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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Not Goin' Back To My Old Ways


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


OLÁ! Tenho apenas duas coisas para dizer aqui: espero que entendam a demora. Não espero que entendam a demora.


Lembrei de uma terceira coisa:
E SIM! O capítulo está pequeno porque a parte maravilhosa da fic está prestes a acontecer em alguns capítulos que estão vindo aÍ.

Capítulo 54 - Not Goin' Back To My Old Ways


Segunda-feira.  

   Às vezes penso que nós humanos nunca deixamos de ser nômades. Vivemos mudando de casa, de cidade, de país… Mudamos os pensamentos, as atitudes e até mesmo os sentimentos. Acho isso completamente incrível. Eu, há quase 1 ano atrás me tornei nômade de casa e cidade. Agora sou nômade de atitudes.   

   Há exatos 614 dias Camila falou comigo pela primeira vez e, confesso a você, nunca pensei que depois de tantos anos eu passaria pela vergonhosa situação de conhecer os pais de Camila como meus sogros. Eu sequer achava que namoraria Camila!!  

   E é assim que a vida funciona, sempre surpreende você com coisas que você, timidamente, sonhava e nunca pensava em ir atrás. Outras vezes ela te surpreende mesmo, da forma boa e da ruim também.

   Segunda-feira. Seiscentésimo décimo quarto dia desde que a minha namorada falou comigo pela primeira vez. Hoje as cinco garotas, que tornaram minha nova vida aturável, e eu estamos voltando para nossa vida universitária. Voltamos para Nova Iorque há 3 dias e nesses 3 dias Veronica basicamente se alojou em nosso apartamento. Quando chegamos de viagem ela sequer deu-se o trabalho de ir para o dormitório, apenas pegamos dois táxis diretamente para o prédio e ninguém se opôs sobre ela ir. 

   Não que isso fosse necessário, nem é. Só acho curioso como as pessoas entram em nossas vidas e se sentem em casa... às vezes isso é literal. 

   Hoje mesmo eu já estava voltando para a faculdade. Teríamos algumas aulas antes do Natal. 

   Senti meu celular vibrar e só então lembrei que precisava descer para encontrar as outras garotas. 

   — Zangada! — Dinah gritou assim que atendi. 

   — Oi? 

   — Pega o meu casaco lá na área de serviço! 

   — Por que você mesma não pega?  

   — Já estou na portaria e esqueci. Estou esperando. 

   Revirei os olhos e atendi o pedido/ordem de Dinah, em seguida fechei e tranquei a porta do apartamento, para então me arrastar pela escada. 

   Calma.

  Eu sei que você está querendo saber sobre o dia depois do meu encontro com os pais de Camila. Relatarei tudo o que for necessário logo abaixo. 

   No dia seguinte cheguei à porta da família Cabello por volta das 14h. Durante o meu caminho a pé, devo ter passado as mãos pelo tecido da minha calça mais ou menos umas 30 vezes, já que as glândulas sudoríparas das minhas mãos pareciam ter adquirido um hiperfuncionamento de um segundo para o outro. Só me acalmei um pouco quando minha namorada abriu a porta para mim. 

   — Por que você está toda de preto? Está calor, namorada. — Camila disse, mas eu apenas ergui minha mão direita para ela.  

   — Meu próprio funeral irá acontecer hoje. Tenho que estar preparada. 

   A garota riu e deu um peteleco em meu braço. 

   — Quanto exagero...  

   Exagero porque não é você que está sendo obrigada por sua sogra a ir ao médico! 

    Estava pronta para responder quando notei Sinuhe aproximando-se de nós.  

   — Lauren! — Exclamou logo atrás de Camila. 

   Forcei um sorriso para ela, mas ela não pareceu ter notado. 

   — Olá, senhora Cabello. — Sorri largo para ela. 

   OLÁ, QUERIDA SOGRA! Posso até ter gostado da sua atitude materna ontem, aceitando meu namoro com sua filha, mas agora eu não quero olhar na sua cara! Faça-me o favor de ir com Camila ao Ginecologista. EU NÃO DEVERIA SER OBRIGADA A ISSO! 

  — Espero que não tenha se chateado comigo... — Falou enquanto empurrava delicadamente a filha para me abraçar. — Eu só estou querendo o melhor para vocês duas.  

   — Tudo bem. Está tudo bem. — Mentira! Não está nada bem! 

   — Ótimo! Agora podem ir. Consegui uma vaga às quinze horas. — Avisou me soltando e empurrando Camila para fora de casa. 

   — Estamos indo, mãe. — A garota bufou segurando em meu braço. — Ainda vamos pegar o ônibus... 

    Acenei rapidamente para Sinuhe, que nos observava da porta, e segui meu caminho com Camila. 

   O trajeto foi feito sem muitos comentários. Acho que nós duas tínhamos muito o que processar desde ontem e, talvez, só tenhamos conseguido isso quando mesmo que em silêncio conseguimos ter nossa própria companhia, nosso amparo mútuo e subentendido. 

   Finalmente chegamos à tal clínica e Camila me arrastou para a recepção. Claro que não falei nada, só me apoiei no balcão e esperei Camila dizer o nome dela e confirmar a consulta. Foi rápido, para meu alívio. Assim que pudemos sair, segurei Camila pelo braço e arrastei-a para nos sentarmos logo. Por instinto solitário acabei escolhendo o assento mais ao canto que tinha. Sentei na poltrona colada na parede, Camila sentou ao meu lado, cruzando as pernas como se fosse um ato normal. Como eu estava completamente nervosa, imitei o que ela fez e pigarreei.  

   — Você está nervosa. — Ela afirmou em um sussurro. 

   — Ainda bem que você sabe. Mas quero deixar claro que se alguém me mandar ficar desnuda, eu vou sair!!! — Sussurrei de volta. 

