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História Paranoid - Recuperando o tempo perdido.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Boa leitura galero! ^-^

Capítulo 27 - Recuperando o tempo perdido.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Recuperando o tempo perdido.

— Tem certeza que seus pais não vão se importar? — Perguntei receoso e ela negou com a cabeça. 

— Relaxa! Eles estão viajando. — Repetiu, inclinando-se para depositar um beijo em meu pescoço e mecanicamente apertei o volante. — A casa é toda nossa. 

O sorriso sacana em seus lábios destruiu qualquer tentativa de raciocínio lógico e assim que estacionei em frente a sua casa, ela arrastou-me apressadamente para dentro e, ao passarmos pela porta, me impedindo de tentar dizer qualquer outra coisa, seus lábios me calaram. 

Hesitei no primeiro momento, não sabendo exatamente o que fazer devido ao fato de fazer certo tempo desde a última vez que havia tocado uma garota e me sentia imbecilmente nervoso, entretanto, afastando rapidamente os pensamentos, correspondi seu beijo à altura. Tentando atravessar o hall de entrada sem que acabássemos tropeçando e indo de encontro ao chão, empurrando-a, por alguns instantes, contra a parede mais próxima, dando mais intensidade ao beijo. Nossas línguas batalhando por controle enquanto suas mãos bagunçavam meu cabelo, descendo e se infiltrando em minha camiseta com uma velocidade imprevista, pegando-me totalmente de surpresa e acabei arfando, meu abdômen se contraindo inconscientemente e ela riu entre o beijo. Em seguida, tornou a pressão dos nossos lábios violenta. Mais urgente. 

Em passos cambaleantes, entre uma carícia e outra, conseguimos chegar até a sala e ela me jogou no sofá, sorrindo provocante enquanto tirava lentamente seu vestido e ficava apenas com um conjunto preto de calcinha e sutiã rendados. Obrigando-me a sorrir feito um tolo com a visão de seu corpo e, antes que eu pudesse babar por muito tempo, logo se sentou sobre mim, voltando a devorar meus lábios enquanto minhas mãos passeavam ousadamente por sua cintura fina, acariciando seus seios sob a delicada peça íntima e o gemido que escapou por seus lábios deixou-me ensandecido. Apalpei-a com mais pressão e ela arqueou as costas, seu olhar semicerrado vindo em direção ao meu e a imagem seguinte fez um sorriso inconsequente nascer no canto dos meus lábios, a respiração escapando rapidamente por entre os mesmos, seguida por fortes palpitações. Um sorriso largo aparecendo nos lábios da Savannah e eu contemplei-o, puxando-a para mais perto e beijando-a com uma intensidade absurda. Encerrando o contato quando a falta de ar tornou-se insuportável e acariciei sua bochecha, admirando sua beleza, as imperceptíveis sardas em seu nariz e nas maças de suas bochechas, seus irresistíveis lábios avermelhados e seus enormes orbes castanhos me fitando minuciosamente. Senti minha boca secando em excitação e umedeci meus lábios, toquei os seus com as pontas dos meus dedos e a Savannah sorriu. 

A Melanie sorriu. 

A Melanie. 

Paralisei e seus olhos verdes me encararam confusos, minhas mãos se afastando de seu corpo, como se o contato houvesse se tornado incômodo, e eu engoli em seco. Segundos depois fiz impulso para levantar e, bastante confusa, ela saiu do meu colo, se sentando ao meu lado enquanto me sentei corretamente, levando minhas mãos até meus cabelos, escondendo meu rosto e fechando fortemente meus olhos. Pude ouvir sua voz soando abafada, fazendo questionamentos que, no momento, eu não saberia – e muito menos queria – responder, pois estava perturbado. Chocado. Completamente incapaz de acreditar que aquilo havia mesmo acabado de acontecer. Que eu havia acabado de imaginar a Savannah no lugar da Melanie e, pior, que aquilo havia me enlouquecido. Havia me feito sentir um desejo imensuravelmente devastador, um sentimento que se esvaiu totalmente quando meus olhos enxergaram quem realmente estava ali. Não era a Savannah, não era ela, pensei frustrado, puxando com força os fios de cabelo presos entre meus dedos. Meu coração batendo em cada membro do meu corpo e minha respiração desenfreada, pensamentos desordenados martelando minha cabeça e a sensação só piorava. 

Tornando-se ainda mais dolorosa quando senti um toque em meu ombro, meu nome sendo sussurrado e instantaneamente olhei em sua direção, petrificando ao me deparar com a Savannah e seus olhos indecifráveis me fitando outra vez. Deixando-me ser guiado quando a mesma se deitou, sorrindo singelamente, me puxando para cima de si e enlaçando minha cintura com suas pernas. Depositou um beijo em meu queixo e eu vacilei. Acariciou meus cabelos e minha orelha, avançando com sua delicada mão até o meu rosto e facilmente me rendi. Uma paz inexplicável se alastrando em meu peito. 

— Toca em mim, Justin. — Sua voz tipicamente rouca e suave suplicou, e, me permitindo ceder ao insano delírio de ter a Savannah ali, beijei-a fervorosamente. 

Desde que havia me entregado uma cadeira, pedindo-me para sentar em sua frente e me explicar melhor, Nolan se manteve quieto. Apenas escutando e, vez ou outra assentindo, tudo o que eu lhe dizia. O que, confesso, me deixava inteiramente apreensivo, mas ao mesmo tempo confortável. Contei sobre meu término com a Melanie, sobre ter tirado a Savannah bêbada de Seattle no meio da noite e tê-la levado para Beaverton com o intuito de salvar nosso fim de semana catastrófico – o que não adiantou muito depois da briga que tivéssemos no carro, fato que eu preferi não contar para ele –, esclarecendo todos os fatos que pareciam necessários a serem ditos, para que ele pudesse compreender meu objetivo, e quando, enfim, terminei, ele ficou temporariamente calado. Seus olhos fixos em algum ponto invisível no chão.  

— Uol — suspirei aliviado ao finalmente ouvi-lo dizer alguma coisa —, eu nem sei o que dizer. — Sorriu nervoso e eu acabei mecanicamente repetindo seu gesto. — Isso é muito louco. 

Respirei fundo, bagunçando meus cabelos. 

— Sua situação é pior do que eu imaginava. — Nolan praticamente gritou e eu inclinei meus lábios. 

— E essa foi apenas uma das diversas vezes que passei por isso — murmurei e ele me olhava perplexo —, vendo a Savannah em cada canto, em cada rosto, pensando nela o tempo todo... 

Suspirei resignado. 

— E ter me afastado só pareceu piorar. Não tinha nada a ver com estar na presença dela, porque, até então, ela já estava presa aqui — sinalizei minha cabeça. — e eu não conseguia tirá-la. E isso me perturbava. Ainda me perturba. 

O silêncio se instalou momentaneamente. 

— E agora que acabou com a Melanie você ‘tá pensando em arriscar com a Savannah? — Averiguou e eu hesitei por alguns instantes, assentindo veemente tempo depois. 

— Estive pensando nisso durante esse tempo em que ficamos fora, principalmente quando ficamos sozinhos. — Confessei e ele anuiu absorto. 

— Se sente pronto para isso? — Arqueei uma sobrancelha e ele prosseguiu: — Se sente pronto para se declarar pra ela? 

Sem pensar muito afirmei com um simples aceno de cabeça e ele assentiu outra vez, ainda pensativo. 

— E você sabe que isso pode não dar certo, né? Ou você já percebeu algum interesse partindo dela? 

— Claro que sei. — Respondi após um suspiro longo. — E eu não sei, a Savannah é um enigma para mim. Às vezes parece que existe algo, mas, em um piscar de olhos, parece não existir chance alguma. 

— É... — pausou, torcendo os lábios — Acredito que ela seja bastante fechada para relacionamentos e, depois do que o Andrew fez, eu não a culpo. — Suspirou pesaroso. 

Rapidamente senti o sangue fervendo em minhas veias ao me lembrar de quando ela me disse o que o imbecil do ex-namorado havia feito e o rancor, e tristeza, presente em suas palavras havia me atingido. Assim como havia me feito agir impulsivamente, quase assumindo meus sentimentos naquele exato momento e se a Barbara não houvesse chegado depois, algo provavelmente teria acontecido. 

— Aquele cara é um otário. — Rosnei, apertando meus punhos e o Nolan abafou o riso. 

— Você verbalizou meu pensamento. 

Acabei rindo também e em seguida ficamos brevemente em silêncio. Os pensamentos atormentando minha cabeça e eu suspirei pesado, Nolan repetiu meu gesto. 

— De qualquer jeito, tenho que tentar. — Pronunciei, retornando ao assunto. — Não consigo mais ficar guardando isso dentro de mim, continuar fugindo e sempre mentindo para mim mesmo, quando, na verdade, desde o princípio, eu já deveria saber que meu sentimento por ela ia muito além de uma simples e superável atração. 

— Acho que você ‘tá querendo ir rápido demais — murmurou hesitante, torcendo os lábios. —, afinal você e a Melanie nem se resolveram ainda... — Encolheu os ombros — Não acha melhor esperar um pouco? 

Neguei veemente com a cabeça. 

— Você não tem noção do desespero que senti quando a vi beijando o Jonah. Não posso mais ficar esperando até ver ela com outra pessoa, porque agora eu sei exatamente o que sinto e o que eu quero. 

Ele assentiu outra vez, demonstrando entendimento. 

— Passei três anos tentando me preparar para falar com Melanie e, honestamente, nem com toda a ajuda da Savannah, em momento algum eu me senti realmente pronto, agindo somente por impulso. Mas com a Savannah — pausei, reprimindo um sorriso — é completamente diferente. É como se eu estivesse pronto a vida toda e eu não sei explicar, mas não posso ignorar mais isso. 

Não pude conter um sorriso enviesado e o Nolan riu nasalmente, com certo divertimento. 

— Irmão, a Savannah te pegou de jeito! — Disse com repentino entusiasmo e eu acabei cedendo a uma breve gargalhada. 

— Ela me pegou mesmo, Green. — Admiti, cessando o riso. 

— Então vai fundo, J.Drew. — Nolan disse, sorrindo em incentivo e eu ri nasalmente, em seguida anuí. — Apesar de não ser o melhor nesse quesito, eu sei o quanto isso deve estar fora do seu controle e se você sentir que o certo a se fazer é abrir o jogo... Vá em frente. 

Assenti, sorrindo em agradecimento e ele somente balançou a cabeça. 

