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História Paranoid - Talvez eu apenas precise de um tempo.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Deixam a necessidade de me assinar para depois e aproveitem o capítulo, fiz com todo amor e carinho. Notas finais importantíssimas, leiam até o final, por favor! enjoyyy x

Capítulo 21 - Talvez eu apenas precise de um tempo.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Talvez eu apenas precise de um tempo.

— Eu estou aqui, vem me pegar. — Gritei enquanto um largo sorriso se esboçava em meu rosto. 

Me encontrava escondida atrás de uma árvore em uma espécie de bosque que não ficava tão distante da casa do Justin e, por mais que o local não me parecesse conhecido, eu me sentia inexplicavelmente à vontade e feliz. E eu tinha plena consciência de que não era somente o canto dos pássaros que me trazia aquela calmaria e contentamento imensurável, uma vez que minha principal razão de felicidade não era exclusivamente por estar lá – em um local tão majestoso e agradável –, mas sim, por estar lá junto com ele.

— Mas eu não consigo ver você. — Sua voz rouca alcançou meus ouvidos de maneira sarcástica e mesmo sem vê-lo, e com a provável distância, senti o típico arrepio percorrer minha espinha. 

— Esse é o intuito da brincadeira, Justin. — Soprei com falso tédio. — Você precisa me achar.

— De olhos vendados parece extremamente injusto. — Comentou com um divertimento visível e seus passos cuidadosos alçavam minha audição, cada vez mais próximos. — Eu posso tropeçar em alguma coisa e morrer, sabia?

Uma gargalhada sonora escapou por entre meus lábios antes que eu pudesse refreá-la e meu coração palpitou. As sensações que ele me causava – mesmo não estando tão próximo – chegavam a ser muito além do fora do comum. Não sabia explicar a razão por ele ter obtido tanto poder sobre mim e muito menos desde quando eu me vi completamente incapaz de conseguir esconder toda minha submissão aos seus encantos, porém demonstrar já não me parecia algo errado. Além do mais, meu coração berrava o quanto tudo o que eu mais desejava era que ele soubesse de uma vez, mesmo que não sentisse o mesmo, pois era eu quem já não aguentava mais manter aquilo apenas dentro de mim. Não havia mais como fugir do óbvio. Todo aquele sentimento me consumia dia após dia, evidenciando minha perdição que se tornava cada dia mais irreversível quando nossos olhares se encontravam e, só piorava, nos momentos em que involuntariamente nossos corpos encontravam-se perigosamente próximos.

Fechei meus olhos com força durante o breve momento em que o silêncio se fez presente e reabri-os novamente ao notar que toda aquela quietude não era ao todo normal, aliás, onde foram parar o canto dos pássaros? E os passos cautelosos do Justin? Franzi minhas sobrancelhas e em um ímpeto abandonei meu estúpido esconderijo, deparando-me com todo aquele matagal ao meu redor, contudo não havia ninguém ali. 

— Justin? — Chamei-o um pouco receosa e minha voz assustadoramente ecoou pelo local.

Olhei para trás, sentindo-me estranhamente observada e aquela constatação fez com que um arrepio eriçasse cada poro do meu corpo. 

— Justin aparece logo, isso não tem graça. 

O tom choroso que se apoderou de minha voz fora instantâneo e não tardou para que meus olhos começassem a esquentar. A sensação de estar sendo observada tornando-se ainda maior e instintivamente dei alguns passos para trás, chocando-me contra algo, mais especificamente alguém, e me virei em uma velocidade incalculável, pronta para acertar meu punho no rosto de quem quer que fosse.

— Ei! — Ele exclamou segurando meu braço antes que o soco lhe acertasse e meus lábios se entreabriram de imediato. — Você ia me acertar um soco?

Franziu as sobrancelhas com falso desapontamento e eu mantive meu olhar hesitante em direção aos glóbulos cor de mel que me encaravam com divertimento. 

— Você tirou a venda. — Constatei estupidamente e um sorriso largo se apoderou de seus lábios.

— Claro, você ficou quieta do nada e eu fui ver se estava... Tudo bem. — Disse com normalidade, porém meu semblante alarmado ainda permanecia estampado.

— Você não pode tirar a venda antes da brincadeira acabar. — Rebati levemente irritada, como uma criancinha birrenta, e ele riu outra vez.

Apertei meu punho ao sentir aquela atitude irritando-me, além do mais, havia algo errado com ele. Algo muito errado.

— Calma — sorriu galanteador —, eu só queria assustar você, bobinha.

Mexeu na ponta do meu nariz com seu dedo indicador, contudo aquilo não me causou a mesma sensação avassaladora que sempre se fazia presente quando o mesmo me tocava. Na verdade, o sentimento fora absolutamente contrário assim que senti algo molhado – e ao mesmo tempo quente e pegajoso – impregnando-se em meu nariz após o contato do mesmo. Arqueei minhas sobrancelhas e meu olhar escorregou na direção das mãos dele, deparando-se com um líquido vermelho escorrendo pelas mesmas e não levou muito tempo para que o cheiro enferrujado adentrasse minhas narinas.

“Oh meu Deus.”

— Isso em suas mãos...  — balbuciei, afastando-me alguns passos posteriormente. — Isso é sangue?

Minhas últimas palavras soaram esganiçadas e um pequeno sorriso apareceu no canto dos lábios do Justin, desaparecendo rapidamente, contudo não passou despercebido por meu olhar clínico sobre o mesmo, e, automaticamente, dei mais alguns passos para trás.

— Ei, qual é o problema, Sav? — Ele questionou áspero e sua voz continha um tom diferente, assim como seu olhar – que costumava ser brilhante e indecifrável – tornando-se opaco e vazio. — 'Tá com medo de mim?

Engoli em seco ao ouvir suas últimas palavras soando como se outra pessoa tivesse dito-as junto com ele e dei mais passos cambaleantes para trás, enquanto meu coração batia freneticamente e o pânico se apossava gradativamente de cada membro do meu corpo. 

— Você deveria ter. — A voz doce de uma mulher se fez presente, precisamente ao meu lado esquerdo e meus olhos já marejados se arrastaram naquela direção.

A imagem com a qual me deparei fizera com que meu corpo travasse no mesmo instante e minhas mãos subiram até minha boca, tampando-a para que um grito estarrecido não escapasse. O enorme medo que rapidamente me sobrepujou impediu-me de sair correndo para longe de tudo aquilo, miseravelmente congelando as funções do meu corpo e meus olhos se recusavam a abandonar a figura apavorante ao meu lado de uma mulher baixinha, de cabelos castanhos e olhos azuis, com a metade do rosto completamente deformado. Boa parte de seu corpo parecia ter sido esfolado e seu braço esquerdo estava amputado. Seus olhos me fitavam incessantemente, desafiando-me a continuar olhando-a e sua imagem era aterrorizante. As lágrimas logo estavam descendo por meu rosto, uma sendo seguida pela outra, e em minha mente eu rezava para que aquilo tudo desaparecesse ou para que eu ao menos tivesse força o suficiente para fugir.

— Assim como deveria fugir. — Uma voz masculina chegou até meus ouvidos, ao meu lado direito, e imbecilmente meus olhos foram até o local igualmente se encontrando com um homem alto e com olhos castanhos que não me pareciam estranhos. Seu corpo estava tão ou mais desfigurado quanto o da mulher a minha esquerda, contendo também diversas fraturas expostas em seus braços, pernas e parte de seu crânio parecia ter sido arrancado.

— Olha o que ele fez conosco. — Ambos disseram em uníssono. — Fará com você também!

 As lágrimas não paravam de cair dos meus olhos e meu corpo permanecia estupidamente petrificado. Eu queria poder correr, queria poder fugir, porém eu impiedosamente não conseguia. Desejava também não precisar mais olhar para os cadáveres horrendos que se encontravam próximos de mim, contudo meus olhos pareciam se recusar a parar de encará-los.

— Não os escute. — A voz do Justin se fez presente e eu olhei para frente, encontrando-o novamente próximo. — Eles não sabem o que dizem.

— Justin... — Sussurrei e o doloroso nó alojado em minha garganta impediu-me de prosseguir.

— Shhh. — Pousou seu indicador em meus lábios e novamente o cheiro de ferrugem alcançou meu nariz, causando-me uma forte náusea e mais lágrimas correram por meu rosto. — Está tudo bem, meu amor. — Acariciou meu rosto e em meio aos borrões que as lágrimas havia tornado minha visão eu tentei enxergá-lo. — Vai ficar tudo bem. — Sorriu de maneira doentia e eu quis poder empurrá-lo, mas meu corpo permanecia miseravelmente congelado. — Você não pode nos vencer, Savannah, você não pode tirá-lo de nós. — Aproximou-se ainda mais, com o sorriso ainda preso em seus lábios e o medo fez meu coração diminuir no peito. — Nós não somos as culpadas, nunca fomos e não é a nós que você deve odiar. — Tocou seu nariz ao meu e eu senti repulsa. — Nós não causamos nenhum dano a ele, nós não o obrigamos a fazer nada... Isso tudo é apenas o que ele quer, é apenas o que ele realmente é. 

Algo gélido e rígido fora encostado em meu abdômen e mesmo sem poder ver o objeto, minha mente já pressagiava o que viria a seguir. As lágrimas secaram em meu rosto e o desespero que me devastava internamente mantinha-se somente dentro de mim, transformando-me em uma presa extremamente fácil e eu não tinha forças para lutar contra aquilo. Era como se ele houvesse sugado toda e qualquer espécie de esperança e autodefesa que ainda pudesse residir dentro de mim, como se sua proximidade me transformasse em uma pessoa absurdamente lobotomizada. E eu, vergonhosamente, não tinha domínio próprio. Não tinha um resquício de força para sequer lutar por minha própria vida.

— E você não pode salvá-lo, porque — aproximou seus lábios dos meus ouvidos — não há como salvá-lo de si mesmo. 

