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História Paranoid - Dúvidas.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


NOTAS FINAIS! Boa leitura!!

Capítulo 4 - Dúvidas.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Dúvidas.

Eu perdi um longo tempo, boquiaberta.

— Essa brincadeira não tem graça, Lauren — balbuciei finalmente e ela suspirou.

— Não é brincadeira — assegurou firmemente.

Um calafrio percorreu minha espinha ao constatar que estive diante de uma situação bastante perigosa e nem mesmo tive conhecimento. E era óbvio que eu já tinha ouvido falar sobre o suposto sujeito perigoso que vivia em algum lugar do Forest Park, e desacreditava da história não apenas por parecer um extremo absurdo, mas igualmente porque cada um tinha uma versão diferente e mais inacreditável. Portanto, eu não as levava tão ao pé da letra pelo simples fato não fazerem o menor sentido, e por nunca ter escutado sobre alguém que já havia o visto ou apontado como uma de suas vítimas.  

A Assombração do Forest Park era a história favorita de Andrew Owen e ele vivia me contando, sempre uma nova versão, quando íamos para festas das quais voltávamos tarde da noite. E, na época, eu achava que o infeliz só estivesse tentando me pôr medo, só que, naquele momento, havia uma grande possibilidade de ser real.

Havia uma grande possibilidade de ele realmente existir.

E isso me aterrorizava.

Não tardou para que eu estivesse sendo atormentada por um turbilhão de questionamentos; pois será que era mesmo verdade? Será que o cara estranho que parecia tão amedrontado, por aquelas crianças e depois com a minha presença, era o maluco que havia causado a morte dos próprios pais e, desde então, se mantido isolado no meio da floresta? 

— Eu não acredito nisso — sussurrei. — Não brinque assim comigo.

Lauren expirou.

— Eu não ganharia nada fazendo esse tipo de brincadeira, Savannah.

— Mas você adora me pregar peças, Laurence — rebati e ela lançou-me um olhar mortal. — E não me olha assim, porque não sou eu quem está bancando a idiota. 

— Não estou lhe pregando uma peça dessa vez e muito menos bancando a idiota — ela defendeu-se. — E, de verdade, eu não consigo acreditar também. Estou tão chocada quanto você. 

Era sério. Ela estava falando totalmente sério.

Engoli em seco.  

— Confesso que eu não acreditava muito na história, mas agora... Olhe só — apontou para o próprio braço —, me arrepiei inteira. Que bizarro! 

Santo Deus. Era informação demais para minha cabeça completamente bagunçada.

Sem demora, tudo começou a fazer certo sentido. Nenhuma pessoa normal usaria aquelas roupas e agiria daquela maneira na presença de outras pessoas, e era tão óbvio que ele não era como os outros. Apesar disso, – por mais inconsequente que pudesse parecer – eu não achava a descoberta assim tão assustadora. A curiosidade em saber quem estava por detrás do sobretudo – e descobrir se tudo o que diziam era realmente verdade – parecia rasgar-me de dentro para fora, e eu sabia que não encontraria um verdadeiro sossego, até que finalmente desvendasse àquela história a fundo. 

— Qual é a razão do apelido? — perguntei com súbito interesse. — Ou o nome dele é Creed mesmo? 

— Não, é por causa do jogo Assassin’s Creed. Por ele se vestir de um modo que lembra o  jogo e tal. Bobagem. 

— Andrew o chamava de Volturi — deixei escapar e a Lauren teve uma crise de riso incontrolável que durou um tempo indeterminado. 

— Meu Deus! — Ela enxugou o canto dos olhos. — Apesar de odiar aquele babaca do Andrew, não tenho como negar que às vezes ele consegue ser divertido. Volturi? — repetiu e voltou a gargalhar novamente, colocando a mão na barriga.

Eu permaneci completamente alheia à sua reação exagerada.

— De todos os apelidos que já deram para ele, acho que esse foi o mais engraçado e Creed o mais criativo. Os outros geralmente são bem ofensivos — Lauren contou com certo embaraço.

Por um momento, me senti penalizada pelo sujeito, seja lá quem ele fosse e o que já houvesse feito. Além do mais, e se ele não fosse nada do que as pessoas achavam? Ele me pareceu tão assustado e deslocado. Eu havia tentando me aproximar e tudo o que ele fez foi se afastar, sem dizer qualquer palavra. Se ele realmente era um maluco, por que não havia me feito mal? Se ele era o esquizofrênico, o perigo que costumavam taxá-lo, por que não havia me feito nada? 