— E pensar que no começo vocês não se davam bem... — murmurou, rindo enquanto balançava a cabeça negativamente. — A vida é uma surpresa. 

— Os agradecimentos são todos seus. — Falei e ele estufou o peito, caindo na risada no segundo seguinte e eu o acompanhei. 

Nolan era um cara muito legal e eu me sentia melhor por ter conversado com ele, pois no fundo sabia que – independente de qualquer coisa – sempre que quisesse poderia contar com ele e ele mesmo havia deixado aquilo bem claro quando nossa amizade começou a surgir. 

— A Savannah é uma garota incrível e você será um cara de muita sorte se conseguir conquistá-la — sorriu inclinado e eu assenti —, espero que consiga descongelar aquele coraçãozinho. 

— Eu também, Green. Eu também. Tenho plena consciência do risco de rejeição que estou correndo, mas estou disposto a enfrentá-lo. 

Ele concordou com um aceno de cabeça, quieto e pensativo, e ficamos alguns segundos em silêncio. 

— Acredito que o mais importante é você ir com calma, porque se você for com muita sede ao pote, assim de hora para outra, vai acabar assustando ela. Um passo de cada vez é sempre fundamental para não tropeçar nas próprias pernas. 

— Essa filosofia foi muito sábia. — Murmurei, abafando o riso e ele estufou o peito. 

— Eu sempre soube que levava jeito. Você é um cara legal, J.Drew, mas quero deixar claro que não serei condescendente se você se atrever a magoar a Savannah. 

Ri de sua advertência, principalmente por conta do tom sereno que ele utilizou e ele apenas soltou o ar pelo nariz, prendendo a risada. 

— Pode ficar tranqüilo quanto a isso, porque minhas intenções são as melhores. 

— Isso é bom. É bom pra você, para o seu nariz e para os seus dentes... 

Ri e daquela vez ele me acompanhou. A tensão desaparecendo completamente, enquanto eu começava a me sentir perigosamente esperançoso e contente, me entretendo rapidamente quando Nolan desconversou e começou a falar sobre a garota que ele estava saindo e depois me mostrou seus desenhos novos. 

Pouco tempo depois nos envolvemos em uma conversa sobre esportes que perdurou e quando percebi que estava ficando muito tarde, e que a Savannah ainda não havia aparecido, pedi para que ele tentasse falar com ela e primeiro ele tentou o celular dela, contudo deu fora de área ou desligado. A segunda tentativa foi a Lauren e no segundo toque a mesma atendeu. Eles trocaram breves palavras e os sorrisos enormes que o Nolan esboçava enquanto conversava com a garota deixou-me um bocado intrigado. Após mais algumas palavras e longas pausas, eles se despediram e eu permaneci encarando-o. Nolan parecia completamente fora de órbita e aquilo me custou um riso irônico. 

— Qual é o lance entre vocês? — Questionei, não podendo conter a curiosidade e ele riu, negando com a cabeça. 

— Longa história... — soltou o ar pelo nariz. — Lauren me enrola desde a época da escola. 

Deixei o riso escapar e ele se fingiu ofendido, cedendo a risada logo após. Desligou-se mais alguns segundos e tempo depois balançou a cabeça vagamente, aparentemente despertando de seu momentâneo transe. Ri levemente. 

— A Savannah mandou avisar que você pode ir embora, porque ela já pegou o carro. 

Ele coçou a cabeça e eu torci os lábios, assentindo posteriormente. Conversamos mais um pouco antes que eu decidisse ir embora e o Nolan me acompanhou até o lado de fora da mercearia; eu o agradeci incontáveis vezes, trocamos mais algumas palavras e fizemos nosso típico aperto de mão. 

A caminho de casa tudo o que eu conseguia sentir era ansiedade e a determinação domando cada fibra do meu corpo, um sorriso amplo preso em meus lábios. A certeza de que, independente de qualquer coisa, eu não desistiria facilmente. Ignorando completamente todos os pensamentos negativos que tentassem rondar minha cabeça, afinal de contas, estava mais do que na hora de recuperar o tempo perdido. E eu não me permitiria, quase, perder a Savannah novamente. 

Savannah’s Point of View. 

Quando consegui me livrar das infindáveis conversas da Lauren, deixando a promessa de que retornaria em meu horário de almoço no dia seguinte para convencermos o James de fazer mesmo a festa de comemoração, finalmente pude ir embora. Manobrei para fora do estacionamento sob seu olhar atento e acenei me despedindo de minha melhor amiga tagarela, vendo-a caminhar lentamente de volta para a lanchonete antes de me afastar completamente e a partida fora tranquila. O som ambiente do rádio tocando músicas aleatórias me manteve afastada das abstrações e dessa forma consegui me manter totalmente focada no volante. Me sentindo aliviada depois da conversa que havia tido com a Lauren, mas, ao mesmo tempo, absolutamente sobrecarregada por saber que, dali em diante – após ter assumido meus reais sentimentos em voz alta e para outra pessoa além de mim –, seria ainda mais difícil permanecer encarcerando aquela paixão. Tão inquieta que perdi as contas de quantas vezes respirei fundo, estacionada em frente à casa do Justin, coletando coragem para encarar o Justin depois da briga terrível que havíamos tido e depois de tudo o que a Lauren havia me dito. Me sentindo desesperada e uma tremenda covarde ao me pegar desejando que ele já estivesse dormindo, quando na verdade eu sabia, profunda e completamente, que deseja mais fortemente o contrário. Meu coração batendo intensamente, alucinado pela simples ideia de vê-lo e eu temia já não saber mais esconder o que sentia, temia acabar estragando tudo de alguma maneira absurda e mesmo que boa parte de mim implorasse para que eu arriscasse logo, de uma vez por todas, minha coerência continuava me aconselhando há esperar um pouco. Só mais um pouco, pensei. Pois, mesmo que ele estivesse aparentemente bem, era evidente que ainda se sentia abalado com o cruel fracasso de seu relacionamento com a Melanie e, de qualquer modo, eu precisaria estar bastante confiante para mergulhar de cabeça naquela situação. “Isso é uma loucura total”, ouvi minha voz interior e afundei meu rosto em meus braços cruzados sobre o volante, respirando fundo, pela milésima vez, cansada de sempre ter que me oprimir para manter o autocontrole quando nem ao menos tinha consciência de como continuar sendo imparcial a tudo àquilo. Quando o que eu mais queria era me livrar de todo aquele peso insuportável, toda a angústia e sanar minhas dúvidas, afastar as incertezas.  

Já chega, pensei deliberada e saí do carro. Caminhei, a passos apressados e decididos, até a casa em minha frente, abraçando meu próprio corpo em uma tentativa de me proteger do vento frio que chicoteava em meu corpo. Contudo, assim que adentrei a residência, me senti completamente frustrada ao me deparar com o silêncio total. Procurei na sala e na cozinha, mas por não encontrar nada, subi até meu quarto e decidi que era melhor deixar a conversa para o dia seguinte. Vai ser melhor, refleti. Afinal de contas, me sentia exausta e não estava com cabeça para qualquer diálogo. E, ao me trancar em meu quarto, depois de uma longa ducha e de colocar meu celular para carregar – aproveitando que o Justin havia deixado minha bolsa no quarto –, me joguei na cama macia e passei um tempo apenas fitando o teto. Entrando em sono profundo, vencida pelo cansaço e entupida de pensamentos. 

●●●  

Havia acordado assustada naquela manhã, acreditando que estava atrasada para o trabalho quando na verdade ainda não havia passado das cinco horas da manhã e me senti aliviada. Tirando meu celular do carregador e ligando-o, colocando-o no silencioso para que não começasse a apitar loucamente e, mesmo sabendo que haveria muitas ligações, me surpreendi ao ver que grande parte era do Jonah. Dei uma leve passada nas mensagens – ele havia me mandado algumas, mas nem me arrisquei a ler –, avistando uma que chamou mais atenção e abri-a rapidamente. Soltando o ar que havia prendido por conta do nervosismo de uma só vez ao ver que aparentemente estava tudo bem e que a Nancy estava apenas me mandando uma mensagem para avisar que eu não precisaria abrir a biblioteca naquele dia, porque não haveria ninguém pra cobrir meu horário de almoço e ela me daria um dia especial de folga – por todos os horários extras que eu já havia feito –, pois seu pai havia recebido alta do hospital e a família se reuniria para recebê-lo.  

Dias atrás havíamos conversado sobre o Sr. Grayson e ela contou sobre ele estar respondendo bem ao tratamento, e no quanto estava ansiosa para vê-lo voltando para casa. E ver aquela mensagem me deixou imensamente feliz em saber que seu desejo finalmente havia se concretizado. 

Depois da mensagem e, de respondê-la parabenizando-a e agradecendo, me joguei na cama novamente, sorrindo largo, cobrindo-me com meu edredom outra vez e fechando meus olhos. Afinal, seria bom dormir mais um pouco e relaxar, recarregar minhas baterias já que aquele fim de semana havia sido altamente exaustivo. E no meio daquela matinal satisfação plena, adormeci novamente.   

Por isso havia dormido mais do que o previsto, acordando no susto novamente e o relógio no criado-mudo marcava 12h36. O que significava que eu me atrasaria para o compromisso com a Lauren e precisei correr para o banheiro, tomando um banho super rápido – escovando os dentes em baixo do chuveiro para poupar-tempo – e vestindo a primeira roupa que encontrei – calça skinny jeans preta, blusa de manga comprida cinza sem estampa e meu inseparável par de Vans preto. Deixando meus cabelos molhados e, não me preocupando em passar nenhuma maquiagem, saindo do quarto às pressas após pegar minha bolsa. Desci as escadas vasculhando-a, em uma busca implacável à chave do meu carro – praguejando por ter jogado o chaveiro de qualquer jeito no meio daquela bagunça –, mas a pressa e os fios de cabelo irritantemente despencando em meu rosto atrapalhavam bastante.    

— Aonde foram parar? — Questionei comigo mesma, parando próxima ao hall de entrada, intensificando-me ainda mais na busca.   

Coloquei uma mecha de cabelo para trás da orelha e ergui uma perna, desvencilhando as alças da bolsa de meu ombro e apoiando-a em minha perna. Péssima ideia, pensei no momento em que vi todos os objetos, que estavam lá dentro, indo de encontro ao chão.    

— Só pode ser brincadeira. — Resmunguei, me abaixando e apanhando o mais depressa possível meus pertences.   

