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História Paranoid - Agora ou nunca.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Hey! Boa leituras, paranoicas! <3

Capítulo 26 - Agora ou nunca.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Agora ou nunca.

Ainda de olhos fechados, senti meu corpo recobrando os sentidos e, com a mão que estava pousada sob meu rosto, cocei levemente os olhos, em seguida abri-os, um de cada vez, deparando-me com o quarto ainda escuro, iluminado somente pelas frestas de luz que ultrapassavam as brechas da porta e da janela. O sono, e o calor dos cobertores, desejando me entorpecer novamente. Entretanto, guiada pela necessidade de utilizar o banheiro, movi preguiçosamente minhas pernas, mas, antes que pudesse colocar qualquer parte do meu corpo para fora, petrifiquei completamente e meus olhos se arregalaram automaticamente. O corpo se movendo atrás do meu, aproximando-se ainda mais, e os dedos deslizando lentamente pela minha pele me fizeram retesar, instantaneamente contraindo meu abdômen e, de imediato, meu coração disparou. A respiração escapou pesada por entre meus lábios, meu cérebro sendo atingido por constatações que me desassossegaram, ocasionando turbilhões de sensações e reações. Cada vez mais fortes, mais enlouquecedores. Mordi meu lábio com força, sem mais nenhum resquício de sonolência, enquanto cada fibra do meu corpo já se encontrava completamente desperta. O aperto de seu braço ao redor de mim, de maneira espantosamente possessiva, fazia meus hormônios entrarem em forte ebulição, causando um enorme conflito entre os desejos do meu inconsciente e os alertas de minha coerência. Arrepios constantes me avassalavam na medida em que minha mente insana constatava o quanto cada músculo do corpo dele se moldava ao meu, encaixando-se perfeitamente e o excessivo calor de sua pele despida ultrapassava minha camiseta, aquecendo-me não somente por aquele fato, mas igualmente pelo fervor descomunal que sua presença, muitas vezes até mesmo em certa distância, singularmente costumava me infligir. A palma de sua mão em contato com minha barriga, pela parte interna de minha blusa!, me tirava totalmente a sanidade. Fazendo-me hesitar sempre que minha consciência lógica pedia para que me afastasse, pois era errado estar me permitindo vergonhoso deleite da situação, que na verdade não passava de uma impulsiva carência indecente, aliás, obviamente o Justin sequer sabia o que estava fazendo, uma vez que sua respiração calma e seu corpo imóvel revelavam que o mesmo se encontrava em absoluto sono profundo. “Há que ponto decadente estou chegando”, pensei envergonhada. Golpeada pela sequência de ofensas que passei a direcionar a mim mesma, tentei me desvencilhar de seu aperto novamente, no entanto, para uma surpresa gigantesca, ele puxou-me para trás, grudando ainda mais nossos corpos e resmungou algo ininteligível. Umedeci meus lábios secos e tentei não focar em sua respiração ricocheteando extremamente próxima da minha nuca. Em seguida, fechei meus olhos com força, comprimindo meus lábios enquanto a mão dele, que estava em minha barriga, deslizava até segurar minha cintura, enlaçando meu corpo ao seu. “Isso é mais do que eu posso suportar” pensei, determinada a tentar me desprender de seu aperto e todo aquele enlouquecedor contato. No entanto, paralisei subitamente ao sentir uma desconhecida protuberância em contato com minha lombar e suspirei profundamente, enrubescendo com as probabilidades invadindo meus pensamentos. Motivada pela impulsividade, remexi minha cintura em um ato inconsequente e automático, sentindo minha boca secar, e não tardou para que eu estivesse sendo atingida por uma violenta hiperventilação. Choques elétricos percorreram todo meu corpo e a consequência maior atingiu a região entre minhas pernas, fazendo-me involuntariamente espremê-las e, desta forma, friccionei contra o quadril dele outra vez, sendo completamente pega de surpresa ao ouvi-lo suspirar fortemente e me puxar ainda mais para si. Causando uma pressão maior de minhas nádegas contra sua ereção matinal enquanto palavras inaudíveis saíram de sua boca e um enorme desespero me devastou. Repreendi meus pensamentos, praguejando-os ao notar o quão caóticos estavam se tornando, incentivando-me a continuar me movendo, na medida em que a necessidade se tornava maior do que a razão, e por alguns instantes desejei ser forte o suficiente para me levantar de uma vez por todas. Acabar com aquilo. Mas a excitação se tornava cada vez mais insuportável e perigosa, e minha parte mais sensível se encontrava em ponto elevado de efervescência, obrigando-me a desejar aniquilar toda aquela tensão de qualquer maneira. De preferência com o ser adormecido logo atrás de mim, que obviamente, nos últimos tempos, era o eminente motivo por todo meu descontrole. "Se mova", meu inconsciente enlouquecido orientou e eu me vi tentada a obedecê-lo. "Não se mova”, minha coerência rebateu e então fiquei divida entre permanecer seguindo minha insanidade sórdida ou me agarrar ao resquício de racionalidade que ainda me restava. O que me fazia constatar o quanto era indecente estar me sujeitando e discutindo internamente quando, francamente, sabia que a coisa mais certa a se fazer era acabar com aquela situação o mais rápido possível. Antes que o Justin acordasse, e percebesse o que eu estava fazendo, me aproveitando descaradamente de sua vulnerabilidade, prevendo o quão vergonhoso seria caso o mesmo acordasse e tomasse consciência do que estava acontecendo, provavelmente ficaria desconcertado e eu não saberia como encará-lo pelo resto da semana. Ou até mesmo pelo resto da minha existência. Portanto, dominada somente pelo raciocínio lógico, decidi me levantar e, sem hesitar, afastei – desgostosamente – seu braço do contato com meu corpo. Tomando cuidado para não despertá-lo, pois estávamos próximos demais e a saliência ainda pressionada ao meu corpo dificultava um bocado as coisas, e ao conseguir me afastar ao menos um pouco, ele suspirou em meio ao sono e virou-se para o outro lado da cama, esparramando-se confortavelmente e, ao notar que havia prendido a respiração com seu ato, soltei o ar de uma só vez. Em seguida desvencilhando-me dos cobertores e quando, enfim, estava fora da cama, suspirei fortemente, não sabendo se era mais de alívio ou mais de frustração. Cocei minha cabeça e balancei-a vagamente, indo até minha mochila e separando peças de roupa aleatórias, marchando até o banheiro e não arriscando a me perder no corpo do Justin jogado na cama

Respirei maquinalmente, adentrando o banheiro, e me encarei no espelho, sentindo-me uma completa estúpida. Certo descontentamento me dominando e o sentimento estava completamente exposto em meu rosto, em meus olhos baixos e em minha expressão descontente. Após uma longa ducha, tentando controlar os pensamentos e meu repentino baixo ânimo, me arrumei – uma skinny jeans preta e uma camiseta do The Beatles de mangas cumpridas – e ao retornar para o quarto me deparei com o Justin ainda adormecido. Seu peitoral e abdômen estavam expostos, pondo-me em longos segundos de admiração, e ao me obrigar a afastar o olhar, abando negativamente com a cabeça, fui guardar as coisas de volta na bolsa, me esforçando fortemente para não voltar a olhá-lo. Sem saber o que fazer e decidida a não ficar no quarto, esperando o Justin acordar enquanto venerava sua beleza, optei por sair um pouco para caminhar e refletir mais claramente. E após pegar minha carteira na mochila, calçar minhas sapatilhas e pôr um casaco – o clima estava um pouco frio e o céu nublado –, foi exatamente o que fiz. Tentando acreditar que me afastar talvez ajudasse a controlar as ideais insensatas que não abandonavam minha cabeça. Quem sabe eu só precise de um tempo, aliás, como as pessoas dizem por aí: tudo é apenas uma questão de tempo!, pensei enfiando as mãos em meus bolsos, tentando acreditar naquele mantra que passei a acolher e, principalmente, tentando manter o otimismo de que um simples bom tempo de caminhada milagrosamente ajudaria – resolveria tudo – e quando eu retornasse para o quarto estaria menos perturbada com o acontecido de instantes atrás. Estaria menos perturbada pelos sentimentos cada segundo mais dominantes. 

Afastando-me do local em passos apressados, me permiti eliminar os pensamentos indesejados e forcei-me a recordar à nossa ida até a boate do Ronald na noite anterior, da conversa animada que tivemos e das risadas, dos momentos, do quanto me senti esperançosa e feliz por estar conhecendo aquele outro lado dele, por vê-lo compartilhando comigo algo que havia feito parte em sua vida. E, acima de todas as recordações, sorri totalmente ao recordar o momento em que ele fez o encantador comentário sobre meu apelido e do quanto, durante cada segundo, eu senti, incontáveis vezes, vontade de beijá-lo até meus lábios ficarem dormentes. Desejando que o excesso de paixão que eu sentia por ele magicamente se transpasse através de um simples beijo – e até mesmo de algum simples contato! –, para que ele pudesse sentir o mesmo ou, ao menos, pudesse me dar uma chance de fazê-lo sentir. 