Não que eu quisesse que ele me machucasse, de modo algum. Para ser sincera, estava profundamente agradecida por ele não tê-lo feito. Contudo, diante dos fatos, era a única coisa que eu deveria ter esperado, mesmo não sabendo quem ele era, certo?

Não, não parecia certo. Nada parecia certo quando eu associava a pessoa que vi, com a pessoa das histórias que havia escutado. Pois se ele era quem o que o acusam de ser, por que não se defendeu daquelas crianças? Por que fugiu de mim? Por que se escondida atrás de toda aquela roupa? 

E se ele fosse à única vítima daquela história? E se ele fosse apenas mais um injustiçado?

Os questionamentos pareciam não ter fim e as infindas incertezas do “E se” sempre me perturbaram ao extremo. E, naquele momento, estavam me causando uma aversão inexplicável. Me sufocando.

Como vou descobrir?, me questionei. Como farei para descobrir se ele é mesmo o que o acusam de ser?  

Minha cabeça estava abarrotada por planos mirabolantes e imprudentes, que começavam a me fazer sentir como se estivesse prestes a enlouquecer. Trazendo consigo a impressão de que eu fosse uma bomba-relógio, prestes a explodir. 

— E se ele não for nada do que pensam? — Escapou-me e a Lauren olhou-me espantada, me aproveitei do momento para desabafar: — E se ele for só um cara assustado e julgado por algo que não fez? Sabe, ele não me parecia perigoso como às pessoas dizem que ele é. Você já ouviu as histórias, dizem que ele faz mal pras pessoas que se aproximam, mas eu estive perto dele, e ele não me fez nada. E, de verdade, nunca ouvi falar de alguém que tenha sido atacado por ele. — Encolhi os ombros. — E se for tudo mentira? E se ele for só mais um incompreendido?  

Quando terminei, foi à vez de Lauren me olhar como se eu fosse um bicho de sete cabeças. E se não fosse a extrema tensão do momento, eu sem dúvida teria me divertido com sua expressão, mas tudo o que fiz foi esperar pacientemente, enquanto ela procurava entender aonde meus questionamentos queriam chegar.  

— Bem — iniciou após um tempo e parou para respirar profundamente —, mesmo que ele não seja tudo o que o culpam de ser, ele realmente é bem estranho e não se pode negar isso. Também não tem como descobrir o lado dele da história, a não ser que...

Ela parou subitamente e seus olhos se arregalaram levemente. A frase não precisou ser completada para que eu soubesse o que a mesma estava sugerindo e sua ideia parecia um enorme prato suculento, envolto por luzes de neon, para a minha curiosidade carnívora e dominadora. Pois era definitivamente óbvio que para descobrir a verdade, eu precisaria ir até a fonte; o que significava procurar o Creed e tentar descobrir, dando à cara a tapa, a versão dele de sua própria história. 

O sorriso esperto que delineou meus lábios fez com que a Lauren erguesse uma sobrancelha e balançasse a cabeça freneticamente em negação. Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, sabia o quanto eu adorava uma boa adrenalina e era uma tremenda aventureira, e igualmente estava certa de que eu iria até o fim para descobrir mais sobre aquilo, mesmo contra a sua vontade; por mais inconsequente que pudesse parecer e mesmo com o alto teor de risco.

— Nem pense nisso! — protestou, quando um sorriso de ponta a ponta se alastrou por meus lábios. — Essa foi à ideia mais ridícula e insensata que eu já tive em toda a minha vida, então, por favor, não a leve em consideração. 

— Qual é, Lauren? — contestei, contrariada. — Foi à ideia mais brilhante que você já teve!  

— Claro que não! E se o cara for mesmo perigoso? Por Deus, você tem o que na cabeça? — Cruzou os braços, a expressão de irritação. — Eu já disse para não levar essa ideia absurda em consideração! Prometa-me que não vai fazer isso! 

— Ah não, Lauren — choraminguei, e ela olhou-me com seriedade. 

— Vamos, prometa!

Sustentou o olhar intimidador em minha direção e eu mordi meu lábio inferior, tentando resistir, mas ela continuou irredutível, plena de que eu acabaria cedendo.

