo – completamente perturbado enquanto a frente da loja se encontrava completamente destruída. Abaixei minhas mãos e não pude conter um sorriso debochado, avistando-o alcançar o telefone e discar freneticamente um número que mesmo não vendo, eu sabia exatamente qual era.

— Agora sim podemos ir. — Dakota falou ao meu lado e eu gargalhei, ainda encarando o rapaz que falava euforicamente ao telefone e no momento em que ele me olhou, mostrei-lhe os dois dedos médios antes de ir correndo na direção da caminhonete.

Subimos na carroceria e o Will cantando pneu sem demora. Como da outra vez, ficamos cantando diversas músicas misturadas enquanto dividíamos outra garrafa de Whisky. Nos aproximamos do pub onde antes estávamos e quando Will estacionou, descemos.

— Arrasou, Sav. — Emmy disse depositando um beijo em minha bochecha e eu sorri de lado. Jonah passou ao lado dela dando um tapa em sua cabeça. — Seu idiota.

— Deixe-o pra lá. — Resmunguei, gesticulando e ela concordou com a cabeça.

— Vamos. — Paul nos chamou e começamos a caminhar, pensei que fossemos voltar para dentro do pub, entretanto ele desviou nos guiando para trás do estabelecimento.

— O que você tem? — Emmy indagou eufórica.

— Calma, temos para todos os gostos. — Mike disse cheio de si e a Dakota deu um tapa no ombro dele. — Ai!

Ela sorriu e depositou um selinho nele, olhei para Jonah e ele parecia distante.

— Nada muito forte para você Dakota, você deu muito trabalho na semana passada. — Paul disse, entregando para ela um cigarro de maconha e ela sorriu travessa.

— Quer dividir, Sav? — Questionou e eu olhei para Jonah que ainda continuava me ignorando.

— Quero. — Rebati e ele me olhou momentaneamente, a fúria em seus olhos e eu odiava quando ele ficava daquela maneira, quando ele não queria que eu fizesse o que ele e nossos amigos faziam.

Me aproximei da garota e ela acendeu o baseado tragando-o e fechou os olhos enquanto deixava a fumaça entrar profundamente, em seguida ela soltou-a e sorriu abertamente me entregando e eu fiz o mesmo, sentindo a moleza dominando meu corpo. No decorrer das tragadas meus olhos começaram a ficarem pesados e as risadas se tornaram involuntárias, me peguei rindo sem motivo algum e a Dakota fazia o mesmo ao meu lado. Quando nosso cigarro acabou o efeito ainda nos dominava e ficamos conversando paralelamente, dando mais risada do que pronunciando palavras coerentes. Me afastei e me aproximei do Jonah após um tempo, ele estava encostado na parede adotando aquela posição de fechado que o deixava extremamente sexy, fumando seu cigarro comum.

— Qual é o seu problema? — Indaguei, encostando ao lado dele e ele me olhou brevemente.

— Qual é o seu problema? — Rebateu a pergunta e eu o mirei confusa, ele me encarava um pouco revoltado e aquilo de certa forma me incomodou.

— Eu não tenho problema algum. — Sussurrei, desviando o olhar e ele soltou um riso nasal.

— Você sai do bairro nobre para se misturar com essas pessoas, fazer essas coisas baixas e não tem problema algum? — Cuspiu impassível e eu mirei-o furiosa.

— Você também faz isso, Jonah! — Lembrei-o e ele sorriu com escárnio, desviando seu olhar do meu.

— Mas eu sou órfã, Savannah. — Falou friamente e eu engoli em seco. — Não tenho com o que me preocupar e eu sou homem, é normal esperar algo assim vindo de mim, mas você...

 Ele olhou-me e eu sustentei seu olhar esperando que ele continuasse falando, pois mesmo com o efeito da droga tinha certa consciência e naquele momento me sentia estranha, me sentia... Triste. Vazia. Sozinha.

— Você é ou — pausou, juntando as sobrancelhas. — era, uma das garotas mais incríveis que eu já conheci e olha só no que eu te transformei. — Sussurrou desviando seu olhar do meu novamente, suas palavras me atingiram fortemente. — Eu me odeio por ter deixado você provar o primeiro cigarro de maconha, por ter deixado você praticar o primeiro vandalismo, por ter deixado você cheirar aquela cocaína que a Emmy te deu, por cada LSD e Ecstasy que te dei quando viemos pra essa droga de pub e olha só as pessoas que eu ando, todas elas me ajudaram a derrubar você!

Engoli em seco e senti as lágrimas molhando meus olhos, todos aqueles acontecimentos retornando em minha cabeça e eu desejei que o efeito da droga e do álcool ainda estivessem me dominando, pois naquele instante a tão peculiar vergonha que eu sentia, depois de fazer todas aquelas coisas, começou a me assolar cruelmente.

— Jon... — Murmurei e ele balançou a cabeça negativamente, jogou o cigarro que tinha entre os dedos fora e me olhou profundamente.