Suspirei, enterrando ainda mais as mãos em meus bolsos, consternada. Enxergando o quanto as coisas ficavam cada vez mais fora do controle e eu não sabia mais como lidar. Sempre prestes a explodir e admitir tudo sem hesitação, ao mesmo tempo em que temia fortemente aquela ideia de pôr tudo à perder. Acuada atrás de minhas incertezas e mortificação. E, de fato, os turbilhões de divagações e sensações paradoxais que sua proximidade exercia sobre mim era o que tornava tudo mais impiedoso. Era o que me fazia recuar. Imaginar suas possíveis reações me enlouquecia e pioraria  na medida em que eu continuasse me permitindo viver tão atormentada por cegas suposições, portanto, de alguma forma, – o mais rápido possível – eu queria, precisava, fazer alguma coisa à respeito de tudo o que andava acontecendo. Antes que fosse tarde demais.  

Afastei os devaneios após perceber o quanto me afastava do motel – ao qual eu não havia me dado o trabalho de decorar o nome –, passando então a me ocupar em memorizar o caminho que estava percorrendo, para não ficar perdida em uma cidade que pouco conhecia. E, no decorrer da caminhada, acabei encontrando coisas que tiraram o foco daqueles incessantes e maçantes pensamentos. Impressionando-me com o quanto Beaverton era diferente de Portland e com o quanto as pessoas pareciam mais simpáticas, pois muitas que passaram ao meu lado desejaram-me bom-dia e/ou me lançaram um sorriso contagiante. Há tempos eu não caminhava por uma cidade como estava fazendo naquele momento, há tempos não cumprimentava as pessoas na rua com entusiasmo e logo, diante das distrações, meu humor melhorou consideravelmente. No entanto, procurando não me afastar muito dos arredores do motel, senti meu estômago roncar e procurei por algum local onde pudesse comprar algo para comer, encontrando um Mcdonalds no quarteirão seguinte, onde comprei três mistos quentes e dois chocolates quentes. Fiquei assistindo TV enquanto esperava e quando o pedido foi entregue, enrolei mais um tempo antes de finalmente decidir voltar retornar. Quase me perdi pelo caminho, mas acabei me encontrando sozinha. Respirei aliviada ao ver o carro do Justin estacionado e caminhei mais depressa, adentrando o quarto e me deparando com a cama vazia, os lençóis ainda revirados e logo o barulho de chuveiro alcançou meus ouvidos. Coloquei o embrulho com os alimentos ao lado das mochilas e guardei a carteira dentro da minha bolsa, tirando o casaco em seguida, enquanto me sentava na cama. 

— Savannah? — A voz abafada do Justin surgindo do outro lado da porta do banheiro despertou-me e eu inclinei minha cabeça na direção da porta, percebendo então que o chuveiro havia sido desligado.  

A lembrança de horas atrás retornando com força total e amaldiçoei-me por não conseguir controlar meus próprios pensamentos. 

"Claro que fugir não mudaria nada", meu inconsciente rebateu e eu o ignorei.  

— Sim?  

Xinguei-me no momento em que percebi que minha resposta saiu mais como uma pergunta e bufei, rolando os olhos diante de toda minha impulsiva imbecilidade.  

“Por Deus! Controle-se”, pensei aflita.  

O silêncio voltou a residir e ao notar que ele não falaria mais nada, provavelmente estava se vestindo – a provável imagem invadindo minha cabeça deixou-me completamente desnorteada –, comecei a cantarolar numa desesperada tentativa de controlar toda aquela miserável e ardente euforia.  

— Por onde você andou? 

Sua voz, peculiarmente dominada pela atraente rouquidão matutina, despertou-me dos devaneios e me arrependi no momento em que arrastei meu olhar em sua direção. Sentindo minha boca secar enquanto meus olhos desciam por seu tronco nu, seguidamente fitando a toalha enrolada em sua cintura e logo meus olhos, dominados por meus sentidos aguçados, avistaram as gotas d'água – que pareciam altamente provocantes ao meu olhar atento e luxurioso – escorrendo de seu cabelo, trilhando lentamente as ondulações em sua barriga, até morrerem na barra da toalha, enquanto com a ajuda de uma toalha menor, alheio ao meu olhar vorazmente deslumbrado, ele tirava o excesso de água de seus cabelos. Caminhando, eu estava tão atônita que tudo parecia estar em câmera lenta, perigosamente para cada vez mais perto e as entradas em seu abdômen me deixaram completamente desorientada. Assim como as diversas tatuagens por seu corpo, a enorme cruz em seu peito e a pequena gaivota acima de seu quadril causou-me bons segundos de apreciação, levando-me em direção aos pelos abdominais abaixo de seu umbigo e, logo, senti minha respiração falhando. O desejo se expandindo tão ferozmente que minhas pernas quase cederam, porém, ligeiramente ordenada pela impulsividade, afastei o olhar de sua imagem perturbadora, por sorte no mesmo momento em que os dele vieram em minha direção e, de imediato, prendi a respiração.  

— Aconteceu alguma coisa? — Questionou com certa preocupação e acabei soltando a respiração de uma só vez, praguejando-me incessantemente depois. 

Ao vê-lo, de soslaio, se aproximando, inconscientemente me levantei e dei alguns passos para o lado oposto. Involuntariamente o olhei e o mesmo me analisava atento, sua cabeça levemente inclinada e sua ausência de roupa somada com aquele semblante misterioso só colaboraram para que eu me sentisse ainda mais exasperada. Enfiei minhas mãos trêmulas, e úmidas pelo suor frio, no bolso traseiro da calça. Em seguida forcei um sorriso, o tipo de sorriso que demonstrava claramente um total desespero. 

— Não aconteceu nada. — Menti descaradamente, movendo meus ombros forçando uma indiferença inexistente.  

— Tem certeza? — Indagou espremendo os olhos e eu apenas anuí. — Você parece nervosa. — Comentou pensativo e segurou o nó da toalha, fazendo-me engolir em seco por ter analisado seu movimento inesperado e momentaneamente precisei afastar meu olhar. 

"Santo Deus!", gritei mentalmente. 

— Não, erm... — forcei minhas mãos ainda mais contra os bolsos, encolhendo meus ombros e ri nervosa. — 'tá tudo tranquilo. Trouxe o café da manhã. — Apontei com a cabeça para a sacola no pequeno sofá e ele a olhou brevemente, voltando seu olhar minucioso para mim segundos depois.

— Acordou cedo — murmurou, finalmente mudando o rumo do assunto e contive o suspiro aliviado. Ainda bastante atormentada por sua nudez. —, dormiu bem?

Arqueei uma sobrancelha e deixei um sorriso, sincero, brincar no canto dos meus lábios. Lembrando de quando ele havia sugerido que dormíssemos juntos e o quanto havia ficado desconcertado, o quanto ficava imensamente encantador e irresistível daquela maneira. E o sorriso alastrado em seus lábios rosados me fez esquecer, por alguns segundos, seu corpo seminu. 

— Sim. — Respondi, simplesmente, por alguma razão, até então inexplicável, sentindo o rubor me dominar.

Abaixei meu olhar, sorrindo pequeno enquanto reprimia uma respiração profunda ou qualquer coisa que demonstrasse minha inquietude. Tentando disfarçar ao máximo a necessidade de também querer saber como havia sido sua noite de sono e questionando incessantemente se ele tinha um mínimo de conhecimento do que havia acontecido pela manhã.

— E você? — O questionamento escapou por minha boca antes que eu pudesse evitar e precisei novamente erguer meus olhos, recebendo um olhar confuso partindo dele, obrigando-me a ser mais direta e parecia até mesmo existir certo divertimento em seu falso semblante desentendido. — Erm, dormiu... Você, ahn... — pausei, me sentindo uma estúpida completa. Ri nervosa e ele se manteve imparcial, analisando-me pacientemente. — Dormiu bem? 

— Feito pedra! É até como se eu não me lembrasse de já ter dormido melhor.