Argh! Que idiota! Ela tinha a ideia do século e depois retrocedia.

— Merda, ‘tá legal. Eu prometo! — exclamei, dando-me por vencida e ela abriu um sorriso satisfeito. — ‘Tá feliz?

— Sim, e chega desse assunto. Eu vou tomar um banho — avisou-me e eu assenti.

Em silêncio, segui-a para a sala e novamente larguei-me no sofá. Fechei meus olhos e me perdi em devaneios, imaginando como seria seguir a ideia dela de ir atrás do Creed e desbravar sua vida e a sua verdade. A curiosidade rompendo tão assídua e devastadora dentro de mim, que eu não conseguia controlar os pensamentos que me imploravam para ignorar a promessa que havia feito para minha melhor amiga e ir atrás das informações, mesmo que quebrar promessas definitivamente não fosse algo do meu feitio.

Porém, resistir ao meu dominante lado curioso também não era. E Lauren sabia perfeitamente disso.  

Contudo, eu não podia descartar o fato de que a teoria sensata dela também possuía sentido, visto que poderia ser perigoso demais me aproximar outra vez – sabendo quem ele verdadeiramente era. E eu não podia correr tal risco, mesmo que, no fundo, pouco me importasse, e eu não poderia quebrar a promessa que fiz a ela... Não diante de tanta incerteza rodeando-me. 

— Ray-ray.

Saí dos meus enleios e abri meus olhos, encontrando Lauren parada atrás do sofá, penteando seus cabelos úmidos. Não pude deixar de rir do apelido idiota que ela costumava utilizar quando éramos pequenas. 

— James 'tá precisando de uma garçonete, a Lindsay saiu e eu falei sobre você e ele acabou de me mandar uma mensagem. Disse que se você quiser, pode entrar no lugar dela. 

— Sério? — perguntei, me levantando num pulo.  

Lauren sorriu e assentiu entusiasticamente. 

— Você começa amanhã. 

— Ah, minha nossa... Claro! — concordei sorridente e ela deu dois tapinhas no meu ombro. 

— Não pense que vai ser moleza — alertou, erguendo uma sobrancelha com um olhar maldoso e eu não pude segurar uma gargalhada. 

— Como você é cruel, Lauren! — retruquei, sacudindo a cabeça em sinal negativo. 

— Vou dormir e é melhor você ir também, pra acordar disposta — aconselhou, chacoalhando os cabelos e os respingos caíram em cima de mim. — Pegaremos o turno da manhã.  

— Tudo bem, folgada — ralhei, fingindo indignação, e ela liberou uma risada audível antes de voltar para o seu quarto.  

Não tardou para que eu fosse engolida pela ansiedade e nervosismo. Ficando animada e ao mesmo tempo insegura diante de minha primeira proposta de emprego, e, para ser honesta, eu nunca havia me imaginado trabalhando como garçonete – não por achar um emprego subestimado, mas por eu era um completo desastre. No entanto, perante a uma oportunidade, eu não negaria; e pelo conhecimento que tinha do James, não parecia assim tão complicado ser sua funcionária.   

A nova informação ajudou-me a esquecer momentaneamente das antigas e seria a saída perfeita para deixar de lado meus anseios absurdos.

Fui para o meu quarto completamente saltitante, e tomei uma ducha. Vesti meu pijama salpicado por ursinhos e me deitei, olhando fixamente para o teto. Demorei um pouco para conseguir adormecer; no primeiro momento porque, no completo silêncio, fui incapaz de controlar os pensamentos sobre o Creed e as suposições aumentavam conforme eu tentava o entender cegamente. E, depois, por ter ficado ensaiando mentalmente, com base no que via a Lauren e as outras garçonetes fazendo.  

⚜⚜⚜ 

Acordei com a Lauren cantando alto no banheiro e demorei um pouco para conseguir abrir meus olhos; havia uma fresta entreaberta na janela do quarto, liberando um filete de luz que vinha diretamente em meus olhos, impedindo-me de abri-los imediatamente. Me xingando por não tê-la fechado direito, aliás, todo o cuidado era pouco diante do meu caso de má sorte extrema e com as coisas boas – sintam a ironia – que andavam me acontecendo ultimamente, seria até mesmo recomendável eu andar pelas ruas dentro de uma bolha de proteção para não correr o risco de ser atingida por um raio mesmo no clima de verão – e seca – em que a cidade se encontrava.  