O barulho surdo em conjunto com a dor lancinante que percorreu minhas entranhas, segundos depois, fizera meus olhos se arregalaram minimamente antes que eu sentisse meu corpo sendo levemente lançado para trás, em seguida caindo pesadamente ao chão. As lágrimas brotaram lentamente durante todo o momento em que a aflição me dominou, os sentidos do meu corpo deixando-me vagarosamente enquanto meu sangue jorrava. Enquanto minha vida ia esvaindo-se. Os olhos cor de mel que eu em tão pouco tempo já possuía grande admiração, assistia a cena com uma apatia dolorosa, com uma frieza doentia. A arma em sua mão denunciava que o culpado fora ele, somente ele. Que sua atitude fora pensada e decisiva, comprovando que matar era apenas o que ele queria e, pior, que aquilo fazia parte do que ele realmente era. Na última pulsação de meu coração – que um dia já batera feito louco por ele e que já havia obtido sentimentos puros e intensos pelo indivíduo que naquele momento era a razão por toda minha dor e desgraça –, eu silenciosamente aceitei o fato de que verdadeiramente não poderia ajudá-lo. Não mais.

Analisava minuciosamente o hematoma em meu braço que estava apoiado sobre a mesa, enquanto a xícara de café repousava bem ao lado. O líquido ainda permanecia intacto dentro da mesma e minha mente vagava distante, em uma perturbação que já começava a se tornar repulsivamente rotineira. Em uma inquietação que já começava a se tornar insana. O sonho que me atormentou durante aquela noite martelava minha cabeça impiedosamente, disparando imagens hediondas todas as vezes que se apoderava involuntariamente da minha mente, enlouquecendo-me. Ali estava à razão do hematoma extremamente roxo que se encontrava exposto em meu braço direito, que fora obtido devido ao fato de eu ter despertado completamente assustada – me debatendo em meio a um choro compulsivo – e caído da cama, batendo-o acidentalmente na quina do móvel que se encontrava posto ao lado da mesma. Mas por mais complexo que pudesse ser aquele era o último dos meus problemas no momento, visto que o fato de que aquela porcaria de sonho havia parecido loucamente autêntico era o que, exclusivamente, me tirava – todo e qualquer – sossego, fazendo-me revivê-lo a cada segundo. Cada vez mais nítido e mais desesperador. Roubando-me os últimos vestígios de saúde mental. Quem sabe eu estivesse levando a sério demais as coisas que diziam sobre ele, quem sabe eu estivesse pensando demais nas suposições e me esquecendo de que em meu mais profundo – poço de insanidade – eu não acreditava em nada daquilo. Eu podia não conhecê-lo há tanto tempo, mas o simples fato de olhar para ele tornava imensamente complexo crer que ele fora capaz de um dia fazer mal a alguém. Mesmo com todos os seus problemas, mesmo com as prováveis evidencias. Justin aparentava sempre ser o cara mais doce do mundo, seus olhos transbordavam uma bondade desmedida e verdadeira demais para que ele estivesse simplesmente fingindo ser alguém que não era. Ou talvez o problema fosse comigo, talvez eu estivesse enxergando – ou por anseios próprios, me forçando a encontrar – um paraíso onde, na realidade, existia um tenebroso inferno.

Suspirei pela milésima vez só naquele meio tempo e umedeci meus lábios, em seguida esfreguei meus olhos com as pontas dos dedos e me levantei, espreguiçando-me. Eu não sabia mais o que deveria fazer e até mesmo pensar, e os sentimentos me massacravam cruelmente, contudo estava decidida a não ficar remoendo aquela situação. Olhei o relógio em meu pulso e ainda me restava um considerável tempo antes de finalmente ir para a biblioteca, contudo estava tão pouco a fim de ter que encontrar o Justin naquela manhã, que decidi sair mais cedo. Assim também poderia dirigir mais tranqüila e evitar qualquer acidente diante de minhas fáceis distrações. Caminhei rapidamente até a sala e alcancei a varanda na mesma velocidade, marchando em direção ao meu carro sem olhar para trás e na metade do caminho tirei a chave do bolso, desativando o alarme. Adentrei o veículo e coloquei a chave na ignição, tirei o freio de mão e não tardei a cantar pneu para longe daquela casa, rezando para que as imagens do sonho – ou melhor, pesadelo – abandonasse minha cabeça. Liguei o rádio em uma tentativa de me prender à realidade e até que funcionou, porém não impediu que em certos momentos minha mente vagasse pelos caminhos que eu tanto queria deixar de percorrer. Sentia o cansaço mental triplamente maior do que já havia o sentido antes e cada fibra do meu corpo comprovava meu desespero, assim como meu subconsciente declarava incessantemente que aquele seria um longo dia e que a tendência, enquanto eu me permitisse afetar daquela maneira, era somente piorar.

Me concentrar no trabalho fora ainda mais complicado do que havia imaginado. Ainda mais tendo que aturar a presença de Melanie ao meu lado tagarelando o tempo todo, o que já estava tirando-me completamente sério. Tentei evitá-la desde que a mesma havia chego até a biblioteca – algum tempo depois que eu havia aberto o local –, contudo se tornava cada vez mais difícil, visto que o movimento daquele dia estava péssimo e em longos momentos eu acabava ficando a mercê de suas histórias insignificantes e comentários de séries que eu nunca havia assistido em minha vida. Não fora surpresa as orações mentais de agradecimento que eu fiz quando finalmente dera meu horário de almoço, cortando um assunto que a garota já começava a puxar e a mesma sorriu sem graça, acenando e em seguida aconselhando-me a não comer nada que contivesse carboidratos. Revirei meus olhos incontáveis vezes lembrando-me daquilo enquanto adentrava meu carro. Melanie poderia até ser uma garota legal, no entanto sua simpatia e tagarelice chegavam ao ponto de ser desagradável. Ou talvez toda aquela minha antipatia em relação à garota fosse por outra razão cujo eu não queria pensar no momento.

Assim que estacionei em frente à lanchonete do James, senti como se uma parte do peso que carregava em minhas costas, desde que abri meus olhos naquela maldita manhã, milagrosamente diminuísse conforme meu cérebro reconhecia o local tão familiar e adorado por mim. Tanto que quando atravessei a porta e, recebi um abraço completamente apertado de minha melhor amiga eufórica, fora como se todos os problemas tivessem ficado lá fora, trazendo-me uma tranqüilidade que eu andava pouco sentindo nos últimos tempos.

— Que bom vê-la aqui de novo. — Lauren disse sorridente ao me soltar e eu sorri de volta, de maneira espontânea. — Garota, eu nunca imaginei que fosse sentir tanto a sua falta. 

— Não é novidade alguma que você não consegue viver sem mim, Smile. — Zombei e ela mostrou-me a língua, encarou-me momentaneamente e eu suspirei ao notar a preocupação em seus olhos.

— Você parece tão cansada. — Comentou, torcendo os lábios e eu forcei um sorriso.

— Ainda estou me adaptando à rotina. — Dei de ombros e ela suspirou. — Relaxa Laurie, em breve eu estarei novinha em folha. — Menti, visto que no fundo sabia que minha ruína estava muito mais prevista do que qualquer tipo de melhora. 

— Venha, você deve estar faminta. — Desconversou, puxando-me pela mão em direção a uma das mesas mais afastadas e eu senti meu estômago embrulhar, aliás, a última coisa que eu conseguiria sentir naquele dia catastrófico era fome. 

— Acho que hoje vou ficar só com um copo de suco. 

Sorri de lado quando ela me analisou, erguendo levemente as sobrancelhas.

— Ah claro, fala sério! — Revirou os olhos afastando-se e eu bufei.

Sorri sozinha com a reação dela, até porque sabia que logo ela estaria de volta com algo para eu comer nem que fosse a força, porque fazia parte dela sempre querer bancar a mandona para o meu lado. Senti meu celular vibrando no bolso traseiro da calça e inclinei-me para o lado tirando-o, analisei a mensagem que aparecia no bloqueio de tela e meus olhos se arregalaram levemente. Com pressa arrastei a seta e digitei a senha, abrindo as mensagens e relendo a que havia acabado de chegar diversas vezes, tentando assimilar as coisas enquanto uma estúpida euforia me dominava.

Oi, eu queria ter conversado com você antes que saísse para trabalhar, porque não sei se estou me sentindo tão seguro e... Eu nem sei exatamente porque estou escrevendo essa mensagem, mas eu acordei um pouco antes do horário em que você saiu ontem e não te encontrei. Espero poder conversar com você antes do meu encontro com a Melanie, porque talvez eu esteja precisando de alguma dica do que devo usar esta noite e quem sabe um pouco de apoio moral também lol. Eu queria muito ter visto você essa manhã, Savannah. Tenha um bom dia de trabalho. Xoxo, Justin.

Um leve sorriso esboçou-se no canto de meus lábios enquanto meu cérebro absorvia as informações, me fazendo ignorar completamente a mera citação ao encontro com a Melanie e me focar somente em uma frase, a que me chamou totalmente a atenção e que fizera aquele sorriso inconseqüente brotar em meus lábios.

“Eu queria muito ter visto você essa manhã, Savannah.”

— Admirador novo, é? — Uma voz estridente soando ao meu lado tirou-me dos meus devaneios e eu pulei na cadeira, colocando o celular com a tela virada sobre a mesa em seguida.

— O quê? — Rebati desnorteada. — Não, claro que não. Que ideia é essa? — Sorri nervosa e os olhos do Jimmy me avaliaram.

— O que está acontecendo aqui? — Hannah perguntou, encostando ao lado do James. — Como ousas entrar nessa lanchonete e não me procurar, mocinha? — Franziu as sobrancelhas e eu ri.

— Perdão, mademoiselle. — Fingi reverência e ela gargalhou, logo após aproximou-se de onde eu estava sentada para me abraçar de maneira desengonçada.

— Savannah tem um admirador, só não sei se é secreto. — James falou, sem mais e nem menos, e eu encarei-o com minha melhor cara de tédio. 

— Admirador não secreto? — Lauren indagou juntando-se a nós.

— Você ainda dá ouvidos ao que esse débil mental diz? 

A expressão de insultado que o Jimmy adotou rendeu-me uma boa gargalhada e Hannah não ficou de fora, Lauren por outro lado manteve-se imparcial.

— Mostra a mensagem que você recebeu, então. — Ele desafiou-me e eu crispei meus olhos, xingando-o mentalmente.

— Não.  

Encolhi meus ombros.

— Que mensagem? — Lauren juntou as sobrancelhas e a Hannah também se mostrava bastante curiosa.

— Uma mensagem que chegou no meu celular e  que não é da conta de vocês.

Soltei um beijo no ar, somente para provocá-los.

— Ouch! — Hannah vincou a testa. — Qual a necessidade dessa ignorância? 

— Lauren, cadê meu lanche? Eu estou com fome! — Desconversei. 