   Camila inclinou-se para o meu lado e falou bem baixinho em meu ouvido.  

   — Só eu vou mandar você ficar desnuda... mas em outra ocasião.  

   Coloquei a mão sobre a boca e ri... Eu tinha duas opções para o que Camila falava: surtar ou rir. Dessa vez preferi rir porque o nervosismo não me deixou surtar. 

   — Ok... Só que você poderia não comentar coisas assim num local público? — Pedi educadamente. 

   — O que ganho se fizer isso? — Perguntou querendo aproveitar-se da situação, mas eu não iria perder! 

   — Mmmm podemos negociar. — Olhei para ela. 

   — Só aceito negócios sexuais... 

   Revirei os olhos e suspirei alto o bastante para que ela interpretasse com como uma repreensão. 

   — Então não. 

   — Problema seu. Vou falar coisas ainda piores. — Ameaçou cinicamente. 

   — Tudo bem. Negociamos isso aí depois. — Suspirei novamente tentando não perder para ela. 

   — Ótimo! Essa noite eu durmo na sua casa ou você na minha?! 

   Sem acreditar naquela proposta indecente, olhei-a de soslaio e estalei a língua no seu da boca. 

   — Já falei que sob o teto de nossos pais eu não consigo. 

   — Vai mesmo me fazer esperar até voltarmos? — Parecia decepcionada. 

   — Já disse que sim. — Confirmei enquanto pegava duas revistas na mesinha entre meu assento e a parede. — Agora, tome isso aqui. Vá ler sobre... — Li o título da primeira, entregando para Camila. — decoração de interiores. Eu vou estar lendo sobre a vida das pessoas famosas. É isso que se faz numa recepção de clínica. 

   Camila muxoxou um pouco, abriu a revista com certa agressividade, começou a folhear e eu não perdi para ela!  

   Enquanto os minutos e as páginas da revista passavam, meu nervosismo foi se transformando em tédio e eu não aguentava mais ler sobre últimos lançamentos do mundo fashion ou cosmético... Eu não sabia se a revista era do mês atual ou do ano passado, mas pouco importava, não saberia distinguir a moda ao longo dos meses mesmo. 

   De repente apenas sinto um toque em meu ombro, cortando meu quase raciocínio sobre moda. 

   — Como vai ser nossa casa? — Ela perguntou, fazendo meus olhos irem de encontro aos seus.

 Não entendi muito bem a pergunta, por isso continuei quieta. Vendo que eu não responderia e somente a olhei, ela me encarou.

   — O que foi? — Perguntou. — Achei que já tínhamos discutido sobre minha proposta de eternidade.  

   Sem muita paciência para discordar, já que o tédio não me deixava fazer isso, apenas deixei ela no controle. 

   — Você pode escolher a decoração. Não ligo pra isso. — Dei de ombros. 

   — Também não ligo. — Ela sorriu calmamente. — Mas pelo menos o nosso quarto tem que ser legal. 

   — Sim... definitivamente. — Parei para pensar um pouco e lembrei que as preferências de Camila nem sempre combinavam com as minhas. — Acho que somente essa parte não vou deixar você escolher sozinha. 

   — Tudo bem... E o dos nossos filhos? 

   Nesse momento senti meu rosto esquentar e meu coração travar um pouco. FILHOS NÃO ESTÃO EM MEUS PLANOS! 

   — Vocês não são muito jovens para inseminação?! — Escutei uma voz que não era a da minha namorada. Foi então que senti meu ar faltar. 

   Inclinei-me para a frente, olhei para o lado e vi uma senhora sorrindo a duas poltronas de Camila. Fingindo não ter escutado, apenas olhei para a revista em minhas mãos e me afundei na poltrona. 

   — Nós não, nós... — Camila começou a dizer. — ... eu não... digo... a minha namo... eu... 

   Notei a dificuldade dela e resolvi responder. 

   — Não estamos aqui para isso. 

   — É. — Camila riu nervosa. 

   — Oh! Perdoem então a minha intromissão. É que as escutei planejando e pensei que fariam algo. — Pediu a senhora. Mas eu não me dei o trabalho de olhá-la. Estava envergonhada demais para isso.

   Camila pigarreou e ajeitou-se. 

   — Ainda não. Acho que nem saímos de nossa adolescência! — Engraçadinha a minha namorada... 

   A senhora riu junto com ela. 

   — Mas pretendem? 

   — Não. — Respondi da forma mais educada que pude. 

   — Ainda tenho alguns anos para convencê-la. — Camila disse logo em seguida. 

   — Já tem muita criança por aí. Adotar é melhor do que aumentar o índice de natalidade mundial. Precisamos controlar a fome e os órfãos! — Lembrei-a, largando a revista por um segundo.

   — Mas... eu queria algo nosso. — Ela me olhou com uma expressão melodramática demais, que me fez revirar os olhos. 

   COMO ELA ESQUECEU DA PARTE BIOLÓGICA? 

   — Camila, seria de uma só. Não temos como unir dois óvulos, até porque precisa-se da característica do espermatozoide, senão só existiriam mulheres no mundo da fecundação artificial.  Se você quiser um filho, tenha. Eu não quero ser mãe... Lidar com crianças? Não. Obrigada. — Respirei fundo, abri a revista e fingi voltar a lê-la. 

   Camila suspirou alto, bem além do necessário e virou-se para a senhora. 

   — Ela tem problemas com planos. Mas e a senhora? Tem filhos? 

   — Entendo! Meu marido também relutou um pouco, mas agora...

   Depois disso fui obrigada a escutá-las falar sobre os 4 filhos e 5 netos da Sra. Clotilde. Camila, curiosamente, interessou-se muito pelo assunto. Eu não fiz nada além de folhear mais duas revistas e olhar somente as imagens. 