Minha cabeça estava uma pilha de nervosos e também tinha a indisposição, pois se tinha algo que eu detestava era atrasar em compromissos e a Lauren, que também apreciava uma ótima pontualidade, e havia me infernizado tanto na noite anterior para cumprir com o combinado, provavelmente mandaria uma bomba para a casa do Justin – sem ao menos saber o endereço – caso eu não fosse. 

Afastei os pensamentos e recolhi o último objeto no chão, que era a chave do carro, e sorri aliviada apertando-a entre meus dedos. Estava lutando contra o maldito zíper emperrado quando ouvi passos na escada e – ainda agachada – virei minha cabeça na direção da mesma, deparando-me com o Justin descendo, usando bermuda de moletom cinza chumbo e regata branca, enquanto desgrenhava os fios de seus cabelos com os dedos. A visão mais injustamente fascinante para alguém que estava precisando de foco ao invés de mais distração. 

— Bom dia, aonde vai tão cedo? — Sua voz soou tranquila quando nossos olhares se encontraram.   

Senti o repentino rubor me dominar, fazendo-me involuntariamente esboçar um sorriso contido e levantei-me em seguida, a bolsa ainda escancarada, instintivamente dando alguns passos para trás quando ele se aproximou.  

— Boa tarde. — Rebati e ele checou as horas no relógio em seu pulso, em seguida riu levemente. — Estou indo na lanchonete do James.   

— Não foi trabalhar hoje? 

Arqueou uma sobrancelha, seu rosto inchado e sonolento tirou-me alguns segundos de atenção. 

— Nancy me deu um dia de folga especial. — Respondi rapidamente, quase atropelando as palavras. — O pai dela recebeu alta e a família vai comemorar. 

Ele grunhiu em entendimento e eu aproveitei o silêncio para fechar minha bolsa. 

— Vai demorar a voltar? — Indagou, arqueando uma sobrancelha, certa preocupação parecia presente em seu tom. Algo que me intrigou um bocado.    

— Não sei. — Respondi abandonando a perplexidade. — Lauren sempre acaba me prendendo, então é provável que eu só volte no fim da tarde.    

Ri levemente e ele assentiu distraído. 

— Eu gostaria de perguntar uma coisa — iniciou, umedecendo os lábios e bagunçando seus cabelos nervosamente. —, mas parecia muito mais fácil minutos atrás — abafou o riso —, quando eu estava ensaiando na frente do espelho, e agora eu nem sei se consigo dizer as mesmas palavras em voz alta. 

Quebrou o contato visual e eu instintivamente me aproximei um passo em sua direção. Nossos olhos se encontraram novamente e a intensidade do olhar, nos envolveu, fazendo-me espelhar um largo sorriso em incentivo. Instantâneo e sincero. 

— Pode perguntar o que você quiser. — Assegurei e ele encolheu os ombros como um garotinho assustado. 

— Não sei mais se devo... 

Minha mente arquitetou diversas possibilidades diante de sua total apreensão, ainda mais quando ele se calou. No entanto, eu ligeiramente afastei-as, não me permitindo enganar facilmente, pois sempre que acabava acreditando que se tratava de algo, ele me vinha com uma atitude completamente distinta e frustrante. “Pelas coisas que você já me falou do Justin, ele é muito imprevisível. Do tipo que você não pode se iludir, mas também não deve duvidar”, lembrei da declaração da Lauren e talvez ela estivesse realmente certa, assim como também estava possivelmente certa quando disse que eu deveria tomar cuidado com a confusão dele, porque as pessoas normalmente tendem a se desorientar quando estão perdidas em sentimentos, principalmente após uma desilusão. E eu sabia o quanto era difícil resistir, assim como sabia que se em qualquer momento sentisse uma inexplicável certeza, pularia no abismo sem nem olhar para trás. Mas no momento eu precisava de mais confiança. 

O contato visual fora quebrado momentaneamente e quando seus olhos retornaram em direção aos meus, a convicção e a insegurança presente neles me atingiram profundamente. Meu coração exaltando-se ainda mais em meu peito e mais suposições martelando impiedosamente minha cabeça. 

— Pode ser complicado de entender. 

Inclinou seus lábios e, involuntariamente, eu avancei outro passo. 

— Pode perguntar, Justin. — Soltei em um fio de voz, pouco me importando por tal fragilidade e ele hesitou brevemente. 

— O que você... — pausou, suspirando densamente. — O que você acha de sair para jantar comigo essa noite? — Questionou repentinamente e, pega pela surpresa, tive certeza que o olhei como se o mesmo fosse um maluco falando a maior asneira do século. A apreensão em seu rosto tornou ainda mais visível o quanto minha reação o fizera repensar o que havia acabado de dizer, e que, de alguma forma, minha expressão havia o atingido... Algo que pareceu momentaneamente se tornar decepção e desespero.   

— Jantar? — Balbuciei perplexa. — Você e eu?   

Ao vê-lo rir com divertimento – parecendo até mesmo aliviado – me perdi em seus enfileirados dentes perfeitamente brancos e no tom rosado de seus lábios, fitando suas íris douradas tempo depois e perdendo-me na inebriante galáxia presente nelas.   

— Sim, eu e você. — Repetiu divertido e após a confirmação automaticamente mordi meu lábio inferior, duvidando de minha sanidade mental. Afinal de contas, Justin Bieber estava mesmo me chamando para jantar? Estava mesmo me propondo um encontro? Aquilo parecia demais, demais para ser realidade e os batimentos acelerados de meu coração rendido trouxeram a exaltação, a expectativa e o desespero de uma só vez. — E então, você aceita ou não?   

A expectativa em sua voz e o brilho em seus olhos encheu meu interior de uma imensa confiança, portanto o sorriso exposto em meus lábios fora o mais perto de aceitação que consegui chegar ao me encontrar atonitamente incapaz de dizer qualquer coisa coerente.    

— Às 20h00? — Perguntou animado e eu assenti veemente, o sorriso enorme ainda preso em meus lábios. — Combinado então, conheço um restaurante bastante agradável, aposto que você vai adorar. 

Mostrou-me todos os seus dentes novamente, em um sorriso delirante, e eu senti meus lábios se expandindo automaticamente em um sorriso de adoração. A indisposição que se apossava de mim, antes de vê-lo descendo as escadas, se esvaindo rapidamente e uma animação incontrolável saltitava em meu peito. Minhas esperanças sendo, perigosa e satisfatoriamente, alimentadas.   

Fomos interrompidos por meu celular tocando e eu abaixei meu rosto, procurando o aparelho na bolsa e atentando a chamada apressadamente após ver o nome no visor.   

— Oi, Lauren.    

Encolhi-me meus ombros enquanto sentia o olhar atento do Justin em minha direção.   

— Cadê você, sua tratante? — Sua voz estridente e irritadiça me fez rir e pude imaginá-la rolando os olhos do outro lado da linha. — O James ‘tá surtando igual uma garotinha e só estou ligando porque não aguento mais ouvi-lo reclamar!   

Ri nasalmente e pude ouvir o James reclamar algo que infelizmente não compreendi, mas acabei rindo ao ouvir a Lauren xingando-o.   

— Me desculpa — murmurei envergonhada. —, avisa que vou me atrasar um pouco, mas daqui a pouco chego aí. 

Comprimi os lábios, jogando meus cabelos para o lado.   

 Sabe que vou querer saber o motivo do atraso, né?    

Ri de sua curiosidade, principalmente de seu tom malicioso, e ela riu também.   

— Eu vou querer saber também. — James gritou e logo ouvi Lauren xingando um palavrão, rindo levemente ao mentalizar a cena dela empurrando-o irritada.    

— Você não tem que saber de nada, fofoqueiro. — Minha melhor amiga resmungou e eu abafei o riso. — Mania ridícula de querer se envolver em assuntos de mulheres.   

Olhei para o Justin outra vez e ele ainda me olhava, seu semblante demonstrando certa curiosidade e ficamos nos encarando até que a Lauren chamasse minha atenção outra vez.    

— Pelo amor de Deus, vem logo antes que eu mate esse homem e não haja festa de comemoração alguma, e sim, um enterro.     

Não pude conter uma gargalhada e o James praguejou diversos palavrões, sua voz ficando cada vez mais afastada até eu não conseguir ouvi-lo mais. Provavelmente havia se afastado após a ameaça.   

— Relaxa, Lauren. Daqui a pouco eu chego. — Avisei, apertando os dedos contra o celular e ela soltou um murmúrio em afirmação.   

 'Tá bom, Sav, não... — a linha ficou momentaneamente em silêncio após um barulho estranho. — AH, JAMES SEU FILHO DE UMA PUTA!   

E então a ligação caiu e ainda passei alguns segundos com o celular em meu ouvido. Prendendo a gargalhada ao tentar imaginar o que ele havia aprontado e em seguida joguei o celular dentro da bolsa novamente.    

— Bem, eu preciso ir agora. — Falei, tentando transparecer menos nervosa do que realmente estava e a sensação só piorou quando o Justin se aproximou mais, parando bem em minha frente.   

— Nos vemos mais tarde. — Disse, com um sorriso enorme e não tardou para eu estar espelhando um semelhante, sua animação e palavras causando-me uma intensa ebulição e minha respiração falhou, minhas bochechas enrubescendo violentamente.   

Sem saber o que dizer, e evitando agir pateticamente, apenas assenti entusiasticamente. No segundo seguinte, em um movimento rápido demais para minha mente ainda desorientada, ele estava ainda mais próximo. E em um movimento mais impensado, seus lábios estavam sendo pressionados em minha bochecha direita, o calor transmitido pelo simples toque atormentando cada poro do meu corpo e meu coração palpitou, a característica sensação de seu toque atingindo-me numa sequência absurdamente alucinante. Minha pele formigando.  

— Prometo que nossa noite será bastante memorável. — Sussurrou após romper o contato e antes que eu pudesse assimilar qualquer outra coisa estávamos distantes outra vez. — Por favor, não se atrase.    

Sem que eu pudesse responder, e após um estonteante sorriso, ele se retirou. Deixando-me embasbacada, cercada pela perplexidade de suas palavras, atitude e, principalmente, da intensidade distinta que eu havia sentido naquele beijo. Que, de uma maneira ininteligível e incomum, havia sido totalmente diferente das outras vezes que ele havia feito ato semelhante e não tardou para o típico sorriso tolo estar disposto em meus lábios; daquela vez não senti culpa alguma por estar agindo daquela maneira, não julguei minha impulsiva atitude. Afinal, naquele momento, parecia haver uma esperança. Uma luz no fim do túnel e, por mais que minha mente estivesse tomada pela certeza de que eu devia arriscar sem sequer olhar para trás, eu estava ansiosa para compartilhar os últimos acontecimentos com alguém em especial, pois uma pequena parte de mim ainda tinha certa descrença, e alguns conselhos pareciam estritamente essenciais.    