E então ele sorriu da maneira mais radiante que eu já havia o visto fazer antes e, antes que pudesse evitar, lá estava eu, caracteristicamente, contemplando cada detalhe de sua beleza. Partindo de seu amplo e magnífico sorriso para seus delineados e atraentes lábios, seu nariz e logo acima seus estreitos olhos e em suas íris cor de mel pareciam existir milhares de constelações que me tiravam dos eixos, que me perturbavam tanto quanto me entorpeciam e me tornavam uma fiel apreciadora de seus mistérios. Seus fios de cabelo dourados possuíam um tom mais escuro por ainda estarem sutilmente molhados, alguns grudados em sua testa e outros jogados para um lado só de uma maneira que o deixavam implacavelmente mais bonito, mais atraente. Um alto teor de maturidade e perdição em toda a inocência que suas feições delicadas normalmente costumavam transpassar, principalmente quando o mesmo estava adormecido. E aquele sorriso, aquele estonteante sorriso ainda exposto em seus lábios, fizera com que eu compreendesse o quanto não era mais capaz de esconder meus sentimentos, o quanto eu precisava expor tudo o que sentia sem me importar, esquecendo os receios e apenas arriscando. Porque era aquela visão que eu gostaria de ter pelo resto da minha vida. Era aquele sorriso que eu queria vê-lo esboçando a todo o momento. Eram suas feições que eu queria ver todos os dias que abrisse meus olhos pela manhã, envolta por seus braços, sem ficar me sentindo uma mulher de meia-idade tarada, se aproveitando de um garotinho inocente, toda vez que o desejasse mais do que parecesse devido. Além do mais, estava farta de viver apenas de idealizações, incitada por fantasias que não aconteceriam se eu não tomasse alguma atitude, e que talvez não acontecessem nem mesmo após qualquer declaração. Entretanto, algo dentro de mim ressaltava que o mais importante, de fato, era não continuar carregando aquele insuportável peso de uma hipotética paixão platônica. Sem saber o que fazer, como agir, como algo deveria ser feito e como seria se alguma coisa tivesse sido feita há tempo. Sem ter que passar o resto da minha vida atormentada por teorias que me tirariam o sono. 

Abandonando minhas abstrações, e definitivamente sem saber o que dizer, acabei sorrindo enquanto sentia um descomunal calor em minhas bochechas e em meu corpo. Encolhendo instintivamente meus ombros, adotando uma involuntária posição vulnerável e envergonhada, me sentindo ainda mais desconcertada ao ouvi-lo abafar o riso.

— Esqueci de pegar minhas roupas antes de entrar no banheiro, achei que fosse demorar um pouco mais. — Sorriu de maneira sagaz, fazendo-me arquear uma sobrancelha. — Vamos embora depois do café da manhã, preciso resolver umas coisas em Portland ainda hoje. — Avisou e eu somente assenti, assistindo-o caminhar até o sofá onde as mochilas estavam e dar uma breve espiada dentro do embrulho do Mcdonalds. — Que bom que trouxe comida, estou faminto.

Olhou-me por sobre os ombros e, por alguma razão ridiculamente desnecessária, ruborizei. Desviando o olhar ao notar que, desde o momento em que o vi caminhando, passei a devorar suas costas largas, perdendo um bom tempo de análise em suas tatuagens na região – um índio e uma frase aparentemente bíblica – e, estupidamente, quase havia sido pega no flagra. Caminhei até a cama e, após tirar as mãos dos bolsos, me sentei. Procurando não focar muito no Justin e no que ele estava fazendo, passando a me entreter com minhas unhas, que estavam enormes e o esmalte azul perolado estavam lascados, passando a retirar concentradamente os poucos resíduos. 

Quando o Justin saiu do banheiro – vestindo uma calça jeans escura, larga e de modo peculiarmente caído, e uma camisa de manga comprida listrada com finas linhas pretas e brancas, arremangada. –, tentei não demorar muito nos olhares indiscretos e enquanto comíamos, ficamos assistindo TV e, vez ou outra, fazendo comentários paralelos. Era em torno das quatro da tarde quando – após o Justin quitar sozinho, as duas diárias, sem aceitar a divisão do valor total como eu havia sugerido, deixando-me emburrada – quando pegamos à estrada de volta para Portland. Nos primeiros minutos permanecemos em silêncio enquanto eu olhava pela janela e o som ambiente das músicas aleatórias tocando na rádio era a única razão por não me sentir insuportavelmente entediada.

— Ronald me ligou hoje cedo, perguntando se não podíamos mesmo ficar mais um dia. — Me sobressaltei ao ouvir a voz do Justin quebrando subitamente o silêncio e fitei-o brevemente.

— Sério? — Rebati ao digerir suas palavras, abafando um riso.

Ele apenas anuiu e balançando vagamente a cabeça.

— Você é a primeira garota que levo lá, por isso eles ficaram insistindo nas perguntas... — pausou, lambendo os lábios. — Nas perguntas do namoro... Espero que não tenha ficado incomodada.

Liberei o riso pelo nariz, desviando o olhar na medida em que sentia minhas bochechas queimando e senti o olhar do Justin pesar momentaneamente sobre mim.

— Você conviveu com pessoas legais. — Comentei tirando o foco do assunto e eu o olhei, recebendo seu olhar ao mesmo tempo e ele sorriu enviesado, voltando à atenção para estrada depois. — Pensei que tivesse tido uma adolescência menos agitada.

Vi-o arquear uma sobrancelha e mordi meu lábio inferior, recriminando-me por ter dito aquilo de maneira tão impulsiva e provavelmente tê-lo ofendido. Soltei um muxoxo, arrependida.

— Me desculpe...

— Está tudo bem, Savannah. — Cortou-me, tentei captar raiva ou tristeza em sua voz, contudo, ele pareceu-me bastante neutro. — E eu teria tido a adolescência frustrante que merecia se Steve não fosse um homem tão persuasivo. 

— Você não merecia uma adolescência frustrante, Justin. — Rebati inquieta. Sentindo-me ainda mais culpada. — Nem de longe eu quis dizer isso.

— Sou eu que estou dizendo, Savannah. 

Suspirou aborrecido e eu encolhi meus ombros, o arrependimento ainda me assolando. Mortificada, voltei a fitar os borrões pela janela.

— Os problemas — voltou a falar e pausou, mantive meu olhar distante e ele respirou fundo antes de prosseguir: — só começaram a piorar quando entrei na adolescência e parece piorar ainda mais com o passar dos anos.

— Seus remédios funcionam bem? — Perguntei, ainda sem olhá-lo, mas por minha visão periférica pude vê-lo se mover inquieto. — Você ainda tem acompanhamento psicológico?

Crispei meus lábios, receosa, tentando puxar em minha mente alguma vez que eu já tenha o visto se medicando ou comentando que teria alguma consulta médica, não me recordando de absolutamente nada relacionado.  

— Steve cuidou de tudo o que preciso. — Respondeu seriamente.

— Mas você sabe que quando um tratamento não funciona, é preciso consultar um especialista para reavaliação e, quem sabe, uma possível troca de medicamentos.

— Vejo que a convivência com um pai psiquiatra te influenciou bastante. — Comentou remotamente e eu arqueei as sobrancelhas, rapidamente olhando-o e ele se manteve alheio.

— Como sabe a profissão do meu pai? — Indaguei completamente surpresa.

— Quem não conhece Mason Curtis? 

Vi-o travar o maxilar e estranhei sua atitude, uma confusão ainda maior me dominando.

— E foi por conhecê-lo que você disse que ele não poderia fazer nada contra você por estar me ajudando? — Automaticamente questionei, recordando-me de suas palavras e ele permaneceu momentaneamente calado. — Porque, se esse for o caso, você está bem por fora das capacidades desumanas que ele possui.

— Seu pai é só um homem frustrado, Savannah. — Disse, balançando os ombros. — Que quando não consegue atingir quem ele quer, começa a atingir os pontos mais fracos ao seu redor, porque sua incapacidade de tolerância ultrapassa os limites e sua adversidade o obriga a sempre tentar destruir a felicidade alheia.

Os ressentimentos presentes em suas palavras puseram-me em incessantes questionamentos.

— Ele já tentou atingir você? — Verbalizei minha preocupação e ele suspirou, negando com a cabeça em seguida, contudo algo em seu semblante me fez desconfiar. Mas, devido a sua expressão, percebi que não era uma boa ideia persistir no assunto. — Não sabia que você o conhecia.

— Não o conheço — rebateu e eu arqueei uma sobrancelha. —, quero dizer, não o conheço pessoalmente. — Completou e eu soltei um muxoxo em compreensão. — Apenas ouvi coisas sobre ele, de extremos elogios até os piores insultos.

— A hipocrisia das pessoas que o elogiam é surpreendente. — Disse sarcástica, não escondendo minha desaprovação.

— Seu pai que é um homem convincente. — Contestou e eu franzi minha testa.

— Algumas pessoas que se permitem convencem facilmente. — Enfatizei, não poupando meu tom ríspido. — Grande maioria daquela cidade só se resume em descriminação, riqueza e poder. 

— Eu não as culpo.

Juntei minhas sobrancelhas, fitando-o incrédula e ele não moveu nenhum músculo. Seus olhos concentrados na estrada. 

— Elas te recriminam. — Cuspi maquinalmente e ele suspirou, novamente senti o arrependimento me dominando.

— Eu não as culpo por isso também. 