O trio em minha frente me encarou durante um tempo indeterminado, mas ao perceberem que eu não iria ceder, suspiraram frustrados. 

— Calma que eu já trago, folgadinha. 

Deu um tapa leve em minha cabeça e eu lhe mostrei o dedo, recebendo uma curta risada como resposta.

— E ah, não pense que vai fugir dessa história de admirador. — Piscou em minha direção antes de se afastar e eu fuzilei o James com os olhos, que somente ergueu as mãos na altura da cabeça em forma de rendimento e se afastou em seguida.

— Boa sorte, Sav. — Hannah falou, dando leves tapinhas em meu ombro e eu acabei rindo. 

Peguei o celular novamente e analisei a mensagem durante um tempo, sentindo-me estúpida por provavelmente estar enxergando coisa onde, de fato, não existia, aliás, era óbvio que ele só queria ter me visto para que eu o ajudasse a se sentir mais confiante para o grande encontro que teria àquela noite. Eu havia me disponibilizado a ajudá-lo e todo e qualquer desejo em relação a minha presença que ele possuísse, seria meramente devido ao fato de estar precisando de ajuda com algo relacionado à sua Barbie ambulante e eu havia extrapolado a estupidez ao pensar que existiam outras razões por trás daquela declaração.

Suspirei frustrada, decidida a parar de ficar me remoendo tanto toda vez que se tratava do assunto “Justin Bieber”, sem contar as menções a Melanie, e eu deliberadamente não o responderia, visto que não fazia à mínima ideia do que poderia dizer – e queria me privar de fazer mais merda – e tampouco sabia se ele realmente esperava por alguma resposta, mas era bem provável que qualquer coisa que eu dissesse não influenciasse em nada. Portanto, com aquele pensamento em mente, cliquei no botão para excluir, confirmando logo em seguida e bloqueando a tela, colocando o aparelho de volta em meu bolso. Já estava mais do que na hora de eu começar a pensar mais em mim mesma e arrumar uma maneira de superar aquela situação.

— Savannah? — Uma voz masculina conhecida soou próxima e eu ergui meu olhar rapidamente, deparando-me com um par de olhos verdes que, mesmo que eu tenha ficado certo tempo sem vê-los, poderia reconhecê-los em qualquer lugar.

— Jonah? — Minha voz saíra mais baixa do que eu imaginei e quando a surpresa do momento me abandonou percebi que já estava de pé, fortemente abraçada contra o corpo do homem em minha frente que me apertava em seus braços.

Um sorriso alastrou-se em meus lábios e eu senti a tranqüilidade me dominando na medida em que seu perfume cítrico alcançava meu olfato, embrenhando meu rosto na curvatura de seu pescoço para que pudesse senti-lo mais profundamente e como resposta senti meu corpo sendo ainda mais esmagado contra o dele.

— Eu senti tanto a sua falta. — Ele murmurou e eu soltei um riso nasal, percebendo quando os pelôs no pescoço do mesmo se eriçaram.

Sorri ao constatar que o corpo do mesmo ainda correspondia aos meus pequenos atos.

— Eu também senti a sua falta, Jon. — Cochichei, apertando minhas mãos em torno do pescoço do mesmo. — Como você está?

Após depositar um beijo no topo de minha cabeça ele afastou nossos corpos cautelosamente e deu uma longa analisada em mim, um pequeno sorriso preso no canto de seus lábios e eu igualmente estava analisando-o. Era surpreendente o quanto ele parecia ainda mais bonito, seu olhar possuindo uma vivacidade que eu nunca havia visto antes e aquilo o tornou ainda mais charmoso do que ele normalmente costumava ser, chamando total atenção a todos seus belos traços. Seus feios de cabelo estavam um pouco curtos e aparentemente mais loiros, e seu corpo por detrás da camiseta apertada parecia possuir músculos que eu não me lembro de o mesmo possuir na época em que éramos extremamente próximos.

— Eu estou bem — sorriu largamente. —, depois que você foi embora percebi que não fazia sentido continuar naquela vida. — Contou, alcançando minha mão e segurando-a com delicadeza, deslizando seus dedos por entre os meus. — Você está surpreendentemente mais bonita.

Sorriu largo fitando-me profundamente e um sorriso tímido apareceu em meus lábios. Minhas bochechas queimaram.

— Você está ótimo. — Falei, por não saber exatamente como elogiá-lo e ele liberou uma breve gargalhada. — Por onde esteve?

— Fiquei fora da cidade por um tempo e quando voltei tentei te encontrar, mas não consegui. — Crispou os lábios. — Depois eu soube que você não estava mais na casa dos seus pais e que estava morando com uma amiga...

— E descobriu que essa amiga era eu. — Lauren surgiu ao nosso lado e encarou nossas mãos dadas, olhando-me com uma sobrancelha erguida enquanto carregava uma bandeja em mãos. — Ele veio atrás de você ontem à noite e eu disse para tentar hoje no seu horário de almoço.

Olhei para o rapaz novamente e ele sorriu amigável para Lauren, que igualmente sorriu para ele.

— Trouxe seu lanche, Sav. — Avisou, dando a volta e colocando tudo sobre a mesa. — Coma logo, porque — analisou o relógio em seu pulso. — seu tempo é curto.

Levei a mão livre até minha testa ao me lembrar daquilo, soltando sorrateiramente a mão do Jonah e sorri de lado para ele, em seguida sentei-me novamente.

— Sente-se. — Pedi, apontando para a cadeira em minha frente.

— Eu só estou de passagem...

— Ah não, Jon. — Choraminguei, fazendo beicinho e ele olhou-me momentaneamente, logo sorriu e balançou negativamente a cabeça.

— Tudo bem, tudo bem. — Rendeu-se e um sorriso satisfeito se alastrou por meus lábios.

Analise-o enquanto o mesmo puxava a cadeira, sentando-se sem me desfitar um segundo sequer e eu suspirei, facilmente constando o quanto eu havia sentido falta do mesmo e durante o tempo em que ficamos conversando – e eu devorava o lanche que Lauren havia trazido – o tempo fora passando que eu nem ao menos percebi. Jonah me contou que depois que deixou de sair por aí bebendo e se drogando, decidiu que deveria procurar algo para ocupar sua mente e começou a fazer um curso de Artes Visuais, visto que o mesmo sempre fora ótimo em desenhos. Estava trabalhando em uma oficina mecânica – para poder pagar as mensalidades – e morando em um quartinho de aluguel alguns quarteirões após a casa em que a Lauren morava. Fiquei extremamente feliz ao saber que minha reviravolta – que aconteceu graças a ele – tornou-se uma razão para ele mudar também e vê-lo daquela maneira, vê-lo pela primeira vez sem a expressão deprimida que o mesmo sempre adotava, era algo maravilhoso. Algo que acendeu uma chama dentro de mim e que me fez esquecer todas as coisas que andavam me acontecendo enquanto eu me perdia em cada sorriso que ele direcionava a mim, sorrindo automaticamente por vê-lo daquela maneira tão feliz. Jonah significava muita coisa para mim, visto que o mesmo fora o único que me aceitou e conseguiu facilmente se aproximar quando tudo o que eu mais fazia era afastar as pessoas e fora o único que gostou de mim, mesmo que eu definitivamente não merecesse. E eu gostava dele, entretanto não o suficiente, nunca havia sido. Mas acima de tudo ele sempre foi um grande amigo e era bom tê-lo ali outra vez.

Passamos bastante tempo falando de nós mesmos, matando toda a curiosidade que sentíamos sobre como andava a vida um do outro e eu lhe contei o que havia acontecido, sobre os últimos incidentes e quando ele perguntou onde eu estava morando tentei desconversar, porém acabei lhe dizendo que era a casa de um amigo e apesar do mesmo ter ficado visivelmente incomodado, no final acabou mudando de assunto e perguntando sobre meu trabalho na biblioteca. A conversa fluía facilmente entre nós, um assunto acarretando em outro e eu me vi em um momento agradável. Sem tensão. Sem confusão. Apenas uma tranqüilidade boa e que estava me fazendo bem, que anestesiava todos os meus conflitos e me fazia focar somente no ali. No momento presente.

Tanto que não fora surpresa alguma quando os suspiros entristecidos surgiram assim que o relógio alarmou, avisando que era hora de voltar ao trabalho e pude ver meu olhar cabisbaixo sendo espelhado nos olhos de Jonah. Chamei a Lauren para que a mesma fechasse a conta e ela disse que eu não precisaria pagar, já que havia sido por sua conta e por mais que eu tenha insistido, no final acabei saindo com a derrota. Me despedi dos meus amigos e em seguida sai acompanhada do Jonah, recebendo um sorriso mal-intencionado de Lauren enquanto passava pela mesma em direção a saída e revirei meus olhos, limitando-me a somente ignorá-la.

 — Foi bom ter encontrado você. — Quebrei o silêncio assim que nos aproximamos do meu carro e me virei em direção ao rapaz, que me olhava intensamente.

— Eu queria poder vê-la mais vezes. — Disse de imediato e não pude conter um sorriso, Jonah sempre fora muito direto.

— Meu número de telefone ainda é o mesmo. — Dei-lhe uma piscadela e ele riu.

— Que horas você sai do trabalho? — Questionou após um tempo em que ficamos em silêncio. — É meu dia de folga e talvez pudéssemos nos encontrar para conversarmos mais um pouco depois... Se você quiser, é claro.

— Eu saio às 17h00... — respondi um pouco hesitante, ponderando a proposta dele enquanto o mesmo me olhava esperançoso. — Claro que podemos nos encontrar.

Um sorriso imenso alastrou-se nos lábios dele e eu admirei-o, sorrindo de maneira mais contida.

— Eu provavelmente já vou estar com fome, então podemos ficar na lanchonete outra vez. — Falei divertida e ele gargalhou.

— Você continua a mesma. — Disse, ainda entre o riso.

— Um pouco mais insuportável, mas... É, continuo sim.

Ele riu novamente e eu o acompanhei. Em seguida, nos despedimos e eu depositei um beijo na bochecha do mesmo, sorrindo quando me afastei e vi que ele sorria daquela maneira que o deixava inexplicavelmente mais bonito.