Saí de casa euforicamente, dirigindo no mesmo ritmo até a lanchonete do James, enquanto cantava alegremente Ordinary People, e, ao chegar ao meu destino, à ansiedade pareceu triplicar. “Prometo que nossa noite será bastante memorável”, repensei as palavras do Justin e o sorriso surgiu outra vez, ainda maior, e, mesmo que os conselhos que Lauren me desse, quando eu lhe contasse as boas-novas, fossem contraproducentes, em meu mais profundo eu podia sentir que aquela realmente seria uma noite inesquecível. E se não for, eu a tornarei!, pensei firmemente. Apressando ainda mais os passos.  

 

— COMO ASSIM ELE TE CHAMOU PRA JANTAR? — Lauren berrou, levantando-se e eu escondi meu rosto entre as mãos ao ver algumas pessoas olhando em nossa direção, bufando.   

Quando cheguei até lá, e descobri que ela havia finalizado a chamada clamando um palavrão porque o James lhe jogou um copo de água, aparentemente estava tudo resolvido para a social histórica – como o Jimmy estava denominando – realmente acontecer no próximo sábado.  

Lauren havia o convencido sem nem precisar da minha ajuda e eu quase a matei por me tirar à toa de casa em meu dia especial de folga.  

Entretanto, mesmo assim, conversamos um pouco mais sobre o assunto e o James havia decido tudo sozinho apesar dos conselhos que dávamos, e depois havia retornado para o seu trabalho e deixado eu e a Lauren – que mesmo em seu horário de trabalho, estava numa boemia tremenda – conversando.  

— Ele te chamou pra sair! Você sabe que isso é um encontro? Claro que deve saber! — Disparou desesperadamente e eu dei um tapa em minha testa, xingando-a mentalmente.  

— Pelo amor de Deus, será que tem como você manter essa conversa apenas entre nós? — Indaguei entre dentes, ainda com o rosto escondido, e pude ouvi-la sentando-se novamente, ajeitando a cadeira.   

— Oh perdão, me exaltei um pouco. — Riu e eu tirei as mãos do rosto, fitando-a com ironia e vi suas bochechas coradas.   

Esperei algumas pessoas ao redor, que haviam se assustado com o surto da minha melhor amiga, tiraram seus focos da nossa direção. Em seguida, sorri forçadamente para Hannah ao vê-la rindo, encostada há algumas mesas de distância.   

— Nem ouse se exaltar muito. — Rebati e ela rolou os olhos, prendi o riso. — Mas prosseguindo... Foi exatamente o que você ouviu. O Justin me chamou para jantar.  

Sorri largamente e avistei um resquício de sorriso no canto de sua boca, mas ela o conteve. Seus olhos fitando-me, entretanto as sobrancelhas levemente estreitas demonstravam meditação e preocupação. O que me deixou inquieta, contudo, não abalou a animação que me dominava.   

— Foi assim? Sem mais e nem menos?    

Anuí, aumentando o sorriso e ela ergueu levemente as sobrancelhas, adotando um semblante surpreso. Contei-lhe como havia acontecido e ela se demonstrou ainda mais surpresa. Permaneceu um tempo calada, o sorriso congelado em seu rosto enquanto seus olhos brilhavam em minha direção. Imaginei que sua reação fosse reflexo de minha demasiada felicidade, pois sempre que eu lhe contava algo de modo expansivo, a mesma demonstrava semelhante euforia e por aquela razão eu sempre acabava lhe contando tudo, aliás, de um modo ou de outro, a mesma sempre acabava compreendendo e incentivando-me – ou aconselhando da melhor maneira.   

— E você aceitou de cara, né? — Abafou o riso e eu ri bobamente, assentindo veemente.    

— Lauren — murmurei, mordendo meu lábio inferior e ela arqueou as sobrancelhas conjeturada —, eu não te contei, mas... — pausei momentaneamente — quando estávamos em Seattle, na noite em que o Justin me sequestrou — fiz aspas, rolando os olhos e ela riu nasalmente —, ele disse que sou a melhor parte dele.   

Sorri gigantescamente e ela ergueu ainda mais as sobrancelhas, visivelmente surpresa.     

— Como você me esconde uma coisa dessas? — Perguntou, indignada e eu abafei a risada. 

— Me desculpe. 

Fiz biquinho e ela revirou os olhos, abanando com a mão. 

— Enfim, isso parece lindo e tudo mais, mas... — suspirou, inclinando os lábios. — Você sente que ele te corresponde? — Indagou seriamente e eu hesitei por alguns instantes. — Que também está apaixonado por você?    

— Honestamente, eu não sei. Mas em alguns momentos à confusão dele parece tão semelhante à minha. — Declarei, igualmente inclinando os lábios. — Ainda há certa dúvida e mesmo que ele não sinta o mesmo, pelo menos agora eu acredito que existe alguma chance. Ou essa pode ser a grande oportunidade que eu esperava para pôr pra fora todo esse sufocante sentimento.   

Ela anuiu e eu suspirei fortemente.    

— Sinceramente, estou achando tudo isso estranho demais. — Disse, após um tempo quieta, provavelmente considerando minhas palavras. — Eu até entendo seu lado, mas... Ele estava com outra garota há dois dias atrás e agora, de uma hora para outra, subitamente propõe um encontro...   

Apoiei meus cotovelos na mesa e pousei meu rosto nas mãos, mirando-a, concentrada em sua declaração. Tentando ignorar o descontentamento que precocemente começava a surgir.    

— Você não acha nem um pouquinho estranho? — Questionou, arqueando as sobrancelhas em pura confusão. Me remexi na cadeira e ela pareceu perceber o incômodo. — Juro que não quero estragar seu entusiasmo, porque eu também me encho de alegria por ver você dessa maneira, mas tudo o que menos quero é ver você sofrendo no final disso tudo...   

— Lauren, eu já sou grande o suficiente pra decidir o que é ou não bom pra mim. — Rebati rapidamente, controlando-me o suficiente para não soar rude e ela assentiu timidamente. — E entendo sua preocupação, assim como sei exatamente o que você está pensando... Mas conheço o Justin e sei que ele jamais faria isso.   

Seus olhos me analisavam atentamente e sua inquietude ainda permanecia exposta em seu rosto.   

— Além do mais, eu não aguento mais ficar me mascarando e estar sempre tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe dele, o tempo todo. — Murmurei, afastando o olhar brevemente. — Às vezes eu até penso em cair fora, me afastar e tentar superar isso de qualquer maneira, mas não consigo. Tem algo muito forte, uma ligação muito inexplicável e durante o tempo em que eu e ele ficamos sozinhos em Beaverton eu me senti tão completa... Tão transmutada, porque, nunca em mil anos eu seria capaz de me imaginar sentindo algo assim algum dia, ainda mais tão de repente. Tão incontrolável.     

Suspirei, tirando minhas mãos do apoio em meu queixo, entrelaçando meus dedos e postando-as sobre a mesa. Meu olhar encontrando o de Lauren no segundo seguinte e a compaixão em suas íris negras aqueceu meu coração.   

— Não estou tentando dizer que não seja capaz dele se sentir atraído por você, porque, sinceramente, ele seria um maluco completo se não se sentisse. — Articulou, abafando o riso e eu fiz o mesmo. Me sentindo envergonhada. — Mas, verdade seja dita, essa proposta foi muito inesperada. Ontem você estava aqui chorando por não saber se existia alguma chance entre vocês e agora está aí, me mostrando todos os dentes enquanto fala que ele te chamou para jantar. — juntou levemente as sobrancelhas — O que obviamente se trata de um encontro. Coisa que grande maioria das pessoas fazem quando estão interessadas uma na outra e... Eu sei lá, o que você espera que eu diga?  

— Que eu nunca vou saber se não arriscar?! — Sussurrei, passando a mão em meu rosto e em seguida forcei um sorriso, ela torceu os lábios. — Essa é a primeira vez no meio de todo esse caos que me sinto realmente próxima de uma boa oportunidade, como se o Justin estivesse finalmente colocando, ao menos, um pé dentro do mesmo barco que eu e que agora cabe a mim fazê-lo entrar de uma vez, ou acabar naufragando sozinha.   

— Ei, Savannah. Não chore.   

Só então notei que havia derramado uma lágrima. E então outra e outra.   

— Eu só estou cansada de ser um fracasso em todos os sentidos, principalmente nesse.   

— Não diga isso — suspirou consternada —, eu que estou sendo estraga-prazeres. Afinal de contas, o que seria da vida se não corrêssemos todos os ricos? E o que seria dos ganhadores da loteria se não tivessem gastado muito em jogos antes de, enfim, serem contemplados com a imensa vitória? — Achei graça de sua metáfora e ela riu, esticando sua mão em minha direção e entrelaçando seus dedos aos meus. — Ontem eu te disse para seguir seu coração e agora estou tentando reprimi-la novamente...    

Maneou negativamente com a cabeça e eu apertei seus dedos, abafando a risada.   

— Embora eu sempre me sinta na obrigação de proteger você de qualquer perigo, de modo algum posso te impedir de viver e com isso — pausou, olhando-me com seriedade e incentivo — quero dizer que você deve seguir seu coraçãozinho e que, por mais que eu não seja cem por cento a favor da situação, sou totalmente a favor da sua felicidade!    

Sorri abertamente e ela sorriu de lado. A calmaria de sua declaração, e da sinceridade de suas palavras, gradativamente me envolvendo.   

— Vá nesse jantar e aproveite a chance sem se limitar. É a primeira vez em todos esses anos de convivência que te vejo tão radiante assim e, mesmo preocupada, isso de certa forma me conforta. Espero realmente que o Justin seja capaz de reconhecer o quão sortudo é por tê-la e, principalmente, saiba aproveitar. — Finalizou, sorrindo maliciosa e eu gargalhei, desfazendo o contato de nossas mãos para secar meu rosto.  

— Eu te amo tanto. — Proferi sorridente após me recompor, estendendo minhas mãos em sua direção novamente e ela segurou-as ligeiramente.  

— E eu te amo muito mais. — Murmurou, apertando meus dedos entre os seus. — Fico feliz por vê-la seguindo em frente, porque confesso que cheguei a pensar que você nunca mais fosse se interessar por outro cara depois do trauma com o Owen.  