Desviei meu olhar de sua figura após ver seus olhos se estreitarem, demonstrando certa inquietação e aquilo feriu o meu mais profundo. Pensar que movida por minha imprudente burrice havia o ofendido novamente. Suspirei frustrada. 

— Que idade você tinha? — A pergunta escapou por entre meus lábios antes que pudesse contê-la, uma enorme dúvida antiga vindo à tona. Senti-o me olhar e mirei-o também, me deparando com sua expressão confusa. — Que idade tinha quando seus problemas pioraram?

— Estava perto dos quinze quando tive o primeiro surto incontrolável — respirou fundo, em seguida lambeu os lábios. — e o pior de tudo, foi que aconteceu na escola. 

Senti minhas feições sendo dominada pela surpresa e olhei-o penalizada, prováveis imagens daquele acontecimento terrível tomando minha mente e meu coração pareceu diminuir, um aperto incômodo e lancinante.

— Meu Deus, Justin. — Murmurei quando finalmente reencontrei minha voz, completamente atordoada e sem saber exatamente o que dizer. — Isso é bárbaro.

Ele abafou um riso, em uma falha tentativa de descontração, mas seu olhar, vazio e amortecido, afligiu meu coração.

— Para minha sorte, Brian estava lá, o amigo que me ensinou a tocar violão. — Contou, após um suspiro forte. — Ele é sobrinho legítimo de Steve e era meu único amigo na infância, me defendeu muito enquanto as pessoas começaram a me repudiar, quando passaram a sentir medo de mim.

Sorriu pequeno e eu comprimi meus lábios.

— Todos sabiam que Steve era o cara que cuidava do menino maluco que causou o acidente dos pais e ele nunca havia ido me levar ou buscar na escola justamente para não me comprometer, para que ninguém soubesse, mas naquele dia não nos houve alternativa. — Comprimiu os lábios, forçando o aperto de seus dedos contra o volante e mais uma vez o silêncio residiu, olhei para estrada e vi-o parar por conta de um sinal vermelho. Cogitei a hipótese de dizer alguma coisa, contudo, antes que pudesse abrir minha boca, ele prosseguiu: — Não demorou para os boatos começarem a correr e então eu não quis mais sair de casa, passei semanas trancado no quarto e, de alguma forma, isso piorou ainda mais meu estado. As pessoas do colégio que chegaram a me conhecer e conviver comigo não se importaram, não acreditaram em mim e eu nunca mais os vi. E então Steve começou a me levar para Beaverton. — Ele sorriu enviesado, voltando a dar partida assim que o sinal reabriu. — No começo o Rony não queria permitir minha entrada, por eu ser menor de idade, mas Steve acabou chegando a um acordo com ele. Era apenas uma maneira de me distrair.

Abafou um riso e eu fixei nas imagens na janela, mantendo meus ouvidos atentos em suas palavras: 

— Eu não me sentia muito animado, tinha dias ótimos e semanas terríveis. Steve decidiu que era melhor aumentar as doses dos remédios, portanto, aumentamos a frequência com que íamos para Beaverton, muitas vezes nem frequentando a boate, mas, ao menos, eu podia andar sem me preocupar, pois ninguém me conhecia. — Suspirou, engolindo em seco. — Depois de um tempo ele conseguiu um professor particular, era um conhecido bem distante e foi através disso que consegui finalizar meus estudos. Viajávamos todos os finais de semana e durante a semana eu me ocupava com os estudos, Steve sempre dizia que ocupar minha cabeça era uma maneira de afastar as negatividades e que longe de negatividades eu saberia lidar melhor com minha doença. Ele sempre esteve certo. — Sorriu largo e eu esbocei um sorriso contido, o mais sincero desde que a súbita inquietação havia me dominado. — Só não fui um adolescente solitário, porque ele não permitiu, porque ele sempre me influenciou a não me deixar dominar pelas obscuridades que me cercavam. Eu não andava por Portland e quando Steve adoeceu, me senti na obrigação de fazer tudo o que estivesse ou não ao meu alcance e foi então que surgiu a ideia de ocultar minha identidade, por medo de, mesmo após tantos anos, as pessoas me reconhecerem.

Arrastei meu olhar em sua direção e ele pressionou seus lábios, soltando um suspiro após entreabri-los.

— E aí você começou a andar pela cidade com o sobretudo? — Questionei vacilante ao perceber que seu silêncio estava perdurando e, após um tempo hesitante, ele anuiu. — E eles começaram a te chamar de Creed?

— Foi um nerd bêbado que me chamou assim pela primeira vez e logo o apelido idiota se espalhou. — Disse, arqueando as sobrancelhas, demonstrando a aversão que sentia. — Mas eu não me abalava tanto, minha única preocupação era cuidar de Steve do mesmo modo que ele havia cuidado de mim, mas acabei me acostumando tanto que mesmo depois de sua morte, continuei me mantendo escondido. 

— As histórias que eles contam sobre você — comentei e pausei, arqueando minhas sobrancelhas. — são absurdas.

— Eu nunca sequestrei ninguém. — Declarou com certo divertimento e eu abafei o riso, a tensão esvaindo um pouco. — Sobre o resto, eu não tenho muito a dizer.

— Não deve se culpar se não se lembra de nada.

Ele suspirou e ficou calado, o silêncio predominando e eu respirei fundo, desviando o olhar para janela novamente. O som de uma música que eu não conhecia e a melodia era bastante agravável.

— Algo que senti muita falta na adolescência — a voz dele ressoou conquistando minha atenção, mas não o olhei. — foi da bagunça de uma sala de aula, as guerras de bolinha de papel e das implicâncias adolescentes, alguém empenhado a constantemente querer me tirar do sério. — Riu e eu ri junto, aceitando sua investida para mudar de assunto e a tensão se dissipou gradualmente. — Estudar em casa era um saco.

— A vida inteira frequentei à escola, com toda a bagunça e intriga adolescente, mas, de verdade, preferiria ter estudado em casa também.

Mirei-o e seus olhos igualmente me fitaram brevemente, intrigado.

— Por quê?

— Escola particular é um saco. — Disse, prendendo um riso e ele abafou a risada. — Sempre me senti deslocada e a Lauren foi à única razão por eu ter conseguido terminar meus estudos, porque a presença dela tornava tudo menos... insuportável.

— Ao menos estava rodeada de pessoas e eu entendo que não há como se dar bem com todo mundo, mas você parece bem associável, devia ter mais amizades que fizessem a ida à escola valer à pena. 

Ri abafadamente, analisando suas palavras e sua convicção era divertida. Principalmente ao me denominar associável, uma coisa que, na verdade, eu pouco era. Ainda mais na época da escola.

— Eu até tinha outras amizades... Mas não era nada que valesse muito à pena. — Dei de ombros e senti-o me olhando de soslaio. — Gostava mais de ficar sozinha, com meus livros.

— Pelo menos você tinha pessoas da sua idade para conversar. — Pronunciou inexpressivo. — E se isolar quando parece necessário é completamente diferente de estar sempre só, porque ninguém se interessa em estar com você.

E então me senti culpada por meu pensamento individualista, ao considerar o quanto sua declaração demonstrava que ele queria ter tido uma vida normal, contudo, não pôde – por razões cruéis –, enquanto eu, com a chance diante de mim, não soube aproveitá-la como ele gostaria que tivesse sido com ele. Analisei-o momentaneamente e ele mantinha os olhos focados na rodovia, seu semblante fatigado. Não tardou para que eu estivesse desejando tomar sua perturbação para mim, idealização mil e uma suposições de como teria sido se eu tivesse tido a oportunidade de entrar em sua vida antes. Caracteristicamente querendo solucionar todos os seus problemas e, de qualquer forma, fazê-lo acreditar que podia ter uma vida melhor. Fazê-lo acreditar que poderia ter a vida que quisesse. Tanto que, por consequência, antes que pudesse me refrear, o pensamento escapava por meus lábios, as intenções que rondavam meus pensamentos sendo independentemente proferidas:

— Se tivéssemos nos conhecido nesse tempo, eu iria gostar de ter aulas particulares com você. Faríamos muita guerra de bolinha de papel e eu faria muita bagunça, me tornando cada dia mais irritante, te tirando do sério até você não suportar mais e até mesmo o professor me odiaria. 

Quando ele riu, escandalosamente, se segurando para não pender a cabeça para trás, eu acabei rindo também. Mais discretamente. Não me permitindo sentir envergonha por ter dito aquilo em voz alta e sim, me animando por ter conseguido lhe tirar uma gargalhada sincera. Radiante.

— Engraçado como parece que você está sempre tentando consertar tudo. — Comentou alto, um sorriso preso no canto de seus lábios e seus olhos me encararam quando o mesmo teve que parar por conta de outro sinal vermelho. Um olhar perturbadoramente intenso e eu o correspondi à altura.

