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História Paranoid - Ela tem o pior pai do mundo.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Hey, notas finais... Enjoy ;*

Capítulo 15 - Ela tem o pior pai do mundo.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Ela tem o pior pai do mundo.

Flashback ON

— Por onde você andou? — Mason questionou levantando-se e eu o mirei assustado, o pânico por minhas ações ainda me dominando e ao avistar mamãe, um pouco atrás dele, senti meu corpo travando e minha boca secou. — Vamos, responda logo!

Não conseguia raciocinar um bom argumento que me livrasse do pior, contudo, era evidente o quanto meu silêncio me denunciava, mais do que qualquer palavra ou mentira que pudesse sair por minha boca, até porque quem cala consente e, segundo papai, eu sempre fui o grande exemplo do quanto aquele ditado popular era verídico.

— Eu, erm... — pausei engolindo seco enquanto vasculhava minha cabeça em busca de uma boa desculpa, entretanto não havia nada que poderia usar para livrar minha pele daquela vez.

— Não minta, Savannah. — Mamãe replicou visivelmente desapontada e eu senti um aperto dilacerar meu peito. Meus olhos encheram-se de lágrimas, no entanto existia um bloqueio que ainda me impedia de ceder. — Você estava com eles?

Permaneci calada durante o primeiro momento e fitei o chão enquanto sentia a vergonha me massacrando internamente. Os olhos de papai e mamãe se mantinham fixos em mim e tudo o que eu queria era poder ir até meu quarto e ficar trancada lá durante o resto da minha vida, privando-me de sair e voltar a fazer aquelas coisas terríveis, impedindo-me de continuar agindo como o monstro que eu havia me tornado.

— Vamos Savannah, responda logo! — Papai bradou gesticulando fervorosamente com as mãos, demonstrando sua fúria e eu engoli seco novamente.

— S-sim. — Gaguejei ainda de cabeça baixa, mantendo meu olhar distante deles.

— E você bebeu, não foi? — Ele indagou e eu assenti veemente, mantendo meus olhos fixos no chão.

Evitando olhá-los e ter que lidar com a censura e decepção exposta em seus olhares, pois eu já estava me sentindo péssima o suficiente e não aguentaria mais pressão do que eu mesma já estava infligindo sobre mim mesma.

— Pai, mãe... Eu... — antes que eu pudesse de me pronunciar ouvi a doce voz de mamãe me interromper surrando meu nome e de imediato me calei, esperando-a começar a falar. 

— Você usou alguma coisa, Savannah? — Perguntou e meus olhos esquentaram, mastiguei descontente e tentei fazer com que as lágrimas escorressem por meus olhos, porém a necessidade de chorar ainda permanecia afastada de mim.

— Olha, eu...

— Responda a pergunta da sua mãe. — Foi papai quem me interrompeu e eu estremeci com o tom ameaçador de sua voz. — Sem rodeios!

— Sim. — Assumi após um tempo hesitante.

— Oh m-meu Deus! — Mamãe murmurou, titubeante.

Umedeci meus lábios e ouvi resmungos que me fizeram erguer minha cabeça e fitar mamãe, desabando em um choro recheado de desespero e desapontamento. Senti um forte aperto em meu peito e aquela era a primeira vez que eu estava vendo-a chorar, pois ela sempre se demonstrou tão forte e vê-la daquela maneira frágil fez com que eu me sentisse mais monstruosa do que já estava me sentindo. Vê-la chorando fora como se houvessem enfiado centenas de facas em mim e era como se eu houvesse perdido meu chão, me sentia horrível, cruel e desmerecedora de qualquer misericórdia. Eu havia a feito chorar, ela estava daquele jeito por minha causa e quando papai a abraçou numa tentativa de consolação, me senti ainda pior. Aliás, ela estava ali desabando em lágrimas por minha causa e eu não sabia fazer nada a não ser olhar seu sofrimento e me lamentar, me praguejar mentalmente e sequer uma lágrima por todos meus atos hipócritas eu havia conseguido derramar. Analisei papai e vi que mesmo ele sendo um grande imbecil, nos últimos tempos eu havia ultrapassado toda a hipocrisia dele, havia ultrapassado toda e qualquer hipocrisia do mundo e como eu não conseguia chorar por aquilo? Eu havia perdido parte da minha vida por pura imbecilidade, por pura covardia e me sentia extremamente envergonhada, me sentia a pior pessoa do mundo, além disso, minha compaixão estava fragilizada e eu pouco sentia, estava anestesiada e nem ao menos sabia descrever o caos que se passava dentro de mim, quais sentimentos me dominavam e aquilo era o que tornava tudo ainda mais desumano.

Maryann era uma boa mulher e parecia extremamente incorreto estar fazendo-a passar por aquilo. Apesar de sempre sucumbir às vontades de seu marido e sempre defender os ideais e as insanidades do mesmo, durante muito tempo ela fora a única razão por eu ainda permanecer naquela casa. Pela qual eu, muitas vezes, antes de explodir naquela revolta, me submeti aos desejos do Mason, que, por sempre apoiar as decisões dele – muitas vezes mais parecendo sua sombra do que sua esposa – também se tornavam decisões da mesma. Todavia, detrás de toda sua estúpida submissão, existia uma mãe como todas as outras, mas que, infelizmente – devido às suas escolhas e pseudo-ausência de pensamentos próprios –, não recebia o afeto que lhe era devido. 

— E o que você usou? Heroína, Cocaína, Anfetaminas? — Papai interrogou, afastando-se de mamãe e caminhando em minha direção. Mantendo sua expressão impassível e eu apertei meus punhos, tentando controlar minha impulsão.

— Eu estou limpa. — Sussurrei e ele sorriu indiferente, mirei-o enquanto sentia a fúria me dominando ligeiramente e travei meu maxilar, tentando mantê-la dificilmente controlada.

— Está limpa? — riu com escárnio. — Você é uma drogada imbecil, Savannah! É a vergonha dessa família, a pior coisa que já nos aconteceu e tudo isso por quê? Porque é estúpida o suficiente para não lidar com a vida, porque é uma covarde que só sabe fugir dos seus problemas ao invés de enfrentá-los!

— Cale essa boca! — Gritei e meu corpo tremia violentamente. — Cale essa porra que você chama de boca, seu babaca, porque você não sabe de absolutamente nada! Você é só mais um filho da puta que pensa que sabe de tudo, mas definitivamente não sabe!

— Olha como você fala comigo, sua vadiazinha de merda! — Vociferou dando passos rudes em minha direção e eu o desafiei com o olhar, minha respiração se encontrava descompassada e a ira se tornava cada vez mais devastadora

— Então meça suas palavras ao se dirigir a mim, papai. — Repliquei entre dentes e ele gargalhou debochadamente. 

Ao longe Maryann ainda chorava copiosamente e aquilo já estava começando a me irritar.