Lauren passou a gritar a letra de Angels do Robbie Williams com mais devoçãocausando desconforto aos meus ouvidos e acabando de vez com a música que era uma de minhas favoritas.  Por alguns instantes, assim que o meu lado perverso despertou, pensei em como seria bacana se eu a gravasse e mandasse para o James, para que ele espalhasse no grupo da lanchonete, e junto com esse pensamento veio a cena impagável dela esbravejando, correndo atrás de mim e, acima de tudo, querendo me matar.  

Um sorriso brincou no canto dos meus lábios e eu dei uma olhada nos arredores, acostumando-os com a claridade. Em seguida, esfreguei-os e bocejei, sentando-me. Após me adaptar a ideia de ter acordado tão cedo, levantei e as lembranças do dia anterior caíram sobre minha cabeça como um meteoro em alta velocidade. Fazendo com que eu subitamente me recordasse de meu suposto encontro com o Creed e uma sensação estranha dominou meu estômago.

Eu havia pensado naquilo durante horas antes de dormir e, logo pela manhã, o pensamento me assaltava novamente. A curiosidade ainda continuava indomável dentro de mim e me amaldiçoei mentalmente por ser uma bisbilhoteira irremediável. 

No entanto, depois de um tempo repensando minha conversa com a Lauren, sobre o sujeito em questão, lembrei-me da proposta de emprego de James e sorri de ponta a ponta. Espreguiçando-me e olhando para o criado-mudo ao lado de minha cama, e o relógio marcava 05h30am de um belo dia de sol ardendo lá fora. O que significava que era hora de começar a me preparar para, pela primeira vez, ir à verdadeira luta. 

Confesso que não imaginei tamanha felicidade ao encontrar um emprego e, concluí, meus pais surtariam se soubessem que eu estava prestes a me tornar uma garçonete e que a simples ideia me agradava visceralmente. Meu ânimo tão revigorado, que até mesmo me permiti rir imaginando-os reagindo ao descobrirem ou até mesmo indo até a lanchonete e sendo atendidos por mim – o que infelizmente seria improvável, já que papai não era o maior fã de, como ele denominaria, locais de quinta e mamãe não abria mão de suas dietas.

Deslizei para fora da cama e calcei minhas pantufas, arrastando-me para fora do quarto, em direção ao quarto da Lauren, que estava com a porta escancarada. Assim que adentrei o mesmo, os gritos dela tornaram-se mais aguados e aproximei-me da porta, dando três batidas fortes. 

— O que foi? — questionou, parando de berrar como um porco constipado.  

— Qual é a porra do seu problema? — resmunguei, encostando minha testa na porta e ouvi-a gargalhar do outro lado. 

— Estava tentando te acordar. 

Ah, óbvio! A sinceridade dela era comovente. 

— Já conseguiu, agora pode cantar como uma pessoa civilizada. Ou melhor, cale a boca mesmo, antes que a população terrestre venha reclamar. 

Lauren liberou outra gargalhada antes de voltar a cantar, mais esganiçada do que anteriormente e ainda mais desafinada. Quando se tratava de me tirar do sério, ela estava sempre a postos também. Grande idiota!, pensei retornando para o meu quarto, fechando a porta, e graças aos anjos, ajudou a abafar a cantoria.

Em seguida, fui até o guarda-roupa e separei um look simples e leve – short jeans de cintura alta e uma blusa fina de mangas cumpridas, com “Socialite” estampado na frente. Deixei a roupa sobre a cama e fui até o banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água cair enquanto me despia.  

Não demorei a entrar sob a torrente de água e a sensação da mesma massageando-me da cabeça aos pés, me trouxe paz. Levando parte do fardo que eu ainda carregava, pois ainda me sentia sobrecarregada. Lavei meus cabelos com cautela, tirando bem os resíduos, e depois passei a mesma devoção para o meu corpo. Estava me lavando por completo, recomeçando, e era como se minha alma também estivesse sendo lavada. A cada segundo, sentia o peso diminuindo em meus ombros, não completamente, mas o pouco de alívio que eu sentia já me fazia um bem enorme.  

Completamente distraída, comecei a cantarolar uma mistura de músicas, movendo minha cabeça e meu corpo no ritmo das batidas que tocavam dentro da minha cabeça. 