— Porque você merecia uma vida melhor — murmurei, desviando momentaneamente o olhar e em seguida retornando-o em sua direção —, ainda merece. 

Um sorriso amplo, semelhante ao que ele havia esboçado mais cedo, estendeu-se por seus lábios e me senti aquecer por dentro. Mesmo que ainda sentisse certa aflição devida a toda informação, ainda em processo de digestão, que havia acumulado. Não sabendo se ficava feliz por vê-lo menos melancólico naquele instante ou se ficava triste por todas as coisas que o mesmo havia me dito, imaginando o quanto a vida havia inimaginavelmente difícil para ele, durante anos, e desejando realmente poder reparar tudo. Voltando a fitar pela janela quando ele voltou a dirigir. Perdendo completamente a noção de tempo e espaço enquanto me perdia completamente em minhas intermináveis abstrações.

— Por favor, não faça isso. — Sua súbita súplica me surpreendeu e, enquanto virava meu rosto em sua direção, logo senti o desentendimento expressando-se em meu semblante. — Não fique se culpando, eu vejo o quanto você faz isso quando lhe conto algo relacionado ao meu passado e isso não me agrada — suspirou alto —, porque, nem de longe, nada disso seria culpa sua e não haveria como mudar nada.

— As situações às quais esse tempo todo você foi submetido também não me agradam. — Soprei, em seguida umedeci meus lábios.

— Acredito que faça parte da vida enfrentar situações ruins e eu já me acostumei, cada um possui um mundo diferente apesar de vivermos no mesmo planeta. — Curvou o rosto, fitando-me nos olhos brevemente, voltando à atenção para estrada depois. — Cada um tem seu próprio mundo.

— O seu me parece muito injusto — espremi minhas sobrancelhas, sentindo certa revolta por seu discurso de aceitação.

— Fala como se existisse algo profundamente bom em mim a ser salvo. — Rebateu, rindo nervoso e eu contraí meu corpo, atingida pelo desdém de suas palavras em relação a si mesmo.

— Porque realmente existe. — Enfatizei, erguendo uma sobrancelha, mantendo meu olhar minucioso em sua direção e ele mirou-me de soslaio, confuso. — Ontem, na boate do Ronald, você se mostrou completamente distinto de como voltou a ser agora. Tão diferente e espontâneo. Uma prova de que você pode sim, ter uma vida normal. De que existe um lado em você que o seu passado não destruiu, algo pelo qual você deveria lutar.

A reação após minha declaração, no entanto, deixou-me um bocado aborrecida. O riso descrente escapando por seu nariz enquanto seu olhar tornava-se opaco, expondo sua total incredulidade em suas próprias capacidades.

— De verdade, suas esperanças me comovem, mas, diferente de você, eu vejo tudo de um ângulo diferente. — Repeliu apaticamente. — Essa é apenas minha realidade.

Movi-me inquieta no assento, tentando me controlar para não pôr tudo a perder, mas sempre que ele começava com sua baixa auto-estima, desprezando a si próprio, era como se eu acabasse sendo a mais atingida. E, desta forma, persistia em diversas tentativas de fazê-lo aceitar, entender e, principalmente, acreditar na pessoa maravilhosa que era e o quanto merecia o melhor de tudo e, até mesmo, o melhor do mundo. O melhor do meu mundo. Todavia, nem sempre minhas tentativas saíam como planejadas.

— Hoje cedo você ainda continuava sendo o Justin de Beaverton — intitulei e ele moveu-se impaciente, consequentemente aumentando o aperto no volante. —, mas agora está se permitindo retornar ao que era antes e tudo o que consigo entender com isso é que a única coisa detrás da sua verdadeira realidade é que Portland não te faz bem. 

— Primeiro: não existe nenhum Justin de Beaverton. 

Desviando meu olhar de seu rosto, com uma fúria contida, para suas mãos ao volante, avistei os nós de seus dedos tomando uma coloração esbranquiçada devido ao aperto mais intenso. Contemplei-o travando a mandíbula e seus olhos se estreitaram, repensei minhas palavras e percebi o quanto as mesmas haviam soado mais duras do que eu havia imaginado antes de pronunciá-las. Mordi o lado interno da boca e ele soltou um suspiro forte, parecendo se controlar para não explodir.

— Segundo: Portland não me faz mal algum! Portland — salientou contundente —  é o meu lugar!

— Portland era o lugar dos seus pais, Justin. — Contestei impulsivamente e me arrependi assim que ouvi as palavras ecoando no veículo, mas como já que havia enfiado o pé na lama mesmo, me sujar mais um pouco não faria diferença alguma. Afinal de contas, havia muitos questionamentos que martelavam minha cabeça e se eu queria descobri-los, quem sabe aquele fosse o momento. — Por que não seguiu em frente e foi atrás de algo melhor para você? Independente de qualquer coisa, aposto que seus pais não se agradariam ao vê-lo definhando dessa maneira. — Prossegui, tentando soar menos ofensiva possível. — Você deveria ter tentando ser diferente...

— Acontece que eu não sou diferente, porra! — Bradou, batendo forte contra o volante e eu me encolhi, meus olhos se arregalando apressadamente. — Eu sou o que sou! Apenas o Justin problemático de Portland e aprendi a lidar com isso, aprendi a viver assim!

Soltei o ar preso de uma só vez e engoli em seco, sentindo meus olhos esquentando e me concertei no banco carona, mantendo meu corpo ereto e meu olhar no asfalto que passava incessantemente. Assustada demais para dizer mais qualquer coisa e um pouco arrependida por ter passado dos limites, aliás, eu sabia o quanto falar sobre os pais do Justin era um terreno perigoso, um campo minado, e, mesmo assim, fui estúpida ao ponto de sair falando tudo o que me vinha à cabeça. Movida por minha imbecilidade, por minha necessidade de sempre provar que estava certa e por mais que ainda acreditasse estar, não seria obrigando-o de forma desumana que o faria entender qualquer coisa. 

— Mas que droga, Savannah. — Ele voltou a dizer após cruéis minutos em total silêncio e só então percebi que o rádio não tocava mais. — Não era para nada disso ter acontecido.

— Eu só estava tentando entender — minha voz saiu esganiçada e eu tentei disfarçadamente limpar minha garganta, engolindo o nó preso em minha garganta. —, querendo ajudar. — Finalizei em um sussurro e ele respirou intensamente.

— Você não tem que entender nada e esse tipo de assunto não vai ajudar — rebateu ríspido e automaticamente encolhi meus ombros, me sentindo como uma criancinha que acabara de levar uma bronca dos pais e que sabia que havia pisado na bola. —, então — senti o contraste em sua voz, tornando-se mais suave enquanto ele parava no semáforo fechado. —, por favor, não toca mais nesse assunto. 

Sem ao menos olhá-lo, apenas anuí e senti seu olhar pesando em mim durante todo o tempo em que passamos esperando o sinal abrir. Evitei olhá-lo durante o resto da viagem, analisando as ruas já conhecidas de Portland, quando finalmente chegamos, pela janela e, dentro do carro, nossas respirações eram tudo o que se dava para ouvir. Vez ou outra o Justin suspirava demonstrando certo incômodo, mas eu havia adotado um voto de silêncio. Que só não perdurou mais porque lembrei que Lauren havia me dito para encontrá-la assim que voltasse para Portland.

Fitei o relógio, que marcava seis horas da tarde, em ponto.    

— Pode me deixar na lanchonete do James, Lauren mandou uma mensagem pedindo para eu passar lá quando voltasse. — Menti e me lembrei de meu celular com a bateria morta jogado dentro da mochila, imaginando o quanto Lauren deveria ter me ligado e já me preparando psicologicamente para os seus sermões.

Ele somente assentiu e eu voltei a olhar pela janela, tão desligada que demorei a notar quando tínhamos chegado até o local, percebendo apenas quando ouvi o barulho da porta ao lado batendo e, balançando vagamente minha cabeça, também saí do carro.

— Vou te esperar na casa do Nolan, passe lá quando quiser ir embora. — Avisou distante, iniciando os passos até a Green's Grocery Store e eu respirei fundo, olhando-o momentaneamente enquanto ele nem sequer olhou para trás. 

Após um suspiro resignado, e afastando os pensamentos, comecei a caminhar até a Jimmy Snackbar's. Fitando as sapatilhas em meus pés e com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, meus cabelos esvoaçando com o vento gelado e logo o barulho das conversas intensas dentro do estabelecimento se fizeram presentes. O movimento era sempre mais intenso àquele horário.  

— Savannah! — Hannah gritou no momento em que atravessei pela porta e logo seus braços estavam me envolvendo fortemente, pegando-me de surpresa e eu abafei o riso. — Está tudo bem? Você está inteira? — Perguntou, se afastando e analisando-me freneticamente. Arqueei uma sobrancelha.

— Por que eu não estaria inteira? — Questionei, expondo minha confusão.