Dirigindo de volta para o trabalho, me permiti esquecer todas as coisas que me atormentavam e focar somente no bom momento em que estava tendo depois daquele reencontro, e um sorriso contente se manteve preso em meus lábios. Afinal, Jonah já havia me ajudado a superar diversas coisas, e, quem sabe, ele igualmente pudesse me ajudar a superar os sentimentos – cada vez mais visíveis, intensos e espantosos – que eu começava a nutrir pelo Justin. Estava depositando o resto de fé que ainda me restava naquilo, contudo dentro de mim residia certa descrença que me fazia repensar em tudo. E mesmo que parecesse extremamente errado querer usar o Jonah daquela maneira, talvez aquela fosse minha única saída. Ou talvez, eu só estivesse prestes a meter os pés pelas mãos outra vez, forçando-me a tolamente acreditar que era correto. Todavia, por hora, tudo o que eu mais desejava era que ele finalmente pudesse ser à solução para os meus problemas, pois não sabia o quanto ainda conseguiria resistir.

Justin’s Point of View

A cada tic-tac do relógio minha ansiedade se tornava mais nítida. Procurei ocupar minha mente com diversas tarefas, tirei a sujeira do quintal dos fundos e lavei todos os banheiros. Fiz uma limpeza geral na casa que nem ao menos estava suja e quando o céu começou a escurecer percebi que à hora se encontrava cada vez mais próxima e isso me deixou ansioso novamente. Ainda mais do que anteriormente. Peguei meu celular incontáveis vezes para ver se a Savannah havia respondido minha mensagem, com algo que pudesse ajudar a me sentir mais calmo, contudo, como em todas as outras vezes, não havia nada. A verdade era que me sentia profundamente estúpido por ter escrito aquela mensagem, ainda mais por ter me exposto demais ao escrevê-la, já que se para um entendedor meia palavra bastava, imagina o que tudo aquilo havia parecido para uma pessoa tão observadora como a Savannah.

“Eu queria muito ter visto você essa manhã, Savannah.”

Mas que droga! Qual era meu problema, afinal? Eu estava prestes a sair com a garota que cobicei metade da minha – insignificante – vida inteira, mas mesmo assim – estúpido e ambiciosamente grotesco – não parecia o suficiente. Aparentemente, me encontrava pouco satisfeito. Ri mentalmente de meu pensamento, xingando-me por em certos momentos ser tão idiota e temperamental. Aliás, quem eu achava que era para me sentir daquela maneira? Durante tempos nenhuma garota sequer olhou para mim com verdadeiro interesse e quando finalmente consegui um primeiro encontro, estava com toda aquela confusão ridícula. Querendo mais do que eu poderia e, principalmente, merecia ter. Aquilo era ridículo. Eu era absurdamente ridículo. 

Não deveria ter mandado aquela mensagem.

Eu não deveria ter mandado aquela mensagem.

Aquelas palavras percorriam minha cabeça enquanto o arrependimento me massacrava, além do mais, fazia parte de mim tomar atitudes que me somente me resultavam em auto-repulsão depois. Fazia parte de mim sempre fazer as coisas erradas, sempre entender a mim mesmo das maneiras mais erradas possíveis. Entretanto a verdade era que eu queria mesmo ter visto a Savannah aquela manhã e não fazia sentido querer esconder aquilo de mim mesmo quando se tratava de algo tão obvio, entretanto nada justificava o fato de eu ter assumido aquilo para ela em uma mensagem tão desesperada e eu nem ao menos havia pensado nas conseqüências. Para ser bem honesto, nem havia relido a mensagem após escrevê-la. Tudo o que fiz fora apertar o botão de enviar e pronto. E então meu cérebro começou a processar o fato de que eu havia sido imbecil e, ao reavaliar o conteúdo da mensagem de texto, passou a berrar “parabéns, você foi fodido com sucesso”. Eu estava farto de todos aqueles pensamentos me massacrando e, no fundo, igualmente sabia que minha inquietação durante todo o dia não tinha nada a ver com o jantar com a Melanie – visto que eu estava assustadoramente bem confiante –, mas sim com a mensagem. Aquela maldita mensagem. E o pior, com a ausência de uma resposta para a mesma.

Suspirei, esfregando a ponta dos dedos em minha testa, tentando afastar aqueles pensamentos, porém nada parecia ajudar. Talvez eu não devesse me arriscar a ver a Savannah antes do meu encontro com a Melanie, não antes de ter certeza de que eu estava equilibrado o suficiente para não jogar tudo para o alto e usar de maneira desprezível a única pessoa que dava tudo de si para realmente me ajudar. Que depositava tanta confiança em um maluco infundado feito eu, quando verdadeiramente deveria correr e ficar bem longe, quando, na verdade, estar em minha presença deveria ser o seu pior pesadelo, como costumava ser para todos os outros daquela cidade medíocre. Mas não. Ela estava sempre ali e demonstrava estar sempre de braços abertos para me ajudar com o que quer que fosse. Era linda, fortemente atraente e claramente irresistível. No entanto, acima de tudo, era uma garota com um coração enorme. Um coração que eu, em nenhuma hipótese, poderia me atrever a machucar. Além do mais, também havia o fato de que ela sequer deveria me ver da maneira que eu ultimamente andava vendo-a, já que ela sempre se demonstrava tão imparcial em minha presença, tão focada somente em seu único objetivo: me ajudar. Eu provavelmente não tinha chance alguma e tampouco deveria ter, até porque era na Melanie em que eu definitivamente estava interessado. Eu sempre quis tê-la e naquele momento só dependia de mim fazer por merecer, e querer mais do que poderia ter não fazia parte da minha vida. Eu não era assim tão digno.

Quando o relógio marcou 18h30, subi até o meu quarto para tomar banho e já me preparar. Assim me restaria um tempo para me preparar antes de finalmente sair de casa. Demorei um considerável tempo para escolher uma roupa, me sentindo como uma garotinha indecisa, meu nervosismo tornando-se cada vez mais nítido toda vez em que eu inconscientemente esbravejava e acabei escolhendo uma camiseta preta, minha jaqueta jeans escura e uma calça jeans da mesma cor. Somente para dificultar, arrumar meu cabelo pareceu à tarefa mais impossível naquele dia, os fios pareciam não querer colaborar e quase gastei todo o fixador para mantê-los em topete, sentindo-me cada vez mais irritado por tudo parecer querer dar tão errado. Aleatoriamente escolhi um par de tênis cano médio, também preto, e calcei-os. O relógio já marcava 19h50 quando eu finalmente estava pronto, sai do quarto apressado e apanhei a chave do carro sobre a mesa de centro da sala. Olhando pelos arredores da casa e franzi minhas sobrancelhas, saindo logo depois e deixando a porta aberta, já que nem ao menos precisava me preocupar em trancá-la. Fui praticamente correndo até o carro e adentrei-o, não demorando a passar o cinto de segurança pelo meu corpo e iniciar partida – um pouco apressado – em direção ao meu destino. Por sorte, meu novo Cadillac CTS-V deslizava pelo asfalto e o trânsito daquela noite estava igualmente facilitando. Ao virar na rua da biblioteca, ao longe, rapidamente avistei uma silhueta parada em frente à mesma e a euforia me dominou. Respirei profundamente enquanto estacionava ao lado dela e dei uma olhada no retrovisor, dando uma última checada em minha aparência antes de finalmente abaixar um pouco o vidro.

— Oi. — Cumprimentei-a e ela aproximou-se da janela do carro.

— Oi. — Saudou-me com um sorriso extremamente meigo, inclinando-se um pouco para me analisar e eu acabei sorrindo também.

Em seguida, sai do carro e dei a volta, sentindo-me nervoso ao me deparar com os lindos olhos verdes da Melanie avaliando cada movimento meu, até que finalmente estávamos um de frente para o outro.

— Você está linda.

O rubor que se fez visível em suas bochechas em conjunto com o sorriso tímido, que se modelou em seus lábios que estavam encantadoramente pintados por um batom rosado, fizeram-me sorrir satisfeito. Os sentimentos que me dominaram na primeira vez em que eu a vi fazendo-se presente, junto com a felicidade em poder estar finalmente prestes a descobrir tudo sobre a mesma, prestes a descobrir se ela era realmente do jeito que eu sempre idealizei, entretanto tudo parecia indicar que a mesma era ainda melhor.

Eu não poderia querer mais, não tinha o direito de querer mais.   

— Você também está lindo, Justin. — Devolveu o elogio e eu sorri imensamente ao ouvi-la pronunciando meu nome.

Mantive o sorriso enquanto abria a porta para que ela entrasse e a mesma agradeceu, dando um leve riso nasal. Fechei a porta após a mesma se ajeitar no banco passageiro e olhei na direção da biblioteca, que se encontrava fechada, antes de dar a volta. Uma duvida pairando em minha mente. Onde a Savannah estava? Seu expediente no trabalho havia acabado há tempos e quando saí de casa ainda não havia qualquer sinal da mesma. Balancei minha cabeça vagamente, livrando-me daquela estúpida preocupação – aliás, ela não era nenhuma garotinha indefesa – enquanto abria a porta e assim que me aconcheguei no assento do motorista forcei-me a esquecer a breve inquietação que me dominou, além do mais, eu precisava me focar unicamente em meu encontro com a Melanie e, principalmente, em conseguir outros encontros após aquele.

A partida até nosso destino seguiu em silêncio e eu analisei-a algumas vezes, percebendo que a mesma parecia um pouco nervosa e durante todo o percurso a mesma manteve o olhar sobre os borrões que passavam na janela. Decidi deixá-la se sentir à vontade para iniciar uma conversa, até porque eu também não fazia ideia do que dizer. Estava sendo ótimo ter aquele tempo para pensar no que fazer e me auto-equilibrar. Assim que estacionei próximo ao Lincoln Restaurant pedi para que a Melanie esperasse dentro do carro e saí para abri-la novamente para a mesma. Que igualmente sorriu e eu limitei-me a sorrir sem mostrar os dentes. Atravessamos a rua em silêncio e nos aproximamos ainda mais do local, notando a movimentação dentro do mesmo e eu olhei-a de soslaio, me deparando com sua imagem encantadora andando de maneira atraente ao meu lado, com as mãos cruzadas em frente ao seu corpo e os cabelos ao vento. De todas as maneiras que eu imaginei nosso primeiro encontro, aquela era a mais distinta, visto que ela era tão mais bonita pessoalmente, era tão mais surpreendente. Sorri sozinho ao constatar que aquele momento era mesmo real, que eu estava realmente na presença da garota que tanto quis durante tanto tempo.