— Eu gosto de você, Sav. — Disse visivelmente atormentado. — Eu gosto mesmo de você e é por isso que eu não quero mais te ver, que eu não quero mais que você ande conosco.

Me senti desesperada com suas palavras e neguei veemente com a cabeça, sentindo as lágrimas brotando sorrateiramente em meus olhos.

— Eu chamei um táxi para você, ele está te esperando lá na frente.

— Não, não, não... — Relutei e ele segurou minhas mãos, fazendo-me parar e olhá-lo nos olhos novamente.

— Se você não parar agora, vai ser mais difícil ainda parar depois.

— Mas eu não quero ficar longe você.

Ele sorriu miserável e eu senti um aperto em meu peito, pois ele era tudo o que eu andava tendo nos últimos tempos, já que Lauren andava ocupada demais trabalhando e mal tinha tempo para ficarmos juntas. Meu pai era um estúpido que nem ao menos se importava com como eu andava me sentindo e minha mãe... Bom, mamãe era uma mulher completamente manipulada por papai e por isso nós pouco conversávamos. Ela até tentava se aproximar às vezes, mas eu sempre a rejeitava.

— Eu queria que você gostasse de mim como eu gosto de você Sav, mas infelizmente você não gosta e eu não posso te obrigar a isso. Eu... Só quero o melhor pra você, isso aqui não é vida Savannah, isso não é vida pra você.

Senti uma lágrima escorrer por meu rosto e ele enxugou-a rapidamente, involuntariamente me aproximei e abracei-o com força. A ficha caindo aos poucos e ele estava certo. Por onde eu andava com a cabeça que não havia notado o quanto tudo o que eu havia feito era errado e estupidamente desnecessário? Senti a vergonha impregnando-se em minha pele e me sentia imunda, senti vontade de chorar e de fazer somente aquilo, no entanto engoli o choro e aprofundei ainda mais o abraço.  

— Você acha que eles valem isso tudo? Que ele vale o fim da sua vida?

Não precisou de uma pergunta mais elaborada para que eu soubesse do que ele estava falando e eu neguei com a cabeça ainda abraçada nele, senti-o respirar profundamente e seus braços me apertavam mais contra o seu corpo. Além do mais, não valia mesmo à pena. Não valia a pena estar fazendo aquilo por conta da revolta que eu sentia dos meus pais e da raiva que eu havia suprido após a traição do Andrew, até porque era a minha vida que seria deteriorada e não a deles. Eles continuariam vivendo e eu estaria destruindo minha própria vida, estaria massacrando meu próprio caráter e tudo por causa de uma revolta hipócrita, tudo por causa da minha imensa hipocrisia que não me permitiu enxergar o quanto aquilo tudo era errado e só Deus sabe o que me aconteceria se Jonah não houvesse me alertado, até porque, ele sempre fora o único contra todas as coisas ruins que eu me permitia fazer somente para esquecer meus problemas e as dores que eles me causavam. Eu era uma covarde. A vergonha corroía minha pele da mesma forma que o arrependimento me devastava por dentro, minha consciência, completamente retomada e por mais que houvesse uma vontade imensa de chorar dentro de mim, eu simplesmente não conseguia. Me afastei de Jonah após um tempo e ele depositou um selinho em meus lábios, analisei-o atentamente e os outros permaneciam afastados de nós, conversando descontraidamente.

— Vou sentir sua falta. — Sussurrei sincera e ele sorriu de lado.

— Também vou sentir sua falta, troublemaker. — Disse sorrindo e eu acabei sorrindo também, beijo-o novamente e quando realmente nos afastamos eu me senti indefesa, da mesma forma que havia me sentido quando descobri a verdade por trás do meu maldito relacionamento e aquela sensação era terrível.

— Vem, já vamos entrar. — Will nos chamou e eu permaneci hesitante, Jon analisou-me meticulosamente e eu olhei-o tristonha.

— É o certo a se fazer, Sav. — Assegurou. — Nunca vou me perdoar se não te deixar ir.

Concordei com a cabeça e ele depositou um beijo em minha testa antes se afastar, caminhando de sua forma despojada, que eu sentiria falta, na direção dos amigos dele que naquele momento não seriam mais meus. 

— Você não vem, Sav? — Emmy protestou confusa e eu neguei com um aceno de cabeça, os outros me olharam surpresos.

— Já estragamos vidas demais, vamos deixar a dela em paz. — Fora Jonah quem disse impassível e eu o fitei observando que os olhos do mesmo continham algumas lágrimas, me senti ainda pior e ele foi o primeiro a sair dali, entrando no pub pela porta dos fundos.