   — Karla Camila, sala sete. — A recepcionista anunciou e, prontamente, coloquei-me em pé. 

   Camila, com sua simpatia, despediu-se da senhora com um breve abraço. 

   — Felicidades para as duas. — A mais velha desejou.

   — Obrigada! — Camila colocou uma mão sobre o peito, mas achei muito dramático.

   — Foi um prazer. — Respondi, querendo não ser arrogante. 

   Dessa forma andamos para um corredor cheio de salas.    

   — Odeio essas conversas de consultório. — Murmurei enquanto olhávamos sala por sala. — Filhos... Não vamos tê-los. 

   — Vamos sim, Lauren. Se quer ficar comigo, tem que aceitar isso. 

   — Querer eu quero. Mas ninguém morre por terminar... — Nem terminei de falar e Camila já estava acotovelando minhas costelas — Ai! Era brincadeira! 

   — Já mandei parar de brincar assim.  

   Não tive tempo de falar mais nada, pois estávamos em frente a sala 7. Camila colocou a mão sobre a maçaneta e iria abrir sem bater na porta, claro que achei uma atitude ruim e adiantei-me, dando três batidas rápidas. Camila não esperou uma resposta e abriu a porta. Deixei que ela entrasse primeiro, em seguida entrei e fechei a porta, completamente receosa. 

   — Boa tarde... — Minha namorada cumprimentou. 

   A sala não era pequena, mas era gelada o que me deixou com os nervos tremelicando, confundindo-me entre nervoso e frio. Na verdade acho que consultórios médicos não são frios apenas por questões higiênicas e bacteriológicas. Certamente há a arte da intimidação envolvida e uma rápida semelhança com a sensação de morte ou doença mental. 

   — Boa tarde! — A mulher pronunciou-se. — Karla?  

   Fazia tanto tempo que eu não escutava Camila ser chamada assim, que acabei reprimindo um sorriso. 

   — Sou eu. — Ela respondeu. — Essa é Lauren, minha... é...

   Namorar é apoiar quem você ama até quando você precisa de apoio. 

   Inspirei rapidamente e engoli a saliva.

   — Namorada. — Respondi. — Tudo bem eu acompanhá-la? 

   Se minha pergunta foi do tipo "a consulta será SOMENTE com Camila"? Claro que sim!

   — Claro! Isso é completamente inédito para mim... Sentem-se. 

   Deixei minha namorada escolher em qual cadeira sentaria, somente assim assentei-me. Evitei contato visual com a mulher que estava do outro lado da mesa, mas quando vacilei por um segundo, vi seus olhos atentos sobre cada movimento de nós duas.

   — Primeiramente quero saber o que a traz aqui, Karla. — Falou.

   — Ah... Uma consulta para saber como tudo está. — Camila respondeu juntando as duas mãos sobre as pernas. Senti vontade de segurá-las, mas seria estranho demais.

   — Tudo bem. Vamos começar com algumas perguntas, tudo bem? 

   — Uhum. — Pelos cantos dos olhos eu podia ver as mãos de Camila segurando-se firmes uma na outra. Ela estava nervosa. 

   Aos poucos, com as perguntas e respostas, descobri que Camila havia tido sua menarca aos 14 anos, que era regular e que ela sofreu muito pra aceitar isso. Então me perguntei o motivo de nunca termos conversado sobre aquilo. Não que seja um assunto obrigatório, mas é uma coisa tão boba que eu queria saber por saber...

   — Então, você já iniciou sua vida sexual? — A médica perguntou sem rodeios. 

   Nesse momento simplesmente fingi estar ocupada com a parede ao meu lado, senti minha respiração falhar e minhas mãos suarem. 

   CORRA, LAUREN! SE DER TEMPO, LEVE CAMILA! MAS CORRA! 

   — Já sim... É por isso que estou aqui...Dizem que é bom vir depois de... né? — A garota riu ao meu lado. Eu sabia que minha situação era imensamente terrível, mas a de Camila não ficava muito atrás. 

   — Foi com sua namorada?   

   Fechei os olhos e senti uma vontade de ser abduzida por qualquer coisa. Fosse uma nave alienígena ou uma passagem secreta das Três Espiãs Demais. 

   — Sim...  

   — Primeira vez das duas? — Camila concordou. — E sentiram alguma coisa? Notaram algo estranho? 

   — Não... Está tudo na normalidade, né, Lauren? — NÃO ME ENVOLVA NESSES DIÁLOGOS, KARLA CAMILA! 

   Sem escolha, ergui a cabeça para responder.  

   — Sim. Em nós duas. Tudo normal.

   Camila pigarreou, ajeitou-se na cadeira e apoiou os cotovelos sobre a mesa de vidro. 

   — Na verdade... quero tirar uma dúvida com a senhora. 

   Nesse momento tive vontade de erguer os braços e esperar que alguém ou algo me tirasse dali. Camila iria "tirar uma dúvida", coisa boa não devia ser.

   — Pode dizer! 

   — É que, assim, como foi a primeira vez tanto minha quanto a dela, estávamos nervosas e, assim... A... pe-pe... o... digo... Lauren, me ajuda! 

   Internamente eu estava rindo e me sentindo vingada, mas acabei lembrando que ela nem tinha culpa.  

   — Nem sei o que você quer falar. — Respondi desejando que ela esquecesse seja lá qual fosse a pergunta.

   — Ugh! O que quero dizer à senhora é que no momento... lá, quando estávamos fazendo o... enfim, a pen... — Gaguejou e logo entendi o que ela quis dizer. — penetra... ção... só aconteceu em mim. Tecnicamente a minha namorada ainda não teve um... enfim, a senhora entendeu. — Camila disse soltando o ar e rindo sem graça. 

   Olhei para baixo e fechei os olhos.