— E eu estou limpa sim, faz muito tempo que não uso cocaína e nunca usei heroína — juntei minhas sobrancelhas —, não fale coisas que você não sabe.

Ele gargalhou apático e eu engoli a seco.

— Então quer dizer que só por que fumou apenas maconha, você não é uma drogada? — Interrogou com escárnio e eu rosnei esbravecida. — Você é patética! A primeira na lista das piores coisas que já me aconteceram!

Senti uma pontada em meu peito e as lágrimas brotaram em meus olhos rapidamente, lágrimas de ódio, revolta e eu pouco me importei com o fato de estar quase chorando na frente dele, aliás, tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era no quanto eu queria socar a cara dele até sentir toda a fúria que eu sentia se dissipando. Até aliviar toda a carga pesada que se alojava dentro de mim.

— E você é o primeiro na lista dos piores pais do mundo. — Enfatizei e vi-o franzindo o cenho furioso, sorri de lado e ele apertou os punhos travando o maxilar posteriormente.

— Savannah... — Mamãe sussurrou e eu olhei-a, analisei as lágrimas em seu rosto e aquilo fez com que a fúria me massacrasse, mas não era dela que eu sentia raiva, não era ela quem eu estava odiando. — Você está tão agressiva querida, você não costumava ser assim.

— Eu não costumava ser assim mesmo, mamãe. — Contrapus em um murmuro, suspirando. — Até porque eu fazia todas as vontades de vocês e o que eu ganhei com isso?

— Você ganharia muitas coisas se fosse uma boa filha, se fizesse por onde merecer! — Mason bradou incisivo e eu lhe fitei, demonstrando todo meu desprezo.

— Acontece que nada que eu fizesse iria ser digno para você. — Ressaltei mantendo meu tom controlado e ele arqueou as sobrancelhas, aliás, a indiferença feria o ego dele profundamente. — Você não sabe como lidar comigo, não sabe como lidar com o fato de ser pai e — arquei minhas sobrancelhas — ser órfã seria mais vantajoso do que ter um pai de merda como você.

Antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, senti uma forte queimação em meu rosto e levei minha mão até o local, sentindo as lágrimas brotando sorrateiramente em meus olhos e logo elas desceram enquanto uma vontade imensa de sair quebrando tudo me avassalou por inteiro. Papai havia me acertado um tapa no rosto e mamãe parecia ainda mais desesperada e em meio a minha combustão furiosa, podia vê-lo se movendo e clamando o quanto eu era a pior filha do mundo, o quanto ele se envergonhava de mim e que eu merecia o pior da vida. Mamãe o segurava na expectativa de conter a fúria do mesmo.

— Deixei-o me bater, deixe-o fazer o que quiser! — Berrei e ele me fitou furioso, sorri debochada em meio ao choro e ele travou seu maxilar ainda mais.

— Se você é assim hoje foram faltas de muitas surras, talvez se houvesse tomado uns bons tapas nessa sua cara dissimulada tivesse se tornado uma pessoa melhor.

— Acontece que eu sou sua filha Mason, não deveria esperar muita coisa de mim.

— Cale a boca, Savannah. — Mamãe ordenou e eu fitei-a brevemente.

— Vai querer dar uma de mãe preocupada agora, Maryann? — Indaguei com escárnio, sem medir minhas palavras, e vi mais lágrimas escorrendo por seu rosto. O arrependimento me atingiu.

— Qual é o seu problema? — Mason clamou inconformado e eu fitei o chão momentaneamente.

As lágrimas escorrendo por minhas bochechas e em seguida voltei a fitá-los, demonstrando toda minha dor e fúria, não os poupando de ver o quanto eu era infeliz e vazia.

— Vocês... Principalmente você. — Respondi por entre os dentes, apontando para o Mason. — A minha vida de merda, a minha incompreensão, minha falta de amor próprio e aos meus próprios pais, que só sabem fazer da minha vida um inferno.

Papai me fitava perplexo e mamãe continuava chorando, lágrimas escorriam por meu rosto também e eu sorri miserável, tentando me controlar e parar de me expor tanto.

— Eu só queria que conversassem mais comigo, que me dessem um ombro amigo! Que vocês fossem meus amigos!

— Isso não era motivo para você sair fazendo todas aquelas idiotices, pra ter ido estragar sua vida e tudo isso por que, Savannah? Só pra me provar que eu não sou um bom pai? Só para contrariar a mim e a sua mãe? — Gesticulou nervosamente. — Me diga o que você tem ganhado com isso? Absolutamente nada, porque sua carência hipócrita só prejudica você mesma.

— Talvez, Mason. — Soprei assumindo uma posição apática que só me machucava ainda mais. — Mas eu posso nunca ter uma família digna e posso ter o seu sangue correndo em minhas veias, ter que viver com a vergonha que isso me trará, mas quer saber papai? Eu realmente fui hipócrita, durante todo esse tempo, só que eu não vou dar o gostinho de vocês assistirem minha autodestruição, por mais que isso seja tudo o que vocês mais queiram.

— Não fale isso, Savannah. — Mamãe pediu chorosa e eu mantive meus olhos distantes dela, pois ela era a única por quem eu ainda tinha sentimento e não iria ceder, não daquela vez.

— Você nunca soube como é ser um pai, Mason. — Cuspi friamente. — E nunca vai saber, porque você é incapaz de amar alguém além de si mesmo — ri nasalmente —, seu ego é tão grande que eu sinceramente não sei como você e ele conseguem caber dentro dessa casa.

— Pare agora ou...

— Ou o quê? — Provoquei me aproximando e vi lágrimas brotando nos olhos dele, sorri de lado e mamãe apoiou a cabeça ao ombro de papai chorando desoladamente.

— Vai embora da minha casa! — Mandou e o sorriso em meus lábios se desfez aos poucos. — Eu não quero mais ver a sua cara, eu quero você longe daqui! Longe dessa casa e bem longe de estragar as nossas vidas!

— Mason... — Maryann choramingou e ele afastou-a, aproximando-se ainda mais de mim.

— Pegue as suas coisas e suma da minha frente. — Ordenou entre dentes e eu franzi meu cenho, o desespero crescendo dentro de mim e a expressão convicta dele só aumentava o pânico que começava a me avassalar internamente. — Estou cansado de sempre limpar as suas sujeiras, cansado de arcar com as despesas dos seus atos delinquentes, sempre livrar sua pele e não receber gratidão alguma por isso! — Apontou em minha direção, indignado. — Eu poderia te colocar em uma clínica de reabilitação e ajudar você a superar essa fase ruim — sorriu miserável —, mas você não merece. Você não merece nada!

As palavras dele me cortavam, me atingiam profundamente e aquilo fazia com que o ódio me devastasse. Engoli seco e mamãe só sabia chorar, olhei-a e ela mantinha seus olhos distantes de mim.