Os outros ficaram me olhando durante um tempo e a Emmy parecia desapontada, Dakota caminhou de cabeça baixa ao lado de Mike e em seguida os outros adentraram o pub também, me deixando sozinha. Após um tempo parada ali mirando o nada, passei a caminhar saindo dos fundos do pub e logo avistei o táxi que estava me esperando. Caminhei calmamente na direção do mesmo, extremamente abatida e assim que me aproximei, adentrei o carro sentando-me completamente largada. Indiquei o endereço ao taxista sem sequer olhar para a cara do mesmo e fechei meus olhos, procurando pela vontade chorar, porém ainda não a sentia. A vergonha e o arrependimento eram evidentes e, durante todo o caminho, eu me massacrei com aqueles pensamentos, lembrando-me das coisas imundas e desonestas que eu havia feito e me senti como as pessoas opressoras daquela cidade. Que eu tanto odiava. Eu havia me transforma em um monstro e por mais que conseguisse superar aquele meu lado após os conselhos de Jonah, eu jamais conseguiria esquecer as coisas que eu havia feito aos outros e, principalmente, as que havia feito contra mim mesma. 

Flashback OFF

— Quando eu cheguei em casa já estava amanhecendo e me deparei com meus pais me esperando na sala, eles perceberam que eu havia bebido e quando me perguntaram se eu havia usado drogas, eu não menti para eles. — Continue e o Justin permanecia calado ao meu lado, dando-me liberdade para seguir em frente sem receio e eu mantinha meus olhos distantes dele, sentindo seu olhar em minha direção em alguns momentos. — Minha mãe chorou e ela nunca havia chorado em minha frente. — senti as lágrimas brotarem em meu meus olhos e involuntariamente elas desceram por meu rosto, enxuguei-as rapidamente e forcei um sorriso. — E então eles me colocaram para fora de casa e eu disse diversas crueldades para eles, mamãe só chorava e papai clamava o quanto ele tinha vergonha de mim, o quanto eu era a vergonha da família e a pior filha que pessoas como eles podiam ter. O Mason sempre fora uma droga de pai, mas minha mãe — pausei fungando e enxugando as lágrimas que haviam escorrido por meu rosto novamente — ela não merecia um terço do que eu já a fiz passar e tudo por causa de uma estúpida revolta e eu não os culpo por terem feito o que fizeram, e por mais que eu tente superar isso eu simplesmente não consigo. Por mais que eu tente ser uma pessoa melhor, nada muda e eu ainda continuo me sentindo imunda, ainda continuo me sentindo desonesta e uma escrava da imbecilidade e da covardia.

Sentia a dor dilacerando meu peito e após um tempo não tive mais controle contra as lágrimas que passaram a descer inconscientemente por meu rosto e aquilo era perturbador, melancólico e vergonhoso. Como na noite anterior, me levantei abruptamente e nem sabia ao certo porque havia feito aquilo, contudo antes que eu sequer pudesse dar um passo senti meu braço sendo puxado e logo meu corpo estava sendo prensado contra outro, quente e másculo, que me abraçava intensamente, trazendo-me uma sensação de alívio que me fez desabar. Deixei-me chorar, aprofundando ainda mais o abraço e senti o peso diminuindo sobre meus ombros, pois conversar com alguém era tudo o que eu necessitava e o abraço, aquele ato tão verdadeiro e intenso, fora apenas à sentença finalmente para que o meu fardo finalmente deixasse de me perturbar tanto. Me senti imensamente feliz pelo Justin não ter me rejeitado e inexplicavelmente protegida nos braços dele, sentindo sensações arrebatadoras que me fizeram provar um pouco de uma paz que eu não sentia há tempos. Sorri – mesmo em meio as lágrimas – involuntariamente, ponderando todas aquelas circunstâncias e percebi que mesmo no meio de toda aquela confusão e catástrofes, talvez aquele finalmente fosse o início de uma grande amizade. Talvez eu estivesse, finalmente, no caminho certo para minha redenção.


Notas Finais


HEY PARANOICAS :D
esse é o Jonah: http://static.letraclub.com/s/images/photo/38845/13754.jpg (só coloquei ele, porque ele era o mais chegado da Sav.)
- E aí camaradas, como vocês estão? Finalmente descobrimos o que a Sav fez e para uma pessoa moralista que ela demonstrou ser desde o começo da história, o que ela fez foi realmente grotesco, saiu fazendo diversas cagadas, praticando vandalismos, bebendo, usando drogas e quem diria que ela já fez isso tudo vendo a meiguice que ela é agora? HAHAHA pois é, todos temos nossos passados obscuros! O meu por exemplo: eu matava formiguinhas, fazia um tipo de Jogos Mortais com elas :'( LAJSLKALK enfim, aí está mais um cap de Paranoid e o abraço no fim do cap <3 Justin me saiu um belo de um cavalheiro gostoso divoso que ele realmente é :') No próximo cap as emoções continuam e como vocês estão pedindo tanto um POV do Justin, no cap 15 vai ter um POV dele ;)
É isso aí paranoicas, fico por aqui com mais um cap da fic que eu espero que vocês gostem! Obrigado pelos favoritos, pelos comentários e por todo o incentivo! Mil beijos para vocês, cuidado com a curiosidade e com o passado obscuro (se você não tem, cuidado para não ter!). Amo vocês tchutchucas e até a próxima postagem, xoxo ;*


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