   Eu já estava anos luz à frente do "sem graça", estava quase morta mesmo. Mantive os olhos fechados e simulei uma morte. Meu corpo morto, mas meu espírito ainda não evoluído foi obrigado a aguentar essa consulta.  

   Escutei uma risada vinda da médica e xinguei-a de diversas formas em minha mente.

   — Entendi, sim. Então, você sentiu algum incômodo após? 

   — Não. Acho que não foi muito... forte. Foi... como qualquer primeira vez de duas namoradas inexperientes... 

   ESPERA! Camila acabou de dizer que não fiz certo ou foi impressão minha? Me senti ofendida, confesso!  

   Após escutar um absurdo desses, me desliguei completamente da conversa e deixei Camila conversar com a médica. A única coisa que realmente observei foi o fato de minha namorada conseguir se sentir à vontade em questão de minutos, sendo que assim que entramos ela parecia nervosa. 

   — Karla, preciso fazer um rápido exame. Por favor, vá até o banheiro ali — Apontou para trás de mim. — e se troque. Tem um roupão dentro de um saco lá.

   — Ok...  

   Quando escutei a cadeira dela arrastar ao meu lado, virei meu rosto e vi o desespero estampado no dela. Sorri e tentei passar segurança, mesmo não gostando da situação. 

   Ao menos ela falou tudo na minha frente.

   Após isso, a médica levantou-se, deixando-me quietinha em minha simulação de morte corporal. Deixei que elas se preparassem e somente me atentei à conversa mais uma vez.

   — Karla, por favor, preciso que você abra um pouco mais suas pernas. 

   Instintivamente coloquei uma mão sobre a boca e pensei "Ah, Cabello... Esquece o que eu disse antes, estou mesmo me sentindo um pouco vingada por todo constrangimento que já me fez passar!" 

   — Vou coletar um pouco desse material para verificar se está tudo bem mesmo. 

   — Uhum.  

   Pelo que eu escutava, Camila parecia, sim, estar envergonhada. 

   — Vai incomodar um pouco.  

   — Uhum. 

   — E você, Lauren? Não quer se consultar também não? — Colocou o rosto para fora, me encarando divertida. 

   Cocei a nuca e falei a primeira desculpa que surgiu.

   — Não, obrigada... Eu já costumo ir em um médico aí... Vou sempre... Vou tanto que... vou sempre. — Justifiquei com a voz firme.

   Ela assentiu, certamente não acreditou em mim. Mas pouco me importava o que ela pensava, eu não iria passar pela situação que até Camila evidentemente achou constrangedora! 

   O resto da consulta foi igual ao início e ao meio. Camila voltou com o rosto tão vermelho que eu não segurei a minha curiosidade e acabei tocando em sua bochecha esquerda. 

   — O que foi? — Perguntou enquanto a médica digitava algo.

   — Está quente. — Sorri apontando para a bochecha dela.

   Ela revirou os olhos para mim e eu lhe lancei um beijinho através do ar. Eu sei que estava revoltada com ela há pouco, mas o que posso fazer se Camila consegue quebrar minha revolta, ódio ou raiva só de estar em minha frente?

   A médica chamou Camila, disse que ligaria quando o resultado ficasse pronto, mas que aparentemente estava tudo bem. Por fim nos dispensou.

   Moral da tarde: Camila não tinha nada, estava tudo bem e só passamos vergonha.   

   Assim que pisamos os pés fora da clínica, soltamos o ar ao mesmo tempo. 

   — Não sei se enterro minha cabeça no chão por ter ido ao ginecologista ou se enterro minha cabeça no chão por ter ido ao ginecologista com a minha namorada. — Ela disse fingindo se abanar.  

   — Nossa... A que ponto íntimo chegamos. Com certeza aceito sua proposta de eternidade depois dessa... Não quero passar por isso com outro alguém. — Ri. 

   — Desculpa. Foi tudo culpa da minha mãe... Mas você bem que conseguiu fugir! 

   — Tudo bem... Eu sei! Não conte essa parte à sua mãe. Por favor.  — Dei de ombros. 

   — Ok... Prometo que nossa próxima vez juntas em um médico assim vai ser quando tivermos nosso primeiro filho.  

   Cruzei os braços e comecei a andar sem esperá-la. Pude ouvir um gargalhar, logo em seguida um impacto em minhas costas. Camila havia pulado e se pendurado em mim. 

   — Você aceitou nossa eternidade. Não fuja! 

   — Você não é leve. — Comentei sentindo o peso da garota que tinha praticamente o meu tamanho. 

   — Eu sei, mas você pode aguentar alguns segundos da nossa eternidade. — Rodeou as pernas por minha cintura, as quais acabei segurando. 

   — Daqui pra lá eu peço nossa separação definitiva e eterna. Se duvidar uso os diálogos que você teve com a médica. 

   Ela grunhiu e eu sorri. 

   — Eu odeio você. — Falou deixando uma leve mordida em meu ombro direito. 

   — Eu também. 

   E essa foi a nossa consulta ou de Camila. Como preferir chamar.  

  

   Quando voltamos para Miami minha cabeça ainda estava sendo perturbada pela conversa que tive com a família de Camila, ainda mais por eles terem me acolhido e a mãe dela ter me feito ir ao ginecologista! 

   Jamais superarei esse trauma. Jamais superarei a vergonha de receber recomendações íntimas e ousadas. Eu nem preciso disso! Prestei atenção às aulas de Biologia e isso me basta. 