— Eu sou um péssimo pai, mas isso não muda o fato de que você, acima de tudo, é uma péssima filha. — Encolhi meus ombros ao sentir suas palavras ferindo-me impiedosamente. — Quero você longe da minha casa! Quero ver se você vai manter esse seu ego tão maior que o meu quando não tiver a quem recorrer!

— Mamãe... — Choraminguei e ela fungou chorando silenciosamente, olhou-me e balançou a cabeça negativamente, pedindo desculpa com o olhar e em seguida virou-se de costas demonstrando que, como sempre, não iria se impor contra a decisão dele.

— Pegue as suas coisas e pode levar o carro, até porque ele vai ser sua casa até aprender a dar valor aos pais que tem.

Fitei-o com desprezo e caminhei apressadamente na direção das escadas, subindo-as em passos fortes, descontando toda minha raiva. Quando cheguei até meu quarto, bati a porta com força e peguei a cadeira da minha penteadeira, jogando-a contra parede com força, quebrando-a e estragando a decoração do quarto. Apanhei malas e bolsas começando a arrumar tudo o que era meu, não deixando nada para traz. Quando desci com algumas das minhas malas, mamãe e papai não estavam mais na sala e eu pouco me importei em me despedir deles, fui levando tudo para o carro aos poucos e quando terminei de pegar tudo, adentrei o mesmo e segui partida sem rumo, refletindo sobre o que faria a partir dali. Exausta de passar horas rondando a vizinhança sem destino algum, e sentido uma imensa necessidade de dormir, estacionei e deitei minha cabeça sobre o volante enquanto os últimos acontecimentos se passavam como flashes em minha memória. Minha mente cruelmente ressaltando que aqueles eram somente os primeiros passos para minha decadência.

Flashback OFF

Ainda dominada pela sensação arrebatadora que o abraço de Justin me causava, algumas lembranças me alcançaram, fazendo-me chorar ainda mais e praguejar aquele meu passado que parecia que jamais iria me abandonar. Me sentia insegura e toda a repulsa que senti de mim mesma naquele dia retornou com força total, fazendo-me odiar a mim mesma mais do nunca, fazendo com que eu me sentisse imunda diante de todas as coisas desnecessárias que havia feito por puro capricho, somente para fugir dos meus problemas e causar problemas aos meus pais. As drogas e as bebidas haviam sido meus refúgios mais covardes e eu não me orgulhava nem um pouco do que já havia feito, vandalismo havia se tornado algo constante, comum e eu havia perdido as contas de quantas coisas ruins eu já fiz quando estava perdida naquela áurea negra que me arrastava mais e mais para o fundo do poço e se não fosse por Jonah, talvez minha situação estivesse cada vez pior. O arrependimento e a vergonha por meus atos viviam grudados em minha carne, correndo-me e me devastando todos os dias e todas as vezes que eu deitava minha cabeça em meu travesseiro e me permitia pensar na vida. Aliás, eu havia jogado boa parte da minha para o ar, havia perdido tempo fazendo todas aquelas coisas erradas quando na verdade eu poderia ter aproveitado aquele tempo perdido para lutar contra a opressão dos meus pais e fazê-los entender que eu tinha direito de fazer minhas próprias escolhas. Contudo, a traição de Andrew havia destruído toda e qualquer força que eu havia suprido e o fato de meus pais não terem me dado um apoio sequer – em nenhum momento da minha vida – também fora a razão por eu ter decidido seguir aquele caminho – que no início julguei o mais fácil, porém fora o mais difícil –, por eu ter decidido que faria aquelas coisas para me esquecer de tudo, para me manter longe da realidade que a minha droga de vida costumava ter e, de tanto ter tentado ser boazinha a vida inteira e não ter recebido nada em trocar, minha burrice fora deliberar que eu deveria sair dos eixos e chocar todos de uma forma que eles jamais esperariam de mim, entretanto havia sido a mim mesma que eu havia denegrido e eu nunca me esqueceria e nem me perdoaria por tudo aquilo.

— Tudo bem, Savannah. — Ouvi a voz do Justin soando mais rouca do que o normal e aprofundei ainda mais o abraço, recebendo um carinho descontraído em minhas costas que fez com que um arrepio percorresse minha espinha. — Eu entendo, posso imaginar o quanto seja difícil e eu... Eu não sou muito bom com conselhos, porque nunca lidei com esse tipo de situação — suspirou —, só que... Eu sei que o que você fez é errado, mas passado é passado e é algo para ser esquecido, lembra?

— Quanto mais obscuro o seu passado for, mais ele vai te perseguir, pelo resto da sua vida. — Repeti sua declaração do dia anterior e senti-o afrouxando o abraço.

Logo ele fora sorrateiramente se afastando e eu fiz o mesmo. Quando estávamos em certa distância, limpei meu rosto e funguei tentando deixar toda aquela tensão de lado, sentindo-me menos sobrecarregada por ter desabafado com alguém que eu sabia que não me julgaria. 

— Você largou tudo aquilo e está tentando ser uma pessoa melhor agora. É apenas isso que importa.

Sorri de forma miserável e sentia os olhos dele fitando-me, olhei-o nos olhos pela primeira vez após a minha ridícula crise de choro e ver seu olhar penalizado, demonstrando uma compaixão que eu não merecia fez com que eu me sentisse péssima novamente.

— Não importa o que aconteça, eu estarei sempre intoxicada. Nunca vou me esquecer, nunca vou deixar de me crucificar, porque isso é o mínimo que posso fazer.

Ele desviou o olhar momentaneamente e depois retornou seus olhos na direção dos meus com uma profundidade perturbante, comprimi meus lábios e fora minha vez de desviar o olhar, fitando o chão. Fugindo da incógnita carga que o olhar dele infligia sobre mim.

— Deve ser ainda mais difícil pra você, que consegue se lembrar tudo o que fez. — Murmurou e meus olhos subiram na direção dos dele, demonstrando minha confusão e eu vi-o estreitando as sobrancelhas.

— O que... — pausei, igualmente estreitando as sobrancelhas. — O que quis dizer com isso? — Questionei e ele engoliu seco.

Seus olhos permaneceram fixos aos meus, contudo eu percebi que seu olhar foi se tornado cada vez mais vago e a expressão pálida que o rosto do mesmo adquiriu fez com que eu desse alguns passos involuntários para trás. Os olhos cor de mel que eu já tanto admirava começaram a ficarem opacos e eu assisti sua pupila dilatando-se, seus lábios comprimiram-se em uma linha reta e ele travou o maxilar posteriormente dando cegos passos para trás afastando-se completamente de mim.

— Justin? — Chamei-o, porém ele parecia cada vez mais distante.

Senti meus batimentos ficando mais acelerados e olhei para a porta que dava para a cozinha, deparando-me com a mesma ainda aberta e dei mais alguns passos para trás, pois o que quer que estivesse acontecendo não me parecia bom e se eu precisasse correr precisaria estar em grande vantagem. A calma que antes me dominava, naquele instante, havia me abandonado e o medo passou a poluir meu corpo lentamente, descompassando minha respiração e fazendo meu corpo tremer violentamente.