— Ah, Laurence. — Murmurei e ela olhou-me irritada por ter utilizado novamente seu nome, abafei o riso divertida e a mesma revirou os olhos. — Não estraga o momento.    

— Não estraga o momento você me chamando desse jeito.  

Prendi o riso e ela rolou os olhos, sua expressão entediada me rendeu uma breve risada. Em seguida, fiz careta e ela sorriu. 

— Qual é o papo das crianças? — James surgiu ao lado da Lauren e ela olhou-o, o sorriso em seus lábios desaparecendo rapidamente.   

— A única criança aqui é você, presa no corpo de um idoso. — Ela alfinetou e eu prendi o riso ao ver a expressão de insulto no rosto dele.   

— Bem que suas mãozinhas queriam passear nesse corpinho de idoso. — Respondeu e eu arregalei meus olhos, quase gargalhando ao ver o espanto da Lauren e suas bochechas coradas.   

— Nos seus sonhos, James. Nos. Seus. Malditos. Sonhos.   

A indiferença e fúria em sua voz me surpreendeu e então ela levantou, afastando-se em seguida, e eu fiquei sem saber o que fazer. Permanecendo parada no mesmo lugar e quando o James me olhou, com expressão questionadora, me levantei e pensei seriamente em fugir também.  

— Será que ela está no período menstrual? — Questionou repentinamente e eu o encarei descrente antes de rir ironicamente.   

— Abre os olhos, Jimmy. — Murmurei, dando tapinhas em seu ombro e ele olhou-me duvidoso.   

— Estão abertos. — Rebateu, franzindo a testa.  

Ri nasalmente e ele pareceu ainda mais confuso.   

— Não é o que parece.   

Dei a volta, seguindo o mesmo caminho que a Lauren e encontrei-a do lado de fora da lanchonete, com os braços cruzados enquanto analisava atentamente a rua.    

— Você deveria pegar leve com ele. — Falei ao chegar mais perto e ela suspirou. — E eu acho que você deveria arriscar também, sabe? Seguir seu coração...   

— Ultimamente eu só tenho sentido ódio dele. — Sussurrou e eu arqueei uma sobrancelha, surpresa. — Nós estávamos mais próximos um tempo atrás e eu até pensei que rolaria alguma coisa, mas existem mais semelhanças entre ele e o Harry do que eu imaginava.   

— Lauren, pára com essa mania de procurar os defeitos do Harry em todos os caras. — Alertei, receosa e ela suspirou outra vez. — Desse jeito você nunca vai superar.   

— Acho que são os defeitos que me perseguem e o ditado popular está certo, os homens são todos iguais mesmo.   

— Você ainda nem conheceu o outro lado do James, não sabe como ele se comporta estando em um relacionamento.   

Seus olhos negros vieram de encontro aos meus e a tristeza presente neles me atingiu profundamente.  

— Mas sei como ele se comporta não estando. Saindo com diversas garotas diferentes a cada dia, porque não quer se relacionar com ninguém. Porque não é do tipo que gosta de se prender e prefere mil vezes a desimpedida libertinagem.   

Respirou fundo, apertando mais os braços ao redor de seu corpo. Seu olhar ainda distante novamente e eu fitei meus pés momentaneamente.   

— Eu o ouvi dizendo essas coisas, não foi ninguém que me contou. — Prosseguiu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa e, de fato, eu nem ao menos sabia o que deveria ser dito. — E a situação piorou entre nós depois que ele soube que eu convidei o Nolan pra vir na social...   

— Lauren — sussurrei repreensiva, erguendo meus olhos em sua direção e ela encolheu os ombros —, eu não acredito! Não envolva o Nolan nos problemas de vocês, você sabe muito bem dos desentendimentos deles.   

— Por Deus, Savannah, não estou querendo usá-lo — defendeu-se rapidamente —, de modo algum. O Nolan é um cara ótimo e se demonstra interessado em mim há tanto tempo... Estou apenas me permitindo alternativas.   

— Nolan também não é mais o garotinho que conhecemos na escola, já se tornou um homem. — Falei incisiva e ela anuiu, olhando-me tempo depois. — Ele vivia correndo atrás de você, mas agora pode ser diferente, porque, querendo ou não, as pessoas mudam.  

— Eu sei exatamente disso e na época da escola eu estava muito fragilizada, agora tenho mais consciência e não sinto que errei em convidá-lo, muito pelo contrário.    

Respirei densamente e ela repetiu minha ação.   

— Se eu tivesse um pingo de confiança para investir no James, juro que jogaria tudo para o alto e investiria. Mas ele nunca demonstrou real interesse, então não vou ficar o esperando pelo resto da minha vida enquanto ele vive intensamente com uma e outra.  

Após ponderar suas palavras, inclinei meus lábios e concordei. Além do mais, ela estava certa e, apesar de saber que aquilo, de um modo ou de outro, a magoava – ela querendo demonstrar ou não –, era reconfortante ver que a mesma estava se permitindo tentar. Fazia com que eu sentisse a necessidade de incentivá-la – do mesmo modo que ela fazia comigo – e foi exatamente o que eu fiz, lhe lançando um sorriso contente, e motivador, antes de abraçá-la fortemente, e dizer:  

— Você ainda vai receber todo o amor e valor que merece.  

●●●  

— Por onde você andou?  — Perguntei enquanto descia as escadas, dando uma ajeitada em meu vestido e ergui meu rosto no mesmo momento em que o olhar dele caiu sobre mim. Um sorriso fora gradativamente aparecendo em seus lábios e eu senti minhas bochechas esquentando, quase retornando os degraus que havia descido e me trancado no quarto, de tão nervosa – e envergonha – que estava. 

Com seus olhos ainda fixos em mim, ele dobrava a manga de sua camiseta social azul marinho, e logo meus olhos desceram até avistaram sua calça jeans escura e seu tênis Converse Iate preto, somente para que eu constatasse o quanto ele estava peculiarmente lindo e o quanto qualquer estilo de roupa combinava perfeitamente com ele. Sempre o deixando lindamente mais atraente. Seus cabelos penteados para o lado e seus lábios pareciam inexplicavelmente mais vermelhos.     

Alcancei os últimos lances do degrau – notando que mesmo optando por meu salto mais alto não havia conseguido ficar mais alta que ele –, ainda sob a mira de seu olhar minucioso, e parei em certa distância.   

— Você está maravilhosa. — Balbuciou e o brilho em seu olhar fez meu coração bater feito louco, a timidez aumentando na medida em que seu olhar parecia mais cálido sobre mim.  

— Obrigado. — Disse, não podendo conter o sorriso largo que se desenhou em meus lábios e, me forçando a abandonar a timidez, continuei: — Você está maravilhoso também.  

Com um sorriso de agradecimento preso em seus lábios, ele fingiu me reverenciar e não pude conter um riso nervoso.  

— Respondendo a sua pergunta anterior, tirei à tarde para resolver alguns assuntos pendentes.    

Soltei um murmúrio em entendimento e ele sorriu pequeno, ficamos nos encarando durante um longo tempo em que eu sentia meu rosto cada vez mais quente.    

— E então... — sussurrei, me sentindo desesperada e ele pareceu despertar de um transe, sacudindo a cabeça momentaneamente antes de soltar um riso descontraído.    

— Vamos, o local não tem reservas e é bastante disputado.    

Apenas assenti e, lentamente, caminhamos até a porta. Sorri timidamente quando ele abriu-a e segurou, fazendo gesto para que eu passasse em sua frente, e – depois de aguardá-lo trancá-la – caminhamos lado a lado até seu carro. Não me surpreendi tanto quando ele apressou o passo para que abrisse a porta do carro para mim e lhe sorri grandemente, recebendo um sorriso extremamente lindo em troca. Me sentindoo ainda mais ansiosa dentro do veículo, enquanto ele dava a volta e se sentava ao meu lado, e a situação somente piorou quando o mesmo iniciou a partida.  

Seguimos os primeiros momentos em silêncio, no qual eu me esforçava tentando encontrar algum assunto interessante que pudesse ser abordado – para tornar o percurso menos tedioso –, mas estava tão ansiosa que mal conseguia manter qualquer linha de raciocínio lógico, sem que me perdesse em suposições, e idealizações. Uma situação pouco confortável.   

— Como foi à tarde com a sua amiga? — A voz, firme, do Justin despertou-me e eu inclinei meu rosto em sua direção.   

— Tranquila.   

Suspirei, lembrando da conversa que eu e ela tivemos depois de seu surto de fúria com o James e quando fui embora ela parecia mais controlada, insistindo para que eu não me preocupasse com mais nada a não ser com o que aconteceria àquela noite. Desejando-me um bom encontro e reforçando que eu deveria aproveitar sem me limitar. Lauren era muito forte, uma amiga incrível, e por isso eu torcia muito para que as coisas dessem certo com ela, do jeito que ela esperava ou do jeito que tinha que ser. 

Do mesmo modo que ela sempre torcia por mim. 

— Vocês já conversaram sobre mim?  

Completamente pega de surpresa, arregalei levemente meus olhos, sentindo meu nervosismo triplicar, e arrastei meu olhar em direção ao Justin. Ele mantinha seu olhar focado na estrada, mas seu rosto demonstrava o quanto ele se encontrava curioso. 

— Sim — respondi em um fio de voz e discretamente limpei a garganta.   

Sempre, me autocorrigi mentalmente e desviei o olhar, temendo que de alguma forma ele pudesse perceber que eu estava mentindo.    

— Hoje mesmo a Lauren disse que gostaria de conhecer você. — Comentei, tirando o foco do assunto e ele me olhou de soslaio, intrigado.    

— Você fala tanto nela que até estou querendo conhecê-la também. — Disparou para minha surpresa total e eu fitei-o incrédula, um sorriso brotando em meus lábios tempo depois.   

— Ela é meio descompensada, mas é uma pessoa maravilhosa.  

Ele riu e eu ri mais contidamente, forçando um sorriso aberto enquanto piscava meus olhos diversas vezes, tentando parecer meiga, quando ele olhou brevemente em minha direção. O que apenas o fez rir ainda mais. Aquilo fora o bastante para um clima neutro se alojar no ambiente e o silêncio, ao retornar, não era mais tão incômodo. Tempo depois, ouvi o som de We just don't care e fitei brevemente o rádio do carro antes de arrastar meu olhar na direção do Justin, avistando um risinho discreto no canto de seus lábios enquanto seu olhar permanecia distante do meu. E retornando o olhar para a cidade passando pela janela, e completamente entorpecida pela voz de John Legend, me peguei cantarolando inconscientemente. O silêncio total no carro tornando minha voz, mesmo tão baixa, audível e senti minha bochecha corar ao ouvir o Justin rir nasalmente. Automaticamente olhando para o retrovisor e percebi que ele estava olhando-me, e permanecemos nos encarando quando ele parou em um sinal vermelho. Uma troca de olhar tão intensa que nem se eu quisesse seria capaz de realmente descrever o efeito que me causara, o quanto mexeu intensamente comigo, desordenando todo e qualquer tipo de controle que eu pudesse ter sobre mim. Fisgando cada vez mais meu coração e as sensações se tornavam mais intensivas, dominantes.  