   No aeroporto tudo ocorreu bem. Os pais de Camila souberam disfarçar dos meus pais, mas assim que me vi no mesmo lugar que os quatro, desejei poder sair dali correndo para o avião. Foi isso o que quase fiz, falei rapidamente com os pais de Camila, mas quando estava abraçando Sinuhe, a mulher me apertou no abraço me obrigando a ficar um pouco mais, foi quando ela sussurrou em meu ouvido: "Fico feliz por ser você a pessoa que minha filha ama, Lauren. Mas, por favor, não se aprofunde em algo que não pode manter. Quanto mais fundo for o seu corte em Camila, mais difícil será a cicatrização." 

    Logo soltei-me do abraço e, sem dizer nada, afastei-me de Sinuhe, só então notando que Camila estava um pouco longe com seu pai e sua irmã. Corri, despedi-me dos meus pais e falei "Estou com tanto sono que certamente não vou conseguir escutar a chamada do voo!". Minha mãe disse que ficaria comigo até a hora de embarcar, o que não me ajudou muito, pois o que Sinuhe havia dito estava insistindo em não sair da minha mente.    

   Só me senti segura e em paz quando me despedi de todos, o avião decolou e Camila segurou minha mão.

   E esse foi meu último dia do feriado mais conturbado que tive até então.

   Agora, voltando à minha vida em Nova Iorque, estava no meu horário de almoço, mas não estava com muita fome, então deixei as garotas na lanchonete e segui para um pavilhão afastado na universidade.   

    — Não tem chances de você largar a Cabello, né? — Alexa perguntou sentando-se ao meu lado, no canto de uma escadaria.

   Pela primeira vez não me importei com a presença da garota.

   — É. — Respondi mordendo um biscoito. 

   — Nem uma pequena possibilidade? — Ela insistiu, mas não foi de forma chata, como sempre. 

   — Não.  

   Olha, Alexa. Se eu tivesse a possibilidade de viver sem Camila, eu viveria. Mas, sinceramente, não tenho essa opção. Ela é a melhor... Nem a mereço, sei disso, mas não posso ficar sem ela. 

   — Tudo bem. Não podemos dizer que não tentei. — Ela disse erguendo as mãos. 

   — É... — Sorri rapidamente de canto para ela, pegando mais um biscoito do pacote. 

   — Eu não gosto da sua namorada, nem das suas amigas. Mas elas parecem te fazer bem. — Revelou e eu até estranhei, mas decidi não questionar. 

   — Fazem sim.  

   Tanto fazem que eu não sei o que seria de mim sem elas. Elas só não precisam saber. 

   Escutei a garota ao meu lado suspirar alto. 

   — Que cara é essa, Lauren? Eu nem estou sendo chata como costumo ser! Só te vi aqui com essa cara de derrotada, te alfinetei, mas você não demonstra nada!

   — Só estou com a cabeça cheia... — Balancei uma mão no ar como quem diz "Não se importe". —    Nada de muito importante.  

   Escutei-a concordar e então ficamos em silêncio enquanto eu comia meu biscoito para não morrer de fome, caso sentisse fome em algum momento, já estaria alimentada. Ela não estava me incomodando, nem a presença dela. A única coisa que me incomodava era o que Sinuhe havia me dito no aeroporto.  

   "Fico feliz por ser você a pessoa que minha filha ama, Lauren. Mas, por favor, não se aprofunde em algo que não pode manter. Quanto mais fundo for o seu corte em Camila, mais difícil será a cicatrização." 

   Eu tinha plena consciência de que me namorar não era algo fácil e que Camila era ímparmente paciente. Também sabia que a amava de forma única, mas sabia ainda mais que eu acabaria magoando-a.  

   — Erga suas mãos e afaste-se! — Escutei a voz de Veronica, mas ela estava se dirigindo a Alexa, cortando completamente a minha linha de pensamento. 

   — Veronica, já falei que você precisa crescer. — A garota ao meu lado bufou. 

   — Você não decide isso. Agora saia daí. Não quero você perto da Lauren Michelle. — Veronica disse balançando as mãos de forma autoritária. 

   — Sua amiga não parece estar bem, mas você sequer notou! — Alexa disse. — Está mais preocupada em ameaçar. 

   — Quando ela está bem? — Eu quis rir quando minha colega de classe disse isso, mas não ri, somente mordi o último biscoito do pacote. — Agora sai. Eu resolvo isso aqui. 

   — Estou tentando ajudar! 

   Alexa tentando ajudar? Agora mesmo que eu ficarei calada só pra ver e ouvir isso! 

   — Você não ajuda nem quando eu tenho dúvida em alguma coisa, por que ajudaria alguém?  

   Alexa bufou ao meu lado, mas não se levantou. Eu franzi o cenho e tentei entender o que Veronica havia dito sobre ser ajudada. 

   — Meu problema não é a Lauren, é a namorada dela e as amigas dela. — Alexa disse da forma mais natural possível. Para ela era natural. 

   — Você é irritante. Vou pedir transferência do nosso quarto. — Veronica deu de ombros. 

   — Pra quê? Você vive no apartamento delas. — Alexa respondeu e até pensei ter escutado um tom de mágoa em sua voz, mas lembrei que era a Alexa. E Camila sempre reforça a teoria de ela ser psicopata, mesmo que eu discorde. — Não sei porque tem um dormitório. Há quem use-o de verdade! 

   — Quer dizer que você sente a minha falta? — Veronica sorriu de forma sacana e eu percebi que não fui a única a achar aquilo. 

   A cena estava um tanto quanto divertida, por isso decidi apenas ouvir e esquecer que algo realmente ruim zumbia em meu cérebro. 

   Coloquei meu queixo sobre minha mão e me atentei a tudo. 

   — Não se iluda, Iglesias.  

   — Shhh! — Veronica ergueu um indicador e fechou os olhos rapidamente. — Nem mais uma palavra!  

   — Ajude sua amiga! 

   — Vou ajudar. Agora já pode ir. 

   — Eu vou ajudar também. 