— Justin, o que está acontecendo?

— Me deixem em paz. — Resmungou, virando-se de costas e levou as mãos até os ouvidos.

Caminhou cambaleante para perto da árvore onde antes estávamos e eu dei mais passos para trás, mantendo meus olhos amedrontados na direção dele. Pensei em correr, mas meu corpo parecia congelado e era evidente que não fugiria, ao menos que tivesse um motivo para fazê-lo. Afinal, o que estava acontecendo? Vi-o se movendo desorientado, demonstrando descontrole e perturbação, fazendo com que o pânico triplicasse dentro de mim. Minhas mãos soavam em bicas e por mais que eu quisesse correr, meu corpo não correspondia aos meus comandos e eu permanecia ali parada, assistindo toda aquela cena atormentadora enquanto ele resmungava coisas ininteligíveis e se remexia desesperadamente, tentando se livrar de algo que eu não fazia ideia do que fosse.

“As vozes”, meu inconsciente ressaltou e o medo alastrou-se dentro de mim, minhas pernas travaram. Momentaneamente, tudo estranhamente ficou silencioso e os únicos barulhos que eu podia ouvir eram os das batidas fortes do meu coração e da minha respiração descompassada, porém minhas pernas ainda não obedeciam meus comandos e aquilo era ainda mais aterrorizante.

— Eu não acredito em vocês! — Bradou e meus olhos quase saltaram das órbitas, meus batimentos ficaram mais intensos e meu coração dava solavancos em desespero.

Ele parou de se mover após um tempo, ficando estático em sua posição e suas mãos ainda estavam em sua cabeça. Analisei-o e percebi seus ombros se movendo rapidamente, denunciando sua respiração descompassada. Respirei intensamente, procurando uma autoconfiança que eu não conseguia encontrar para me aproximar dele e tentar ajudar de alguma maneira e, inconscientemente dei alguns passos à frente e, por mais que minha impulsão estivesse controlando-me novamente, o medo era algo gritante dentro de mim. Fui me aproximando cada vez mais e inexplicavelmente podia ouvir o alerta de perigo berrando em meus ouvidos e era como se uma luz vermelha estivesse piscando diante dos meus, denunciando o quanto eu estava sendo insana e o quanto estar me aproximando dele era algo irracional e altamente perigoso, no entanto meu incoerente lado desafiador e a necessidade de ajudá-lo continuaram me guiando cada vez mais para perto do mesmo. Toquei o ombro do Justin quando estava disposta bem atrás dele e vi-o encolhendo seu corpo, assim como pude ouvir o som de sua respiração acelerada e continuei com a minha mão em seu ombro, pois não havia ideia do que poderia dizer após o que eu havia acabado de presenciar. Além do mais, precisava tomar cuidado, uma vez que as vozes poderiam voltar a atormentá-lo de novo e pelo descontrole que ele demonstrou há tempos atrás, elas eram fortes e dominadoras dentro de sua cabeça e só Deus sabe o que ele era capaz de fazer com alguém enquanto elas estivessem o atormentando. Ainda assim, mesmo com o forte temor, continuei parada atrás dele, controlando minha insegurança e analisando-o minuciosamente, mantendo-me focada em qualquer movimento vindo do mesmo.

— Eu não acredito em vocês, não acredito em vocês. — Começou a sussurrar e eu me encolhi momentaneamente, em seguida me aproximei mais um pouco, deixando nossos corpos em centímetros de distância. — Eu não acredito em vocês.

Intensifiquei o aperto da minha mão no ombro dele, o mesmo manteve a cabeça baixa e eu tentei fitar seu rosto, contudo, – antes que eu pudesse prever – ele rapidamente virou-se em minha direção e, surpreendentemente, puxou-me contra seu corpo. Seus braços apertavam meu corpo contra o dele com força, em um abraço mais intenso do que o primeiro que ele havia me dado e eu automaticamente levei minhas mãos até os cabelos dele, acariciando-os numa tentativa de acalmá-lo. Seu rosto estava escondido na curvatura do meu pescoço e eu sentia a respiração dele batendo em meu pescoço, causando-me arrepios constantes e eu me praguejei por estar sentindo aquelas sensações imbecis diante de uma circunstância tão complicada e ameaçadora. Senti algo molhado em meu ombro e apertei-o mais em meus abraços e apesar de não ouvi-lo fungando, imaginá-lo chorando fora algo que fez com que um aperto forte massacrasse meu peito.

— Está tudo bem agora. — Sussurrei e por mais impossível que pareça, ele aprofundou ainda mais o abraço, juntando nossos corpos como se fosse nos tornar um só e me chutei mentalmente após aquela percepção desnecessariamente clichê.

Fui eu que me afastei daquela vez e quando meus olhos avistaram sua figura abatida em minha frente, ligeiramente se arregalaram e minha boca se entreabriu involuntariamente. Passei a mão em meu ombro e quando olhei para os meus dedos, engoli a seco e fitei-o novamente, assustada com aquela quantidade de sangue escorrendo do seu nariz.

— Oh meu Deus, Justin! — Exclamei desesperada. — Você está sangrando.

Automaticamente ele levou um dedo até o nariz e tocou o sangue, analisando-o em seguida e sua expressão visivelmente retorceu em descontentamento.

— Droga. — Murmurando passando ao meu lado rapidamente e caminhou na direção da porta de vidro, adentrando-a numa velocidade admirável.

Caminhei – praticamente corri – apressadamente na mesma direção e, quando entrei a cozinha, me deparei com ele próximo a pia, com as mãos apoiadas sobre a mesma enquanto o sangue que escorria de seu nariz escorria lá dentro. Fiquei parada próxima da porta, analisando-o e ele aparentemente não havia notado minha presença, ou estava fingindo não ter notado. Estava preocupada e queria me aproximar, contudo permaneci parada no mesmo lugar.

— Me desculpe. — Disse e eu dei alguns passos à frente, me aproximando do balcão e ele continuou estático enquanto mais sangue fluía de seu nariz.

— Não se desculpe... — sussurrei, torcendo os lábios. — Você tem kit de primeiros socorros? — Continuei antes que ele pudesse dizer alguma coisa, dando mais alguns passos à frente e ele olhou-me por sobre os ombros.

— No armário do banheiro no meu quarto. — Replicou e eu o fitei momentaneamente, hesitante. — Você pode pegar para mim?