— Ei, Rihanna — Lauren gritou após três batidas exageradas na porta do quarto, no momento em que eu performava What's my name, e não pude evitar uma risada audível. — Termine esse banho logo se quiser tomar café da manhã antes de sairmos.  

— Já estou saindo — berrei de volta, me lavando mais depressa e, assim que me senti devidamente limpa, desliguei o chuveiro, alcançando minha toalha e enrolando-a em meu corpo. 

Me vesti ligeiramente e calcei meu querido par de Vans preto, sequei meus cabelos com a toalha até que o sentisse apenas úmido. Caminhei até a penteadeira e me sentei, dando uma longa analisada em meu reflexo. Eu andava tão desligada nos últimos tempos que nem mesmo havia notado o quanto meus cabelos haviam crescido; os fios, que antes alcançavam meus ombros, haviam se alongado até um pouco abaixo dos meus seios. E eu sentia como se tivesse passado aquele tempo dormindo, como se não soubesse o que era o mundo e o que acontecia nele, uma pessoa completamente alienada e fora de órbita. Enfim, libertada de uma realidade que não me pertencia. 

Dispersei os enleios e penteei meus cabelos, fazendo uma trança embutida frouxa e deixando a franja de lado. Passei um pouco de corretivo abaixo dos meus olhos para esconder ao menos um pouco das bolsas escuras que os circulava e, após estar tudo nos conformes, marchei em direção à porta.  

Voltei a cantarolar, caminhando na direção da cozinha e, assim que adentrei o local, os olhos de Lauren caíram sobre mim, observando-me atentamente. 

— Tudo isso para o primeiro dia de trabalho em uma lanchonete? — interrogou sem demora, analisando-me dos pés a cabeça e eu repeti sua atitude, não vendo nada de extraordinário na maneira como estava vestida.  

— Tudo isso? — repeti confusa e ela ergueu uma sobrancelha, lançando-me seu famoso olhar desconfiado.  

— Quais são seus planos, srta. Curtis? Eu te conheço há anos, não tente me enganar!  

Rolei os olhos, entediada. 

— Meu plano é conseguir sair do desemprego, Lauren!

Ela riu e arqueou suas sobrancelhas ainda mais, provocando-me.

— Não sei o que está se passando por essa sua cabecinha pervertida, mas não tenho nenhum desses planos que você acha que eu tenho!  

— Eu estou brincando, Sav — disse, após um tempo naquela tensão da mesma me encarando como se esperasse que a qualquer momento eu começasse a dizer o que quer que estivesse na cabeça dela para no final ela dizer: “Ah, mas eu sabia! Você não me engana!”.

Revirei os olhos outra vez, recebendo uma gargalhada dela em resposta, que me fez repetir o gesto anterior. 

— Era só para descontrair. Relaxa. — Empurrou meu ombro levemente. — Eu sei que você só quer o emprego.  

— Dormiu com o circo? — reclamei, sentando-me e não demorando em servir uma xícara com café puro e apanhando uma torrada. 

— E você acordou bem mal-humorada para quem saiu do desemprego — contra-atacou provocante e eu lhe fuzilei com os olhos.  

Lauren adorava me tirar do sério. 

— Para o seu governo, eu acordei muito bem-humorada, mas como sempre a senhorita está me deixando muito irritada com suas provocações! 

— Irritar você é um hobby para mim, minha querida melhor amiga.  

— Me deixe em paz, Lauren. — Lhe mostrei o dedo médio e ela forçou o ar de ofensa. — Não estrague o meu dia! 

— Tudo bem, Sav. — Ergueu os braços em rendimento. — Vou pegar leve com você hoje, porque pelo jeito que você estava gritando a música da Rihanna no banheiro, está mesmo precisando de um pouco de paz.  

— Eu não estava gritando! — protestei e ela gargalhou novamente, fazendo-me cerrar os punhos.

Lauren era graduada em ser irritante.

— Você que deve estar na pior, porque era você quem estava gritando no banheiro. 

— Você não tem noção alguma da sua voz — ela disse, em tom risonho, balançando a cabeça em sinal negativo. — Ainda quer reclamar de mim.  

— Shhh, Lauren. — Fiz sinal para que ela ficasse quieta. — Você disse que ia pegar leve, lembra? 