— Parece um local agradável. — Ela comentou enquanto nos sentávamos em uma mesa um pouco distante e logo vi o garçom aproximando-se. 

— Foi bem recomendado. — Deixei escapar ao me lembrar do dia em que a Savannah me falou sobre o local e um sorriso inconsequente esboçou-se em meus lábios.

Sacudi levemente a cabeça quando o garçom nos alcançou, dando-nos as boas-vindas e nos entregando o cardápio. Demorei um tempo analisando-o, olhando momentaneamente para a Melanie, que fazia o mesmo e surpreendi-me ao ouvi-la pedir lasanha de legumes ao molho branco, mas acabei pedindo o mesmo, afinal, não estava me sentindo faminto ao ponto de pedir algo mais sustentável e, após o garçom anotar nossos pedidos – incluindo duas taças de vinho –, e enquanto aguardávamos, ficamos conversando paralelamente, entrando rapidamente em assuntos sobre nós mesmos e eu me senti péssimo em não poder ser completamente sincero com ela. Contei-lhe coisas superficiais sobre mim, tentando não omitir tanto os fatos e seus olhos pareciam brilhar cada vez que eu lhe contava algo. Porém o momento em que a mesma pareceu encantadoramente mais surpresa fora quando lhe contei que era canadense.

— Eu sempre quis conhecer o Canadá. — Contou animada, remexendo na lasanha em seu prato – que não havia levado muito tempo para ser entregue – enquanto sorria levemente. — Na verdade, eu tenho vontade de viajar pelo mundo todo.

Sorri com seu comentário e ela acompanhou-me um tempo depois, seus olhos ainda distantes, porém os meus pareciam se recusar a abandonar sua imagem, seus mínimos movimentos.

— Por muito tempo eu também tive esse pensamento. — Forcei um sorriso e ela ergueu seu olhar em minha direção.

— Você pelo menos saiu do seu país de origem e está em um lugar novo, eu não me lembro de sequer já ter saído de Portland em algum momento da minha vida. — Riu e em seguida balançou a cabeça vagamente. — Mas conte-me, você sente falta do Canadá? 

— Às vezes. — Encolhi meus ombros, colocando uma garfada da lasanha em minha boca. Mastiguei e engoli antes de voltar a falar: — Faz muito tempo que não vou lá, então acabei me acostumando com os costumes daqui.

— Você é alguma espécie de andarilho? — Questionou risonha e eu acabei rindo também. 

— Na verdade, não. — Respondi, descontraído. — Estou em Portland praticamente uma vida toda.

— Sério? — Olhei-a a tempo de vê-la arqueando uma sobrancelha. — Eu achei que fosse novo.

— Sou apenas pouco visto. — Brinquei e ela gargalhou. — Não sou do tipo que chama tanta atenção.

— Ah, não fale isso, por favor. — Riu desviando seu olhar do meu momentaneamente, voltando a remexer sua lasanha. — Você é um cara bonito, provavelmente deve fazer muito sucesso com as garotas.

“Não mesmo.” Algo soprou em meu ouvido e eu ignorei, forçando-me a permanecer focado na realidade. 

— Talvez nem tanto. — Ri nervoso, mas ela pareceu não notar.

Ocupei minha boca com uma boa garfada e enquanto mastigava o silêncio se instalou, até que ela o quebrou outra vez e logo estávamos prosseguindo nosso diálogo. Infelizmente ela contou muito mais a seu respeito – como o fato da mesma ser vegetariana; por isso pediu lasanha de legumes; e sobre o quanto amava literatura, sobre sua faculdade e o quanto adorava músicas clássicas – e a cada riso que ela liberava após suas declarações, me sentia mais encantado, constatando que eu precisaria ter muita sorte para conseguir conquistá-la e sabia o quanto não era merecedor, mas estava dando o melhor que me era possível até o momento. Como sempre, o medo da rejeição me acompanhava e durante toda a minha vida eu o senti amargando minha garganta, porém não queria sentir o mesmo em relação à Melanie. Mesmo sabendo dos meus problemas e do quanto eu deveria querer mantê-la protegida de mim mesmo, no fundo eu somente esperava que ela pudesse entender. Que pudesse me entender. Até o momento eu estava disposto a apenas lhe mostrar o meu lado menos sombrio, mas uma hora ou outra eu teria que lhe contar toda a verdade e não havia como prever sua reação. Somente desejava que ela enxergasse em mim as coisas que a Savannah enxergava. Mas no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que com a Melanie seria diferente, mais difícil. Contudo, eu não seria mais covarde. Sabia o quanto precisaria batalhar para conseguir sua total confiança. Não fugiria mais dos meus medos, não me esconderia mais atrás dos meus demônios. Mesmo com o pouco de convivência que eu andava tendo com a Savannah, os incentivos e a crença que ela demonstrava ter em mim já começavam a fazer efeito. Faziam-me acreditar – mesmo que ainda fosse minimamente – que eu poderia escolher ser quem eu quisesse, que eu poderia manter minhas próprias escolhas sem receio de ser quem eu era, e no momento, tudo o que eu mais queria, era ser digno da garota ao meu lado. Mesmo que as vozes em minha cabeça dissessem o contrário.

— Você é muito misterioso. — Ela disse enquanto caminhávamos de volta em direção ao carro.

Minhas mãos estavam enfiadas em meus bolsos e minha cabeça baixa, meu olhar fixado em meus sapatos.

— Se eu lhe contasse tudo no primeiro encontro, você se assustaria e não iria querer um próximo. — Brinquei e ela riu nasalmente.

Olhei-a e ela parecia tranqüila, um sorriso indecifrável preso em seus lábios e suas bochechas numa coloração mais rosada. Tão adorável. 

— Ou talvez eu tenha exagerado no mistério e você já não queria mais uma próxima vez. 

— O quê? Não, claro que não. Eu adorei o jantar, de verdade.

Fitou momentaneamente o chão antes de olhar diretamente em meus olhos e eu não pude deixar de perceber o quanto o seu olhar era extremamente diferente do que a Savannah costumava lançar em minha direção, pois, por mais que tenha me sentido estúpido por estar fazendo aquela comparação e pelas outras diversas que eu havia feito enquanto jantávamos, era evidente o teor de curiosidade que a Melanie demonstrava em seu olhar, diferente da Savannah que sempre me olhava de maneira intensa e indecifrável. O que me tirava o sossego. 

Repreendi-me ao perceber os caminhos aos quais meus pensamentos estavam sendo guiados e forcei-me a focar naquele momento, e na maravilhosa garota presente.

Pare de querer tanto.” Meu subconsciente alarmou-me.

— E, erm... Seria ótimo sabe... — olhou novamente para o chão, em seguida respirou fundo. — Seria ótimo poder sair com você outra vez.

Um sorriso imenso se apoderou dos meus lábios e quando seus olhos voltaram em direção aos meus, eu pude vê-la analisando-o e sorrindo tímida logo após. Mantivemos o silêncio durante o resto do trajeto e mais uma vez eu abri a porta para ela, contente por ter conseguido o que queria sem precisar exagerar e agindo da maneira mais natural possível. Na estrada voltamos a conversar sobre assuntos diversos e ela tirou-me boas risadas contando histórias de situações cômicas que havia passado com sua melhor amiga, que se chamava Bridgit, e igualmente contou-me mais sobre si mesma.

Quando estacionei em frente à casa dela – em um bairro um tanto nobre e que durante a partida ela foi me dando as coordenadas –, ficamos em um momentâneo silêncio e eu pensei em quebrá-lo, no entanto fui surpreendido pela voz da mesma preenchendo o local:

— Muito obrigado, Justin. Essa realmente foi uma noite incrível e, mesmo com todo mistério — riu. —, eu adorei conhecer você.

— Você não precisa agradecer, o sortudo da vez fui eu. — Repliquei galante e ela sorriu. O rubor se apoderando de suas bochechas.

— Você pode me ligar quando quiser. — Anunciou, olhando-me nos olhos e eu concordei, com um sorriso torto preso em meus lábios.

— Tenha certeza de que eu ligarei. — Pisquei em sua direção e ela riu em meio ao sorriso.

— Então, até breve. — Aproximou-se e meu corpo congelou no assento quando senti os lábios da mesma sendo pressionados em minha bochecha.

Minhas sobrancelhas se estreitaram ao constatar que aquelas sensações que se alastraram não era nada perto... Não era nada perto das que me dominavam quando eu sentia o toque, ou simplesmente me encontrava estupidamente próximo, da Savannah. E logo percebi o quanto estava sendo grotesco novamente, até porque não deveria ficar comparando ambas, ainda mais quando eu estava finalmente tendo à chance de estar com a garota que eu sempre quis, desde o início. Já estava mais do que na hora de parar de extrapolar o ridículo.

— Até, Melanie. — Murmurei quando ela se afastou e a mesma sorriu uma última vez antes de sair do carro.

Assisti-a caminhando em direção a sua casa, a cabeça baixa e era visível que a mesma encontrava-se envergonha. Sem dúvida por eu ainda estar parado olhando-a. Quando a mesma alcançou a porta, virou-se em minha direção e acenou, acenei de volta e após vê-la entrar, voltei a dar partida, naquele momento em direção ao meu lar. Sentindo-me revigorado e satisfeito por ter feito algo dar certo pela primeira vez em muito tempo, por ter tido iniciativa e confiança. Sentia-me ansiosa para chegar em casa e contar para Savannah tudo o que havia acontecido, assim como também queria poder vê-la e saber como havia sido no trabalho, visto que durante todo aquele dia eu não tive a oportunidade de conversar com a mesma. A ansiedade de finalmente chegar até lá era imensa e eu tentava associá-la somente ao fato de querer compartilhar meu triunfo com a garota que tanto havia me ajudado, porém boa parte de mim sabia – e ridiculamente aceitava – que havia outros razões, inaceitáveis e estúpidas, por eu estar assim com tanta pressa. Tanto que mal estacionei e já estava saindo do carro, travando as portas na metade do caminho – em passos largos e rápidos – atravessando a porta de entrada logo em seguida.

— Savann...