Anuí e, sem dizer nada, saí da cozinha velozmente. Olhei os arredores e mirei a escada, dando uma última olhada para trás antes de começar a subir as mesmas e quando alcancei o corredor dos quartos, fui em direção do último – que era o dele – e adentrei o mesmo, indo até o banheiro e apanhando a pequena maleta no armário. Quando saí do banheiro, dei uma olhada no quarto e percebi que tudo estava completamente organizado – da mesma forma que o resto da casa se encontrava –, olhei para a cama dele e me lembrei de quando eu havia o visto dormindo, sorri involuntariamente e balancei minha cabeça numa tentativa de tirar aquelas ideias absurdas. Me retirei do quarto, deixando a porta encostada, e caminhei pelo corredor, alcançando a escada ligeiramente. Quando estava quase adentrando a cozinha parei subitamente, voltando alguns passos e avistei aquele corredor atrás da escada que se encontrava pouco iluminado e que continha aquela estranha porta branca ao final. Me questionei o que havia lá e a curiosidade me pegou fortemente. Permaneci avaliando o local e após um tempo, sacudi minha cabeça vagamente, livrando-me das ideias e caminhei decididamente até a cozinha. Entretanto, quando a adentrei me deparei com a mesma vazia e franzi minha testa, olhando para trás e para todos os lados à procura do Justin. Fui até a pia e a mesma se encontrava limpa, fazendo-me estreitar ainda mais minhas sobrancelhas. Olhei para trás novamente e caminhei na direção da porta de vidro – que estranhamente se encontrava fechada –, procurando por ele no quintal, contudo ele também não estava lá. Mirei o céu escuro e fiquei parada avaliando as árvores e suas folhas sendo chacoalhadas pelo vento, minha mente momentaneamente vagou distante. Lembrei-me que precisava procurar por Justin e respirei profundamente, virando-me e senti meu corpo estremecer assustadoramente quando me deparei com a figura estática dele atrás dele mim. Seu rosto ainda sujo de sangue e quase gritei por conta do imenso susto. Meu coração descompassou em fração de segundos, levando minha respiração no mesmo ritmo e eu fitei-o, sobressaltando-me ainda mais com sua expressão atormentada, mirando-me nos olhos, no entanto seu olhar parecia distante. 

— Assustei você? — Indagou e eu forcei um sorriso, seus olhos analisaram meu ato e depois fitaram o chão, suas sobrancelhas levemente estreitas.

— Vamos limpar isso. — Sugeri, apontando para o sangue em seu rosto e ele anuiu.

Passei ao seu lado, caminhando até o balcão e ele se sentou em uma cadeira que havia ali. Coloquei a maleta sobre a bancada, abrindo-a. Apanhei uma gaze e molhei-a com soro para tirar o sangue que havia em meu ombro, em seguida fiz o mesmo processo e me aproximei cautelosamente dele. Diante do seu olhar meticuloso, forcei um sorriso e ele me olhava atentamente, apertei a gaze em meus dedos e olhei para o sangue escorrendo de seu nariz, mirando os olhos dele um tempo depois. Desconcertada, cheguei um pouco mais perto e vi-o respirar densamente, seus olhos desceram até o chão e eu aproximei minha mão do seu nariz, começando a limpá-lo. Repeti o processo até conseguir tirar todo o sangue, contudo, vez ou outra, ainda escorria filetes de sangue. Peguei um chumaço de algodão e enrolei-o, afastando-me brevemente.

— Dói em algum lugar? — Perguntei, quebrando o silêncio e ele negou com a cabeça.

— Isso quase sempre acontece. — Murmurou e eu fitei seus olhos, em seguida voltei a analisar o bolinho de algodão que fazia para ajudar a estancar o sangue. — Quero dizer, na maioria das vezes que eu as escuto, meu nariz sangra. 

— Isso é bem estranho. — Pensei alto, arrependendo-me depressa.

— Tudo em mim é estranho. — Rebateu e eu encarei-o, ele apenas forçou um sorriso.

— Você não deveria ser sempre tão pessimista. — Comentei, pegando outro pedaço de algodão e ele permanecia me observando.

— É impossível que não esteja assustada com o que viu.

— Sim, eu estou. — Admiti e olhei-o brevemente, desviando meu olhar rapidamente. Suspirei. — Mas não me importo.

— Deveria. — Soprou, aborrecido.

— Por quê?

Evitei olhá-lo, ocupando-me somente no que estava fazendo.

— Porque você não me conhece, não deveria confiar tanto assim em mim.

— Bem, já disse que não me importo. — Repeti e ele soltou um riso nasal.

— ‘Tá bom então. — Rendeu-se e eu sorri, satisfeita.

Peguei os bolinhos de algodão, me aproximou outra vez e coloquei minha mão em seu queixo, erguendo o rosto dele e ele fechou os olhos enquanto eu os enfiava em seu nariz. Limpei o pouco de sangue que havia escorrido e ele mantinha os olhos fechados, seu rosto extremamente próximo e eu me peguei analisando-o, observando o quão bonito ele era e o quanto cada detalhe era estupidamente perfeito. Logo meus olhos inconsequentemente desceram para os seus lábios avermelhados, avaliando-os com luxúria. Tentei imaginar qual seria o sabor de seu beijo e já não era mais novidade que eu estava me sentindo completamente atraída pelo mesmo, tanto que em alguns momentos tinha pensamentos pecaminosos e me imaginava beijando-o loucamente. O que só fazia com que uma frustração imensa crescesse dentro de mim. Após um tempo, submersa na idolatria à beleza do rapaz em minha frente, abanei minha cabeça negativamente, afastando-me repentinamente.

— Prontinho. — Sussurrei, sorrindo sem mostrar os dentes quando ele abriu os olhos e mirou os meus.

“Senhor, tira esses pensamentos da minha cabeça”, implorei mentalmente e caminhei na direção do lixo, jogando fora as coisas que havia utilizado. Ainda podia sentir o olhar dele em minha direção e fechei os meus com força, respirando profundamente antes de me virar e encará-lo momentaneamente. Forcei o centésimo sorriso e ele arqueou uma sobrancelha. Avistei outro filete de sangue escorrendo do lado esquerdo de seu nariz e aproximei-me novamente, alcançando outra gaze e limpando-o.

— Quanto tempo demora pra parar de sangrar? — Perguntei tirando o algodão, que já estava encharcado, e enrolando outro pedaço para colocar no lugar.

— Eu não sei. — Resmungou e daquela vez manteve seus olhos fixos em mim enquanto eu recolocava o algodão em seu nariz. — Eu devo estar absolutamente ridículo. 

Ri de seu comentário e ele soltou um riso nasal.

— Às vezes penso que você fica lindo de qualquer maneira. — Repliquei involuntariamente e em seguida comprimi meus lábios, fitando o chão. Minhas bochechas queimaram violentamente e apressadamente virei de costas, caminhando até o lixo e jogando fora a gaze que eu havia usado.  

Me mantive de costas e senti-o me observando, a insegurança de olhá-lo e me deparar com o mesmo olhando-me indiferente me dominava, no entanto não havia como fugir por muito tempo, então logo me virei e meus olhos rapidamente encontram os seus. Ele me avaliou minuciosamente.