   Vendo que a briguinha delas iria longe e que nenhuma das duas cederia, decidi falar logo a verdade. 

   — Eu conheci os pais de Camila. Foi isso, Alexa. — Com todo o defeito das duas, senti que poderia contar a elas. Até mesmo a Alexa, naquele momento. Talvez tenha sido um momento de fragilidade meu, ou não. 

   — Como? — Ferrer perguntou. 

   — Os pais dela. Eu os conheci. — Respondi, mas Veronica já sabia daquela história... só não sabia como eu me sentia em relação a ela. 

   — Achei que já conhecesse... Vocês namoram e antes disso eram amigas... — Alexa disse. 

   — Ferrer, ela conheceu os sogros dela! — Veronica revirou os olhos. 

   — E...? — Então ela pareceu pensar por um tempo. — Oh... Você é uma dessas pessoas que não se aceitam gay? 

   Assenti, amassei o pacote do biscoito e coloquei em minha mochila. Depois jogaria fora, quando lembrasse. 

   — Não é da sua conta. Lauren Michelle, pare de falar sua vida pra essa garota. — Veronica disse dando um peteleco em minha testa. 

   — Ok. Desculpa. — Respondi sorrindo.

   — Não fale como se eu fosse a vilã disso tudo. — Alexa disse de forma ofendida. 

   — Mas você é. Você é aquela que destrói os romances. — Veronica rebateu.  

   — Cursar Literatura está te deixando mentalmente instável. — Ferrer acusou. 

   — Os pais dela gostaram de mim como namorada dela. — Interferi mais uma vez. 

   — E por que você está com essa cara? — A garota perguntou.  

   — Estamos expostas. — Declarei. 

   — O quê? 

   Veronica revirou os olhos e interferiu. 

   — É que o próximo passo seria apresentar aos pais dela, Alexa. Acorda. 

   — Isso é ruim? 

   Me surpreendia Alexa não entender sobre relacionamentos.

   — Em que mundo você vive?! — Veronica indagou.

   Alexa ficou calada por alguns segundos, então suspirou. 

   — Então a Lauren não se aceita gay e os pais nem desconfiam que ela namora a insuportável da Cabello, não é? 

   — Por que você tá contando sua vida pra ela??? — Veronica parecia inconformada com aquilo, mas eu preferi ignorar. — Eu vou chamar a Dinah!  

   — Para, Iglesias! — Ferrer fez o que eu queria fazer. — Eu não vou contar isso ao mundo. Laur, você não pode ter medo. 

   — Michelle, não confia nessa louca!  

   Revirei os olhos para minha colega de classe e virei-me para Alexa.  

   — Como não vou ter medo? — Perguntei. — Meus pais vão me expulsar! 

   — Eu te acolho... A Cabello não é uma garota que realmente valha a pena apresentar aos pais, já eu... — Alexa deu de ombros e riu. 

   — Ferrer, você está falando da minha namorada! — Rosnei para ela.  

   — Desculpa. Só não gosto dela, mas quero o seu bem.  

  — Não me diga que seus estudos cardiológicos estão criando um coração em você! — Veronica satirizou colocando uma mão sobre a boca. 

   — Iglesias, já ouviu falar de empatia? — Ferrer revirou os olhos. 

   — Já. Por isso sinto antipatia por você. — Minha colega de classe revidou. 

   Alexa pareceu pouco se importar, pois virou-se para mim. 

   — Laur, retomando nosso assunto. Se você acha que a Cabello vale a pena, não tenha medo de assumi-la. Mas caso você se toque de que ela não vale a pena... 

   — Se você falar mais uma vez da Camila, eu nunca mais te ajudo a estudar! — Veronica ameaçou. 

   — Você ajuda a Alexa? — Perguntei sem acreditar naquilo, afinal na única vez em que estive no dormitório das duas, Veronica não gostava da Alexa e nem Alexa da Veronica.  

   — Às vezes preciso de alguém que leia os nomes em voz alta quando eu estou aprendendo. Ela é uma cobaia, apenas. — Ferrer apressou-se em dizer. 

   — Cobaia? Você vai se virar pra estudar pra sua prova de amanhã sozinha! Não vou ficar lendo cartões pra você.  

   — Dinah te chamaria de traidora se soubesse disso... — Se eu quis inflamar a discussão? Quis sim! 

  — Pouco importa o que aquelas quatro pensam sobre qualquer coisa... O que Veronica diz também não interessa! — Alexa bradou levantando-se. — Só quero dizer isso. Você parece com as valvas atrioventriculares na sístole atrial. Completamente aberta ao sangue. Aí quando muda pra sístole ventricular, se fecha. Nesse caso você só recebe Camila... se fecha a tudo mais. Eu estou aceitando isso e querendo que você vá em frete com ela.

   Sorri para a comparação científica e concordei. 

   — Você pode até tentar conquista-la com esse papo nerd que ela gosta, mas eu prefiro a Camila. — Veronica disse. 

   — Eu sei, Veronica. Agora vá ver sua namorada... — Alexa irritou-se.  

   — Lucy e eu não namoramos! 

   — Que seja. Preciso voltar pro laboratório. Boa sorte, Laur. A Cabello é uma idiota, mas não seja idiota com ela. Não vou ter você mesmo... Você já se inseriu na família dela. E você, esteja no dormitório essa noite. — Encerrou a conversa apontando para Veronica. 

   Observei Alexa descer degrau pro degrau, atravessar a parte gramada e sumir de vista 

   — Quando a Ferrer se tornou essa pessoa? — Perguntei colocando-me de pé ao lado da minha colega de classe. 

   — Deve ter sido as aulas... — Ela ia dizer, mas fuzilei-a com o olhar. — Brincadeira. Não sei, mas ela mudou de uns tempos pra cá... 

   — E você a ajuda mesmo a estudar? 