Parei assim que meus olhos a encontram e minha boca pareceu secar instantaneamente, congelando os sentidos do meu corpo e tudo o que eu fui capaz de fazer fora ficar admirando-a, visto que a mesma encontrava-se adormecida no sofá, de maneira miseravelmente encantadora e um sorriso tolo apareceu inconsequentemente em meus lábios. Me aproximei alguns passos, ainda analisando-a contemplativo, e praguejei-a por ser sempre tão bonita, sempre tão atraente. Tentei me afastar, mas os movimentos do meu corpo me traíam, aproximando-me cada vez mais da mesma. Parado ao seu lado meus olhos tinham uma visão ainda melhor de sua beleza perturbadora, as sardas em seu rosto, seu nariz perfeitamente esculpido, suas sobrancelhas bem delineadas e seus cílios cumpridos. Seu rosto juvenil e ingênuo, mas ao mesmo tempo tão maduro e sedutor. Seus lábios rosados, seus cabelos castanhos que me faziam querer tocá-los, puxá-los... E meus olhos tomavam caminhos cada vez mais perigosos, descendo por seu pescoço e analisando o movimento que a respiração causava em seu busto, seus seios médios por detrás do pano da camiseta me fizeram estreitar as sobrancelhas diante da provável ausência de sutiã. Meu olhar avançando em direção a sua barriga descoberta e alcançando suas coxas desnudas. A respiração saiu automaticamente pesada por meus lábios. Ela era tão bela e me sentia tão dolorosamente atraído, contudo não parecia bom, aquilo não me parecia algo verdadeiramente bom, afinal os pensamentos que ela despertava em mim e as insanidades que rondavam minha cabeça, não era o que eu deveria e, principalmente, o que ela merecia que sentissem a seu respeito. Eu não podia vê-la daquela maneira, eu não podia desejá-la daquela forma quando meu coração e meus mais puros sentimentos aparentemente pertenciam à outra pessoa. Aliás, a Savannah não era como as garotas que eu costumava sair para me distrair, ela não fazia o estilo passatempo e provavelmente se sentiria ofendida se descobrisse que havia se tornado sinônimo de desejo carnal para um homem. Assim como odiaria se soubesse que o sujeito em questão era eu. 

Esbravejei mentalmente, dando alguns passos para trás e afastei meu olhar da imagem perturbadora em minha frente, me deparando com a TV ligada enquanto na Disney Channel passava as partes finais de Procurando o Nemo, e após passar um tempo encarando o desenho, apanhei o controle sobre a mesa de centro, desligando.

— Savannah? — Chamei-a, tentando ignorar ao máximo a vontade que meus olhos tinham de ficar simplesmente observando-a e ela simplesmente moveu-se minimamente, ainda em seu sono profundo. — Ei, Savannah. Acorde.

Chacoalhei-a e tudo o que ela fizera fora resmungar algo que não compreendi e colocou o braço esquerdo sobre seus olhos, tampando-os e fazendo com que sua camiseta subisse ainda mais, descobrindo mais ainda sua barriga.

“Foco, Justin. Foco.” Respirei fundo.

— Savannah. — Falei mais alto, cutucando seu braço.

— Argh, me deixa em paz. — Resmungou e sua voz saiu da maneira mais sexy que eu já havia a escutado antes. Um tom rouco e calmo.

Suspirei, tentando afastar aqueles pensamentos, mas parecia cada vez mais impossível.

— Você tem que subir para o seu quarto, se dormir aqui vai acordar péssima amanhã. — Expliquei, mesmo sabendo que ela não estava prestando atenção e cutuquei-a novamente.

— Ah, mas que droga! — Exclamou, tirando o braço de cima do seu rosto e seus olhos, inchados pelo sono e semicerrados, me encararam. — Eu... Eu estou... — bocejou, esfregando os olhos como uma criancinha, de um jeito extremamente meigo. — Eu não quero.

Não pude controlar o riso que escapou por entre meus lábios e ela fechou os olhos outra vez.

— Ei, não durma de novo. — Pedi, aproximando-me um pouco mais e ela me pediu novamente para deixá-la em paz. — Vamos, eu te ajudo a subir.

— Já disse que não quero, quero ficar aqui. — Choramingou, virando-se de costas para mim e eu amaldiçoei-a por fazer aquilo comigo. — Vá embora.

— Só estou tentando ajudar, não seja grosseira, sua preguiçosa. — Tentei descontrair e ela resmungou algo que novamente não entendi. — Vamos, Savannah.

— Caralho, como você é chato. — Sua voz falhou em uma parte da frase. — Eu te odeio.

Ri de seu comentário e ela ficou quieta novamente, inclinei-me para ver seu rosto e seus olhos estavam fechados.

— Deixa para me odiar depois. — Contrapus, divertido e ela não disse mais nada, a não ser dar um suspiro forte. Estava dormindo novamente. — Ei, Savannah. Acorde logo.

Puxei levemente seu braço e ela virou em minha direção, esfregando os olhos novamente enquanto respirava fundo. Em seguida me encarou, confusa.

— Oi, o que foi? — Disse e eu não pude conter uma gargalhada.

Não podia negar o quanto ela ficava ainda mais bonita daquela maneira. Seus olhos me encarando enquanto a expressão sonolenta dominava seu rosto e seu olhar pesava vez ou outra, fazendo-me sorrir feito um tolo. Tão encantadora. Era altamente injusto ela ser sempre tão fascinante e aquele fato só tornava facilmente evidente o quão difícil seria não se sentir atraído pela mesma. Também havia o fato de que conseguia me tirar risos fáceis e agia tão tranquila ao meu lado que era como se nos conhecêssemos há anos, demonstrando a confiança que a mesma tinha em mim. Mesmo eu não merecendo, mesmo eu sendo quem eu era. E para ser honesto, eu gostaria de tê-la conhecido antes de tudo, gostaria de conhecê-la melhor, de ter a chance de descobrir cada mínimo detalhe sobre sua vida. Gostaria até mesmo de tê-la conhecido antes de me apaixonar por outra pessoa.

Ao observar que ela já estava adormecida outra vez e que aparentemente não acordaria de jeito algum, passei um tempo em uma guerra interna, analisando os prós e os contras de eu fazer o que havia passado em minha mente, mas talvez não houvesse nada demais. Aliás, o ato não significaria nada se eu estivesse o fazendo apenas por benevolência. Acima de tudo, não significaria nada se eu definisse que não significava. Eu estaria apenas ajudando uma amiga – que também me ajudava muito, por sinal – e fora com aquele pensamento que me aproximei, passando meu braço com cautela por baixo do tranco dela e puxando-a em direção ao meu corpo. Enquanto a aconchegava em meus braços, tentava ao máximo ignorar as sensações que já começavam a se espalhar por meu corpo, todavia fui completamente pego de surpreso ao senti-la passando seus braços em torno do meu pescoço, em seguida aninhando seu rosto em meu pescoço, soltando uma lufada de ar que arrepiou todos os pêlos da minha nuca.

— Ah, droga. — Sussurrei, ainda paralisado por seus movimentos e no momento seguinte ela parecia devidamente confortável em meu colo. — Tudo bem, vamos lá.

Arrisquei os primeiros passos e, por mais que estivesse com pressa para me livrar logo daquela situação perturbadora, tomei os devidos cuidados para não tropeçar e causar algum acidente enquanto subia as escadas. A respiração dela batendo continuamente contra minha pele não estava colaborando muito, porém eu estava dando o melhor de mim para ignorar os pensamentos, para mantê-los distantes. Quando alcancei o corredor dos quartos, agradeci aos céus mentalmente, e fui em direção ao dela, empurrando a porta com os pés e entrando rapidamente. Aproximei-me da cama e levantei o edredom, deitei-a logo após e foi difícil fazê-la soltar meu pescoço no primeiro momento. Sorri idiotamente ao senti-la puxando-me ainda mais em sua direção enquanto murmurava frases ininteligíveis e quando enfim consegui me afastar, analisei-a. Eu não sabia explicar as coisas que andava sentindo em relação a ela, mas pareciam ficar cada vez mais fortes e mais inexplicáveis, mais insuportáveis. Nunca fui bom em decifrar meus próprios sentimentos, assim como nunca havia sentido tantas coisas me massacrando daquela forma antes, tanto que eu não sabia como compreender, não sabia o que deveria ou não deveria fazer. Me lembrar do primeiro dia em que vi a Melanie, e desde então passei a querê-la, fazia com que eu me sentisse extremamente confuso por estar me sentindo atraído pela Savannah também, e acima de tudo, por não querer abrir mão de nada, mesmo estando em meio a todo aquele caos mental.

Esfreguei minha testa, fitando o chão momentaneamente e depois me aproximei da cama outra vez, cobrindo-a com o edredom e olhando-a uma última vez antes de me retirar apressadamente do quarto, fechando a porta atrás de mim e respirando intensamente. Desci as escadas no mesmo ritmo e me joguei no sofá em que a Savannah estava dormindo, fechei meus olhos fortemente e deixei minha mente vagar, afastando os pensamentos indesejáveis. Estava feliz por ter me saído bem em meu primeiro encontro com a Melanie e estava me sentindo – pela primeira vez em muito tempo – satisfeito comigo mesmo, confiante. Porém existiam aqueles conflitos que me afetavam e quem sabe eu precisasse simplesmente parar de focar tanto nos mesmos. Talvez eu devesse me empenhar mais em olhar para Savannah da maneira que realmente deveria olhá-la – óbvio que jamais conseguiria deixar de ser um apreciador de sua beleza e charme –, colocar em minha cabeça o real significado que a mesma deveria ter para mim e uma hora ou outra acabaria dando certo, eu acabaria superando aquilo, já que era passageiro. Tinha que ser. Deitei-me – ainda de olhos fechados – e quando o cheiro de baunilha alcançou minhas narinas meu corpo pareceu entrar êxtase. Eu sabia há quem pertencia aquele perfume, assim como – em tão pouquíssimo tempo – já era capaz de facilmente reconhecê-lo e já havia me tornado refém. Sentindo-me entorpecido sempre que o mesmo se fazia presente no ar. Sorri sozinho, contente como nunca havia me sentido antes e algo em minha mente finalmente me fez entender que estar com a Savannah me trazia uma calma que há muito tempo eu não sentia, mas talvez – com um teor de dúvida que eu não queria assumir para mim mesmo – a Melanie fosse quem eu realmente precisasse. Tentei depositar toda minha crença naquilo, contudo, mesmo que eu não quisesse, mesmo que eu tentasse lutar contra, parte de mim igualmente discordava. Boa parte de mim acreditava no contrário.