— Às vezes penso a mesma coisa de você. — Repeliu e um sorriso espontâneo se apoderou de meus lábios, porém, ao notar o tamanho da minha imbecilidade, o desfiz rapidamente e ele continuou observando-me.

Mantive meus olhos na direção dos dele e ele manteve seus glóbulos cor de mel na direção dos meus, faiscando daquela forma profunda e complexa. Senti meu interior queimando em excitação e uma estranha felicidade se apossava de mim, fazendo-me querer sorrir tola e aquela vontade estava sendo dificilmente controlada. Lembrei-me da Melanie e das descobertas que eu havia feito sobre a mesma, lembrei-me que ele estava a fim dela e percebi que tudo o que ele havia feito fora devolver o elogio, sem intenção alguma, somente para que eu não me sentisse envergonhada por ter dito aquilo, quando, na verdade, eu já estava me sentindo uma completa tola.

Ouvi batidas desesperadas na porta e olhamos para trás ao mesmo tempo, Justin me fitou confuso e eu estreitei minhas sobrancelhas, demonstrando uma confusão maior. Após um tempo, e uma sequência absurda de batidas que se sucedeu, ele se levantou, caminhou até a sala e eu continuei parada próxima da pia, ainda praguejando-me por estar sendo movida pela estupidez novamente.

— A Sav está aí? — Ouvi questionarem e, mesmo soando bastante ofegante, reconheci aquela voz.

Rapidamente entrei na sala e me deparei com um Nolan um tanto quanto apreensivo.

— O que aconteceu Nolan? — Perguntei começando a me sentir desesperada e ele torceu os lábios, desviando seu olhar do meu momentaneamente e depois o retornando.

— Lauren pediu para você ir até a lanchonete, disse que aconteceu uma coisa ruim e que tem dedo do seu pai nisso. — Contou e eu ponderei suas palavras, sentindo o ódio crescendo dentro de mim.

— Não acredito... — Murmurei e ele assentiu cabisbaixo, passei a mão por meus cabelos e travei meu maxilar, engolindo minha revolta. — Você sabe o que aconteceu?

— Não, ela não disse. — Torceu os lábios. — Só disse que era algo relacionado a vingança, que até o emprego dela está sendo ameaçado e que era pra você ir até lá o mais rápido possível.

— Argh droga, eu vou acabar com aquele desgraçado. — Rosnei, passando feito um furacão ao lado do Nolan e saí da casa do Justin rapidamente, sem nem ao menos me despedir do mesmo.

— Ei Sav, você não pode dirigir desse jeito. — Nolan disse e eu o ignorei.

— Savannah. — Daquela vez fora a voz do Justin, porém eu estava tão furiosa que nem ao menos sucumbi ao anseio que senti de olhá-lo, prosseguindo fervorosamente minha caminhada.

Alcancei a trilha rapidamente e, sem nem ao menos olhar para trás, atravessei-a. Ao chegar em meu carro, sem hesitação adentrei no mesmo, em seguida cantando pneu a toda a velocidade.

Justin’s Point of View

— O que aconteceu? — Indaguei confuso e ele balançou a cabeça negativamente, respirando profundamente.

— A Lauren nunca se deu muito bem com o pai da Savannah e ele é completamente vingativo, então acredito que ele tenha feito alguma coisa pra prejudicá-la e ao que tudo indica, é algo que vai prejudicar a Sav também. — Explicou e eu senti uma coisa estranha dentro de mim, um aperto no peito que fez com que eu retorcesse meus lábios.

— Entra aí. — Propus fazendo sinal e sem demora ele entrou. — Quer beber alguma coisa?

— Pode ser uma cerveja. — Respondeu, sorrindo de lado e eu assenti, caminhando rapidamente até a cozinha.

Peguei duas garrafas na geladeira e voltei para a sala, ligando a TV e me sentando no sofá.

— Senta aí.

Ele assentiu e se sentou, alcançando a cerveja em minha mão, abrindo-a e dando uma grande golada. Fiz o mesmo com a minha e o líquido desceu suavemente por minha garganta.

— O que aconteceu com o seu nariz? A Sav te deu um soco? — Questionou zombeteiro e em seguida deu outra golada em sua bebida, ri nasalmente e dei outra golada na minha antes de pensar em respondê-lo.

— Foi só um sangramento. — Respondi, dando de ombros e ele soltou apenas um muxoxo, bebericando sua cerveja posteriormente. — Você acha que a Savannah vai ficar bem?

Ele soltou um riso nasal e me analisou momentaneamente, sacudiu a garrafa que estava sua mão e fitou a TV.

— Seja o que for, creio que sim! Essa guerra não é de agora e o pai dela já fez coisas piores, mas ela sempre supera, porque é bem forte.

Aposto que ele não diria isso se soubesse das coisas que ela havia me dito tempos atrás e tivesse visto o estado de fragilidade em que a mesma ficou. Senti um aperto no peito.

— Por que ele não a deixa em paz? — Perguntei, arqueando minhas sobrancelhas e suspirou.

— É como eu disse, ele é vingativo e queria que a Savannah fizesse todas as vontades dele, mas ela nunca deu o braço a torcer. — Explicou e em seguida suspirou. — Mas eu não a culpo, até porque é uma pena que ela tenha o pior pai do mundo.

A expressão penalizada no rosto de Nolan fizera-me lembrar novamente das coisas que ela havia me dito e a Savannah não precisava daquele tipo de olhar penoso, na verdade, ninguém que sofresse – por razões diversas – precisava de pena e sim, de alguém que tentasse entender. De alguém que realmente tentasse – ou até mesmo pudesse – entender e, sobretudo, ajudar.

— Quero ir lá ajudá-la. — Sussurrei e ele olhou-me confuso.

— Vai querer ir lá? — Indagou, surpreso e eu assenti. — Bem... Erm, é que há várias pessoas lá, J.Drew.

Suspirei frustrado, odiando-me naquele momento por ser tão incapaz e podia sentir o Nolan me observando atentamente.

— Por que quer ir lá? — Perguntou curioso e eu arqueei uma sobrancelha.

— Ela está me ajudando com a Melanie, então uma hora ou outra, querendo ou não, vou ter que retribuir.

— Então — deu uma pausa, sorrindo torto —, vocês estão se dando bem?

— Na medida do possível — dei de ombros. —, é um pouco estranho ainda.

— E — parou, dando uma golada em sua cerveja. — como você se sente na presença dela?

 Olhei-o confuso e ele deu de ombros, desviei meu olhar, analisando o chão. Dei outra golada em minha cerveja e depois voltei a olhá-lo.

— Eu gosto de conversar com ela. 