Ela riu novamente, jogando a cabeça teatralmente para trás, e eu expirei, revirando os olhos pela milésima vez naquela manhã – era impressionante a quantidade de vezes que eu fazia aquilo na presença dela. E, então, Lauren finalmente parou de encher a minha paciência e tomamos o café da manhã. 

Depois que nos alimentamos, ela pediu para que eu pegasse uma mochila e colocasse algumas coisas básicas – perfume, pasta dental e coisas do tipo – e para guardar a que estava vestindo, visto que a lanchonete tinha uniforme e eu precisaria me trocar.

— VAMOS LOGO, SAVANNAH! — Lauren gritava sem parar enquanto me esperava na sala.

Encostei a porta do quarto e caminhei apressadamente, me deparando com ela encostada à porta, com os braços cruzados. Sorri forçado quando ela me lançou um olhar recheado de censura e não demoramos a sair de casa, trancando a porta.  

Dei uma olhada no relógio em meu pulso apenas para constatar que não estávamos nem um pouco atrasadas, muito pelo contrário, estávamos adiantadas até demais. Ainda era 07h26am e a lanchonete só abriria às 09h00am, para servir o café da manhã. Mas ela avisou que seria melhor chegar mais cedo, visto que eu ainda teria que conversar com o James e, depois, teríamos que arrumar o salão antes de abri-lo ao público.  

Caminhamos até o meu carro e depois de a Lauren se sentar no passageiro ao meu lado, cantei pneu até a lanchonete e durante o caminho ela compartilhou algumas dicas para me sair bem no período de treinamento.  

Assim que chegamos à frente da lanchonete, estacionei na vaga de sempre e descemos. Nos encaminhamos para a entrada dos fundos, pois era a única que se encontrava aberta, e escutamos um barulho vindo da cozinha quando adentramos no local. As luzes estavam parcialmente acesas, já que ainda não podia abrir as janelas e as portas, porque, Lauren explicou, algum cliente mal-educado sempre tentava entrar, mesmo sendo alertado de que ainda não estava em funcionamento.

Então, para poupar uma dor de cabeça desnecessária pela manhã, eles simplesmente mantinham tudo fechado enquanto se preparavam. 

— Espere aqui, eu vou ver se o James já chegou — Lauren avisou e eu confirmei com um aceno positivo de cabeça.

Escorei-me no balcão e dei uma breve analisada no local, nunca havia visto-o como meu local de trabalho, então nunca havia notado o quanto era amplo e o grande número de mesas que haviam para serem atendidas. Lembrei-me das vezes que havia ficado sentada ali, olhando a Lauren e as outras garçonetes trabalhando. E o quanto parecia fácil vê-las de fora – apesar de elas ficarem andando de um lado para o outro o tempo inteiro. Imaginei a quantidade de informações que um trabalho como aquele deveria ter e senti o medo me dominar subitamente, embora soubesse que não era bom ficar nervosa, até porque nervosismo só colaborava ainda mais para o fracasso. Mas foi inevitável me imaginar atendendo diversas pessoas, equilibrando uma bandeja, e fingir despreocupação quanto a isso.

Além disso, a grande maioria iria me olhar torto, já que boa parte dos clientes assíduos conheciam meus pais e, sem dúvida, sabiam o que andava se passando em nossa família. No entanto, não tardei a enfiar em minha cabeça que já era hora de parar de me importar com os outros, pois, no fim das contas, aquelas pessoas sempre me olharam enviesado, desde que eu havia atingido a adolescência e dado início a minha revolução.

Em Nob Hill, todos pareciam ter um padrão assustadoramente semelhante de atitudes e achavam que os filhos eram obrigados a seguir quaisquer decisões dos pais, então provavelmente achavam que atitudes como as minhas tinham que ser consideradas um crime gravíssimo e indubitavelmente tinham vontade de me castigarem, porém, não tinham coragem o suficiente para chegarem muito perto. Porque sabiam o quão desbocada eu podia ser, e muitos deles, os mais ousados, já até mesmo haviam provado de minha fúria. 

— Bom dia flor do dia. — Me assustei com a voz do James ecoando no ambiente antes silencioso e me virei rapidamente, encarando-o como se ele fosse uma assombração. — Você fica bem bonitinha pensativa. 