A sensação somente piorou quando o avistei sorrindo enviesado, voltando a dirigir quando o sinal reabriu, e eu sorri envergonhada, retornando meu olhar para o lado oposto quando o seu voltou a se focar na estrada.    

— Chegamos. — Despertei com sua voz e eu olhei em sua direção, ele sorriu meigamente.    

Vi-o tirando o cinto e sair do carro, e fiz o mesmo, prestes a abrir a porta, mas antes de qualquer movimento pude vê-lo do outro lado da janela fechada. Sorrindo galanteadoramente ao abrir a porta e me reverenciar, fazendo-me rir feito uma tola enquanto sentia meu rosto em brasa.   

— Mademoiselle — estendeu a mão em minha direção, forçando o sotaque francês e eu ri levemente.   

Senti a palma da minha mão formigar ao entrar em contato com a sua e um arrepio percorreu minha espinha.  

Saí rapidamente do carro   

— Merci, monsieur. — Afastei minha mão da sua e segurei os lados de meu vestido, esboçando um sorriso inocente ao reverenciá-lo.   

Um sorriso largo desenhou seus lábios e eu contemplei-o antes de olhar para o restaurante do outro lado da rua, minhas sobrancelhas juntando-se automaticamente.   

— Falamos francês quando estamos indo em um restaurante italiano, isso é muito apropriado. — Brinquei e ele riu.   

Aproximou-se sorrateiramente, enquanto atravessávamos a rua, até que eu sentisse seu braço tocando o meu e repentinamente sua mão segurou a minha, lançando-me um sorriso estonteante quando fitei-o perplexa e meu estômago rodopiou fortemente. E, mesmo correndo o enorme risco de parecer completamente clichê, quando seus dedos se entrelaçaram aos meus, senti como se sua mão houvesse sido feita para estar exatamente ali. Segurando a minha. Daquele jeito carinhoso e ao mesmo tempo hesitante ou de qualquer outra maneira, desde que ambas estivessem unidas, como peças de um quebra-cabeças, feitas exclusivamente uma para o encaixe da outra. Daquele modo inexplicável que só se podia sentir – das maneiras mais devastadoras possíveis –, contudo, não haviam palavras suficientes que pudessem descrever. Que pudessem interpretá-lo com exatidão.     

— Espero que goste de comida italiana. — Murmurou adotando uma carinha extremamente encantadora e, ainda entorpecida por seu contato inesperado, sorri debilmente.   

— Não acha que é tarde demais para checar isso? — Rebati, arqueando uma sobrancelha e ele riu melodiosamente.    

— Eu sei que macarrão é seu prato predileto e nesses um mês de convivência percebi que você é do tipo que não abre mão quando se trata de comida.   

Gargalhei, pendendo minha cabeça levemente para trás e ele abafou a risada. Seus olhos analisando os meus e o brilho indecifrável ainda estava lá, cada vez mais impossivelmente intenso.    

— ‘Tá me chamando de gulosa? — Questionei com a voz afetada, estreitando as sobrancelhas e ele prendeu o riso. — Eu realmente adoro comida, mas nem por isso saio por aí comendo qualquer porcaria não, viu!   

Ergui meu queixo, fingindo-me ultrajada, e presunçosa, e ele, enfim, liberou sua deliciosa risada. Mantive minha pose séria quando adentramos o restaurante e ele me conduziu, procurando uma mesa vaga, o local que se encontrava parcialmente cheio, até escolher uma do lado que estava menos movimentado. Puxou a cadeira para que eu me sentasse e eu sorri timidamente em agradecimento, sentando-me e ao se sentar, na cadeira de frente para mim, ele estendeu um dos cardápios em minha direção.  

— Acho que dessa vez vou abrir mão, porque se sou gulosa, provavelmente também sou gorda. — Falei divertida, abanando com a mão e ele gargalhou.  

— Você está bem longe disso, Savannah. Seu corpo é perfeito e eu poderia dizer isso de outra maneira, mas temo sua reação ao elogio indiscreto.   

O sorriso travesso exposto em seus lábios me desmontou, fazendo-me ruborizar violentamente e eu comprimi meus lábios. Abaixando meu rosto para tentar esconder, tanto o sorriso tolo quanto o acanhamento. Além do mais, era alucinação da minha cabeça ou o Justin havia mesmo dito aquelas palavras? E, acima de tudo, ele estava mesmo me lançando aquele tipo de sorriso? Minha voz interior ressaltando que aquilo não passava da realidade só me deixava ainda mais nervosa e ao imaginá-lo me chamando de gostosa, ou qualquer outra definição direta que ele quisesse utilizar para elogiar meu corpo, fizera-me ficar absurdamente inquieta. Um calor descomunal se alastrando por meu corpo e o sorriso mal-intencionado preso em seus lábios só dificultava ainda minha situação, dando liberdade para o meu corpo e meu cérebro se encherem de expectativas. Desejos cada vez mais intensos e incontroláveis.    

Para quebrar o clima desconcertante que se instalou, e possivelmente para momentaneamente salvar minha pele, o garçom surgiu ao nosso lado. Super simpático, por sinal. E fizemos nossos pedidos, entrando em uma conversa paralela tempo depois e o Justin me fez falar um bocado sobre como fora minha experiência escolar no decorrer dos anos. Mas, na verdade, passamos a maior parte do tempo – até mesmo quando nossos pedidos foram entregues e enquanto comíamos – falando sobre as loucuras que eu e Lauren já havíamos feito, o que lhe tirou sonoras gargalhadas. Após um longo tempo de conversa, o garçom, que se chamava Pietro, se aproximou para recolher nossos pratos, perguntando se queríamos mais alguma coisa, porém – me sentindo totalmente satisfeita depois do delicioso macarrão a romanesca, acompanhado por duas taças de um bom vinho – abri mão de qualquer sobremesa quando o Justin perguntou se algo me interessava.   

— O que você acha de sairmos e dar uma volta por aí? Respirar um ar fresco? — Sugeriu após passarmos um tempo em silêncio e eu concordei.    

Segui com ele até o caixa do restaurante e esperei-o acertar nosso consumo, tentando fazê-lo aceitar a divisão da despesa, mas como sempre ele negou. E durante todo o momento em que ele permaneceu lá, e uma mulher excessivamente sorridente o atendia, me mantive parada, com as mãos enlaçadas em frente ao meu corpo e meu olhar vagando pelos arredores em alguns momentos. O local era grande e bastante frequentado, a comida e o atendimento eram de ótima qualidade também. Talvez ali estive a enorme explicação por ser tão requisitado.   

Ao avistar o garçom que havia nos atendido, e vê-lo sorrindo simpático em minha direção, retribuí. Me sobressaltando um pouco ao sentir dedos gélidos se encaixando entre os meus e olhei para o Justin, que estava sorrindo ternamente ao meu lado, acabando por sorrir feito uma criança que havia acabado de ganhar o presente mais esperado da vida dela. Um arrepio percorrendo meu corpo e eu permiti que, daquela vez, meus dedos se prendessem entre os seus. Essa noite será inesquecível, pensei deixando um sorriso largo desenhar meus lábios enquanto o Justin me guiava para fora do restaurante e eu sequer prestei atenção ao percurso que estávamos fazendo, pois estava – como sempre – perdida em idealizações, me permitindo apenas ser guiada. Seguimos os primeiros passos em silêncio e ele infantilmente meneava nossas mãos, meus olhos analisando o chão, vez ou outra, analisando-o e eu o sentia igualmente me olhando de vez em quando. As ruas estavam pouco movimentadas, apenas um carro ou outro passando, para lá e para cá. 

De súbito me lembrei da briga que tivemos na volta para Portland, recordando dos conselhos que a Lauren havia me dado e ponderando que talvez aquele fosse um bom momento para me desculpar, somente para consolidar as coisas e principalmente para que eu não me sentisse aflita por não ter me desculpado por minha audácia. Pois, mesmo que as coisas aparentemente estivessem normalizadas entre nós, eu me sentia na obrigação de tocar no assunto para que pudéssemos de algum modo encerrá-lo, para que eu deixasse de me sentir culpada sempre que o ocorrido me vinha à cabeça. 

— Justin — chamei e rapidamente seus olhos encontraram os meus, desfiz o contato visual momentaneamente, comprimindo meus lábios. —, me desculpa pelo o que eu disse quando estávamos voltando de Beaverton... — soprei, torcendo os lábios. — Eu não deveria ter dito aquelas coisas e...  

— Shhh — interrompeu-me, apertando levemente minha mão. — Está tudo bem.   

Sorriu tranquilizador e o canto de meus lábios se repuxou instantaneamente. 

— Eu nem deveria ter falado com você daquele jeito também. — Prosseguiu e eu suspirei, fazendo sinal negativo com a cabeça. 

— O erro foi todo meu. — Assegurei, olhando diretamente em seus olhos que me fitavam atentamente. — Só estou tocando no assunto, porque não quero que fique bravo... 

— Não, Savannah — negou rapidamente, estreitando levemente seus olhos —, em nenhum momento fiquei bravo com você. Apenas um pouco aborrecido, mas não bravo e já passou. Está tudo bem. 

Concordei e retribuí o sorriso quando ele sorriu em minha direção.  

Seguimos em silêncio e ao nos aproximamos de um parquinho, ele me puxou até lá e soltou minha mão para se sentar em um dos balanços infantis, fazendo-me rir ao vê-lo começando a se balançar. Me mantive em pé, parada no mesmo lugar, admirando sua cativante animação. Entretendo-me tanto que fora impossível disfarçar o susto que levei quando o ouvi gritando um animado “Uhul” enquanto balançava cada vez mais alto. E ele gargalhou. Eu apenas ri timidamente.    

— Agora é sua vez. — Disse assim que seu balanço parou, se levantando e eu neguei veemente. — Vem, Savannah.  

Neguei novamente.  

— Tenho medo. — Admiti após um tempo hesitante e ele riu duvidoso.  