Savannah’s Point of View

Would you know my name if I saw you in heaven?

Você saberia meu nome, se eu o visse no céu?

Would it be the same if I saw you in heaven?

Seria o mesmo se eu o visse no céu?

I must be strong and carry on

Tenho que ser forte e seguir em frente

'Cause I know I don't belong here in Heaven.

Porque eu sei que eu não pertenço ao céu.

Despertei com a melodia alcançando meus ouvidos e encarei o teto do quarto, franzindo minha testa ao lembrar que, na verdade, havia adormecido na sala, então, como eu havia chegado até o quarto? Esbravejei baixinho ao me sentar, sentindo minha cabeça doendo e aquilo só podia ser efeito das noites mal dormidas, contudo o sono, que eu havia sentido durante todo aquele dia, havia desaparecido na medida em meu corpo fora recuperando os sentidos e o som do violão foi se tornando mais audível. Fitei o edredom cobrindo meu corpo e outra vez me perguntei como eu havia ido parar até ali. Tentei puxar alguma informação em minha cabeça, contudo a música presente não me permitia pensar em nada a não ser em ir até lá vê-lo. Esfreguei minhas têmporas e bocejei, levantando da cama logo em seguida e indo até o banheiro. Rapidamente lavei meu rosto, escovei os dentes e amarrei meu cabelo em um coque alto, e, pouco me importando com minha aparência abatida, saí do quarto, deparando-me com porta do outro lado do corredor entreaberta. Aproximei-me e tentei enxergar alguma coisa, porém tudo que vi foram os móveis cobertos e os quadros.

“Bem, talvez fosse mais digno se eu anunciasse minha presença de uma vez. Ou talvez eu nem ao menos devesse estar ali. Deveria ter ficado no quarto, me contentando em simplesmente ouvi-lo tocar, assim como precisava urgentemente parar de agir impulsivamente sempre que se tratava de minha curiosidade incontrolável e desvairada.” Ponderei.

Pouco me importando com meu subconsciente e suas lições de moral, permiti que meus olhos vagassem até o encontrarem sentado, com o violão em seu colo e o rosto baixo. Apertei meus punhos contra a fechadura sentindo as estúpidas – e peculiares – sensações me dominarem e tudo somente piorou quando meus olhos o escanearam, admirando a calça de moletom azul escura que o mesmo usava e notando a ausência de camiseta. Suas tatuagens tirando-me completamente a racionalidade. Seus dedos dedilhavam as cordas do violão, com cautela e devoção enquanto alguns murmúrios escapavam de seus lábios. Seus cabelos estavam bagunçados, caindo em sua testa e a as sobrancelhas levemente franzidas demonstrava sua total concentração. Soltei a respiração em uma lufada só e por sorte o som não fora alto o suficiente para que ele notasse minha presença. Um aperto massacrante em meu peito fez-me engolir em seco e a forte sensação de encolhimento em meu estômago me fizera espremer meus punhos fortemente, meu coração batendo frenético, de maneira alucinante. Na medida em que meu cérebro juntava as peças do quebra-cabeça complexo que se tornava meus sentimentos em relação a ele, as sensações e o pânico só iam aumentando, e, com eles vinham, à angústia e o desespero. Eu estava a um passo do abismo e nem ao menos havia percebido o quanto estava aproximando-me mais e mais, nem ao menos havia obtido sucesso em meus anseios de superar o suposto simples desejo que eu pensava sentir por ele e naquele momento, vendo-o diante dos meus olhos daquela maneira alheia e tão mais surpreendente fascinante, eu finalmente enxerguei a perdição perfurando meu olhar. Perfurando meu corpo e se infiltrando em cada fibra do meu corpo. Minha cabeça pareceu girar e eu quis poder me afastar, quis poder correr até o quarto, pegar todas as minhas coisas e ir embora. Contudo, no momento em que os olhos dele subiram até encontrarem os meus, eu me vi perdida novamente. Anestesiada. Envolvida. Quando um delicado sorriso esboçou-se em seus lábios me vi despencando lentamente do penhasco que eu tanto havia tentado fugir durante todo aquele tempo, porém naquele momento me encontrava desabando sobre mesmo. Assustada. Confusa. Alienada. Aqueles olhos cor de mel vindo em minha direção, daquela maneira profunda e incompreensível, me fizeram perceber que eu precisava fugir o mais rápido possível. Que eu precisava acabar com aquilo de uma vez por todas e o pesadelo que havia me atormentado naquela manhã viera com força em minha memória, entretanto o olhar quente e recheado de sentimentos desconexos que ele lançava em minha direção era completamente diferente do olhar frio que o mesmo havia me lançado no maldito mau-sonho. A confiança infundada que eu depositava no mesmo permanecia intacta e só naquele momento percebi que um sorriso estava igualmente preso em meus lábios, meus olhos direcionados aos dele e nenhum medo me dominava, nenhum receio. Apenas conclusões que pouco me agradavam, mas que se encaixavam perfeitamente em tudo o que estava acontecendo e logo meu resquício de racionalidade passou a arquitetar planos para me livrar daquela enrascada. Enquanto meu lado insano permitia que a impulsão facilmente me dominasse.

— Oi, há quanto tempo está aí? — Ele questionou após o tempo, que julguei quase uma eternidade, que passamos nos encarando.

— Erm... — Limpei minha garganta, sentindo-me demasiadamente mais nervosa do que costumava me sentir em sua presença.

As descobertas me enlouquecendo.

— Não faz tanto tempo. — Conclui, desviando meu olhar do seu rapidamente. — Você tocou muito bem.

Senti-me envergonhada ao ouvir minha voz saindo baixa e frágil, como se eu fosse uma garotinha de 12 anos apaixonada por um cara mais velho cujo eu sabia que não teria a mínima chance. O que não era ao todo uma comparação mentirosa. Quer dizer, eu obviamente não era uma garotinha de 12 anos, porém era bem provável que estivesse apaixonada por alguém que não sentia e jamais sentiria o mesmo. Pelo cara que era apaixonado por outra garota e me via apenas como uma amiga, uma ajudante. E era bem – frustradamente – óbvio que eu não tinha a mínima chance.

Engoli o descontentamento.

— Obrigado.

Ergui meus olhos em sua direção e ele mantinha um sorriso agradecido no canto dos lábios.

— Tears in heaven é uma música e tanto. — Deixei escapar, por não saber o que poderia ou até mesmo deveria dizer.

— Sim, me faz lembrar muitas coisas.

Seu olhar ficou momentaneamente vago e o sorriso murchou em seus lábios, porém tão rápido quanto sua expressão mudou, voltou a se suavizar novamente e seus olhos voltaram a me encarar.

— É difícil acordar você. — Ele disse após um tempo em silêncio e eu semicerrei o cenho. — E aposto que você não faz ideia do quanto pesa.

Senti meu corpo retesar assim que meu cérebro processou as palavras do mesmo e eu me lembrei do momento em que acordei, extremamente confusa por estar coberta em minha cama quando na verdade havia pego no sono enquanto estava na sala assistindo TV. Sem nem ao menos me lembrar de ter levantado e ido até o quarto, o que só reforçava o fato de que alguém havia mesmo me carregado e o alguém, no caso, era o Justin.

— Não acredito que você me carregou até o quarto. — Soprei descrente, sentindo minhas bochechas queimando e ele riu.

— Você não me deu outra escolha.

— Oh meu Deus, Justin. — Tapei meus olhos, rindo nervosa. — Eu sinto muito.

— Está tudo bem, Savannah. Você é resmungona, mas não deu tanto trabalho assim.

— Eu devo ter falado tantas besteiras. — Murmurei ainda com as mãos no rosto, temendo que tivesse dito algo comprometedor.

— Foi bem engraçado, você não estava dizendo nada com nada. — Riu sozinho e eu olhei-o pelas brechas dos meus dedos, vendo-o risonho daquela maneira e ele não parecia incomodado com nada.

Talvez eu não tivesse dito nada de mais mesmo. Suspirei aliviada e tirei a mão do rosto, recebendo um sorriso em troca. Acabei sorrindo também.

— Bem, — sorri sentindo meu rosto quente — obrigado, de qualquer maneira. — Finalizei, maneando minha cabeça e ele sorriu minimamente.

O rubor ainda estava presente em minhas bochechas e ele perdeu mais alguns segundos apenas me olhando. Brevemente questionei-me o que se passava na cabeça do mesmo enquanto fazia aquilo e o porquê de ele constantemente fazer aquilo, entretanto nos últimos tempos eu andava vendo muita coisa onde não tinha, por isso não sabia exatamente como interpretar alguma coisa, pois quando eu achava que se tratava de algo, na verdade, a situação era bem mais distinta e – muitas vezes – pouco satisfatória.

— Por onde você andou? — Indagou franzindo as sobrancelhas e automaticamente repeti seu gesto. — Recebeu a mensagem que eu te mandei?

— Mensagem? — Enruguei meu nariz e após um tempo refletindo lembrei-me da mesma, sentindo certo nervosismo ao me lembrar que havia excluído a mesma sem ao menos pensar em uma resposta.

— Sim, eu lhe mandei uma mensagem e eu fiquei esperando por uma resposta... — Desviou o olhar rapidamente. — Eu queria alguns conselhos...

— Oh — levei minhas mãos até a boca —, me desculpe! Eu não achei que você estivesse esperando por uma resposta.

Torci os lábios e ele riu nasalmente.

— Quem manda mensagem e não espera por uma resposta? — O sarcasmo parecia bem presente em suas palavras e ele parecia desapontado também, contudo a segunda constatação deveria ser somente coisa da minha cabeça.

— A verdade é que eu encontrei o Jonah, acabei me empolgando demais e não vi a mensagem na hora em que você mandou. Só vi depois e achei que não faria mais sentido responder. — Menti, porque temia o fato de lhe contar que havia excluído a mensagem por me sentir extremamente confusa com o que ele havia escrito e ele ficar bravo, visto que pareceria que eu havia feito pouco-caso. Coisa que, analisando os fatos, eu realmente havia feito

Eu podia sentir a tensão emanando do corpo dele ou aquilo fosse apenas reflexo da que se alastrava em meu corpo. A necessidade de fugir do assunto tornando-se imensa e algo em minha mente destacava incessantemente que eu não deveria mesmo ter ido até lá. Aliás, como já diz o antigo ditado, quem procura acha.