Após um tempo ele anuiu, voltando a atenção para um jogo de basquete que acabava de começar e tentei fazer o mesmo, no entanto não tardou para que minha mente estivesse vagando distante. E, para ser honesto, a razão por eu apreciar a presença da Savannah ia muito além do simples fato de gostar de conversar com ela – algo que eu de fato apreciava bastante –, pois, na verdade, desde o primeiro momento eu havia sentido algo diferente a respeito dela – desde o momento em que ela havia me ajudado com aquelas crianças – e, de certa forma, eu havia acreditado quando a mesma dissera que não era como os outros, porém rejeitei-a arduamente nos primeiros momentos por não me sentir no direito de socializar e me aproximar das pessoas, por me denominar desmerecedor, por não saber lidar muito bem com as pessoas e por não suportar que sentissem pena de mim. Algo que, aparentemente, não ocorria em relação à Savannah. Afinal eu tinha um passado – que todos tinham conhecimento – pelo o qual não me orgulhava nem um pouco e o grande problema de tudo, era não me recordar, não saber – muito menos entender – o porquê – ou uma possível razão – de eu ter feito o que todos diziam que fiz. De ter feito o que todos diziam que eu havia feito. Minha vida inteira fui taxado como um problemático-incurável e após um tempo, até mesmo comecei a acreditar no que as pessoas diziam, até porque, qual era o sentido de eu não conseguir me lembrar das coisas ruins que havia feito se eu realmente não fosse um problemático-incurável? E também havia o fato de que as vozes me torturavam constantemente e eu não conseguia mais controlá-las, minha doença se tornando cada vez mais forte, dominadora e incontrolável. Eu não sabia mais como lutar contra aquilo. Elas me culpavam por coisas absurdas e, para piorar, me acusavam de ter feito aquela atrocidade quando eu ainda era somente uma criança, amedrontada e atormentada. Me sentia miseravelmente sozinho, pois tudo o que um dia eu cheguei a ter, havia sido cruelmente tirado de mim e em alguns momentos acreditava que estava condenado ao sofrimento eterno. 

Durante algum tempo fui capaz de saber e entender o real significado de se importar com alguém, afinal de contas, tio Steve abdicou-se do direito de seguir sua vida para cuidar de mim e fora tudo o que me restou e que eu tive ao longo da aprendizagem que ele me forçou a ter. Ele fora o única que se importou verdadeiramente comigo. No decorrer de todo o tempo em que o mesmo passou cuidando de mim – dando sempre o seu melhor – eu pude ao menos sentir um pouco do que era viver, ter uma noção de família e, principalmente, saber como era viver sem ser constantemente vítima dos fantasmas do meu passado. Mesmo que eles sempre me atormentassem durante a noite enquanto eu inutilmente tentava dormir. Steve Morrison dedicou sua vida para que eu aproveitasse a minha, deu tudo de si para me ajudar e eu lhe devia todo meu respeito. A continuidade da minha existência. Por isso, ano passado, quando o mesmo faleceu, não fora surpresa que eu houvesse ficado perdido. Completamente sem rumo, pois não encontrei mais ajuda alguma – até a Savannah aparecer – e me vi preso em um mundo terrivelmente melancólico, vulnerável a todos os meus demônios. 

Para dramatizar ainda mais a situação, eu ainda me sentia um tremendo covarde e fraco depois daquela maldita crise diante da Savannah e, sinceramente, não entendia como ela não sentia medo de mim, como não queria se afastar e o porquê de não sentir nojo. Como todos os outros. Eles me repeliam, me recriminavam. Cresci recebendo o ódio das pessoas, assim como pouco sabia sobre o que era sentir amor e, especialmente, sobre como era amar. O que era ter uma família de verdade. Não tinha muitos amigos e, nos últimos tempos, o Nolan era o mais perto de um verdadeiro amigo que eu possuía e também havia a Savannah, que já conquistava minha confiança mais depressa do que eu havia imaginado e eu, até mesmo, já sentia que podia considerá-la uma amiga também. Afinal de contas, ela havia confiado em me contar algo sobre seu passado e isso me fez perceber que ela igualmente me tinha como amigo. Senti um aperto em meu peito ao me recordar do momento em que ela me contara sobre seu passado. Ela se recriminava tanto e eu a entendia, pois deveria ser horrível conviver com aquilo e, por mais que meu passado fosse extremamente mais assombroso e imperdoável, por mais que ela não tenha provocado à morte dos próprios pais ou de qualquer outra pessoa, o fato de ela ter feito o que fez, e ter praticado atos que a atual moralidade dela abomina, fazia tudo se tornar imperdoável aos olhos da mesma. Confesso que jamais acreditaria que ela tivesse feito todas aquelas coisas se as mesmas não houvessem sido ditas por ela, pois sua doçura e ingenuidade pareciam tão grandes e por detrás de toda aquela capa de uma garota inocente existia um passado miserável. Um passado pelo qual ela não se orgulhava e eu sabia que aquele era o tipo de coisa que não havia como esquecer, pois ela havia cometido todas aquelas atrocidades consigo mesma, mesmo que tenha feito na expectativa de magoar aos outros, tudo o que ela havia conseguido fora magoar a si própria. Ela feriu a si mesma, tatuou em sua pele com a sujeira de seus atos e por mais que tentasse superar tudo o que havia acontecido, eu sabia, melhor do que ninguém, o quanto ela precisaria lutar para aquilo acontecer. Eu lutei durante toda a minha vida e ainda vinha lutando. Sempre tentando bater de frente contra o meu passado, tentando ultrapassá-lo e esquecê-lo, viver uma nova vida, mas eu simplesmente não conseguia. Na prática tudo sempre era mais complicado, angustiante. Frequentemente me torturar por algo que eu sequer tinha consciência do por que havia feito, era altamente massacrante. E me lembro de muitas vezes sentir a forte necessidade de receber um abraço, a necessidade de alguém para dizer que tudo ficaria bem – mesmo que não ficasse –, entretanto não havia ninguém. Por aquela razão abracei a Savannah, pois, naquele instante, abraçá-la fora a forma que eu encontrei, não só para consolar a ela, mas também, para consolar a mim mesmo. E estar perto dela fazia com que eu sentisse coisas – necessidades – desconhecidas. Fazia com que eu sorrisse com uma facilidade surpreendente e, admito, a forma que eu me sentia à vontade em sua presença era atormentadora. Mesmo que minha paranoia não aceitasse aquilo, assim como grande maioria das vozes em minha cabeça a rejeitavam arduamente em sua ausência. Lembrar-me como havíamos conseguido chegar até ali era algo cômico e surpreendente, afinal eu havia sentido tanta raiva quando a peguei invadindo minha casa que sequer imaginei que acabaríamos nos entendendo, que seria ela quem me ajudaria a conquistar a Melanie.

“Melanie”, refleti, lembrando-me dela e de sua beleza fascinante.