— Sério?   

Anuí distraidamente e ele sentou-se novamente, sua encantadora expressão curiosa me fez suspirar em adoração, mas por sorte ele pareceu não perceber.  

— Por quê? — Indagou interessado e eu abafei um riso.  

— Quando eu tinha cinco anos o Andrew me balançou tão alto que eu acabei caindo e machuquei meu nariz. — Contei, sorrindo com a mera lembrança e aquela era uma das poucas relacionadas ao Owen que pouco me irritava. — Sangrou tanto e ele ficou desesperado, foi correndo chamar nossos pais e... — suspirei, sentindo uma pontada de tristeza. — Então eu meio que peguei trauma.  

Forcei um sorriso e o Justin passou um tempo apenas me olhando, distanciei o olhar ao sentir necessidade.  

— Você ainda gosta dele? — Indagou subitamente, para o meu completo espanto e eu juntei minhas sobrancelhas. — Do seu ex-namorado...  

— O quê? — Rebati, voltando a fitar seus olhos curiosos. — Por que está perguntando isso?  

Arqueei uma sobrancelha, intrigada. Ele deu de ombros.   

— Curiosidade. — Respondeu após um tempo pensativo.  

Hesitei brevemente, desordenada. Repensando sua pergunta.  

— Não sei — respondi, inconscientemente dando de ombros —, acho que nunca cheguei a gostar dele realmente.   

Ao ver seus olhos ainda mais estreitos, confusos, percebi que precisaria me explicar melhor: — Quero dizer, não do jeito que eu deveria gostar por ele ter sido meu namorado durante tanto tempo. 

— Você sempre parece afetada quando fala dele e pela lembrança vocês se conhecem a bastante tempo. — Comentou e seu tom parecia estranho, diferente de todas as maneiras que eu já o havia escutar se pronunciar antes. 

— Eu achava que o conhecia a vida inteira, mas me enganei o tempo todo — murmurei, desgostosa. — e o que sempre me prendeu a ele foi à amizade que construímos quando ainda estávamos totalmente longe de qualquer maldade... Eu acreditava que ele fosse uma pessoa melhor.  

Suspirei, umedecendo meus lábios.   

— E muitas vezes eu sinto mais raiva de mim do que dele, porque se não tivesse mergulhado naquela loucura, não teria passado por tudo aquilo. — Soprei, colocando uma mecha solta atrás da orelha. — Saber que boa parte das pessoas que me cercavam, na verdade, pouco se importavam é algo que machuca em todos os sentidos. E se eu tivesse evitado...   

— Não estaria aqui agora. — Murmurou e a melancolia em sua voz me desorientou, meus olhos procurando os seus apressadamente. — E eu seria um egoísta arrogante se te dissesse que de certa forma isso me alegra, mas não pense que o que o babaca do seu ex-namorado fez me agrada, porque, sinceramente, desde que você me contou eu só sei sentir uma vontade enorme de arrebentar a cara dele. — Apertou os punhos e eu comprimi meus lábios. — Mas me sentiria mil vezes pior se mentisse para você agora e dissesse que queria que tudo tivesse sido diferente, quando sei que nossos caminhos se cruzaram exclusivamente pela desordem e que ao mesmo tempo em que isso me machuca, igualmente me conforta.  

Golpeada por cada palavra, eu permaneci completamente atônita. Incapaz de dizer qualquer coisa e nossos olhares se mantiveram seriamente interligados.  

— E se você teve que passar por tudo isso pra cruzar no meu caminho... Eu sinceramente fico em profunda dúvida se devo odiar toda essa situação ou me sentir privilegiado. — Sussurrou, olhando profundamente em meus olhos. — Porque se você continuasse se prendendo na expectativa daquela falsa vida perfeita, se agarrando em pessoas que faziam o desprezo dos seus pais não parecer tão inaceitável e, principalmente, se eles não tivessem motivo algum para colocá-la para fora de casa... Não estaríamos aqui agora.     

Sua declaração me atingia de diversas formas diferentes, disparando as características sensações e outras, que até então eram desconhecidas, mais intensas. Atingindo-me numa velocidade que não me permitia assimilar as palavras que saíam por sua boca com a realidade do momento em que vivíamos, mas que ao mesmo tempo insanamente parecia fazer total sentido. Obrigando-me a, como sempre, ficar questionando a saúde do meu cérebro e me surpreendendo com a velocidade do meu coração, que retumbava em meu peito numa rapidez alucinante. O que causava dormência em meu corpo, e extasiava minha mente, me prendendo em uma dimensão desconhecida, na já tão conhecia linha tênue entre a razão e a loucura. A paixão desenfreada rasgando meu peito e querendo se apossar daquilo o que julgava ser seu por direito, querendo receber a recompensa por ter estado há tanto tempo trancafiada no escuro, escondendo-se por conta do meu medo, que naquele instante não residia mais em mim. E no meio de toda minha confusão típica, de uma existência que costumava não fazer sentido algum, e uma vida que mais parecia um quebra-cabeça de infinitas peças que não se encaixam, pela primeira vez eu me sentia completa. Renovada.    

Só então percebi que havia me aproximado dele. Parando bem em sua frente, seu rosto levemente erguido para que seus olhos ainda pudessem encontrar os meus e os meus se perdiam na imensidão de suas íris cor de mel, na profundidade de suas palavras e, principalmente, na perturbadora sinceridade sob elas.  

— Sei que sou uma bagunça e no meio de todo o meu caos, e mesmo não me sentindo digno de lhe dizer essas coisas  — alcançou meu pulso e puxou-me ainda mais para perto de si. —, quero que saiba que você me conserta a cada dia e eu adoraria também poder consertar você.    

Um sorriso inconsequente se esboçou em meus lábios e ele se levantou, ficando a um passo de distância.   

— Feche os olhos. — Pediu e eu arqueei as sobrancelhas, demonstrando confusão. Ele riu levemente. — Confie em mim.   

Soltei o riso pelo nariz, fingindo desdém ao rolar os olhos e ele riu. Em seguida, meus olhos estavam fechados como ele havia pedido, a ansiedade dominando cada célula do meu corpo. Sua mão segurou a minha e minhas sobrancelhas uniram-se automaticamente ao sentir um objeto gelado entrando em contato com o meu pulso, a curiosidade explodindo.   

— Pode abrir. — Pediu afetivamente e eu o obedeci lentamente, sentindo a surpresa se esboçando em meu rosto quando meus olhos avistaram a pulseira prateada enfeitando meu pulso esquerdo. 

— Oh meu Deus, Justin — murmurei perplexa. — É tão lindo.  

Acariciei o pingente em formato de piano coberto por encantadoras pedrinhas brilhantes, um sorriso infantil desenhando meus lábios na medida em que eu me perdia na beleza e simplicidade do objeto.  

— Algo relacionado ao que você gosta, pra você sempre se lembrar de mim.  

Com um sorriso maior estampado em minha boca, ergui meus olhos lacrimejados em sua direção e lancei-me contra seu corpo, enterrando meu rosto em seu peito enquanto o abraçava agradecidamente. A sensação de plenitude invadindo-me fortemente, enchendo-me de expectativas e anseios incontroláveis. Seu coração batendo forte contra meu peito, no mesmo ritmo alucinante que o meu, e a sensação me deslumbrou. O sorriso aumentando em meus lábios. 

— Fico feliz que tenha gostado. — Disse, apertando-me contra seu corpo e eu involuntariamente arfei. 

— Eu adorei — rebati, mordendo meu lábio inferior —, mas isso é injusto... Eu não trouxe nada pra você. 

Ele riu nasalmente e inconscientemente repeti seu ato. 

— Só tem uma coisa que eu espero de você essa noite — soprou, acariciando meus cabelos —, mas não quero que se sinta obrigada a nada. Então, por favor, me deixa saber se não estiver tudo bem pra você. 

Confusa, me afastei cautelosamente do abraço e logo seus olhos aflitos encaram os meus. Tempo depois, para minha total surpresa, seu dedo indicador contornou sorrateiramente meus lábios e meu coração bateu implacavelmente mais rápido do que já estava. Suas palavras ecoando em minha cabeça e seu olhar voluptuoso na direção da minha boca trazendo sentido para a proposta eletrizante por trás das mesmas. 

Logo seus perfeitos orbes cor de mel afrontavam os meus novamente e seus dedos acariciaram meu queixo antes de se afastarem. 

— Eu passei um longo tempo tentando fugir do óbvio — admitiu olhando-me profundamente e, mesmo que suas palavras não fossem exatamente claras, turbilhões de sensações me dominaram. Meu cérebro aplicando sentido imediato ao que ele tentava dizer e as evidencias – as probabilidades que se destacavam desde quando ele me tirou de Seattle – não podiam ser apenas meras coincidências. — Mas não importa... Eu só preciso, só preciso que... — pausou, franzindo a testa e respirou fundo antes de prosseguir: — Estou tentando explicar algo que é complicado de entender, quando na verdade eu só espero que você acredite em mim... Que você queira isso tanto quanto eu. 

Meu corpo permaneceu petrificado enquanto sua respiração calma soprava em meu rosto, aumentando ainda mais meu desespero e apetência. Seus olhos minuciosamente na direção dos meus e eu me vi irreversivelmente perdida, completamente entorpecida e deliberada a não lutar mais contra aquilo. A não lutar mais contra algo que, há tanto tempo, eu absurdamente desejei e que, naquele momento, sabia que ele também queria. 

— Eu quero. — Titubeei e senti que não precisaria dizer mais nada ao vê-lo sorrindo lindamente, em seguida tocando as pontas dos meus cabelos, analisando seus movimentos enquanto meus olhos, atônitos, encaravam os seus. Logo depois, seu rosto se aproximou, meus olhos pasmados acompanhando seus movimentos e eu senti minha boca secar quando a dele encostou-se sorrateiramente na mesma, fazendo-me arfar ao sentir seu nariz tocando o meu.  

Um bocado ansiosa e desesperada. Eu havia idealizado tanto aquele momento que chegava a ser insanamente inacreditável. Esperei tanto para tê-lo, que a ansiedade e o desejo chegavam a doer dentro de mim.  

Mas, completamente diferente do que eu esperava, e ao invés da sua boca encontrar a minha, ele depositou um beijo no canto da minha boca. Em seguida, beijou minha bochecha e minha mandíbula, provocando-me com seus lábios molhados e minha respiração falhou assim que senti sua boca tocando meu pescoço. E então seu rosto estava de frente para o meu outra vez, nossos olhares ligeiramente se encontrando e um sorriso maroto desenhou seus lábios enquanto ele voltava a se sentar no balanço. Contudo, vê-lo umedecendo os lábios foi à sentença final para que eu me aproximasse ainda mais, inclinando em sua direção e, por fim, tocasse seus lábios aos meus.  