— Porque segundo seu namorado ou ex-namorado, não entendi isso muito bem ainda, você foi sequestrada por um lunático. — James surgiu ao nosso lado e eu fitei-o, perplexa com o que havia acabado de escutar.

Ao finalmente compreender, rapidamente iniciei uma sessão de xingamentos à Jonah e, definitivamente, seria bom ele não aparecer tão cedo em minha frente ou eu a seria a próxima a lhe dar umas boas porradas.

— Aquele filho de uma... — parei no momento em que ouvi meu nome completo ser proferido e, logo atrás de James, encontrei o olhar furioso de Lauren já me acusando. — Por favor, não atire antes de perguntar.

Sorri amarelo e ela se manteve impassível, obrigando-me a encolher os ombros.

— Vou tirar meu descanso. — Avisou, olhando para James, que rapidamente confirmou, e em seguida me lançou um olhar momentâneo, fazendo sinal com a cabeça para que eu a seguisse enquanto caminhava na frente.

— Boa sorte. — Hannah desejou, prendendo o riso e eu adotei uma falsa expressão desesperada. 

Jimmy riu e logo eu estava seguindo Lauren, que se sentou, de costas para mim, em uma mesa bem afastada e onde ninguém pudesse ficar nos bisbilhotando. Apressei o passo, dando a volta  na mesa, me sentando na cadeira em sua frente e encarei-a, seus olhos fixos na superfície de madeira ao meio. Olhei por sobre seus ombros e vi Lizzie atendendo uma mesa, Hannah limpando outra do outro lado e o James não estava mais em meu campo de visão, provavelmente havia retornado para trás do balcão. Respirei densamente.

— Primeiro, posso saber por que não atendeu minhas ligações e não respondeu minhas mensagens? — Indagou, ainda sem me olhar.

— Meu celular descarregou e me esqueci de levar o carregador pra viagem. — Inventei a mentira mais deslavada e ela olhou-me duvidosa. — Estou falando sério Lauren, estou uma bagunça completa. 

Suspirei e ela suavizou momentaneamente a expressão, retornando para a seriedade segundos depois.

— Eu poderia começar disparando centenas de ofensas ou até mesmo subir nessa mesa e te estrangular na frente de todas essas pessoas... — me sobressaltei com suas palavras, tom sombrio e seus olhos estreitos.

No segundo seguinte, no entanto, a imbecil estava rindo descontroladamente e, compreendo sua reação, eu quis matá-la, respirando profundamente e me permitindo rir um pouco.

— Como você é babaca, cara. Eu já estava começando a achar que seu amor por Dexter estava te influenciando a se tornar uma serial-killer.

— Você até deveria sentir o peso da minha fúria e ser minha primeira vítima — disse estufando o peito e eu ri debochadamente, ela rolou os olhos. —, mas tudo o que tenho a dizer é que estou aliviada por te ver aqui. Inteira. Mas me conta logo, onde vocês estavam?

— Beaverton. — Respondi prontamente e ela me olhou incrédula.

— Pelas coisas que eu soube, pensei que ele tivesse te enfiado em um avião e levado para fora do país.

Riu alto e eu abafei a risada, balançando minha cabeça negativamente.

— Antes de tudo, quero deixar bem claro que na próxima vez que me ligar chorando daquela maneira, quando nos encontrarmos eu vou arrebentar a sua cara! Então, para o seu bem, espero que não haja uma próxima vez. — Cuspiu irritadiça e eu ri nasalmente. — Foi maldade demais Savannah, eu mal consegui dormir e no outro dia o Jonah surgiu aqui todo desesperado falando que você tinha desaparecido...

— Eu sei — suspirei —, me desculpe Laurie. — Pedi encabulada e ela abanou com a cabeça, anuindo. 

— Agora começa me contando como você chegou à conclusão de estar apaixonada pelo Justin, porque não engoli aquela história de que tinha menos de vinte e quatro horas que você descobriu.

Estreitou os olhos, desconfiada e eu ri nasalmente, sentindo-me subitamente inquieta. 

— Eu disse que tinha menos de vinte e quatros horas que havia assumido para mim mesma e não que havia descoberto. — Protestei franzindo a testa e ela abanou com a mão.

— Tanto faz Savannah. Pula a enrolação.

Respirei fundo, me preparando para admitir em voz alta o que tanto perturbava meus pensamentos e Lauren esperou inquietamente.

— Já tem um tempo que eu andava sentindo umas coisas estranhas, sabe? — Comecei, passando a mexer freneticamente em meus dedos. — Quando eu conheci o Justin, fiquei muito surpresa ao descobrir que ele era um cara normal — fiz aspas — sem aquele sobretudo, e acho que a surpresa influenciou bastante. E depois vieram minhas tentativas de juntar ele com a Melanie e eu sentia tanta raiva disso. — Ri nervosamente, evitando olhar muito para Lauren e acabar hesitando por alguma reação sua. — Como se eu tivesse dando algo de extrema importância, e que me pertencia, para alguém que não merecia.

Respirei profundamente, tentando me recompor ao sentir lágrimas dominando meus olhos e pude ouvir a Lauren suspirar.

— Não fazia sentido algum. — Soltei um riso nasal de total desespero. — Eu sentia milhares de coisas quando estávamos juntos e quando eu o ouvia falando dela, quando eu os vi juntos pela primeira vez, foi como se tivessem enfiado uma faca em meu peito. — Levei meus olhos lacrimejados na direção dos da minha melhor amiga e pude ver minha tristeza espelhada em seu semblante. — Eu fiquei fugindo Lauren, tentando acreditar que era algo passageiro e foi quando o Jonah apareceu que eu percebi que estava mais do que encrencada em relação ao Justin. — Limpei rapidamente uma lágrima que escorreu, forçando um sorriso depois. — Sempre existiu uma coisa estranha entre mim e Jonah, sempre que nos encontrávamos acabávamos nos beijando sem nem perceber, o desejo falava mais alto, e dessa eu não senti absolutamente nada. Eu só conseguia pensar no Justin e o tempo todo enganando a mim mesma, fazendo de tudo para superar algo que no fundo, eu sabia que era muito mais do que eu imaginava.

Calei-me, sentindo a necessidade de chorar me dominando – ainda mais forte ao me lembrar da briga que eu e Justin havíamos tido –, mas me contive, a reprimindo forte e dolorosamente. 

— E, depois de toda a fuga, caiu a ficha de que era paixão? — Lauren questionou após um breve momento em silêncio e eu assenti veemente, soltando um muxoxo. 

— Tão forte que pareceu um meteoro caindo na minha cabeça. — Respirei fundo. — Eu deveria saber que coração acelerado, pernas bambas e borboletas no estomago não são um bom sinal.

Ela riu contidamente e acabei acompanhando-a.

“Mas que idiotice, Lauren. Você sabe muito bem que não sou como essas garotinhas idiotas que saem se apaixonando por qualquer cara bonito que vê pela frente.”

Não pude conter um riso ao ouvir aquela tentativa frustrada de imitar minha voz e me inclinei sobre a mesa, bagunçando o cabelo de Lauren que ria escandalosamente.

— Babaca. — Chiei, com falsa ofensa e ela riu ainda mais. — Eu aqui desabafando sobre minha situação caótica e você vem com suas infantilidades.

— Ah, sem essa Savannah! — Rebateu, me fitando entediada. — Só quis descontrair o clima de enterro, porque, sejamos sinceras, entendo o quanto se apaixonar sozinha é ruim e você sabe que eu sei. — Apontou para trás e eu ri. Mesmo que James não estivesse ali, sabia que ela estava querendo sinalizá-lo. — Mas ficar choramingando não vai resolver nada, só vai deixar sua aparência horrível!

Abafei o riso e ela me sorriu em incentivo.

— Você sabe o que penso sobre o Justin e sobre você morar com ele — disse, torcendo os lábios e eu assenti lentamente. —, mas não tem muito que eu possa dizer. — Respirou fundo. — Para ser sincera, durante um tempo fiquei com o pé atrás com o jeito que você sempre me falava dele e com como você me pareceu distante quando ele começou a sair com aquela garota... — torci meus lábios e ela suspirou. — E então o Jonah apareceu e eu te vi mais animada, por isso o pensamento sumiu e quando você ligou chorando, assumindo daquela maneira desoladora que estava apaixonada pelo Justin, eu fiquei sem saber o que fazer. — Riu nervosamente, meneando com a cabeça. — Estou sem saber o que fazer até agora e, através das minhas experiências, só consigo pensar no quanto deve estar sendo difícil, porque eu realmente sei o quão péssimo é gostar de quem não gosta da gente. 

Anuí, ingerindo sua declaração, e o silêncio habitou por alguns instantes. 

— Já chegou a passar pela sua cabeça a ideia de assumir seus sentimentos para ele? — Ela questionou claramente curiosa e, sem hesitar, anuí. 