— Jonah? — Franziu a testa. — O cara que você saía na época em que...

Ergueu as sobrancelhas e eu concordei com a cabeça antes que ele prosseguisse.

— Sim, ele mesmo! — Forcei um sorriso, sentindo-me um pouco incomodada pelas lembranças, mas logo as afastei. — Ele também saiu daquela vida, agora está fazendo faculdade de Artes Visuais e trabalhando em uma mecânica.

 — Que reviravolta, não?

Havia um tom amargo em suas palavras e sua feição estava rígida.

— Tem algo errado? — Perguntei apreensiva e ele riu nasalmente outra vez, debochado. — Como foi o jantar?

— Não, está tudo perfeitamente bem. — Deixou o violão de lado e levantou-se, dando alguns passos em minha direção. — Sobre isso, quero agradecer pelos conselhos que me deu. O jantar com a Melanie foi muito melhor do que eu poderia imaginar.

— Ah, que ótimo. — Rebati, engolindo o descontentamento e tentando ignorar o fato dele estar tão próximo. — Fico feliz por você.

— Também fico feliz por você ter reencontrado seu amigo.

Forcei um sorriso e passamos um indeterminado tempo em silêncio, nos encarando.

— Eu a levei no restaurante que você indicou e é realmente um ótimo lugar. — Voltou a dizer e eu crispei meus lábios, rezando mentalmente para que ele não entrasse em muitos detalhes sobre o acontecimento histórico da noite. — A Melanie adorou também, passamos horas conversando e por mais que eu tenha me limitado a dizer muitas coisas, no final ela acabou aceitando meu precipitado pedido para um novo encontro.

— É maravilhoso que tenha dado certo. — Cuspi, sentindo um aperto em meu peito devido ao sorriso alastrado que ele mantinha em seu rosto.

Aquilo era como socos no estômago ou até mesmo um banho gelado no inverno. Era insuportável.

— Eu não teria conseguido se não fosse por você, cupido. — Sorriu de lado e eu forcei um sorriso. — Muito obrigado, Savannah. Acho que nunca saberei realmente como te agradecer.

— Não precisa, foi uma honra ter ajudado e eu só espero que continue dando certo. — Articulei e sorri.

As palavras pareceram laminas rasgando minha garganta. Meu ego sendo massacrado para sustentar a total indiferença e eu deveria ser sempre assim em relação a ele. Uma hora acabaria me acostumando.

— Você também tem me ajudado muito ultimamente. — Prossegui, afastando-me do batente da porta cujo eu nem ao menos tinha percebido que havia me escorado.

— Uma mão lava a outra, não é? — Rebateu com um sorriso ainda maior e eu engoli o descontentamento, forçando-me a dar o sorriso mais sincero que me era permitido no momento.

— Sim, erm, — limpei disfarçadamente a garganta. — ainda estou cansada, então vou voltar a dormir.

Forcei o milésimo sorriso e ele franziu levemente o cenho.

— Não está com fome?

— Não. — Respondi rapidamente. — Comi na lanchonete do James.

— E a aula de piano? — Continuou, arqueando uma sobrancelha. — Eu fiquei de te ensinar a tocar violão hoje, lembra?

— Podemos ver isso depois, ok? — Proferi impassível, forçando um bocejo e ao analisá-lo pude vê-lo espremendo levemente os olhos. Em seguida, concordou levemente com a cabeça.

— Boa noite.

— Boa noite, Savannah. — Murmurou aproximando-se e antes que o mesmo pudesse chegar perto o suficiente para depositar um beijo em minha bochecha, me afastei.

Sem olhar para trás, dei as costas e me retirei ligeiramente do quarto. Fugindo de toda aquela situação e eu precisei daquilo, porque o extenso sorriso nos lábios dele aquecia uma parte dentro de mim, mas as razões... As razões pelo mesmo me desconfortavam, me atingiam. Não fora difícil constatar o quanto minha situação estava tornando-se cada vez mais crítica e eu precisava reverter àquela situação. Toda a paz que o reencontro que o Jonah me trouxe fora se esvaindo com uma rapidez dolorosa e eu sabia que não superaria aquele sentimento tão rápido, contudo estava disposta a não me tornar uma dependente dele. E estar tão decidida me fazia ter plena certeza de que o melhor era me afastar, já que ficar sempre tão perto dele só pioraria minha situação.

Adentrei o quarto do outro lado do corredor e tranquei a porta, correndo até a cama e me jogando sobre a mesma. As estúpidas lágrimas passando a molhar meus olhos e há muito tempo eu não me sentia daquela maneira e, sendo honesta comigo mesma, nem mesmo quando descobri a traição do idiota do Andrew havia me sentido tão frustrada. Tão afetada. Nada que eu já tenha passado chegava perto do sentimento que se apossava de mim naquele instante e logo o choro fora se tornando mais intensivo e eu me esforcei para não fazer barulho algum, sentindo-me ridícula por estar daquela maneira por alguém que nem ao menos reparava em mim. Pelo cara que era apaixonado por outro alguém. Por estar chorando daquela maneira por algo que eu nem ao menos sabia como denominar, nem ao menos sabia explicar o por que. Justin Bieber não podia ter aquele tipo de controle sobre mim. Eu não deveria permitir que ele o tivesse. Quem sabe eu só precisasse de um tempo distante, de um tempo para respirar longe de toda a tensão que ele infligia sobre mim, até finalmente me sentir controlada o suficiente. Até finalmente retornar para a estaca zero. Sem sentimentos. Sem desilusões. Sem sofrimentos. No entanto havia algo dentro de mim que me fazia hesitar, que me fazia sentir uma duvida imensa, porque nem sempre as coisas acontecem do jeito que queremos e planejamos. E, uma vez que, minha vida era uma peça de teatro que não permitia ensaios, a mesma estava sempre disposta a me surpreender. Sempre disposta a propor novos desafios, novos obstáculos. Experiências boas e, principalmente, ruins. E eu sentia, em meu mais profundo, que aquele era só o começo de mais um catastrófico espetáculo.


Notas Finais


Genten a fic ficou quase 1 ano em hiatus :'( mas EU VOLTEI E AGORA É PRA FICAR, PORQUE AQUI É O MEU LUGAR ♪♪♪

Eu sei que tem muita gente aqui querendo me matar, mas vamos as explicações... Eu tive muitos, mas MUITOS MESMO, problemas pessoais no decorrer do tempo em que não postei mais a fic. Eu sei que faz um tempão, eu me fodi tanto esse tempo todo que nem prestei atenção no quanto os meses passavam e no quão mais atrasada a fic ficava, porém quero deixar bem claro que desde o início eu sempre soube que eu voltaria a postar Paranoid. Mesmo que ninguém mais lesse. O fato é que eu fiquei muito tempo sem internet, de verdade, e precisei trabalhar, porque meus pais estavam pegando muito no pé e quando tive internet de volta, não tinha como postar, (meu computador também deu pau, porque, sabe, todo dia da minha vida é uma sexta-feira 13. Prazer, me chamo Azar) porque eu não tinha tempo nem para respirar direito. Sem contar a criatividade que ficou um lixo e eu não queria aparecer rapidinho pra postar qualquer porcaria e depois sabe-se lá quando poder postar de novo, então decidi tirar um tempo (juro que não era pra ser tão longo) antes de finalmente voltar pra terminar a história de vez! Gente, eu fiquei maluca durante todo esse tempo, juro pra vocês e se não fosse pela Steph (~sustin) eu provavelmente teria me matado em algum momento. A vida não é fácil e eu sei que vocês sabem disso e quando aparece um problema parece que ele grita "UEBA, VEM MAIS, VEM TODOS, BORA SAPATEAR MUITO EM CIMA DESSA INFELIZ!" e aí tudo dá errado sucessivamente e quando você vai ver está a beira da loucura, arranhando as paredes e batendo a cabeça nas portas HAHA brincadeira. Peço mil perdões para vocês meninas, de coração, mas só eu sei o quanto todo esse tempo foi ainda mais difícil pra mim. Eu sei que muitas ficaram chateadas (e ainda estão ou vão ficar por um tempo, ou pra sempre), só que eu quero que vocês saibam (lembrem, observem) que nada disso foi culpa minha. Não foi minha escolha e eu ainda não sou uma pessoa independente e muito menos ganhei na loteria pra ficar de boa com a vida e não ter nada pra me impedir de viver sem precisar me preocupar com nada. E de quebra agora estou desempregada lol, porém estou de boas com a minha família por ter me comportado bem, então posso ficar tranquilinha hehe enfim, acho que o mais importante foi eu ter voltado, né? Porque se tem algo que eu acho injusto é abandonar história e mesmo com a vida toda lascada cá estou eu, e agora JURO q vou dar tudo de mim pra recompensar todo o tempo perdido. Eu tinha dito no cap anterior que tinha o 21 pronto, mas como eu disse algumas mil palavras atrás "a vida não é fácil [...]" (prazer, meu nome é Azar de novo), meu pendrive deu pau e eu perdi TUDO, então tive que reescrever, porém pra isso tive que esperar a criatividade voltar e acreditem, com toda essa pressão, não foi nada fácil... Bem, não tem muito o que ficar dizendo, porque tudo o eu tinha pra dizer já foi dito. Me desculpem mais uma vez, espero que gostem do cap (e ainda não estejam me odiando ou elaborando planos para me matar) e até LOGO! No próximo cap as coisas começam a ficar realmente interessantes! Obrigado pelos comentários no capítulo anterior e pelos favoritos, vocês são fodas! Muito obrigado de coração. Amo vocês, não queria ter magoado ninguém, sério. Desculpa outra vez. xx

PS: quero agradecer as paranoicas que me procuraram durante esse tempo e me incentivaram a realmente voltar, porque eu tava com certo receio de ninguém querer mais ler ahuahau vocês são demais, muito obrigado mesmo!)

PS²: agora sou universitária, IHAA. Vou tentar continuar as atts de 3 em 3 dias e se não funcionar terei que mudar para todo final de semana, aí fica mais tranquilo para todos nós :) x

http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=149532299 (look da Sav)

http://24.media.tumblr.com/tumblr_ma04e3iJ9U1qhft5ko3_500.jpg (look do Justin)

http://www.borboletasnacarteira.com.br/wp-content/uploads/2013/03/amanda-seyfried-estilo-moda-fashion-borboletas-na-carteira-5.jpg (a Melanie ta usando o segundo)


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