Durante três anos eu havia sonhado com o momento em que finalmente criaria coragem para tentar algo com ela e idealizando o quanto seria maravilhoso se ela não me repudiasse como os outros. Algo que eu definitivamente duvidava. Passei todo aquele tempo fantasiando situações e sonhando com como seria beijá-la, no entanto, desde que a Savannah apareceu, em certos momentos me pegava completamente confuso e, até mesmo, incerto. Quando ela estava por perto eu não pensava muito na Melanie e aquilo era estranho, pois, mesmo que eu tentasse compreendê-la, o fato da mesma sempre estar se esforçando para se aproximar de mim era desmedidamente intrigante. Há anos e ninguém nunca se aproximou de mim por vontade própria. Fui eu que me aproximei do Nolan e do Sr. Green e tinha certeza que eles jamais tentariam falar comigo se eu não tivesse dado o primeiro passo para aquilo, visto que – enquanto eu não lhes dirigi a palavra – eles respeitaram prudentemente meu silêncio durante todas as vezes que fui até a Green's Grocery Store. Mas a Savannah, ela realmente era diferente de todos os outros. Havia ido incansavelmente atrás de mim e quando fora minha vez de ir atrás dela – para pegar minha preciosa foto –, decidi tentar mantê-la por perto tempo o suficiente para descobrir o que ela tanto queria, para ver até onde ela estava disposta a levar aquilo tudo. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez no parque e confesso que fiquei fascinado, afinal de contas nunca havia a visto antes e nem sob tortura poderia negar o quanto ela era extraordinariamente linda. Era um bocado atraente também, contudo, apesar de apreciar sua extravagante beleza, eu procurava não suprir segundas intenções, uma vez que estava convicto em tentar conquistar a Melanie, que era a garota por quem eu andei morrendo de amores durante tanto tempo. Mesmo me sentindo tão encantado pela Savannah e todo aquele mistério que ela carregava no olhar. Era incrível como eu me sentia à vontade com ela e, mais incrível ainda, era que ela também parecia à vontade em minha presença e, da mesma forma, parecia pouco se importar com o fato de ficar perto de mim. Ainda que estivéssemos sozinhos. Me tratava como se eu não fosse o cara considerado o perigo-da-cidade em que vivíamos e aquilo me instigava. Ela sabia sobre o meu passado e mesmo assim não acreditava nele. Possuía uma insana confiança em mim e aquilo era espantoso, perturbador e quanto mais eu tentava entender, mais ela me deixava confuso. O que parecia piorar ainda mais com sua presença, que me infligia sensações paradoxais e desconexas. Era atormentadora e fascinante a maneira que ela constantemente me olhava, visto que havia uma quantidade enorme de sentimentos que a mesma mantinha exposto e, em alguns momentos, aquele excesso de sentimentos era o que eu denominava estarrecedor. Além do mais, ninguém jamais havia me olhado tão intensamente, tão complacentemente e por mais subversivo que eu achasse tudo aquilo, em alguns momentos me sentia admirado com os olhares que a mesma lançava em minha direção. Cada pequeno detalhe dela parecia me envolver gradativamente e eu passava a maior parte do tempo contemplando-os, me sentindo completamente perdido no meio de tanta confusão.

Eu queria a Melanie e não tinha dúvida daquilo, mas havia algo inexplicável em relação à Savannah, havia algo estranho comigo. Algo que fazia com que, em certos momentos, eu simplesmente não conseguisse controlar a impulsão que me dominava quando ela estava por perto. Tornando indiscutível o fato de eu estar me sentindo atraído por ela, porque havia alguma coisa nela que me estimulava e me puxava como um imã, que me fazia admirá-la e, mesmo com a certeza de que existia uma forte razão, eu ainda não havia a desvendado. Portanto, efetivamente, toda aquela incerteza era perturbadora. Incompreensível. Desconexas sensações se apossavam do meu corpo e eu não conseguia afastá-las. Eu sabia que estava apaixonado pela Melanie, tinha certeza, mas diante do que andava acontecendo, também começava a crer que estava fortemente atraído pela Savannah, e sua determinação nas coisas que ela acreditava serem certas e que estava decidida a fazer. Ainda assim, sabia o quanto seria errado tomar qualquer decisão precipitada e prejudicial, afinal eu não tinha aquele direito sabendo que era a Melanie quem eu queria, que se ela me aceitasse, seria com ela que eu ficaria. E eu estaria sendo equivocado, um completo canalha, se me permitisse ser guiado pelo mero fato de estar me sentindo atraído pela Savannah. Aquilo definitivamente não me dava direito algum, até porque havia a enorme possibilidade de eu nem ao menos ter chance com ela. Portanto,  tudo o que eu me esforçava a fazer era aceitar nossa, cada vez mais intensa, amizade e se tudo desse certo com a Melanie, eu seria eternamente grato por seus esforços – principalmente os incentivos – e me disponibilizaria à igualmente ajudá-la. Quem sabe estar me ajudando, a ajudasse enxergar que – mesmo depois das coisas que havia feito – existia algo imensamente bom dentro de si mesma pelo qual ela incansavelmente deveria lutar.


Notas Finais


E aí, paranoicas, tudo beleza? Ok, ok, ok... Sei que demorei! Mas então, eu voltei de viagem faz três dias, mas acontece que hoje vai ter uma festa da minha prima e vai ser na minha casa, então desde que voltei de viagem estou correndo com a minha tia e minha mãe para ajudar nos preparativos, porque elas decidiram encima da hora que fariam a festinha de um ano da minha priminha. Mal tive tempo para escrever o capítulo e fiquei escrevendo ele aos poucos, hoje está tudo mais tranquilo e finalmente consegui terminar o capítulo para postar. Enfim, aí está o POV do Justin e eu tenho que falar uma coisa com vocês, é o seguinte paranoicas: eu sei que vocês querem que as coisas aconteçam logo, mas peço que tenham calma. Eu tenho a história do começo ao fim em minha cabeça, sei de tudo o que vai acontecer e quando vai acontecer e não quero perder o enredo da história. A ~Sustin deixou um comentário no capítulo 14 falando sobre isso e eu totalmente concordo com ela, mas quero dizer também que esse POV do Justin não é só porque tinha muita gente pedindo e sim, porque ele já estava previsto para esse capítulo. Estou tentando manter a originalidade da história e as coisas vão acontecer com o tempo, porque não é de um dia para noite que as coisas começam a acontecer, então vocês precisam ter um pouco mais de paciência e eu prometo que quando Javannah começar a acontecer vou fazer valer a pena toda a demora! Só não quero fazer nada previsível e que comece a perder a graça, porque eu sinceramente não suporto história onde no segundo capítulo os principais já estão juntos e isso e aquilo. Então é isso paranoicas, quero agradecer pelos comentários (vou respondê-los amanhã) e MUITO OBRIGADO PELOS 401 FAVORITOS, VOCÊS SÃO DEMAIS!!! <33 Espero que gostem do capítulo e que sejam pacientes, CUIDADO COM A CURIOSIDADE, lembra? HEUHUEH fico por aqui com mais um capítulo e espero ver vocês no próximo tchutchucas, amo vocês e xoxo ;*


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