— Mas ao mesmo tempo em que me sinto confiante, tenho tanto medo.

— Eu entendo perfeitamente e você tem que fazer o que julgar melhor, seguir seu coração mesmo que isso pareça uma total insanidade. — Aconselhou e eu sorri abertamente. — E se não der certo estarei aqui para te ajudar a juntar cada pedacinho do seu coração.

— Até o último pedaço? — Questionei manhosa e ela riu nasalmente.

— Até o último pedaço. — Repetiu.

Um sorriso grande cresceu em meus lábios e antes que pudesse prever já estava ajoelhada ao lado da Lauren, abraçando-a fortemente e recebendo um cafuné gostoso em meus cabelos. Sentindo um peso enorme saindo de cima de mim e percebendo o quanto aquilo era exatamente o que eu precisava, o que precisei durante todo aquele tempo que estive longe. Conselhos da minha querida melhor amiga, que tipicamente sabia muito bem como aconselhar, mas não sabia utilizar os próprios conselhos. Receber seu abraço e sentir seu perfume floral que me fazia lembrar nossa infância, que fazia com que eu me sentisse em paz e em segurança. Porque eu tinha plena consciência de que se um dia perdesse tudo, Lauren seria a única que permaneceria e que, realmente, me ajudaria a catar meus caquinhos até me reconstruir novamente. 

— Você é a melhor! — Murmurei, apertando-a ainda mais e ela riu.

— Você sabe que pode sempre contar comigo, não importa o que aconteça.

Nos afastamos um tempo depois e sorrimos ao mesmo tempo. Ela depositou um beijo em minha testa e em seguida bateu palminhas, forçando animação, esboçando um sorriso inclinado.

— Agora que tal você me contar o que realmente aconteceu, porque não botei muita fé na história do Jonah.

Depois de rolar os olhos, contei o que aconteceu na casa de veraneio dos pais da Melanie e, diante de cada parte que eu lhe dizia, acharia cômicas as reações dela se não estivesse tão tensa por estar relembrando um dos dias mais infernais que havia enfrentado. Quando cheguei à parte de Beaverton meu ânimo se revigorou e ela animou-se também, rindo descontroladamente quando contei que o Justin tinha me levado em uma boate e adotando uma carinha encantadora quando falei o quanto ele havia agido completamente diferente, ainda mais apaixonante. Esclarecendo detalhadamente o que julguei necessário dizer enquanto outras coisas acabaram sendo descartas, pois parecia inadequado. Timidamente ocultando o fato da ereção matinal, mas lhe contando sobre termos dormido juntos.

— Nossa Savannah... Nossa! — Disse após um tempo fitando-me perplexa, completamente boquiaberta e eu abafei um riso, desconcertada. — Quanta coisa pra um fim de semana só! Daria pra escrever um livro!

Liberei o riso e ela respirou fundo, provavelmente considerando as informações.

— Olha, me sinto penalizada pelo Justin, mas, sério, mesmo antes de saber que você estava caidinha por ele, eu já não achava que a Melanie era uma boa escolha. — Lauren comentou, franzindo a testa. — Teve um tempo que ela vivia frequentando a lanchonete com uma garota ruiva e eu sempre achei ela certinha demais, expondo completamente que era o tipo influenciado pelos padrões da cidade e mesmo não tendo cem por cento de confiança nele, tenho que admitir que ela pegou pesado.  

Torceu os lábios e eu concordei com um aceno de cabeça. Ficou me analisando momentaneamente, parecendo avaliar mais partes do que eu lhe disse para fazer comentários e eu esperei paciente.

— A briga do Justin com o Jonah me surpreendeu bastante. — Soprou, arqueando uma sobrancelha e em seguida riu. — Eu tirei muitas conclusões, mas sinceramente, não estou a fim de te ver iludida, porque óbvio que podemos imaginar que ele fez isso por ciúmes ou por talvez sentir algo a mais por você, e ele sente, talvez não semelhante, mas existe a amizade... — Disparou e abafei o riso, divertindo-me com sua atrapalhação e espantada com a seriedade de suas análises. — Pode ter sido um descontrole por um motivo qualquer e aconteceu depois do término dele com a Melanie, o que também pode significar que ele só estivesse querendo descontar a frustração em alguém. — Pausou, coçando o queixo. — Pelas coisas que você já me falou do Justin, ele é muito imprevisível. Do tipo que você não pode se iludir, mas também não deve duvidar.

— Uau Lauren. — Proferi atônita, rindo em seguida e ela rolou os olhos. 

— Por favor, fica quietinha que ainda não terminei.

Ergui minhas mãos em rendimento e, após um riso contido, me calei. Enquanto ela retomou suas feições meditavas. 

— Sobre ele ter tentado te beijar, acho melhor você tomar cuidado. — Articulou cautelosamente. — Porque para você pode significar muita coisa, mas para ele... — pausou, adotando uma expressão pensativa. — pode não ter o mesmo significado. — Gesticulou com as mãos e eu assenti em entendimento, certo descontentamento me dominando. — Você é bonita e aposto que ele não é cego. — Riu e eu tentei fazer o mesmo, não obtendo muito sucesso. — E com toda essa confusão ele pode acabar confundindo as coisas, então, para o seu bem, é melhor não se submeter precipitadamente, porque as consequências iram atingir você e não ele.

Mesmo a contragosto, assenti e forcei-me a concordar com ela. Afinal de contas, sua declaração havia feito completo sentido para o meu lado coerente e então, daquela vez, fiz de tudo para a outra parte de mim – que duvidava de tudo que negasse uma provável futura reciprocidade do meu sentimento – se render ao óbvio. Uma vez que, uma pessoa vulnerável geralmente saía disparando impulsividades e eu era a maior demonstração daquilo. E reconhecia as incertezas e os perigos que me cercavam quando o assunto era Justin Bieber e sua proximidade. O que significava que se eu não quisesse sair de uma ruim para entrar numa pior, teria que ser prudente.

— E pra finalizar — parou, fazendo suspense. —, pelo amor de Deus, nunca mais fuja com um lunático! — Disse e em seguida riu alto, praticamente se contorcendo e eu adotei uma carranca.

— Se você fizesse o favor de utilizar seus desejos homicidas com o Jonah eu te apoiaria totalmente. Até ajudava a esconder o corpo.

 Lauren riu ainda mais alto e eu bufei, rolando os olhos.

— Você tinha que ter visto! — Ela praticamente gritou e eu a repreendi com o olhar, então ela pareceu se lembrar que estava em um lugar público. — Ele apareceu aqui todo nervoso, falando um monte de coisa sem sentido e ainda bem que consegui convencê-lo a conversar comigo lá fora ou então todo mundo ia ficar sabendo de tudo.

— O que vocês conversaram? — Perguntei, começando a mexer em minhas unhas e aquela atitude era típica de quando eu estava preocupada, nervosa. 

— Foram tantas coisas — suspirou fundo —, pareceu mais uma sessão de terapia. — Falou, comprimindo os lábios, um olhar penalizado. — Era de cortar o coração.

— Aposto que sim — rebati, torcendo meus lábios —, foi tudo muito precipitado e complexo.

— Dá pra ver que ele gosta mesmo de você e no começo até achei fofa a preocupação dele, implorando pra eu explicar como fazia para chegar à casa do Justin, porque queria saber se você estava bem.

Senti o coração diminuir em meu peito e certa culpa me incomodou, no entanto, ainda estava chateada por ele ter surtado daquela maneira desnecessária.

— Mas ele tem uma dificuldade de aceitação que tira do sério, uma hora diz uma coisa e depois se contradiz. — Ela riu nasalmente e senti meu rosto sendo dominado por tristeza e comoção. — Estava bastante perturbado. 

— Ai, Lauren... — respirei fundo. — Me sinto tão culpada.

— Não se sinta Sav. — Contestou rapidamente. — Vocês não tinham nada além da amizade, e independente do que aconteceu no passado e do beijo que você deu nele, nada disso significa que ele é seu dono e muito menos que você tem que manter fidelidade a ele.

— Pela amizade que a gente tem, ou que tínhamos — pausei pensativa, sentindo meu peito apertar. —, acho que eu deveria ter sido direta com ele.

— Por esse lado, até concordo.

— O que mais ele disse?

— Nada. — Desviou o olhar e logo estreitei minhas sobrancelhas, aliás, Lauren sempre fora uma péssima mentirosa.

— Laurence Victoria Edwards. — Ralhei, com falsa seriedade e a expressão revoltada que se alastrou no rosto dela fora impagável. 

Mantive minha pose enquanto ela parecia, realmente, querer me estrangular. Tudo bem, eu sabia o quanto ela odiava que a chamasse pelo nome completo, principalmente, de Laurence, porque era o Harry que costumava chamá-la assim – quando tentava burlar as broncas dela – e, mesmo não achando certo brincar com ela daquela maneira, irritá-la era uma tarefa que eu, como sua melhor amiga, havia nascido para cumprir constantemente.

