História Pardon Me - We've gotta let go of all of our ghosts (If you're ready)

Junho de 2016 - França

- Não acho que seja correto minha presença aqui, Emma – a morena comentava enquanto esperavam o início da partida.

 A loira apenas sorriu em resposta enquanto se ajeitava. Ainda não tinha se acostumado com essa insegurança que Lucinda tinha adquirido, como se a todo momento tivesse pisando em ovos, por isso na maioria das vezes apenas se calava enquanto a morena perdia-se nos próprios medos.

 Lucinda não queria estar ali, não achava certo estar no mesmo local que a noiva dele e agir como se anos atrás ela não estivesse ali ocupando o lugar que hoje era de outra.

 Era difícil e parecia cruel consigo mesmo, e no fundo a morena pensou que fosse merecido.

 Colher todas as sementes que plantou, era isso que ela andava fazendo. Pensava que talvez assim um dia pudesse voltar a plantar novas sementes que a fizesse colher frutos melhores.

 A questão é que Lucinda não teve como conter o sorriso quando o viu entrar no jogo aos quarenta e quatro do segundo tempo e nem evitar de comemorar o seu gol aos quarenta sete. E era por isso que ela tinha evitado tanto o convite de ir até a França assistir aos jogos, a morena sabia que tudo voltaria porque no fundo nada realmente se foi.

- Vamos logo Lucinda, Neuer não para de falar de você, estão todos te esperando desde o dia que souberam de sua volta, Müller quase quebrou o acordo.

- Acordo?

- Bem, todos entenderam que as coisas não deviam estar nada fáceis para você. Então fizeram um acordo, iriam esperar o seu tempo, sem pressão, sem ligações e visitas, apenas dando o tempo para que tudo se encaixasse...

- E então quando estivesse pronta nós estaríamos aqui, por você – a morena não teve como se conter ao ouvir aquela voz. Não tinha ideia que sentia tanta falta daquilo até se ver de frente a todas aquelas pessoas.

- Pensei que estivesse com raiva de mim – Lucinda sussurrou enquanto se escondia no abraço do goleiro de seleção alemã.

- Nunca, morena – ele respondeu apenas para que ela ouvisse fazendo com que a morena não conseguisse segurar as lágrimas.

- Acho que colocaram algo na minha bebida, não pode ser verdade. Lucinda Melie chorando, o mundo realmente está acabando.

- Não seja idiota Müller, isso é apenas uma irritação no meu olho. – Embora a provocação ambos não puderam conter o sorriso enquanto se abraçavam.

 Era como se o mundo quisesse mostrar para Lucinda a todo momento tudo que ela deixou para trás, tudo que ela abandonou. No final Bastian foi apenas uma das diversas pessoas que ela magoou ao ser egoísta demais.

- Eu sinto muito, vocês deviam estar com ódio de mim, eu fui horrível, eu realmente sinto muito.

- Está se martirizando muito Lucinda Melie, estamos todos aqui não é mesmo? Não precisa implorar por perdão embora isso fosse ser extremamente divertido.

- Você continua um idiota Thomas Müller.

- Não minta dizendo que não sentiu falta disso Lucinda. – E a morena não mentiu, porque ela de fato sentia falta.

...

- Imaginei que estivesse aqui, Thomas e Neuer não param de sorrir pelos cantos. – Bastian falou fazendo com que Lucinda se assustasse ao notar sua presença.

- Não quis te incomodar, se achar melhor posso ir embora, na verdade estava pensando exatamente nisso.

- Eles também são seus amigos, e estão extremamente felizes em te ver, não posso e nem quero privar isso deles, nem de você. Mas acho que está na hora de termos uma conversa, uma de verdade.

 A morena apenas concordou indicando o lugar vago ao seu lado para que o jogador se sentasse.

 O silencio permaneceu por mais alguns minutos como se ambos tivessem medo de tocar novamente naquele assunto e retornar todas aquelas dores que tentavam a todo custo superarem.

- Achei que estivesse pronta. Quando se ajoelhou e disse todas aquelas coisas eu realmente achei que poderia estar pronta para seguir em frente e ter um futuro ao seu lado. Eu juro que não aceitei pensando em te deixar, eu nunca realmente quis te deixar, era isso que eu vim te dizer Bastian. Naquela noite eu não estava deixando você. Eu estava deixando a mim mesmo.

- Porque você teve medo.

- Porque eu tive medo.

 Ele estendeu a mão lhe entregando uma pequena caixinha que Lucinda conhecia bem.

- É seu, sempre foi. Esse anel não combinaria com mais ninguém nesse mundo. Você é única Lucinda Melie, meu erro foi naquela noite não ter percebido que ser única não te faz menos humana.

- Eu te amei tanto Bastian, não pense por um segundo que fez algo de errado. Você me deu todo seu amor, sua atenção. Fez de mim uma pessoa melhor e serei eternamente grata por isso.

- Eu ainda te amo morena, o problema todo é esse. Vou me casar em um mês e ainda entraria na frente de um trem por você sem nem pensar duas vezes. Você Lucinda Melie é o grande amor da minha vida, mas preciso me livrar desses fantasmas presos em mim, te perdoei no momento em que a vi naquela praça em Londres. Eu perdoei tudo, qualquer magoa, qualquer dor, está tudo perdoado.

- Acho que eu só posso agradecer.

- Eu também tenho que te agradecer. Pensei que nunca mais iria te ver, enterrei todo os sentimentos dentro de mim. Acho que nunca realmente segui em frente, até agora. Você me libertou.

- Então acho que esse é nosso fim capitão. – Ela sorriu embora tivesse uma certa melancolia nessas palavras - Foi oficialmente uma honra ter sido sua noiva, você me deu a chance de viver momentos lindos ao seu lado e levarei isso para sempre comigo.

- É um adeus?

- Temos que nos libertar de todos os nossos fantasmas, não é mesmo? Nós dois sabemos que não somos mais crianças, então você está pronto?

- Você está?

- Se estiver pronto, eu estou pronta.

 E então ele lhe beijou e ambos sabiam que não haveria adeus, porque eles nunca estariam prontos para isso.