   — Sim... É aquela coisa, Michelle. Eu durmo no mesmo lugar que ela, preciso sobreviver.  

   A resposta dela foi aparentemente despreocupada, mas eu pude sentir que havia algo por trás.

   — Algo me diz que você gosta de ajudá-la... 

   — Me tira do tédio. Confesso. Mas não significa que somos amigas! 

   — Ela sabe até da Lucy, Veronica. 

   — Talvez eu tenha comentado num momento de sufoco...  

   — Sei... 

   — Lauren, ela é chata. Mas quando quer ser legal até que serve. 

   — Acho que ela só tem birra com a Camila porque Camila era a única a discutir com ela nas aulas. — Mudei o assunto vendo que minha colega de classe não queria falar sobre aquilo.

   — Cara, sua namorada me contou isso mesmo. Por que eu perdi o tempo colegial da vida de vocês? Foi melhor que o meu. 

   — Até parece. — Bufei.

   — Ok. O meu foi legal, mas muito comum. Uns namoros aqui, umas festas ali... nada como sua aventura. 

   — Hahaha. Vamos logo, Veronica. 

   A garota riu e me ajudou a levantar. 

   — Vamos. 

   — Será que você pode manter nossa conversa com Alexa somente entre nós? 

   — Por quê? Medo da sua namorada? 

  — Quero evitar brigas. Camila tem uma mente meio fértil... Dinah sonha em quebrar a Ferrer, Normani iria me xingar... E a Allyson se revoltaria por ter que apartar uma discussão. — Expliquei a verdade.

 — Tudo bem. Não foi nada demais. Podemos manter entre nós. Mas... preciso que você mantenha oculto o que escutou hoje, também.

   Franzi o cenho e assenti.

  — Obrigada. 

   Por fim, fomos para nossa próxima aula. Tivemos uma aula sobre o processo de criação com um professor tão entediante que por alguns minutos desejei não ser criativa porque eu seria igual a ele e ser igual a ele significava ser criativamente limitada.  

   Ao fim da aula, para piorar tudo, ele decidiu que seria bom a turma fazer um seminário sobre criatividade. 

   Detalhe: Em grupo. 

   Não esperei o fim das explicações sobre o trabalho e rapidamente puxei a manga da camiseta de Veronica. 

   — Veronica, se você for pra algum grupo sem mim, pode esquecer o meu apartamento como refúgio. — Murmurei para ela. 

   — Se você for mais fofa me pedindo pra ficar no mesmo grupo que eu, eu choro e ainda atendo seu pedido! — Riu fingindo anotar algo no caderno. 

   — É um aviso. Sério. Não me deixa sozinha nesse trabalho!! — Quase implorei vendo que alguns colegas já estavam olhando para ela, óbvio que a queriam com eles. 

   Minha colega de classe gargalhou e assentiu. 

   — Tudo bem Michelle. Só vou pra algum grupo que aceite nós duas. Ninguém terá a maravilhosa Iglesias se não tiver a Michelle. 

   Revirei os olhos para ela. 

   — Obrigada. 

   — Vou dormir no seu apartamento hoje. — Piscou um olho para mim e levantou, certamente iria procurar algum grupo que me aceitasse também.  

   Se eu me arrependia por não ter interagido um pouco com meus colegas em quase 1 ano de curso? Sim! Mas prometo que quando o próximo semestre iniciar-se irei melhorar isso. Eu estou inconscientemente ligada ao meu passado, mas não pretendo seguir assim por muito tempo.

 

Terça-feira. 

   Camila cantarolava baixinho enquanto olhava para as fachadas no alto de cada prédio. Desde que chegamos a Nova Iorque, nunca havíamos feito isso, caminhar e observar. Mas esta tarde senti vontade de fazer algo que realizasse a mim mesma, por isso chamei Camila, que gostou da ideia. Até tentei convencer minhas outras três companheiras de apartamento, mas elas preferiram ficar no sofá assistindo a uma maratona de um reality show.

   Às vezes você só precisa acordar uma nova percepção do mundo ao nosso redor. Andar e ver além do óbvio. Passar por lugares que você sempre passou e procurar um novo significado. Conhecer novos lugares e gravar na mente sua primeira visão pra depois desconstruí-la. Por isso senti uma necessidade caminhar pela cidade.

   — Lauren, ali não é a nossa antiga professora? — Minha namorada perguntou de repente. 

   — Hum? Quem? Onde? — Indaguei um pouco distraída coma fachada de uma farmácia.

   A região em que estávamos possuía prédios enormes. Eu não sabia se olhava as fachadas ou as construções.

   Logo pensei "Conhecidos?! Vamos correr!". 

   — Ali! É ela sim! — A garota apontou. Estreitei meus olhos  

   — Ótimo. Vamos atravessar a rua e fingir que nem vimos! — Segurei-a pelo braço e fiz menção de puxá-la, mas ela não deixou. 

   — Vamos falar com ela! 

   — Camila... 

   Por que tentei pedir para não irmos? É claro que Camila iria querer falar com nossa antiga e temporária professora de teatro. Ela caminhou animada em minha frente enquanto eu marchei atrás dela. 

   — Senhorita Germanotta? — Minha namorada perguntou assim que chegamos perto da mulher loira virada de costas para nós. 

   De forma lenta a nossa antiga professora virou-se para nós e franziu o cenho. 

   — Sim? 

   — Sou Camila. Fiz parte da sua equipe de teatro no ano passado. — Sorriu e estendeu uma mão. 

   A mais velha segurou a mão da minha namorada e sorriu de volta. 

   — Eu lembro de você. Substituta da substituta! — Disse animada.

   Confesso que me senti surpresa o ver que ela lembrava de alguém, já que sempre parecia alheia a tudo. 