— Mas que caralho Savannah, já te pedi milhares de vezes pra não me chamar desse jeito!

Enrugou a testa e eu prendi um riso.

— Não te chamar como, Laurence? — Provoquei e ela trincou os dentes.

— Pára com isso. — Disse entre dentes, visivelmente controlando-se para não gritar. — Você sabe que eu detesto.

— Mas é o seu nome. 

— Mas eu não gosto, porra. Agora pára de provocação ou não vou te contar o que o Jonah me disse.

— Opa, parei. Parei! — Falei animada, sorrindo largamente e ela me mostrou o dedo médio. Gargalhei e ela continuou emburrada. — Conta logo, Lauren.

Fiz bico e ela bufou, rolando os olhos.

— Nesse seu estado era melhor nem saber, mas já que insiste... Utilizando as palavras dele: — ela disse e ficou momentaneamente hesitante. — “Estou cansado de ser o passatempo dela. Nunca vou entender por que ela vive se doando tanto para quem pouco se importa enquanto eu vivo tentando dar tudo de mim para conseguir qualquer vestígio de atenção e o que recebo em troca é uma descoberta perturbadora dessas.” — Finalizou e eu senti a culpa atingindo-me fundo, me movendo inquieta na cadeira. — Ele deixou seu carro aqui, a chave está com o James.

— Ele deixou meu carro? Está inteiro? — Indaguei eufórica e ela riu. 

— Sim, eu dei uma checada e está tudo no lugar. — Respirei aliviada.

— Você acha que eu deveria tentar falar com ele? 

— Com o seu carro? — Juntou as sobrancelhas e eu gargalhei.

— Não sua anta, com o Jonah. — Sua expressão de entendimento me fez rir outra vez. — Acha que eu deveria tentar falar com ele?

— Eu, particularmente, acho que sim — começou cautelosamente e eu assenti —, mas pelo jeito como ele ficou, duvido que esteja querendo ver você tão cedo.  

Respirei profundamente, erguendo as mãos até meus cabelos e embrenhando meus dedos entre os fios, grudando minha testa na madeira fria da mesa. 

— Primeiro a briga desnecessária com o Justin e agora essa culpa imensa por ter magoado a última pessoa que merecia esse tipo de sofrimento, porque, honestamente, o Jonah sempre foi ótimo comigo. — Admiti, pouco me importando, erguendo meu rosto até encarar a Lauren, que me olhava compreensiva. — E quer saber? Eu até mesmo concordo com ele, seria cômica se não fosse tão trágica a maneira como eu sempre sou uma completa otária, como eu sempre acabo entregando tudo de mim para as pessoas erradas.

— Sav, não precisa falar assim também. — Ela pediu, inclinando-se. — Essas coisas são incontroláveis, não dá pra escolher de quem gostar. 

— Eu sei Laurie. — Sussurrei, suspirando consternada.

— Que história é essa que você e o Justin brigaram? — Indagou e eu suspirei outra vez, recordando nossa briga e um forte aperto sufocou meu peito.

— Culpa da minha incapacidade de medir as palavras. — Expus, murchando ainda mais a expressão, jogando meus braços em cima da mesa e ela logo alcançou minha mão. Apertando-a e sorrindo complacente. 

Contei-lhe o que havia acontecido, sem ocultar nada, para que ela entendesse e fosse capaz de julgar melhor, e a mesma se manteve calada. Atenta em cada mínimo detalhe.

— Eu deveria entender que lidar com o Justin é como estar constantemente pisando em cascas de ovos, mas você sabe como eu sou — suspirei frustrada. —, não consigo calar a droga da minha boca até estragar tudo. 

— Calma Savannah. — Ela rebateu, tocando meu braço. — Não precisa ser tão dura consigo mesma, você só está entupida de perturbações e dúvidas. Isso acaba deixando qualquer um impulsivo. 

Respirei fundo, apoiando meu queixo sobre a mão livre e ela deu um leve aperto em minha mão que ainda segurava a sua.

— Já tentou pedir desculpas?

— Fiquei assustada com a reação dele e achei melhor esperar a poeira abaixar, porque até o momento em que me deixou aqui, ele ainda parecia bastante irritado.

— Você precisa tomar cuidado, Savannah. — Lembrou-me, demonstrando sua preocupação e eu anuí. — Procure não ficar o tirando do sério, porque, querendo ou não, pode ser perigoso. 

— É, sei disso. — Sussurrei, lembrando-me de como ele havia ficado e senti certa insegurança.

— Vamos mudar de assunto, porque tenho algo maravilhoso para contar. — Disparou entusiasmada e eu sorri pequeno.

Logo estávamos conversando euforicamente enquanto ela contava que o James havia, enfim, conseguido concluir a compra da lanchonete e que estava pensando em fazer uma social no local, com as pessoas mais próximas, para comemorar. Fiquei tão feliz com a notícia que momentaneamente me esqueci de tudo, entrando em assuntos diversos com Lauren, que parecia querer me distrair e estava obtendo total sucesso. Tirando-me sinceras gargalhas e eu já sentia o peso dos problemas consideravelmente saindo das minhas costas. Um alívio momentâneo para toda tensão que eu sabia que ia sentir quando eu o Justin nos encontrássemos.

Justin’s Point of View

Minha cabeça estava uma pilha de nervos quando bati na porta do estúdio de Nolan, ouvindo abafadamente o som de alguma música que tocava lá dentro, mas logo pude ouvi-lo me avisar para entrar. Hesitei alguns segundos, repensando se deveria ou não fazer aquilo, se era certo dar um passo tão grande daqueles e se, principalmente, era certo procurar aquele tipo de ajuda com o Nolan. Mas eu precisava conversar com alguém que me ajudasse a construir uma estrutura suficiente para seguir em frente com o plano insensato que não havia abandado minha mente um segundo sequer desde o dia em que admiti, para mim e até mesmo para ela, que a Savannah era a melhor parte que eu tinha.

Após reconsiderar o que estava prestes a fazer, percebi que não me havia muitas alternativas e, afastando todos os pensamentos e me forçando a dispersar aquela momentânea covardia, girei a maçaneta. Ao entrar me deparei com o Nolan, completamente concentrado, mexendo em uma máquina de tatuagem e, quando seus olhos vieram em minha direção, mais uma vez me peguei pensando em desistir.

— E aí, cara. — Cumprimentou-me, voltando à atenção para o que estava fazendo logo depois.

— E aí. — Murmurei receoso e pigarreei, procurando soar menos nervoso.

— Como foi à viagem?

Olhou-me brevemente e eu coloquei as mãos nos bolsos da calça, um suspiro impaciente soando mais alto do que eu havia previsto. Em seguida, soltei um muxoxo.

— Ah, qual é? O que aconteceu? Você parece péssimo.

— Não consigo tirar ela da minha cabeça. — Pronunciei, decidido a ir direto ao assunto, pois não queria relembrar tudo de ruim que havia acontecido naquela viagem.

As sobrancelhas do Nolan se arquearam em confusão, logo ele largou o que estava fazendo e se concentrou completamente em mim.

— Está falando da Melanie? — Perguntou e eu umedeci meus lábios, apertando minhas mãos em punhos dentro dos bolsos.

— Não. — Soprei em um fio de voz e ele me olhou confuso, em seguida desconfiado.

“É agora ou nunca”, pensei deliberado.

— Green — pausei, tomando a coragem necessária para admitir aquilo em voz alta. —, acho que estou apaixonado pela Savannah. — Disparei e senti a inquietação aumentar ao ver o Nolan me encarando completamente surpreso.

“Agora não tem mais volta.”, meu inconsciente evidenciou.


Notas Finais


Oi meninas, como vcs estão? Estou bem, apesar da minha mãe ter quebrado o braço e eu ter que me desdobrar pra ajudar ela, já que somos só nos duas de mulheres em casa e a situação ficou bem crítica lol. Mas enfim, tive certa dificuldade para descrever o capitulo, mesmo com ele preso na minha cabeça, porque tive pouco tempo livre pra sentar e escrever sem ser perturbado, mas olhem só, finalmente está aí! Uhul! Savannah ja assumiu e agora o Justin ta assumindo, o namorinho ja era... Vcs acham q mais alguma coisa vai empatar esses dois? Hmmmm, eu ja to tocando em Javannah e vcs? ADKAHS. Espero que gostem e SE PREPAREM! Vou tentar não demorar muito pra postar o próximo, mas com toda essa bagunça, não vou prometer nada. É isso aí garotada, vou parar por aqui, porque eu já to praticamente dormindo em cima do teclado. Como sempre, obrigado pelos comentários e pelos favs, vcs são demais. Milhões de beijos e até mais. ♥


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