Uma dimensão de sensações dominando meu corpo com o simples toque, espalhando-se por cada fibra, e minha mente entrou em êxtase intenso. Meus ouvidos ensurdeceram e tudo o que eu podia sentir, além das múltiplas reações que me dominavam juntamente, eram as palpitações desenfreadas do meu coração.  

O Justin girou a cabeça, encaixando sua boca melhor na minha e eu tremi intensamente, inundada por uma excitação ardente, com medo de estar sonhando ou ter perdido – de vez – a cabeça. Logo após, senti-o elevando sua mão direita, segurando meu rosto, e logo seus lábios aveludados abriram os meus, acariciando-os com sua língua quente e macia, fazendo com que uma sensação de fogo dançasse em minhas veias, deixando-me enlouquecida. Entreabri minha boca, pousando minha mão em seu pescoço, permitindo-o finalmente aprofundar o contato e sua língua vasculhou meu interior, sugando a minha com uma força que me fizera delirar e em seguida concedeu-me espaço para igualmente lhe explorar, sem receio. O beijo que havia se iniciado cauteloso, tornando-se urgente e insaciável. E quanto mais eu experimentava, mais sentia necessidade de prová-lo. Permitindo que minha língua desbravasse cada canto de sua boca. Provando-o de maneira cada vez mais desinibida, sentindo-me tomada por uma sensação de urgência, imprudência e deleite. Suguei sua língua e ele gemeu entre meus lábios, assumiu novamente o comando e sondou-me os lugares mais estimulantes, fazendo com que minha pulsação se acelerasse e meu coração batesse em disparada. Uma sensação de preenchimento e minha mente se distanciando como se estivesse flutuando em outra dimensão, os choques elétricos percorrendo cada músculo e a cada segundo a necessidade aumentava. Explodia. 

Arfamos em uníssono quando nossos lábios se afastaram, para que recuperássemos um pouco de ar, entretanto não tardou para que ele se levantasse e nossas bocas estivessem unidas novamente, com mais voracidade. Uma mão em minha cintura enquanto a outra ainda amparava meu rosto, e meus braços enlaçaram seu pescoço; embrenhando meus dedos em seus fios de cabelo, sentindo a urgência crescendo na medida em que eu o saboreava. Em seguida, ele fazia o mesmo comigo, capturando meus lábios de maneira prazerosa e ao sentir sua língua os contornando, sem hesitar, abri passagem, permitindo-a novamente me entorpecer com suas artimanhas. Automaticamente apertando sua nuca, pressionando ainda mais nossas bocas e meus dedos puxaram seus fios de cabelo, a tensão que tanto me atormentava se dissipando gradativamente, levando consigo toda a insegurança que eu havia sentido durante todo aquele tempo e desencadeando de uma vez o desejo reprimido que tanto havia me atormentado.   

Mantivemos o beijo até o último resquício de ar em nossos pulmões se esgotar e quando nos afastamos, juntei nossas testas e um sorriso tolo se esboçou em meus lábios enquanto a respiração desregulada do Justin batia como brisa em meu rosto. Uma felicidade imensurável explodindo em meu peito. Uma sensação que eu, definitivamente, jamais seria capaz de descrever em meras palavras.  

Abri os olhos, impossibilitada de dizer qualquer coisa que fizesse sentido naquele instante e me deparei com o mesmo ainda de olhos fechados, um sorriso encantador desenhando seus lábios vermelhos e inchados.   

— Fui tão imbecil ao ponto de precisar perder um mês me enganando ao lado de alguém só pra descobrir que tudo o que eu imaginei estar nela, na verdade está em você.  

Completamente deslumbrada, acariciei seu rosto, analisando-o contemplativamente. Perguntando-me continuamente se aquilo era real, se eu estava, de fato, realizando o anseio que me atormentou durante tempos, ou se eu estava em mais um de mais fantasiosos sonhos. Me sentindo preenchida por dúvidas, sobretudo, me encontrava ainda mais abarrotada de uma alegria incandescente. Meu coração sentindo-se aquecido, a satisfação por estar aparentemente sendo correspondida e o peso que atormentava meu corpo já não me incomodava mais.     

Não levou muito tempo para que todos os questionamentos e suposições que circundavam meus pensamentos se esvaíssem velozmente, assim que o mesmo passou a acariciar pecaminosamente meus lábios com o polegar, do mesmo jeito que não tardou para que estivéssemos nos beijando novamente. Sua mão ainda segurando meu rosto, dando completa intensidade ao beijo enquanto o polegar da esquerda depositava descontraídas carícias circulares em minha cintura. Senti-o sugando minha língua e um gemido soou abafado, tirando-lhe um riso contido. Ao arranjar uma brecha, puxei o lábio superior dele com os dentes e chupei o inferior, aventurando-me mais audaciosamente em sua boca. Embrenhando meus dedos e puxando os fios curtos de cabelo próximo da nuca, causando mais pressão e urgência entre nossas bocas. Devorando-o mais ousadamente com a minha língua e sentindo um prazer inexplicável sempre que sentia a sua se enroscando com a mesma. Apertando-o ainda mais contra mim.   

Quando a maldita falta de ar novamente nos dominou, nossos lábios se afastaram e, antes de se afastar, ele depositou incontáveis selinhos que me fizeram rir tolamente.   

— Muito melhor do que eu imaginava. — Sussurrei fracamente e ouvi-o abafar o riso.  

Abri meus olhos no mesmo momento em que os seus se abriram e o brilho em suas íris douradas me entorpeceu vigorosamente. A realidade caindo fortemente sobre minha cabeça, trazendo uma sufocante sensação de satisfação e nirvana. O desejo crescente de beijá-lo até meus lábios ficarem adormecidos e o sorriso fascinado não me abandonava.  

— Podemos ir com calma — murmurou, acariciando minha bochecha —, podemos ir com calma. — Repetiu, mas devido ao seu tom parecia estar mais aconselhando a si mesmo do que a mim. Mesmo assim, assenti maquinalmente. Totalmente movida pela impulsividade, uma vez que minha mente viajava distante. O desejo de me deleitar incansavelmente de seu sabor e maestria, de sua língua ávida e lábios aveludados. Beijá-lo pelo resto da minha existência, porque tocar seus lábios era como tocar o paraíso e aparentemente provar do paraíso e não querer prová-lo novamente era algo absolutamente impossível. Afinal de contas, tê-lo somente solidificou ainda mais meus sentimentos, me viciou completamente. Facilmente. 

— Há tantas coisas que eu queria poder dizer, mas nem sei por onde começar — sussurrei, acariciando seu pescoço, subindo até sua orelha, logo após fazendo cafuné em seus cabelos desgrenhados e ele fechou os olhos pesadamente.  

— Não precisamos conversar sobre isso ainda... Não agora. 

Alisou meu queixo com o polegar e eu anuí infantilmente. Em seguida, beijei-o fervorosamente, até nosso último resquício de ar. 

— E quais são seus planos para o resto da noite, Sr. Justin Bieber? — Indaguei ofegante, sentindo-o apertar minha cintura.  

— Gosto quando você me chama assim. — Murmurou, roçando seus lábios aos meus de modo altamente provocante.   

Ri levemente e ele selou meus lábios. Acariciei seu rosto. 

— Mas me diga você, quais são os seus planos? — Rebateu e eu fingi estar pensativa, me esticando para ficar na altura do seu rosto e beijei ambos os cantos de sua boca, depois seu queixo, em seguida seu pescoço.  

— Como terei que trabalhar cedo amanhã e já está tarde — soltei um leve muxoxo —, creio que podemos ir para casa e, quem sabe, assistir algum filme. — Sugeri com um sorriso inclinado, me afastando para olhar em seus olhos.    

— Parece ótimo pra mim. — Respondeu, sorrindo abertamente e eu selei seus lábios antes de me afastar do seu corpo.   

Dei início aos primeiros passos e ele me acompanhou, cruzei meus braços em frente ao corpo, fitando o chão. Um sorriso permanecia preso em meus lábios e, ao senti-lo se aproximando, ergui meu rosto em sua direção, sorrindo quando seu braço esquerdo abraçou-me pelos ombros enquanto sua mão direita era escondida no bolso frontal da calça.  

— Só para esclarecer — começou e eu procurei seus olhos, encontrando-os encarando os meus enquanto esboçava um sorriso travesso —, podemos até tentar assistir filme, mas meu plano exclusivo pra essa noite — inclinou-se minimamente e prosseguiu sussurrando: — é beijar você o tempo todo.   

Enrubesci, rindo sutilmente e ele riu fraco, inclinando-se para selar meus lábios demoradamente. 

Não demoramos a chegar onde o carro estava estacionado e na silenciosa partida para casa, a satisfação era tão monumental dentro do meu peito que eu jamais seria capaz de descrevê-la. E tudo o que eu queria naquele momento era aproveitar. Aproveitar cada segundo e deixar cada momento fluir naturalmente. Abandonando qualquer preocupação, aceitando que podíamos esclarecer as coisas em outro momento, porque o que eu mais desejava àquela noite era igualmente beijá-lo incansavelmente. A oportunidade que tanto esperei finalmente ao meu alcance e eu desfrutaria intensamente de cada segundo.  


Notas Finais


Look da Sav para o jantar: http://mlb-s1-p.mlstatic.com/vestido-com-renda-costas-nua-823001-MLB20248996109_022015 | F.jpg https://olivialunarddi.files.wordpress.com/2014/11/135922665785.jpg
FINALMENTE!!!! Os anjos dizem amém sfkshdk. Paranoicas, me desculpem pela demora, mas deu uma trabalheira pra conseguir finalizar esse cap e o modem aqui de casa deu pau uns dias atrás, e eu fiquei esperando a boa vontade do técnico, por isso acabou complicando tudo, mas finalmente reapareci e com o beijo tão esperado! Agora acho q as coisas vão fluir, ne? Aí é só esperar pra ver ;) heheh. Vou tentar não demorar pra postar o próximo e espero que vcs deixem muitos comentários, até porque a opinião de vcs é super importante. Enfim, já ta super tarde e eu to morta de sono, então não vou ficar enrolando aqui... Um super beijo pra cada uma de vcs e obrigado por tudo. Espero que vcs goxxxtem muito hueheh. Até breve. Xx


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