   — Isso! Mas eu fiz meu trabalho muito bem. — Até eu faria se meu trabalho fosse ficar parada! 

   — Imagino que sim... — Olhou pra mim. — Você é a Lauren.  

   — Sou. — Sorri sem mostrar os dentes.

   — Sei quem é porque a Spencer me colocou no meio da sua inscrição... — Explicou e logo encontrei minha chance de pedir desculpas.

   — Peço-lhe desculpas por isso, senhorita. Eu sequer sabia que a Senhorita Hastings estava fazendo aquilo! — Adiantei-me. 

   — Você foi aceita? — Perguntou.

   — Sim. — Assenti rapidamente.

   — Então não tem porque se desculpar... — Sorriu.  

  — Desculpa perguntar, mas o que a senhora está observando na fachada? — Por que você tem que ser tão curiosa, Camila?! Vamos apenas sair!

   — Nada... Só admiro muito o Madison Square Garden... Vocês não acham que...

   Ela não pôde terminar de falar.

   — Stefani! — Escutei alguém gritar distante. Eu não tinha a intenção de olhar para ver quem era, até porque muita gente grita nas ruas. Mas ao ver a minha antiga professora sorrir e acenar para o longe, virei-me também, dando de cara com quem mudou minha vida. — Oh! — A mulher disse sorrindo para nós. — Oi, garotas! 

   — Olá, Senhorita Hastings. — Camila e eu dissemos em coro. 

   Nossa antiga professora parecia ter corrido para nos alcançar, pois estava se abanando um pouco enquanto ajeitava as sacolas na outra mão. 

   — Como estão? — Perguntou por fim. 

   — Tudo bem. E a senhora? — Minha namorada foi a educada. 

  — Também. Vim visitar o Toby e estou aproveitando a companhia da Germanotta... Ela adora esse lugar. — Sorriu de forma provocadora, acotovelando a oura mulher. 

   A professora de teatro assentiu e riu. 

   — Você sabe que ainda vou ter uma peça encenada nesse lugar, não sabe? — A do Teatro perguntou.

   Eu fiquei quieta e me perguntei há quanto tempo elas eram amigas...

   — Isso não seria na Broadway? — Camila perguntou, provavelmente lembrando que ela era professora de teatro, e eu assenti.  

   — Ela quer inovar a arte do pop. — Senhorita Hastings revirou os olhos.  

   — Quero tornar a arte popular! — A do Teatro explicou. 

   — Que seja... Já podemos ir? — A da Literatura perguntou.

   — Sim, sim. 

   — Garotas, é bom saber que estão bem. Agora precisamos ir. Essa cidade é enorme, e precisamos cruzá-la. 

   — Iremos chegar, Hastings. Não há porque se desesperar. — A outra disse de forma tranquila. — Tchau, meninas. Boa vida! 

   — Tchau! — Repetimos.

   As duas sorriram para nós e então começaram a andar.

   Camila e eu esperamos as duas afastarem-se, só então nos viramos ao mesmo tempo com evidentes interrogações metafóricas em nossos rostos. 

   — Elas sempre foram amigas? — Minha namorada foi a primeira a falar. 

   — Não sei. — Dei de ombros. — A estrela do teatro era você. 

   — Haha. Engraçada. — Desdenhou, me fazendo sorrir.

  — Eu acho que quem perdeu uma ótima atuação foi a peça. — Confessei inclinando-me para beijar a bochecha da minha namorada. 

   — Só você iria gostar. — Ela reclamou.

   — Todos iriam gostar... Mas eu certamente seria o Peter Parker assistindo à peça da Mary Jane naquele terceiro filme da franquia. 

   Camila sorriu, parou de andar e apertou meu rosto com a mão livre. 

   — Eu amo você. — Disse e selou nossos lábios me fazendo sorrir também.  

   Camila e eu somos como duas galáxias vizinhas. Sim, vou usar o exemplo óbvio. Camila seria a Via Láctea e eu seria a Andrômeda. Ela completamente à vista dos outros e possível de entender, já eu apenas tenho minha existência, mas ninguém consegue ir muito longe. 

   Vai ver eu tenha nascido somente pra isso, pra ser uma acompanhante da brilhante existência de Camila.  


Notas Finais


OLÁ, GENTE! Demorei, mas VAMOS SEGUIR! Então, é isso, gente. A fic está realmente chegando ao fim. Termina no capítulo 66. Tenho me dedicado a escrever muitos desses capítulos ao mesmo tempo, inclusive o 66 já está MUITO adiantado (IP IP URRA). Já tenho o plano de cada capítulo e nada está sendo aleatório, por isso a demora, pois quero terminar essa fic de forma aparentemente digna. se realmente for digna quando acabar... só saberemos lá hauhauah. E acho que agora é o momento de dizer que se você quiser, está livre para me acompanhar até o final. Mas se decidir que cansou, está livre para deixar, também. E quero deixar claro que não vou escrever essa fic de qualquer jeito, nos 65 capítulos haverá algo que justificará o 66. Vai ser uma grande bobagem? óbvio que vai, a fic não é muito mais que uma bobagem hauahuahua. Mas eu preciso honrar os 7 favoritos que me fizeram chegar aqui. É isso, me sinto feliz e imensamente agradecida por quem está comigo desde o início/chegou depois/chegou e já foi. ARRIBA Y AVANTE!!!!!!!!!!!!! Saudações o/



CALMA! Lembram que em uma nota de algum capítulo eu disse qual seria o filme se a fic fosse um filme? Então, esse dias eu pensei "e se a fic fosse uma música?". A primeira que veio foi a única auhauahauha. Então, gente, eu acho que se a fic fosse uma música, ela seria Clarice - Clarice. Continuarei pensando sobre a fic ser mais coisas. VOCÊS PODEM PENSAR TAMBÉM. Até breve.


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