Ele sorriu e eu revirei os olhos. James McGregor era outro que adorava me tirar do sério e eu vivia dizendo que ele e Lauren eram farinha do mesmo saco – e o grande sonho dela era que se misturassem um dia. 

— Bom dia, Jimmy — saudei-o da maneira mais forçada e meiga possível.

Ele encarou-me brevemente. Talvez porque eu tenha usado seu apelido, coisa que já não fazia há algum tempo. 

— Ei, eu estava procurando você! — Lauren praticamente gritou, encostando-se ao meu lado e o James desviou o olhar para a histérica ao meu lado. 

— Acabei de chegar — ele contou e ela arquejou uma sobrancelha. 

— Ah, entendi! Como você pode ver, eu trouxe a Savannah, como pediu. 

Ele me olhou brevemente e eu olhei-o, em seguida, para a Lauren que permanecia com a sobrancelha franzida e aquilo não era bom. Aquela expressão só aparecia quando algo estava incomodando-a e eu esperava não estar certa sobre o motivo daquele incômodo. 

— Laurie me deu umas dicas quando estávamos a caminho e eu já a vi trabalhando antes, então acho que tenho uma boa noção — falei, quebrando o silêncio e conquistando a atenção de ambos. 

— Ela te explicou como funciona? — James questionou e parecia menos tenso, Lauren permanecia calada ao meu lado.

Abri minha boca para responder, mas ela foi mais rápida: 

— Deixei as regras pra você, eu só dei umas dicas pessoais. 

— Ok! — Ele sacudiu a cabeça. — Você só precisa entender uma coisa, Savannah: temos escalas, cada dia mesas diferentes e você sempre vai pegar a escala comigo ou com a Melinda, que cuida da lanchonete na minha ausência, antes de começar o expediente. Não tem um padrão exato, você só precisa atender o cliente e servir o que ele pedir. Não preciso te dizer para ser simpática, porque você já esbanja simpatia sem nem abrir a boca.

Ele conteve a risada e eu sorri timidamente, senti o olhar da Lauren em minha direção e comprimi meus lábios. Sabia que ela ficava brava quando o James agia daquela maneira, mas o que eu poderia fazer? Seria estranho se ele me elogiasse e eu o socasse, e tudo porque ela insistia na ideia absurda de que ele dava em cima de mim, quando, na verdade, James McGregor era apenas um palhaço preso no corpo de um galanteador barato. E apenas ela não percebia isso, ou fingia não perceber.

— As meninas vão estar aqui para te ajudar e eu vou estar de olho em você o tempo todo. Então, basicamente, você só precisa focar no mais importante: os clientes. Não é tão difícil quanto deve parecer e você é inteligente, vai entrar no ritmo mais rápido do que imagina. 

Ri de nervoso, mas assenti.

Conversamos por mais um tempo, esclarecendo pontos importantes, e a Lauren ficou quieta ao nosso lado no primeiro momento, até começar a explicar coisas que o James esquecia e, no decorrer do diálogo, me pareceu mais relaxada, apesar de ainda permanecer um pouco distante. Como havia previsto, existia uma quantidade enorme de informações, porém, com sorte, eu acreditava ter entendido tudo perfeitamente; até porque o James explicava tudo pacientemente e a Lauren sempre ressaltava algumas dicas a mais que me ajudariam a tirar o treinamento de letra.

Depois que acertamos todos os pontos, ele me entregou o uniforme, pois a lanchonete estava prestes a abrir. À hora havia passado voando e eu sequer havia notado, a ansiedade e o nervosismo aumentaram, mas eu estava confiante.

Além disso, James e Lauren tinham me tranquilizado; o primeiro dia seria apenas um teste e eles me ajudariam com qualquer dúvida – lê-se problema.


Notas Finais


Oiiii docinhos hehe. Estou postando agora, com algumas horas de atraso, porque eu não tive tempo para postar antes :s mas o importante é que postei, certo? Enfim, quero agradecer pelos comentários e pelos favoritos, fico imensamente feliz que vocês estejam gostando e espero que continuem!! E também quero pedir pra vocês serem pacientes, pois não quero fazer as coisas rápidas demais, acho chato quando tudo fica previsível e etc... Desde o início, eu quis fazer diferente com Paranoid: tudo no seu tempo. Então, é isso. Espero que entendam, deixem seus comentários, opiniões, críticas construtivas!! E até o próximo capítulo. xX


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